-- Capítulo 8 --

O Retorno do Príncipe

- O professor Garbuc? – perguntou Harry. Uma aula com Garbuc jamais seria tão insuportável como era com Snape, mas, ainda assim, seria insuportável.

- Sim, Harry – respondeu-lhe Dumbledore serenamente – Por isso que a minha escolha para o novo professor de Defesa esse ano foi uma das condições exigidas por mim para que o Ministério tomasse conta de Hogwarts, como há muito já desejava.

- Mas, professor... – hesitou Harry – Esse Garbuc, ele não... ele...

- Eu sei exatamente o que houve hoje, Harry – disse Dumbledore, sem se alterar – E espero que você não contradiga o professor Garbuc novamente, por mais certo que você esteja.

- Mas...

- Harry, estou te pedindo – disse Dumbledore.

- Sim, professor Dumbledore – aceitou Harry contrafeito.

- E o pedido se estende à Srta. Granger e ao Sr. Weasley – disse Dumbledore.

- Tudo bem. Eu avisarei a eles – respondeu Harry.

- Muito bem – disse Dumbledore, ajeitando-se dentro da moldura do quadro – Agora vamos à parte um pouco mais incômoda da nossa conversa de hoje. Eu terei de fazer a você outros pedidos e lhe passar, Harry, algumas informações e até mesmo missões.

- E quais seriam?

- Eu já conversei com a professor McGonagall sobre isso, Harry, e ambos estamos pedindo para que você se afaste do time de quadribol da Grifinória este ano – disse Dumbledore, como se estivesse pedindo a Harry para lhe passar o açúcar durante o café da amanhã.

- Me afastar? Do time de quadribol? – repetiu Harry. Não era possível. Dumbledore não podia estar pedindo aquilo. Não era possível.

- Sim. Afastar-se do time de quadribol – disse Dumbledore – E caso você não faça isso por livre e espontânea vontade, a professora McGonagall será obrigada a expulsá-lo, o que seria bem mais constrangedor.

- Mas por que diabos eu tenho que me afastar do time? – gritou Harry.

- Porque você precisa terminar a sua missão que mal começou – disse Dumbledore – Minerva, agora é a hora que você precisará sair por alguns instantes.

- Sim, Alvo – disse a professora Minerva, parecendo pressurosa e saindo por uma porta aos fundos.

- Harry, me sentirei mais seguro se você usar o "Abaffiato" nas portas – disse Dumbledore. Harry, que estava sendo atingido por uma onde fúria, apontou para as portas e conjurou o feitiço – Perfeito. Agora, responda-me, Harry: Quantas Horcruxes você encontrou durante suas férias?

- Somente a taça de Hufflepuff, senhor – respondeu Harry, com uma certa vergonha que se misturava à fúria.

- Ah... – disse Dumbledore, sua voz soou um pouco decepcionada – Entendo. Sinceramente, eu não esperava que todas as Horcruxes fossem destruídas antes de você voltar, Harry, mas eu esperava resultados um pouco melhores. Se contarmos com a morte de Nagini e que destruiremos a taça em breve, faltam apenas dois Horcruxes, excetuando-se o que se encontra dentro do corpo de Voldemort. Onde está a taça, Harry?

- Eu a trouxe para Hogwarts, senhor – disse Harry – Achei melhor não destruí-la antes de reencontrá-lo.

- Fez bem. Poderia ter se ferido gravemente durante a tentativa – disse Dumbledore – Trataremos de destruí-la em breve, mas não agora. Bom, Harry, você me perguntou porque não poderia mais jogar quadribol esse ano, e eu não te disse os outros pedidos que te farei. Está tudo conectado.

- Eu não estou entendendo – disse Harry sinceramente.

- Você terá que sair da escola durante alguns finais de semana, Harry. Para terminar a missão das Horcruxes e iniciar outra missão.

- Que missão?

- Sabe, Harry – começou Dumbledore – O Ministério da Magia nunca suspeitou que Voldemort tenha feito Horcruxes e eu acho que jamais suspeitará. A maior parte dos aurores acha que destruir Voldemort não é lá uma missão tão difícil e complicada. Para os aurores, a missão mais complexa que eles enfrentam há tantos anos é descobrir onde Voldemort se encontra, e devo confessar que essa é uma questão que também permeia em minha mente.

- Os Comensais devem saber – disse Harry – Digo, Snape. Bem, o senhor sempre garantiu que ele era um agente duplo e trabalhava para a Ordem, ele devia saber não devia?

Dumbledore fitou Harry por alguns segundos. Longos segundos – Não, Harry. O professor Snape jamais foi sequer convidado para o local onde Voldemort se esconde. Pouquíssimos foram aqueles que conseguiram.

