Vivíamos tempos difíceis anos atrás, mas para mim não há nada comparado a dificuldade do agora. Tudo começou no Quarto Ano deles, e em meu Terceiro Ano em Hogwarts (ou eu deveria dizer que começou no Primeiro Ano deles ali?); só que tudo acabou bem depois disso. Primeiro foi Cedric, depois Sirius; Dumbledore. No ano seguinte, perdemos Colin e Cho, a segunda deu sua vida pela de Harry, mas Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado não parou, não se cansou; o mundo virou um caos depois disso. Não havia controle.

Decerto que o tabuleiro virou quando Malfoy, e mais um bando vieram para o nosso lado, mas era só porque Lucius e os outros haviam morrido; tornaram-se traidores, e foram tão caçados pelos Comensais que praticamente se extinguiram. E tudo acabou: Aquele-Que-Não-Se-Deve-Nomear está morto, Harry está morto, Ron... Ron entrou em coma, deixando Mione, na época grávida de quatro meses. Um ano depois, eu mandei que desligassem os aparelhos; não podia mais agüentar ter que vê-lo todo dia daquela maneira. E ainda hoje eu sinto as conseqüências daqueles dias.

Todos, pelo menos aparentemente (todos menos eu), já estão melhores em todos os sentidos: Fred e Jorge estão com suas lojas de logros, Mamãe deu o braço a torcer e está ajudando-os; Papai voltou para o Ministério, eles estão indo muito bem com a reformulação; Mione teve o bebê, uma linda menina, e agora está casada com Draco. É incrível como todos mudaram, todos menos eu. Eu não mudei em nada; continuo sendo a menininha que se apaixonou pelo Menino-Que-Sobreviveu, pela lenda dele; a mesma menina que a partir do Quinto Ano dele tentava chamar sua atenção, ou conseguir com que tivesse o menor resquício de ciúme. Mas ele não pode me dar mais nada agora. E eu também não posso me dar mais nada; me vendo ficar cada vez mais velha em frente ao espelho. Só posso fazer o que é certo, o único modo de me ajudar: só posso acabar com a dor que todos os acontecimentos causaram.

Eu vivo tempos difíceis.