Capítulo III
Devaneios Mortais
No último capítulo:
"Depois de alguns segundos ela parou, ainda a fitá-lo.
- Oi, Milo! –Ela disse acenando com um belo sorriso em seus dentes brancos e pequenos, deveriam ainda ser de leite. Não devia passar dos oito anos.
- Eu te conheço? –Milo perguntou simpático, se levantando e fitando-a com um belo sorriso encorajador.
- Não sei, mas eu te conheço! –Subitamente a pequena sumiu de onde estava e sua voz soou exatamente ao seu lado, sentada sobre uma grande pedra.
- De onde me conhece? –ele quis saber tornando-se um pouco mais sério, se ajoelhando ao lado da menina, que usava um vestido comprido e estampado. NA cor branca e brilhante, como um pequeno presente dos deuses para tornar seu dia um pouco menos... entediante? Usual? Bem, ele não sabia, mas gostava de saber que talvez o dia não fosse assim tão... tão... Bem, ele não sabia com dizer, apenas como sentir a euforia prometida.
A menina tocou-lhe o rosto de leve. E depois os olhos verdes dela o encararam levemente alegres. Soltou-lhe o rosto, quebrando o contato da mão quente da pequena com seu rosto. Ao romper tal carícia, foi como se a pequena lhe tivesse arrancado algo. Ele olhou-a com certo estranhamento.
- Podia não te conhecer a dois segundos atrás, mas agora eu te conheço! –A menina sorriu misteriosamente- Sabia que é feio dizer aos amigos coisas que não aconteceram... Pobre Afrodite, vai fofocar pra todo mundo que você está namorando!
- Como... Como você sabe? –Milo perguntou gaguejando levemente ao fazer a pergunta. Essa menina lhe soava muito estranha, aparecera do nada e já sabia sobre suas pequenas nuances, como aquela de omitir a verdade. Como podia? O que ela estava fazendo ali? Como soubera sobre Afrodite e sua pequena omissão? Quem era ela? E o que ela queria consigo?"
- Não há nada que possa esconder de mim, Milo! –A pequena respondeu rindo dele. Depois parou de rir e olhou profundamente nos olhos dele- Você parece meu tio! Ele também fez essa mesma cara de bobo quando eu revelei um segredo dele. Ele guarda algo muito engraçado no armário...
- Seu tio? –Milo perguntou levemente curioso. A menina era uma pequena figura, era inegável. Prendia sua atenção com suas ações tão infantis, contrastante ao ar adulto que conservava nos olhos muito verdes, como se fosse o peso do mundo que carregasse dentro de si. A inteligência parecia ser uma marca onipresente em tudo o que fazia. O que ser tão gracioso estaria fazendo por ali?- Você não está perdida? Se distanciou do seu mestre?
- Você faz muitas perguntas! –A pequena respondeu com um sorriso quase reprovador curvado nos lábios rosados, porém assumindo depois um ar de confusão - Minha mãe diz que são as crianças que devem fazer perguntas e os adultos tem que responder. Então... Você também é uma criança?
- Não. –Ele respondeu rindo-se da hesitação dela ao concluir seu raciocínio. Era como se essa menção negasse o que via, e o que fora previamente ensinada a discernir. Contradição brusca para alguém tão pequena. Podia emanar uma certa inteligência, mas ainda era uma criança. Confundia-se sobre no que deve acreditar - Se isso for melhor pra sua cabecinha, pense apenas que sou um adulto que ainda não sabe das coisas da vida.
- O que você quis dizer com "melhor pra sua cabecinha"? –Ela perguntou desfazendo seu ar altivo, que fora algo que ele achara extremamente marcante nessa menina. Jamais vira uma criança manter um ar tão digno, ao invés do ar brincalhão, vivo e contagiante. Algo que poucos adultos conseguiam, pra ser sincero. Dignidade era algo que vinha de dentro pra fora, como toda a impressão sentimental expressa nas feições de cada um dos seres viventes. Todos sabiam identificar o modo de todo somente em um olhar mais atento. Todos sabiam que ele era um moço impulsivo simplesmente pelo modo que sorria, sempre confiante, desafiando a vida com este mesmo sorriso que misturava impertinência. As pessoas tinham esse hábito de julgar pelas aparências, ele mesmo admitia que o possuía, contudo sabia que as pessoas às vezes usavam-se de máscaras, sendo esses artifícios para esconderem suas fragilidades, como ele. Sempre sendo exceção à regra! - Você não me chamou de burra, né?
