-- Capítulo 7 --

Tales Nurkales Garbuc

Ninguém bateu palmas ou sequer aparentou ter achado agradáveis as palavras de Fudge. Rony olhava incrédulo para o irmão, que se sentava numa cadeira recém-conjurada ao lado de Fudge, Hermione olhava de Harry para Rony e deste para Gina, como se pedisse resposta. Gina tinha uma expressão fechada e carrancuda, Neville parecia assustado com a nova notícia e Luna, conforme Harry vira ao virar a cabeça para a mesa da Corvinal, parecia não prestar atenção ao discurso de Fudge, e tricotava uma espécie de cachecol com uma lã azul. Harry sempre achara que Percy era o mais afastado dos Weasley e tinha certeza de que ele nunca seria considerado como uma família, mas agora, vendo Percy empertigado e cheio de si ao lado da cadeira Fudge, cujo discurso parecia ainda não ter acabado, e imaginando o que a Sra. Weasley pensaria de tudo aquilo, Harry teve certeza de que Percy era uma das pessoas mais idiotas que Harry conheceu, não só por ir contra sua família, mas também por ser a favor do Ministério e todas as baboseiras pregadas por ele.

- Junto com o nosso novo vice-diretor – continuou Fudge que, assim como Percy, não parecia ter se surpreendido pela atitude dos alunos – tenho o prazer de anunciar a entrada de mais um professor no cargo de Defesa Contra As Artes das Trevas, o professor Tales Nurkales Garbuc – o raquítico professor se levantou lentamente na última cadeira da mesa e recebeu vários aplausos. Harry viu Percy e Fudge trocarem olhares enquanto os aplausos não terminavam – Ah, bem... que se inicie o banquete – completou Fudge, parecendo meio perdido.

O banquete acabou se tornando um pouco nostálgico para Harry. O fato de Dumbledore não estar mais lá somado à presença de Fudge e Percy na mesa fizeram Harry perder a fome antes do segundo prato da refeição.

- Vocês não acham estranho que o Percy tenha conseguido esse cargo? – perguntou Hermione, temerosa, quando a sobremesa chegou. Ela parecia ansiosa para comentar o acontecido desde que o banquete começara.

- Nem é tão estranho assim. Percy sempre foi um puxa-saco do Fudge o tempo todo, não foi? – disse Gina.

- Mas será que isso o classificaria para ocupar um cargo desses? É um cargo importantíssimo. É o cargo que pertencia a McGonagall meses atrás – disse Hermione.

- O Ministério vai acabar transformando Hogwarts num circo, podem acreditar – disse Rony, que parecia furioso com a presença de Percy.

- Eu achei uma decisão precipitada – disse Harry, meio confuso.

- Não foi precipitado. O Ministério parece estar querendo desacreditar Hogwarts cada vez mais – disse Hermione.

- Eu sempre esperei tudo do Ministério, mas eu achava que Percy um dia tomaria jeito, eu tinha essa opinião – disse Gina – Mas depois de hoje...

- Eu arrebentaria a cara dele agora mesmo se pudesse – disse Rony, que parecia ter desistido de comer também.

Harry acordou na ensolarada manhã seguinte com a certeza mais do que absoluta de que aquele seria o pior de todos os seus anos em Hogwarts. O Ministério tinha finalmente, depois de anos, conseguido pôr as mãos no controle da escola; Cornélio Fudge, o medíocre ex-ministro, era agora diretor da escola e, para completar a maré de más notícias, ele tinha convidado Percy, o mais desgarrado dos Weasley, para ser seu vice-diretor. Harry e Rony desceram juntos até o salão comunal e de lá até Salão Principal, com Hermione e Gina, para tomarem café da manhã e receberem os novos horários letivos.

- Você não está comendo nada desde ontem, Harry – disse Hermione, durante o café. Gina parecia ter notado isso há tempos, mas contivera-se em chamar atenção de Harry.

