"O ministro da Magia declarou hoje que medidas de segurança deverão ser adotadas pela população. O ministério adverte que tais medidas não são apenas recomendações, mas também leis, e o bruxo ou bruxa que as desrespeitar estará sujeito a multas. O ministro diz também que estas serão aplicadas com o objetivo de proteger o máximo que conseguirem de pessoas da população mágica seguras contra uma possível guerra que está por vir, entre Aquele-que-Não-Deve-Ser-Nomeado e seus aliados, e o ministério e seus aurores. Mais detalhes poderão ser obtidos...".
Remo baixou os olhos do jornal sem terminar de ler a notícia. Era incrível a capacidade do Ministério de tratar um assunto já tão presente na vida dos bruxos como se todos fossem cegos. "Uma possível guerra que está por vir", releu o rapaz, sentindo um rancor surdo pelo Ministro. A guerra não estava "possivelmente" vindo, ela já existia. Todo dia bruxos e bruxas saíam de casa sem saber se iriam voltar, para lutar contra os aliados do bruxo mais temido de todos os tempos. Dois corpos sem identificação já haviam sido encontrados em um campo de batalha da Ordem, e isso, todos sabiam, queria dizer que a guerra se aprofundava, que as mortes agora seriam constantes.
Separou as roupas que iría usar, vestiu-as, tomou café e ficou a se observar no espelho enquanto escovava os dentes. Era um homem – e tal palavra lhe soava estranha, já que há alguns meses era apenas um adolescente – com feições prematuramente maduras, o olhar cinzento um pouco vago e desfocado. Uma tia sua excessivamente sincera dissera certa vez que ele tinha uma aparência "encantadoramente melancólica". Embora fosse muito bom em "pegar" o que as pessoas sentiam e diziam, como seus próprios amigos descreviam, Remo só entendera superficialmente o que sua tia queria dizer.
O Beco Diagonal estava exatamente do jeito que Remo planejava: Com um sol da manhã forte e com pouco movimento. Ele precisava fazer algumas compras, e era por esses motivos que ele gostava de ir de manhã. Sempre fora um garoto muito tímido, e odiava ter que ficar cumprimentando e agüentando longas conversas com os conhecidos que encontrava.
Começou pela Floreios e Borrões. Aquela loja já fora, para ele, um tipo de universo encantado na infância. Era lá que ele, ainda menino, ia buscar semanalmente as revistas contendo as novas aventuras dos personagens que fizeram sua infância. Mas não era só isso. O cheiro de tinta, as prateleiras de volumes que iam até o teto, tudo aquilo lhe despertava a fantasia. Ele ainda se lembrava de cada detalhe do dia em que sua mãe, com aquele olhar carinhoso, dissera que, já que ele já sabia ler, ele poderia ir sozinho a Floreios, comprar o livro que quisesse. O Beco estava cheio, e ele entrou na loja se sentindo subitamente importante. Agora poderia comprar seus próprios livros, como seu pai, sua mãe, os escritores, os famosos!
Bem, mas recordações não levavam a muita coisa. Ele tinha que terminar logo suas compras, e essas estavam só começando. Separou o volume que iria levar cuidadosamente, pagou e saiu da Floreios, mais uma vez lembrando-se de quando saíra da mesma loja levando consigo seu primeiro livro. Era como se essa lembrança lhe acompanhasse para todo o sempre, como se ele ainda guardasse algo um menino dentro dele.
Indo em direção ao empório das corujas, ele ouviu duas vozes bastante familiares, que vinham da sorveteria Florean Fortuescue. E, como alguns segundos depois já tivesse certeza sobre quem eram os donos das vozes, ele entrou na sorveteria, os olhos procurando a mesa onde estes estariam sentados.
- ...é o que eu digo sempre pra ele mas ele nunca... ALUADO!
Dois rapazes morenos e altos, um deles de óculos e cabelos bagunçados andavam em sua direção, dando tapinhas em suas costas.
- Remo, agente não esperava te encontrar aqui! – disse sorridente o de óculos.
- Não mesmo, é que nós não tínhamos muito que fazer...E bem, aqui estamos! – Completou Sirius.
Remo sorriu para os dois, e perguntou em um tom desinteressado de quem não quer muito mais do que curtir a presença de seus amigos após tê-los encontrado com tanta coincidência:
- E a Lílian?
- Saiu com as amigas dela – disse Tiago, bocejando – a Andrômeda, a Alice... Bem, você sabe.
Enquanto Remo também pedia sorvete, Sirius se ocupava em examinar o livro que o amigo trouxera na sacola.
- Aluado... Qual é a lógica de alguém comprar um livro escrito em francês? – o garoto folheava o livro com uma expressão intrigada no rosto.
- Não é francês, é espanhol – revirou os olhos – e você sabe que eu estou estudando essa língua há um tempão, não tem porque você ficar com essa cara.
Os outros dois se encararam com uma expressão clara no rosto de que não adiantava discutir com ele.
O tempo passou bastante rápido enquanto os três amigos discutiram, cada um por trás de grandes amontoados de bolas de sorvete, desde o fato de Pedro não estar ali (estava dormindo, odiava que o acordassem antes das onze sem motivo) até o estado atual da guerra que se fazia presente no mundo bruxo.
Talvez nenhum deles tenha notado, visto que estavam tão entretidos na conversa, mas duas figuras com varinhas empunhadas entraram sorrateiramente no estabelecimento.
Ruídos e borrões de pessoas correndo de um lado para o outro, era tudo o que quem estava do lado de fora da sorveteria podia ver e ouvir. As figuras que acabavam de entrar eram Comensais da Morte.
Tiago, Sirius e Remo estavam com as varinhas em punho, duelando. Esse último ainda lutou por mais alguns segundos, mas foi atingido por trás por um feitiço Protegoe foi caindo aos poucos no chão, enquanto sua força se dissipava. Ele ainda viu seus amigos se dividindo entre continuar a lutar ou ir ajudá-lo.
Depois não viu mais nada.
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N/A- Estou me sentindo horrível por fazer isso com o Remo. Mas tudo bem, eu compenso isso no próximo capítulo ;. Eu disse que esse capítulo ia ser maior, mas parece que não ultrapassei muito o último, desculpem-me!
-Nathi Black- Que bom que vc gostou! Realmente, eu tenho muita pena do que eu faço com o Remo, mas eu não consigo imaginar ele com uma personalidade muito diferente. Sabe, às vezes eu chego a passar sentimentos meus para ele, tudo o que vem de melancólico em mim eu já imagino como se fosse característico dele, isso é meio estranho. Quanto a Tonks, sim, sim, concordo plenamente! Eu pensei em colocá-la nessa fic desse jeito, mas logo lembrei que ela devia ser só uma garotinha por essa época... Obrigada por comentar!
Isa Moraes Black