- Não foi isso que eu quis dizer. –Milo disse sem poder conter o tom de preocupação na sua voz, ao notar que as feições da pequena se fechavam, como nuvens que encobrem a luz solar, obscurecendo tudo que antes emanava a alegria da que a luz exultante propunha - Apenas acho que a senhorita é demasiadamente jovem para compreender certas coisas.
- Eu vou te provar que não. Ouça: –A pequena respondeu e levantou-se ficando bem diante do grego. Ajeitou o vestido e tomou ar- "Na verdade, os homens seguem quase sempre caminhos já percorridos por outrem agindo por imitação. Não lhe sendo possível imitar exatamente os outros, nem alcançar a excelência demonstrada pelos modelos que imita, o homem prudente escolherá sempre o caminho trilhado pelos grandes vultos, selecionando os mais destacados, de modo que, mesmo sem atingir sua grandeza, se beneficiará de qualquer modo com seus reflexos."
- O que é isso? –Milo perguntou espantado com as palavras da jovem. Era com certeza assombroso que ela recitasse algo que fizesse tanto sentido, mas ao mesmo tempo tão incompreensível. Palavras bonitas, que pareciam tão irrelevantes, no entanto. Irrelevantes, pois com certeza foram produzidas por um alguém que passara seus dias atrás de uma bela escrivaninha a observar a vida dos outros, aprendendo e maldizendo os erros que as pessoas cometem, completamente alheio que além dele existia algo maior e mais emocionante, pronto para mostrar com furor tudo o que ele quisesse que se abrisse. Indisposto a se permitir errar, com medo do que outros, como ele, diriam. Seguindo sempre o mesmo caminho que estipularam para a "elite inteligente" da qual ele se auto-incluía. Exatamente como esse autor pensava. Sim, ele concluíra que as palavras não eram dela, pois tinha certeza de que já as ouvira em algum lugar antes, exatamente quando era uma criança numa lição teórica de cavaleiro, mas não dera importância a tais palavras. Como uma mera criança daria importância? Se bem que, aquela a sua frente dava.
- Vai me dizer que você não sabe? – A menina perguntou chocada, se aproximando dele, que permanecia ajoelhado ao lado da pedra onde ela estivera anteriormente. Os olhos verdes mostravam agitação- Isso é impossível! Eu vi aí na sua cabeça! Será que eu andei confundindo as pessoas de novo?
- Como assim viu na minha cabeça? –Milo perguntou sentando-se no chão. Não sabia porque, mas tinha a ligeira impressão de que dali sairia uma bela história. Estava curioso sobre as habilidades que a menina aparentava possuir. Confessava que ainda estava cismado com o fato dela saber o seu nome e da "omitida" ao Afrodite, parecia que finalmente teria saciada sua curiosidade.
- Eu... É que... –A pequena hesitava visivelmente, seus olhos verdes fitavam um ponto exato no chão, incapazes de encará-lo, as mãos estavam atrás das costas, os pés descalços chutavam levemente o chão, como se ela tivesse feito algo horrivelmente errado - O meu tio não vai gostar de saber que eu fiz isso de novo! Ele não quer que eu conte pra ninguém.
- Quem é o seu tio? –Milo perguntou com horrorosos açoites do âmago em fúria pelo conhecimento mais aprofundado sobre a menina que se considerava inteligente- O que há de tão ruim que você não pode me revelar?
- Meu tio é um cavaleiro de ouro. Ele é muito bonito. –A menina respondeu com o peito inchando-se imperceptivelmente de orgulho, animava-se um pouco mais ao falar dele - E inteligente. Ele que me deu esse livro que recitei, no meu último aniversário. Sabe, ele não é realmente o meu tio. Ele é meu padrinho, só que eu o chamo de tio porque minha mãe disse que era assim que eu devia chamá-lo. Eu gosto dele como se fosse meu pai, que não conheci.
