Capítulo 1 – Aqueles que guardam o futuro
Como em qualquer outra madrugada, um disparo rasgou os céus, emitindo um forte ruído. Era o sinal de sempre: Hora de voltar ao trabalho. Para mim foi algo normal, mas eu sequer imaginava o que o dia estava me reservando.
Meu nome é Alpha, sou um reploid que vive no ano de 2315. É um mundo onde já não se há mais esperanças para os humanos, desde que reploids especiais chamados Omnis destruíram toda e qualquer resistência, tomando o controle de absolutamente tudo. Tomados pela visão de que humanos já desperdiçaram todas as suas chances de viverem nesse planeta, eles os tornaram escravos, assim como qualquer máquina que simpatizasse com os mesmos.
Segundo informações de uma pessoa cuja origem eu desconheço, fui construído antes de todo esse pesadelo começar. Porém, a minha primeira lembrança ocorre depois: Abro meus olhos e me vejo deitado em um beco de uma cidade destruída. Levantando-me e dando os primeiros passos rumo à vida, tive a primeira de várias visões horríveis que me atormentam dia após dia, tanto em sonhos como em realidade: Humanos sendo tratados como trapos, alguns resistindo e se transformando em manchas de sangue nas paredes, outros sendo jogados violentamente dentro de veículos e sendo levados para um destino desconhecido. Um soldado me avistou. Não soube exatamente o que se passava em sua cabeça, mas fui levado também. E aqui estou eu.
Trabalho nas minas, em escavações para encontrar um minério que armazena grande quantidade de energia. Para os Omnis, significa muito. Para nós, não significa nada. Mas esse não é motivo para fraquejar: Se demonstrarmos qualquer indisposição nos enviam para os campos de extermínio, lugar onde somos destruídos, fundidos e convertidos em matéria-prima para as construções. Não seria tão ruim, já que a dor acabaria de modo definitivo.
Seguindo minha cruel rotina, aconteceu algo que mudou tudo, algo que traria alguma esperança a esse mundo corrompido. Um dos guardas, demonstrando uma expressão de pura crueldade enquanto se aproximava de nós, escolheu aleatoriamente um dos trabalhadores, J, um grande amigo meu, e começou a golpear-lhe impiedosamente. Não sei ao certo o que aconteceu comigo, sempre me controlei, mas naquele momento eu não consegui segurar meu espírito: Apontei meu braço direito na direção do oficial e no mesmo instante meu Alpha Buster, arma que eu sempre ocultei para não arranjar problemas desnecessários, se formou. Sem hesitar, joguei o disparo de plasma, que atravessou o corpo do guarda, explodindo-o. Antes de ele desaparecer, eu pude ver seus olhos arregalarem. O pavor da morte. Isso me enojou naquela hora.
Olhei para cima após eliminar o reploid e avistei dois outros sobre um dos rochedos das minas. Eram Omnis. Eu já comecei a me despedir de minha existência, havia cometido um crime imperdoável, embora não tivesse arrependimento algum. Um deles, portando uma lança, quis descer para me destruir. O outro, com um bastão sendo segurado pela mão esquerda, o puxou de volta, acenando negativamente com a cabeça. Ele viu meu buster. Não pude deixar de pensar que queria me utilizar para alguma coisa.
O trabalho acabou ao fim do período da noite. Tanto meu corpo quanto minha mente estavam muito cansados, então me sentei encostado em uma das rochas. Não passou muito tempo e um indivíduo muito grande começou a andar em minha direção. Sentou-se ao meu lado. Não pude deixar de notar a sua armadura, que parecia tão...incompleta. Ele começou a falar comigo, sua voz me despertava certa confiança.
"Vi o que você fez hoje. Eu te confundi com um amigo meu, de muito tempo atrás."
"Quem?"
"Nem te conto, você iria rir."
"O que quer comigo?"
"Neste momento, você é o único que pode fazer algo nesse mundo. Não quer ficar parado, quer?"
"Desde que surgi nesse mundo, eu vi coisas horríveis e fui incapaz de fazer qualquer coisa. Se possível, não quero ter de presenciar isso nunca mais. O que eu posso fazer?"
"Existe uma máquina do tempo, no Laboratório Principal, ao norte daqui. Se você puder usá-la para voltar ao passado, seria capaz de buscar ajuda daqueles três..."
"ELES?"
"Sim. Eu vi que você tem muito poder, mas do jeito que está agora, seria destruído facilmente se lutasse sozinho. Pense sobre o assunto."
Eu não sabia nada sobre a existência dessa máquina do tempo. E esse reploid saber sobre ela também me espantou de maneira surpreendente. Talvez ele já tivesse trabalhado no Laboratório Principal, quem sabe. Naquele momento, minha cabeça já estava feita: Iria para o passado a qualquer custo.