- Na minha opinião, Snape sempre soube onde era – disse Harry - Mas nunca contou, obviamente...

- A sua nova missão, Harry, – disse Dumbledore, cortando a frase de Harry – depois de descobrir sobre as Horcruxes, é encontrar o esconderijo de Voldemort.

- Como eu farei isso? – perguntou Harry.

- Eu já disse. Em alguns finais de semana, você se ausentará da escola para procurar – disse Dumbledore – A professora Minerva possui um estoque suficiente de Poção Polissuco, além das que serão preparadas por Horácio para que a Srta. Granger ou o Sr. Weasley tomem para tomarem suas formas. Assim passeariam pela escola durante algumas horas dos finais de semana, o que despistaria Fudge e Percy para nossos planos. E, claro, você sairia da escola trajando sua capa da invisibilidade e aparataria para Hogsmeade ou para onde queira – disse Dumbledore. Ele havia pensado em tudo aquilo. Era um plano genialmente bom.

- Se Rony e Hermione ficaram na escola se fingindo passar por mim de tempos em tempos – disse Harry, sua espinha gelando – Eu terei que ir sozinho?

- Creio que sim, Harry – disse Dumbledore calmamente.

Harry ficou atordoado. Seguir sozinho procurando por Horcruxes e pelo esconderijo de Voldemort não era uma tarefa muito atraente – Ah... uhm... – disse Harry, tentando afastar aqueles pensamentos da cabeça – E quando começam as minhas aulas com o professor Garbuc?

- No final de semana da semana que vem – disse Dumbledore.

- Mas eu pensei que nos finais de semana...

- Não, não, Harry – disse Dumbledore – Os finais de semana serão alternados entre aulas de Oclumência, saídas estratégicas da escola e momentos de lazer, é claro – completou ele, sorrindo - Mas nesse final de semana você sairá do colégio, como combinamos.

- Ah, sim... entendi – disse Harry.

- Creio que já disse tudo o que tinha para lhe falar, Harry – disse Dumbledore – Se não tiver mais nenhuma pergunta, pode ir.

- Uhm... o senhor tem alguma idéia de quem seja R.A.B, professor? – perguntou Harry.

- Tenho algumas suspeitas. Mas nenhuma dela cem por cento certa, embora possa afirmar que esteja na casa dos noventa com relação a uma – disse Dumbledore.

- Ah, e o senhor não vai me dizer, vai?

- Não agora.

- Então, tudo bem. Até mais – disse Harry se dirigindo à porta.

- Ah, Harry – chamou Dumbledore - Já ia me esquecendo. Pegue novamente o livro do Estudo Avançado de Poções do Príncipe Mestiço.

- Mas por que, senhor? – perguntou Harry, surpreso.

- Ele contém muitas informações preciosas e igualmente perigosas, Harry – disse Dumbledore - E você fará um bom uso dessas informações, se for cauteloso, obviamente.

- Tudo bem. Tchau.

- Sair da escola sozinho nos finais de semana? – perguntou Hermione, assustada, quando Harry terminou de lhe contar a conversa que tivera com Dumbledore, no salão comunal.

- Fala baixo, Hermione – advertiu Harry.

- Não jogar quadribol? – perguntou Rony – O que será do time?

- Sim, sim. Dessa maneira que eu contei para vocês – disse Harry, impaciente.

- Como Dumbledore acha que você vai descobrir onde Você-Sabe-Quem se esconde? – perguntou Rony, espantado.

- Não sei, Rony. Não sei nem por onde começar – disse Harry.

- Ah, Harry – disse Hermione – Tudo tem se tornado cada vez mais difícil ultimamente.

- Bom, agora que vocês já sabem, eu vou dormir. Amanhã bem cedo eu vou acordar para voltar à Sala Precisa e buscar o livro do Príncipe – disse Harry, se levantando.

- Nós também vamos, não vamos, Hermione? – perguntou Rony.

- Claro que vamos – disse Hermione firme – Amanhã bem cedo. Uma hora antes do habitual, que tal?

- Tudo bem – disse Harry, se afastando. Rony e Hermione precisavam de mais intimidade, e Harry se sentia um peso entre os dois algumas vezes.

- Ei, Harry – chamou Dino, correndo em direção a Harry – Você já tem alguma previsão de quando começarão os testes esse ano?

- Testes? De quadribol?

- Claro – disse Dino, animado – E aí, quando começam?

- Eu não sei, Dino. Não sou mais o capitão do time – disse Harry deprimido – Aliás, nem capitão, nem apanhador, nem nada.

- Como assim, Harry? – perguntou Gina, às costas de Harry.

- Isso mesmo que você ouviu, Gina – disse Harry – Estou fora do time esse ano.

- Mas por quê? – perguntou Dino.