- Sim, mas o que há de tão ruim que você não possa revelar? –Ele perguntou apressadamente depois que a menina se calou, parecendo indisposta a falar, não sem o estímulo de responder a uma pergunta que ela conhecia a resposta. Uma menina ávida pelo conhecimento, ele percebera. Desconfiava que seu padrinho fosse Shaka de Virgem, alguém bem capaz de dar um livro tão complexo a uma menina tão pequena e ensiná-la tudo quanto fosse possível sobre filosofia.
- Meus dons. –Ela respondeu simplesmente, ainda incapaz de fitá-lo nos olhos, mirando o chão- Minha mãe era quase uma profetiza. Meu pai treinou ao lado de Mu de Áries, obviamente porque possuía habilidades similares ao cavaleiro da primeira casa.
- E o que isso pode ter a ver com você? –Milo perguntou, levemente confuso com tudo aquilo. A menina voltou seu olhar como se dissesse que desejava muito que nada que fosse relacionado a ela. Um olhar que lhe causou condolências, algo muito difícil de se ver no coração do grego. Não era o tipo que sentia tal coisa por qualquer outro além de si. Era muito egocêntrico, como todo o ser humano era. Pensava apenas em si e isso já era o suficiente. No entanto, não parecia, naquele momento... O rostinho lindo e pálido dela parecia revelar o quanto não gostava daquele assunto, pois as feições infantis se asseveravam, como a de alguém que passara por muitas provações e que ficaria marcada para sempre com essas, como as lembranças de um batalha dura que jamais lhe dão o privilégio de voltar a ser como antes, deixando resquícios externos que seriam demonstrados com orgulho pelo sobrevivente, e também internos que jamais seriam expostos aos que veneravam as cicatrizes, pois estes sinais provavelmente se abririam a simples menções da dor que existia, modificando totalmente a alma de um ser, tornando-o mais forte, porém muito mais duro, exigente e frio aos estímulos de carinho que alguém um dia a ofereceria.
- Não tem toda aquela história de cromossomos que se juntam quando você é um feto e tal? –A pequena perguntou a Milo, ao que ele confirmou. Então ela tomou ar e prosseguiu- Parece que eu herdei os malditos cromossomos de meu pai que me davam a habilidade de ler mentes e lembranças, me teleportar. E os da minha mãe. Posso prever coisas grandes antes que aconteçam.
- Mas isso é bom! Pense nas maravilhosas habilidades que você tem! –Milo tentou animá-la, imprimindo o tom mais entusiástico que pôde a usa voz. Não queria ver aquela menina tão inteligente deprimida por causa de um assunto que ele buscara. Sentia-se mal por ser o causador da tristeza dela, mesmo que indiretamente, já que não fora ele quem a marcara com tal sentimento. Contudo a fazia lembrar. Acreditava que a perturbação dela fosse devido a perda do pai. Sabia que era um homem levemente insensível aos problemas dos outros, todavia, impossível seria deixar de comover-se com uma criança tão especial- Você pode chegar ao lugar que quer em questão de instantes.
- Não há nenhum lugar em que eu queria realmente estar. Acho que nada mais importa. Não gosto das formas que as coisas têm assumido. –Ela revelou, se sentando de frente a ele com os olhos verdes obscurecidos pelo brilho da melancolia. Ocultando com as mãos o seu belo rosto, balançou a cabeça fortemente, em sinal de negação e desespero - Eu me sinto tão pedida.