- O Rony também não comeu nada ontem – defendeu-se Harry.

- Disse bem: ontem. Veja agora – disse Gina, apontando para Rony, que comia a terceira torrada com manteiga. Hermione riu.

- Tudo bem, eu vou tentar comer alguma coisa – disse Harry, forçando-se a aceitar um pedaço de torta que Hermione lhe oferecia.

- Crabbe e Goyle parecem um pouco deslocados sem o Malfoy, não parecem? – disse Rony, observando a mesa da Sonserina.

- Verdade. Por falar nisso, ninguém descobriu ainda o paradeiro de Snape e Draco, não foi? – perguntou Gina.

- O Ministério acha que tomar o poder de Hogwarts é mais importante do que encontrar aqueles que lhe propiciaram essa glória – disse Harry com desprezo.

- Bom, espero que tenhamos notícias boas hoje – disse Hermione, observando a coruja que sempre lhe entregava o Profeta Diário pousar na mesa.

- E então, alguma morte? – perguntou Rony.

- Sim, uma morte – disse Hermione, terminando de ler.

- De quem? – perguntou Harry.

- Não é de ninguém do nosso lado – disse Hermione – Um Comensal foi encontrado morto.

- Um Comensal? – perguntou Gina, impressionada.

- Leia pra nós, Mione – pediu Rony.

- Tudo bem – disse Hermione, pondo o jornal na mesa e indicando a manchete "Comensal encontrado morto próximo a Londres" – "O secretário do Ministério, Alberto Stephen, foi encontrado morto num beco próximo a Londres. A falta de marcas no corpo ou de qualquer indício de tortura levou o Ministério a cogitar o uso da Maldição Imperdoável "Avada Kedavra". Os motivos da morte de Alberto ainda não são totalmente conhecidas, e estão investigadas pelo Ministério. Porém o que mais impressiona no caso são dois fatores: o fato de Alberto possuir a Marca Negra, sinal d'Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado, estampada na braço (o que prova mais uma vez a existência de espiões das trevas implantados no Ministério); e uma cobra morta que Alberto segurava na mão. O Ministério não acredita na ação de aurores ou de outros Comensais, e trabalha na hipótese de vingança pessoal." – terminou de ler Hermione.

- Uma cobra? – perguntou Harry, surpreso.

- Veja, Harry, tem uma foto, provavelmente tirada sem a permissão do Ministério – disse Hermione, dando a Harry o jornal.

Na foto, que parecia não se mexer, com exceção de um encanamento quebrado que jorrava água sem parar, estava o corpo de bruços de um homem com os braços pra cima. A Marca Negra tatuada não podia ser vista, nem mesmo o rosto do homem, mas a cobra que ele segurava na mão direita aparecia nitidamente. Harry sentiu seu corpo gelar quando viu a cobra. Era a mesma cobra gigantesca que Harry vira um pouco mais de dois anos atrás na noite em que Voldemort retomara seu corpo. A cobra morta na foto era Nagini, uma das Horcruxes de Voldemort.

- O que houve, Harry? – perguntou Gina. Harry estava suando e seus olhos estavam muito abertos, embora ele próprio não tivesse percebido.

- Essa cobra. É Nagini – disse Harry, olhando para Mione e Rony. Ambos arregalaram os olhos, pareciam ter entendido tão bem quanto Harry.

- Nagini? – perguntou Gina, deslocada na conversa.

- O Harry deve estar maluco, Gina – disse Rony, tentando desconversar.

- Está, é? – perguntou Gina, não acreditando no irmão.

- Aqui estão seus horários, Weasley's, Granger e Potter – disse a Profª Minerva entregando os respectivos horários para cada um. Harry escondeu rapidamente o jornal.

- Ah, temos Defesa Contra as Artes das Trevas hoje – disse Hermione.

- Somente Defesa e Feitiços – disse Rony – Parece que o sétimo ano também é repleto de horários extras.