- Motivos particulares, Dino. Desculpe – disse Harry, se afastando.

- E quem será o novo capitão? – perguntou Gina.

- Também não sei, Gina.

Harry deitou-se na cama, infeliz. Tinha perdido toda a pouca liberdade que Hogwarts lhe propiciara. Não poderia mais jogar quadribol, teria raros finais de semana sem aulas de Oclumência ou viagens em busca de Horcruxes. Virou-se e viu o retrato dos pais na cabeceira. Eram tão alegres, tão felizes. Deviam ter sonhado que Harry também o fosse. Foi quando Harry se lembrou do que tinha dito a Hermione e Rony no enterro de Dumbledore sobre ir a Godric's Hollow e visitar o túmulo dos pais, assim como a casa em que ele havia morado durante um único ano de sua vida. E pensando que não poderia ser assim tão ruim gastar uma de suas saídas de Hogwarts para visitar o túmulo dos pais, Harry adormeceu.

Harry acordou no horário combinado no dia seguinte e desceu junto com Rony até o salão comunal para se encontrarem com Hermione. Os três se dirigiram para o sétimo andar, aquele que servira hà dois anos para a Armada de Dumbledore e de onde, no ano passado, Draco Malfoy planejou todo o seu plano de matar Dumbledore.

- Ei, vocês. Um pouco cedo para caminhadas, não acham? – perguntou uma voz por trás deles, quando faltava um único corredor para chegarem em frente à tapeçaria de Barnabás, o Amalucado. Era Percy, com um ar mais soberbo do que possuía quando era só monitor da escola.

- Não pode ser tão cedo assim. Se fosse, você estaria na cama – respondeu Rony.

- Você tem se tornado um menino abusado, Rony – disse Percy.

- Você acha? – perguntou Rony com desdém.

- Sabe, Rony – disse Percy, se aproximando – Além de tirar pontos da Grifinória, eu posso dar detenções a você, suspendê-lo das aulas, tirar a sua vaga no time de quadribol e até mesmo expulsá-lo da escola se eu quiser. Papai e mamãe não gostariam de vê-lo expulso. Então é melhor me tratar com mais respeito da próxima vez, entendeu?

- Aposto que mesmo sendo expulso da escola, eu ainda causaria mais orgulho a eles do que você jamais causará. Não enquanto você for um exímio puxa-saco desse maldito Ministério – gritou Rony, virando as costas e andando. Percy ruborizou e pareceu sem graça

– Digam ao amigo de vocês que ele tem uma detenção no próximo sábado às oito horas na minha sala, que fica no quarto andar – disse Percy a Harry e Hermione, depois de virando e indo embora na direção contrária.

Harry e Hermione se entreolharam, e seguiram para a Sala Precisa. Rony já estava lá, esperando por eles, encostado na parede ao lado da porta da sala.

- Estou cansado do Percy – disse Rony.

- Nós entendemos, Rony. Mas você foi um pouco rude, não foi? – perguntou Hermione, ainda horrorizada. Harry sabia o efeito que a palavra "expulsão" causava na amiga.

- Rude? Hermione, ele foi brilhante – disse Harry, rindo.

- Obrigado, Harry – riu Rony.

- Brilhantes mesmo iram ficar os olhos do Percy se ele expulsasse o Rony – disse Hermione.

- Ah, Hermione, não começa – disse Rony – Abre logo isso, Harry – completou ele, apontando para a porta.

Harry concentrou-se no desejo de encontrar o livro do Príncipe e abriu a porta. Lá estava o salão de teto alto, grandes janelas típicas de catedrais e o circuito de ruelas e vias, feitos pelos pertences deixados anteriormente nesses muitos anos de Hogwarts naquele local. Harry andou pelos corredores formados pela imensa quantidade de ex-pertences, até que achou o armário onde escondera o livro do Príncipe (Harry identificou o armário pela cabeça do feiticeiro velho e feio que ele tinha adornado com uma peruca e uma tiara). Lá estava o livro, intacto, como Harry o deixara. Um frio percorreu sua espinha quando ele encostou no livro.

- Vamos sair logo daqui – disse Rony – Esse lugar está me dando arrepios.

- Vamos – disse Harry.

Era impossível eles mudarem de posição no meio dos estreitos corredores. Logo, Harry, que seguia na frente, agora ia por último e Rony, que entrara por último na sala, seguia na frente. Rony estava andando muito rápido e parecia não ter decorado direito o caminho de volta.

- Gente, eu não estou gostando nada disso – disse Rony, lá na frente.

- Seria melhor se tivéssemos mudado de posição – disse Hermione – O Harry que sabia sair daqui.

- Não adianta correr, Rony! – disse Harry.

- Ali! – apontou Rony – Olhem, aquele machado ensangüentado! Nós passamos por ele, eu lembro, eu lembro.