- Você não é a única, querida. –Milo disse identificando-se com as palavras da menina. Repentinamente, lembrara-se das coisas que ela lhe fizera lembrar. Aquele encontro com a menina parecia não poder ser mais oportuno. Devido a motivos diferentes, se sentiam exatamente iguais. Implicitamente, em suas últimas palavras, a criança deixara claro que não estava feliz com sua vida, por mais que tentasse demonstrar o contrário. Tão jovem, e já se tornava uma excelente fingidora, equiparando-se a ele. Jamais imaginaria que uma menina tão vivaz fosse capaz de esconder dentro de si impressões tão profundas. Uma garota precocemente marcada pelo maldito estigma da imprecisão, do erro, da mentira e do sofrimento. O pior é que ele não sabia como fazer para ajudá-la a quebrar as muralhas de falsas certezas que ela construíra ao redor de si, querendo que fossem fortes o suficiente para que incitações externas não atingissem o mundo perfeito que construíra para suprir a necessidade de uma vida ideal, onde ninguém precisa se esconder, onde todos os sentimentos são completos e plenos. O pequeno paraíso em que eles são levados a crer que existe simplesmente para serem fantoches felizes, ao invés de soldado revoltado dos deuses. Ele sabia que já ultrapassara esse estágio e isto fora na noite anterior, ao dar-se conta de que não havia nada pra ele no mundo além das noitadas maravilhosas que passava, de certa forma, esse fora seu mundinho estilhaçado pelas dúvidas. Mesmas dúvidas ou falsas certezas, já que quando as certezas enganosas se dissolvem tornam-se dúvidas, que a protegiam da realidade que apenas se faria presente quando tivesse as respostas certas, fazendo-a compreender que o mundo perfeito não passa de um pano de fundo ridículo para nos manter atados a maldita vida que nos despreza e nos nega a felicidade suprema. As muralhas dela eram fortes, enquanto as dúvidas eram demasiadamente ínfimas, incapazes de guiá-la ao que a vida realmente se mostrava, diferentemente de como fora as dele na noite anterior. Ainda eram argumentos para se esconder, enquanto as deles foram razões para deixar de se esconder, de pelo menos uma vez ser um homem verdadeiro que deixa o refúgio para lutar de frente com seus medos, com suas paixões e contra as cordas que o tornam um fantoche dos deuses e do Destino.- Todas as pessoas um dia se sentem perdidas em suas vidas.
- Sério? –A pequena teve sua atenção arrebatada pelas palavras dele. Tirou as mãos do rosto, nos olhos já haviam pontilhadas pequenas gotas que viriam à tona caso ele não dissesse a coisa certa. Ele sabia que deveria fazê-lo. Ao menos uma vez em sua vida. Ele apenas confirmou com um aceno demorado de sua cabeça - Você já se sentiu desse jeito?
- Claro que sim. –Milo respondeu com um sorriso que ele julgava ser encorajador. Ela sorriu em resposta ao seu gesto, feliz, lentamente os olhos verdes-esmeraldas recuperavam o brilho - Eu, um dia, simplesmente acordei e me senti perdido. Só que de uma forma diferente.
- Como? –A menina perguntou com os olhos ganhando a tonalidade verde reluzente que encontrara nela, com certeza era o interesse e a curiosidade que neles emanava.
- Eu comecei a perceber que as coisas que eu fazia eram sem sentido. Não eram tudo o que eu queria. Nenhum ser humano deseja uma vida tão irresponsável. Só que ao mesmo tempo tão... Igual! –Ele disse olhando o céu, sentindo-se ainda incapaz de dizer tal coisa a alguém. Tentava se convencer que apenas o fazia devido ao fato de que queria quebrar os hábitos e ao menos uma vez, ajudar alguém. Contudo, sabia que havia uma necessidade maior de experimentar, pela primeira vez, o que é repartir seus mais profundos e bem guardados segredos com um outro ser. Por mais jovem que fosse, ou por mais inexperiente. As palavras que ouvira certa vez de seu mestre ecoaram em sua mente: "Há coisas que não se explicam!". Nunca fizera sentido pra ele. Principalmente porque não acreditava que houvessem coisas que o homem ainda não conseguira explicar, sempre com suas malas de argumentos, por mais absurdos que fossem. Era algo que lhe queimava o peito dizendo que lhe faria bem - Sempre fui um homem que aprecia noites em locais agitados e superlotados, com bebidas e mulheres, até que me cansei. Só que deu uns tempos pra cá, não tenho mais me divertido com essas coisas, como se tudo fizesse parte de um universo distante e não de semanas. Finalmente me dei conta de que a vida não se resume apenas em coisas tão... comuns. Há um momento na vida de um ser, em que ele deseja mais do que simples noites de luxúria e bebidas. Um ser humano não se alimenta apenas de diversão... É preciso dar sentido ao vida. Amar algo e se ater a isso como se sua vida dependesse disso. Porém tenho a impressão de que não possuo tal bem tão valioso.
- Eu vi isso, na sua cabeça. –Ela respondeu fitando-o de olhos arregalados. Talvez não esperasse que ele realmente fosse dizer a ela, ou provavelmente esperava algo vago, como os adultos normalmente faziam quando não queria responder algo a uma criança - Só que eu achei a citação de Maquiavel mais importante. Pensei que você reconheceria com mais facilidade, só que acho que me enganei.