- Para estudarmos pros N.I.E.M.'s, Rony – disse Hermione, como se a questão fosse óbvia.

- Eu não tenho nenhum dos dois hoje – disse Gina – Só Poções e Transfiguração.

- Bom, até mais, Gina. Não podemos perder nossa primeira aula de Defesa – disse Hermione, levantando-se.

- Até mais, Gina – disse Harry, levantando-se também. Gina sorriu e acenou com a mão.

Harry, Rony e Hermione seguiram até a tão conhecida sala de Defesa Contra as Artes das Trevas e sentaram-se. A sala parecia uma crescente mescla de luz e escuridão. Todas as cortinas estavam abertas, permitindo, assim, que o sol forte daquele dia entrasse pelas janelas e iluminasse tudo, mas os objetos que decoravam a sala, que eram sempre diferentes a cada ano e escolhidos pelos professores que ensinavam a matéria, lembravam muito os objetos com os quais Severus Snape decorara a sala no ano anterior sem, porém, possuir a mesma frieza que os do antecessor.

- Meu nome é, como vocês já foram informados ontem, Tales Nurkales Garbuc – disse o professor, depois de entrar com dificuldades na sala – Pelos relatórios que foram passados a mim, vocês possuíram uma base um tanto confusa na matéria devido à troca constante de professores – o Prof. Garbuc pegou um papel na mesa e forçou os olhos para ler – No primeiro ano, vocês parecem ter tido uma boa educação; no segundo, bem...; no terceiro, a base foi melhor do que a anterior, o que já era de se esperar; no quarto, vocês tiveram um avanço no ensino, um avanço brusco, que certamente não deveria ter acontecido; no quinto, o Ministério nos enviou uma bruxa para ensinar leitura ao invés de Defesa; e no sexto, vocês tiveram a melhor de todas as bases até agora.

- A melhor base? – perguntou Harry, sem se conter – Você sabe que fim levou o antigo professor?

- Sei, sim – disse o professor, que parecia ainda não ter reconhecido Harry – E pode ter certeza de que eu não pretendo matar Cornélio Fudge no fim desse ano.

- Harry, você não vai querer arranjar briga com o professor Garbuc no primeiro dia de aula, vai? – repreendeu Hermione.

- Bem, graças à base adquirida no ano passado, eu não terei muito trabalho com vocês esse ano se todos tiverem aprendido a usar os feitiços não-verbais com perfeição – disse o professor, apoiado na mesa. Harry se lembrou do seu encontro com Belatriz nas férias e sentiu o estômago revirar – Quem de vocês sabe me dizer que tipo de magia aprenderão esse ano?

Hermione levantou a mão antes que o professor pudesse piscar – Aprenderemos um pouco mais sobre Maldições Imperdoáveis e técnicas mais concisas de defesa como o ataque-defesa, usado pelos aurores do Ministério na maioria das vezes.

- Perfeito. Dez pontos para a casa da senhorita... – disse o professor, sorrindo.

- Granger, senhor. Hermione Granger – respondeu a garota, orgulhosa.

- Mas eu creio que podemos passar rápido pelas Maldições Imperdoáveis, já que vocês já viram tanto sobre elas no quarto ano – disse o professor – Mas podemos fazer uma rápida revisão. Você, - chamou o professor, apontando para Simas – quantas Maldições Imperdoáveis existem?

- Três.

- Você, - apontando para Rony – quais são?

- Avada Kedavra, Imperio e Cruciatus – respondeu, Rony.

- Para quais dessas magias há defesa? – perguntou o professor para Pansy, que parecia entediada e triste sem Draco.

- Imperio e Cruciatus.

- Quantas pessoas já sobreviveram a uma Avada Kedavra? – perguntou o professor, apontando para Harry.

Harry hesitou, não queria responder àquela pergunta, todos olhavam ansiosos para ele – Uma, senhor.

- Uma? – perguntou o professor, confuso.

- Sim, uma.

- Menos dez pontos para a casa do senhor...