- Verdade, agora é só cruzar a próxima direita e seguir em frente – disse Hermione – Até que enfim.

Rony saiu correndo para cruzar o corredor à frente, mas acabou escorregando em uma poção que vazava de um frasco acima dos livros. Para não cair de cara no chão, o garoto acabou se apoiando no machado pesado, grande e ensangüentado. Ele caiu no chão assim mesmo. Parecia estar tendo um ataque epilético. Estava se contorcendo no chão e acabou derrubando, sobre si mesmo, alguns livros que estavam em cima, ferindo o seu rosto. Mas parecia não se importar. A mão estava cortada, sangrava.

- Hermione faz alguma coisa – berrou Harry, atrás da garota.

- Mas o quê? – perguntou ela, chorosa. Parecia que sempre que algo ocorria com Rony, ele ficava nervosa demais para pensar rapidamente.

- Levicorpus – gritou Harry. E Rony foi erguido no ar, pelo tornozelo.

- Harry! – berrou Hermione - O que você fez com ele?

- Precisamos sair daqui. E cuidado com aquele machado – disse Harry.

- Eu vou chamar a professora Minerva ou qualquer outro professor – disse Harry, depois que ele e Hermione saíram da Sala Precisa e fecharam a porta – Fica aqui com ele – Rony voltara a se debater, descontrolado.

- Foi uma sorte você ter encontrado o professor Flitwick tão rapidamente, Harry – disse a Madame Ponfrey, uma hora depois, quando já havia medicado Rony. O garoto dormia tranqüilo, cheio de marcas no rosto, e a mão enfaixada para reter o sangue.

- Por que isso aconteceu com ele, Madame Pomfrey? – perguntou Hermione.

- Eu não sei, mocinha – disse a enfermeira – Mas isso tem cara de algo muito poderoso. Felizmente, o efeito do que quer que seja foi controlado, e esperamos que ele acorde daqui a uma semana, mais ou menos.

O incidente envolvendo Rony foi comentado durante toda a semana na escola. Várias versões diferentes surgiram, mas nenhuma envolvia um machado que causava ataques nervosos em quem fosse cortado por ele.

Harry não teve muito tempo para pensar no machado, nem em nada do gênero. Apesar de ser sua primeira semana na escola, os deveres eram sempre muitos, embora ele tivesse sido poupado de um trabalho de Slughorn por conseguir produzir uma Poção para Doenças Trouxas com maestria, graças ao Príncipe Mestiço do livro que ele recuperara.

Na tarde de sexta, Hermione e Harry foram chamados pela professora McGonagall, que deu à garota um bocado de Poção Polissuco, ensinou-a como usar (como se ela já não soubesse), e deu a Harry as instruções de estar às sete horas do dia seguinte em sua sala escondido sob a Capa da Invisibilidade para ser levado por ela até os terrenos externos da escola e poder prosseguir com sua missão.

Harry acordou no dia seguinte, e encontrou Hermione, que o aguardava para cortar uns fios do cabelo do garoto e completar a Poção Polissuco, na sala comunal. Harry escondeu-se sob a capa na sala comunal, vazia àquela hora, e foi até a sala da professora Minerva, que guiou o garoto até os portões de Hogwarts.

- Espero você aqui no domingo, às oito da noite, Potter – disse a professora Minerva, enquanto fechava os portões.

- Certo, professora – disse Harry, sob a capa, do lado de fora da escola.

Como havia pensado noites antes, ele não começaria sua missão naquele dia. Ele queria visitar o túmulo dos pais, saber onde eles moraram, onde ele morara antes de ter a vida destruída por Voldemort.

Harry aparatou, concentrando-se em Godric's Hollow. Um segundo depois, viu-se em frente ao que parecia ser o começo de uma vila. Ele estava em pé no meio de uma estrada de terra que dividia um campo. Dos dois lados da rua, havia casas, todas aparentemente antigas, sendo que a primeira, que deveria existir do lado direito, não estava lá. Parecia ainda haver alguns poucos escombros, como se tudo que acontecera ali tivesse acontecido há alguns meses. Ao lado dos poucos escombros da casa, havia duas lápides e, em frente a uma delas, um homem vestido de preto, agachado de costas para Harry.

Harry se aproximou da casa de seus pais. Ninguém nunca havia mostrado aquele lugar a ele, mas ele sabia que era ali. Algo dentro dele dizia que era ali.

- Quem é você? – perguntou Harry, tirando a capa. O homem se levantou.

– Potter, que agradável surpresa – disse ele. O homem usava uma roupa toda preta, tinha os olhos pretos fixos nos de Harry. Uma cortina dos cabelos mais negros e oleosos que Harry já vira na vida. Era Severus Snape.