- É uma questão de prioridades, pequena... –Milo começou a explicá-a sobre aquele novo conceito, todavia, pareceu finalmente notar que sequer sabia qual era o nome da pequena a sua frente- Qual o seu nome, menina?
- Meu nome é Kamila! –Ela disse estendendo a mão em gesto cordial, completamente comedido, executado com a perfeição de uma pequena nobre. Lembrou-lhe uma pequena princesa. Seguindo as maneiras da antiga Corte, aceitou-lhe a mãozinha e levou-a aos lábios com gentileza, ao que a menina sorriu- Mas não me importo se quiser me tratar com adjetivos carinhosos, como um pai faria com sua filha. Continue a me chamar de "pequena" se quiser.
- Você quer dizer que acha que eu seria um bom pai? –Milo concluiu, levemente chocado, a partir das palavras dela. Era bem verdade que cada um de nós busca o melhor para si, inegável efeito comportamental humano, em seu egoísmo. Ela deixara no ar uma sugestão sobre eles parecerem pai e filha, provavelmente porque no momento o considerou o melhor exemplo sobre como um pai deve ser. E como crianças, em especial esta, tendem a espontaneidade, não fora difícil concluir o que ela dissera. Aquela criança necessitava de algo novo em sua vida tanto quanto ele.
- Ahn ham! –Confirmou a pequena com um forte aceno positivo - Você tem paciência com crianças e responde a todas as perguntas, por mais inadequadas que sejam... Meu tio perde a paciência quando faço isso! Diz que é feio perguntar demais. Diz que eu fico igual a... você.
- A mim? –Milo perguntou dando um sorriso ao ouvir a pequena comentar, depois de um momento de ponderação, ela pedia desculpas com seu olhar, ao que ela confirmava com um meneio leve - Seu tio tem razão! Eu sou muito indiscreto, eu admito! Mas acho que os outros são fechados demais! Deveriam ser tão claros quanto eu!
- Eu gostei de você! –Ela disse fitando-o novamente nos olhos, lançando um sorriso em aprovação aos modos dele - Não quer ser meu pai?
- Você não tem o seu tio? –Milo perguntou intrigado e levemente surpreso. Era estranho admitir que não sabia como deveria conduzir aquela situação. Não fora ela mesma que dissera que adorava o tio? O que a fazia mudar de opinião agora?
- Eu tenho, mas... –A jovem Kamila respondeu, envergonhada por proferir aquilo, era como se lhe custasse mais do que custaria ao Kamus admitir a todos que não tinha senso de humor - Acho que ele não gosta de mim.
- Ora, pequena! –Milo disse afagando-lhe as bochechas pálidas, enquanto os olhos dela voltavam-se ao chão como que embaraçada. Ele ergueu o queixo e fê-la encará-lo - Como pode alguém não gostar de você?
- Sabe, as pessoas não têm sempre aprovação universal... –Kamila respondeu incapaz de conter seu espírito inteligente, sempre argumentativo.
- Que bom que sabe disso! –Milo comentou dando um sorriso encorajador - Então você também sabe que não se pode desagradar um alguém o tempo todo, não? São como dois pesos iguais equilibrados em uma balança, mesmo que você coloque mais um peso de menor proporção, você continuará tendo algo do outro lado.
- Acho que entendi o que você quis dizer. –O rosto da pequena que se fechara na seriedade, se iluminou com o efeito das palavras dele sobre ela - Obrigada! Será que... Eu posso te dar um abraço?
- Por quê não poderia? –Milo perguntou em um sorriso acolhedor, abrindo seus braços para que a menina viesse em sua direção.
- Não sei. Meu tio diz que é errado demonstrar suas emoções, principalmente afeição. –A pequena Kamila recitou. Obviamente Shaka estava impregnando a menina com sua rude e fria filosofia de vida. Afetos eram necessários a qualquer pessoa. Principalmente a uma criança que precisa de todo apoio que um adulto puder fornecer, além de amor e carinho.
- Não se importe com o que ele diz! –Milo respondeu de forma simples, os lábios sensuais curvados em um sorriso encorajador. A menina respondeu ao sorriso e se levantou, correndo até os braços dele.