- Ei, por que menos dez pontos? – perguntou Harry – O que eu fiz?

- Não tolero brincadeiras em minhas aulas – disse o professor.

- Ele não fez brincadeira, nenhuma – disse Hermione.

- Quieta, senhorita Granger.

- Ele só respondeu à pergunta – disse Rony.

- Respondeu de brincadeira – disse o professor Garbuc – Nunca ninguém sobreviveu a um Avada Kedavra.

- Nunca? Nunca até dezesseis anos atrás – disse Harry.

- Quem sobreviveu a um Avada Kedavra há dezesseis anos atrás, eu poderia saber? – perguntou o professor.

- Ahn... – Harry não queria dizer "eu", mas a implicância do professor estava passando dos limites – Eu!

- Você? – perguntou o professor, olhando incrédulo para Harry – Ora, que grande piada. Menos vinte pontos para a Grifinória.

- Claro que ele sobreviveu – disse Hermione – Ele é Harry Potter!

- Pouco me importa o nome que tem – disse o professor.

- Ele é fa... – disse Rony.

- Chega! – berrou o professor. Harry se impressionou em como ele podia fazer aquilo, sendo fraco do jeito que era - Quero uma redação sobre Maldições Imperdoáveis na minha mesa até o final da aula.

- Qual era a daquele professor, afinal? – perguntou Rony com raiva, enquanto se dirigiam para a aula de Feitiços, teriam a tarde toda livre.

- Eu não sei – disse Hermione – Mas eu me assustei com o jeito que ele falou, parecia que ele realmente acreditava no que dizia. Era como se ele...

- Como se ele não me conhecesse – completou Harry – Sabem, eu nunca gostei dessa fama toda, mas foi estranho. Pela primeira vez em Hogwarts eu me senti como se não soubessem quem eu sou, como se não conhecessem minha história. Eu não quero ser egocêntrico nem nada disso.

- Não está sendo, Harry – disse Hermione – É realmente estranho alguém não saber sobre você, ainda mais agora com todas essas notícias sobre Voldemort, os Comensais e tudo mais. O seu nome sempre apareceu umas três vezes por semana no Profeta Diário, sempre em mais de três notícias diferentes, seria impossível ele não saber quem você é.

- Acabamos de descobrir que nem mesmo isso é totalmente impossível, Hermione – disse Rony.

- Ei, Potter, Potter – chamou alguém às costas dos garotos. Harry se virou e viu que a Profª Minerva de sua sala.

- Olá, professora – disse Harry.

- Eu quero dar umas palavrinhas em particular com você, na minha sala, depois do almoço, tudo bem? – disse a professora, parecia apressada.

- Tudo bem, professora, mas o que eu fiz agora? – perguntou Harry.

- Nada, nada. É só uma conversinha, Potter.

Como fora combinado, Harry foi até a sala da professora Minerva depois do almoço para a conversa.

- Entre, Potter, entre – disse a professora, que estava em pé no meio da sala, em frente a um quadro antigo e velho que sempre estivera ali, mas ao qual Harry nunca dera importância.

- Olá, professora – disse Harry, indo até a professora.

- Aqui será onde conversaremos a partir de agora, Harry – disse alguém vindo do quadro. Era Dumbledore.

- Professor Dumbledore! – gritou Harry.

- Sim, Harry, eu – disse Dumbledore, sorrindo na tela – Como você bem sabe, os ocupantes dos quadros de Hogwarts podem caminhar pelas molduras do castelo, e como Cornélio se apossou da sala dos diretores agora, creio que será difícil de nos encontrarmos sem ser aqui.

- Professor, Nagini foi morta – disse Harry, sem se conter.

- É. Já soube dessa feliz notícia, mas deixaremos isso para outra hora, Harry. Preciso lhe dizer quem será seu novo professor de Oclumência – disse Dumbledore.

- Quem? – perguntou Harry, temendo a resposta.

- O professor Tales Garbuc.