- Certo! –Ela disse grudando-se ao pescoço do grego, que permanecia sentado. Era extremamente incomum Milo sentir que ao menos uma vez um ser lhe abraçava porque sinceramente simpatizava com o seu "Eu Interior" e não simplesmente porque ele era um homem bonito e desejável, devido as segundos ou quem sabe terceiras intenções que cada um possuía sobre o seu corpo invejável. Não que ele não gostasse de saber que era sedutor perante os olhos de muitos, entretanto, sentia algo diferente naquele momento. Sentia-se feliz, por ter alguém que ao menos uma vez não o taxasse a um determinado grupo restrito, ou simplesmente como "O Irresponsável".
- Lembre-se, Mila, que é graças ao expressionismo que se dá através do choro, que a gente descobre que há algo errado com o ser humano. –Milo mencionou ainda envolto pelo bracinho da pequena - Sentir emoções é importante. É sua forma peculiar de mostrar aos outros quando algo está muito bom ou ruim pra você.
- Eu... Não pensei que fosse assim. –A menina declarou apertando ainda mais o pescoço do grego, como se sentisse medo de fazer o que ele a incentivava, como se fosse um pecado. Milo, contudo, não viu o brilho de incompreensão que atingiu os verdes olhos da criança por cima de seus olhos. Perspicaz, como ele sabia que era.- Você o diz agora, mas eu sei o que vi em sua mente! Você esconde os seus sentimentos quase tão bem quanto meu tio, só que sem as atitudes comedidas. Por quê?
Milo apenas fitou o arvoredo atrás de si. Ela tinha razão! Ele se escondia por trás de uma máscara, mesmo que essa lhe parecesse sensitiva em demasia. Por mais irresponsável que fosse aclamada aos outros, não passava de um artifício para esconder sua alma. Artifício inútil! Ele simplesmente não sabia o que responder a menina. A verdade era que mal conseguia aceitar tal descoberta, ainda tão recente, martelando sobre sua cabeça. Era algo de extrema penúria de sua parte, sabia que se pensasse tanto em tais verdades, tornaria-se cada dia mais decadente por entrar em conflito até chegar se dar conta de que perdeu por completo a sua própria personalidade.
Tinha dúvidas sobre como deveria ser de agora em diante... Ele sabia que era um homem além dos sorrisos e sensualidade, contudo não sabia como demonstrar aquilo aos outros. Como podia modificar uma imagem que cultivara por anos a fio de uma hora pra outra? Sabia que esse era o próximo passo para se livrar do vazio de sua alma. Da maldição que lhe ofertaram.
Talvez fosse difícil para o escorpiano lembrar-se de quem era. Não! Essa menção era ridícula demais pra ser creditada! Ele sabia muito bem quem era! Sabia do que gostava e do que não gostava!
Desfez o abraço com a menina, tentando olhá-la nos olhos e dizer-lhe o que acabara de concluir. Sabia muito bem que seria difícil para a percepção de uma criança. Ela se mostrara tão inteligente, possivelmente até entenderia, embora não confiasse sua vida àquela suposição.
Foi apenas o tempo de soltá-la e um enorme frio chegou até seu corpo. A temperatura de súbito caíra, como se o dia de primavera se solidificasse no mais puro gelo, manchando seu gentil ar primaveril com a beleza rude do inverno polar. Impetuosidade exalada do cheiro agradável das flores transformada em ar congelado, incapaz de sentir o cheiro delicioso das flores, abafado pela urgência claustrofóbica que um ser enfim em liberdade sente de se espalhar por todas as direções, tal como a fúria do gelo, ruindo sob sua cabeça com toda a fúria natural que possuía. Vinha de todas as direções, impacientes por acertá-lo... Por machucá-lo... Até por matá-lo!
Uma voz grave lhe atingiu a compreensão com lentidão. Estranhamente, sentia-se arrematado, por simples segundos em exposição a neve. Primordialmente açoitado com violência inigualável, os membros tão calorosos do corpo escultural do grego, pareciam não servir pra nada mais além de enfeites, objetos de adoração dos mortais subordinado a referência da beleza inconcebível dada pelos deuses a pouquíssimo mortais, julgados merecedores. Logo, ele tinha ciência, não passaria de uma estátua fadada a permanência eterna naquela bela paisagem, sem propósitos e sem esperanças. Sabia que podia deter aquilo. Parar a sensação ruim do gelo perfurando a pele, queimando sob o contato contínuo, como se fosse o aprisionar no insano frio a cada segundo. Não se sentia apto a se libertar, não sabia se deveria tentar. Seria ele um merecedor? Nem sequer soubera viver essa vida que outrora tanto valorizava, por que daria-se o trabalho de viver agora? Usara uma máscara durante tanto tempo que se esquecera... Esquecera-se de viver verdadeiramente, como todo mortal tinha direito. Não atingira a plenitude e nunca atingiria. Não nessa vida... Precisaria nascer de novo. Seu otimismo para com a garota, só servira para incentivá-la a viver. Não conseguia acreditar em suas próprias palavras... Nada fazia sentido. O torpor da neve parecia fazer mais sentido em sua mente.
As palavras finalmente chegaram a seu cérebro e se formaram, depois de alguns segundos, com pouco sonoridade, contudo, carregada de veemência. Milo esforçava-se para entendê-las, apenas as ouvia de algum ponto muito longínquo de sua mente.
- MILO! –A voz bradava, lenta e insquisidoramente em sua compreensão- SEU PEDÓFILO! O QUE FAZ COM A MINHA SOBRINHA?
O moreno lembrou-se de que conhecia aquela voz que agora acusava-o, permanecia com os olhos fortemente fechados, numa tentativa em vão de poupar os poucos minutos de consciência que lhe restavam e talvez utilizá-los para apenas descobrir quem era seu executor. Apenas sentia que logo cairia, derrotado pelo frio.
"A voz... Milo! Concentre-se na voz! Não posso ir sem saber quem... Por quê?... Vamos, eu sei que é pedir muito... Só preciso saber quem me levará de volta... De volta ao lugar de onde nunca deveria ter saído... De onde a minha alma nunca saiu!"
A cabeça doía e o raciocínio era lento. Sua mente se recusava a responder àquele frio todo. Como se os impulsos elétricos de seus neurônios tivessem congelado, impossibilitando uma resposta, imediata ou não. Estranhamente sentia apenas desejos singelos naquele momento: Que seus olhos se mantivessem fechados, que a dificuldade por respirar se esvaísse, que parasse que sentir seus pulmões doerem com o ar glacial os paralisando lentamente, levando consigo os pequenos resquícios de vida ainda presentes com a difícil execução do ato de expirar e inspirar urgentemente, que não sentisse mais sua pele pressionada contra a frigidez inflexível.
Entretanto, para sua infelicidade, nada parava. Cada minuto tornava-se um martírio ainda maior. Rezava aos Deuses para não ter de respirar novamente, a dor tinha de ser findada. Não queria ter de ser submetido a tal tormento nem mais uma única vez. Os Deuses precisavam lhe levar o único sopro que ainda restava dentro de si, o fogo quase completamente dissipado do amor à vida... Fogo esse que já não mais desejava, não mais lhe importava...
Utilizando-se de seu derradeiro esforço abriu os olhos para o último vislumbre ao mundo em que passara boa parte de sua vida, foi capaz de entrever através da água em seu estado sólido o seu carrasco...
O homem frio, de cabelos azuis levemente arrepiados, os olhos também azuis dele pareciam ser o único ponto através do gelo que ele podia divisar com clareza. Estavam mais brilhantes do que ele jamais vira naquele cavaleiro de gelo.
Kamus mostrava a ele sua ira insaciável. E talvez tudo acabasse daquela forma. Ali aprisionado, apenas como mais uma das vítimas da ira cruel de Kamus, que nunca aprendera a lidar com sua cólera.
De súbito, não era capaz de sentir mais nada. Os olhos azuis, abertos, ainda assim, incapazes de ver.
CONTINUA
N/A: He, he, he! Eu matei o Milo! Eu matei o Milo! cantando musiquinha
Sim, o capítulo acabou aí! Dããã, para mim! Todo mundo já percebeu, é óbvio!
Bem, agora tem mais ação... Não sei se perceberam, mas tenho taras por tragédia... Quem leu "Leis da Física" sabe muito bem disso... Quantos personagens eu já matei naquela fic? Secundários acho que já foram sete, em sete capítulos... Mas vou poupá-los das minhas tendências homicidas, ao menos por enquanto... Já que ainda não sei se Milo vai ou fica...
Acho que melhorei, não? Como estou dirigindo... digo... escrevendo? Bem, mandem reviews para que eu sabia, povo!
Os diálogos acho que também estão melhores que antes... Pareceu mais fluente, não?
Vamos as explicações absolutamente picaretas agora: A citação que é feita pela Kamila é de Nicolau Maquiavel, em o Príncipe; A guria tem esse nome porque fica uma junção maneira entre Kamus e Milo (no caso, Mila), além de que na mitologia Camila é uma das favoritas de Diana (Arthemis, como preferirem) e por último pois tenho duas xxxxxuper amigas chamadas Camila, mesmo que uma delas não leia fics Sant Seiya.
Mais um capítulo que tem "Devaneios" no título. Isso não era proposital, era apenas a influência da minha enoooorme falta de imaginação! Querem apostar quanto que se eu adotar "devaneios" nos títulos da resto da fic eu não vou conseguir mantê-lo. É estranho como nada sai sob pressão! Inclusive uma boa nota em Biologia Orgânica... Ops! É melhor eu parar de meter minhas mágoas na nota!
A vingança do Kamus: Milo agora é acusado de Pedofilia! Compreensível! Devo dizer que amei escrever essa cena, só que acho que o Kamus ultrapassou a normalidade... Quer dizer, ele tá matando o cara! Mas se ele morre mesmo ou não, são vocês quem decidem... Mesmo porquê, quero dormir em paz a noite e não me lembrar que mais um personagem pode voltar pra puxar meu pé! Já não chega a assombração dos que eu já matei!
Reação meio exagerada essa do Kamus, não? É, eu sei. Mas é algo que vocês vão descobrir no meio da história... Lembrem-se que a fic mal começou! O Kamus não agiria tão desordenadamente por causa de um abraço e uma acusação de pedofilia... Quer dizer, acho que pela pedofilia sim, mas isso não vem ao caso...
Como prometi, atualizei antes do final de abril... Sendo hoje dia 13 de abril, dia do beijo! Só eu que fiquei sem beijar(Pensando bem, acho que vou querer o Milo puxando meu pé... Quer dizer, não só o pé!)... Snif, snif! Provavelmente vocês só lerão isso aqui no domingo, já que é o dia que dá pra atualizar por estar mais desocupada (Mentira! Eu sempre fui desocupada! É o dia em que entro na net sem que minha mãe reclame muito! Droga, me entreguei!)... Tentarei atualizar o próximo capítulo o mais breve possível, embora só possa tocar no pc novamente depois do dia 25, que é quando acabam minhas provas (Porque as melhores idéias só surgem em semanas de provas?) e eu também preciso estudar (diga-se de passagem que não entendo muito de química...), largar essa maldita água de coco que me deixa plantada no sofá, na maior folga assistindo Bob Esponja (Zoeira! Meu QI é mais alto que isso! Eu acho, embora queira a ajuda dos universitários para decidir!). Mas tenham certeza de que entrego o próximo capítulo antes do meu niver em meados de maio...
E por último... Tem alguma boa alma que saiba falar ou escrever em francês? Eu preciso urgentemente de alguém que possa corrigir meu pequeno diálogo em francês para o capítulo 4...
Como sempre vos peço: Reviews!
Agradecimento especiais à:
SINI, Lola Spixii, Kitsune Youko, Nana, Amy Black e Angel.
Shakinha: OI!Necrófilia... Ninguém merece mesmo! Mas olha a revanche! Como se o Kamus fosse ouvir uma gracinha dessas sem fazer nada... Felizmente estou terminando o capítulo V, se bem que esse tá masi difícil de sair que qualquer outro de "Poder", mas tudo bem! Eu acho que consigo. Bem, aproveite esse capítulo e não perca os próximos! Eu particularmetne gosto... Pelo menos estão menos ruins... ;) Sim, existe uma garotinha, sim!E adorável, diga-se de passagem... Ainda bem que não me lembrei da minha infância pra compô-la, senão até urina no xampu do Kamus ia ter! Huahuahuahua... Bem, essa história fica pra outra hora...
BJKS para todos que lêem a fic. APERTÕES NO TRASEIRO de quem lê e não comentem (embora eu ache que seja muita prepotência minha dizer ou achar que muita gente leia!). Eu amo a todos! E os parabenizo pelo sac... digo, paciência! Eu amo a todos!
Bye queridos, até a próxima!
