Capítulo 2 – Não olhe para trás
A madrugada chegou, mas eu não despertei de meu sono. Estava inerte, preso por uma violenta onda de sonhos e premonições. Caminhava receoso pelas águas psicodélicas e em suas vibrações pude ver estranhas imagens. Batalhas, incessantes batalhas que, cada vez que terminavam, iam manchando em vermelho as águas do sono. As eternas paredes negras distorceram e se tornaram um reluzente vortex azulado. Três reploids surgiram: X, Zero e Axl, os lendários Maverick Hunters. Encaravam um ser individual, trajando uma detalhada armadura branca que aparentava um enorme poder, a aura era bastante familiar. Eles fixaram-se em suas poses ofensivas e... Um clarão me jogou para longe antes de poder presenciar o clímax.
Acordei e senti o rosto formigando. Um guarda havia coberto meu corpo com chutes, na desesperada tentativa de me despertar. Iria receber outro, mas ele parou ao ver meus olhos voltarem para a realidade. Sem cerimônias, agarrou meu braço com força e saiu arrastando-me pelo chão, como se estivesse lidando com um trapo rasgado. Os atritos de minha armadura contra o solo rochoso duraram cerca de cinco minutos, após isso ele me largou e foi embora. Confuso e desnorteado, fui levantando enquanto movia a cabeça para qualquer direção, tentando saber onde havia parado. Nisso, vi um reploid encostado em uma grade, olhando em minha direção. Trajava uma armadura era azul com detalhes amarelos, seus cabelos castanhos saiam pelo capacete e ficavam levemente erguidos. Ele queria algo comigo, sem demora já começou a falar.
"É você mesmo que eu queria ver. Tem um nome?"
"Alpha."
"Ótimo nome, ele combina com você."
"O que quer?"
"Eu vi você ontem. NENHUM reploid comum poderia vencer um de nossos soldados. Eu não gosto de ver potencial desperdiçado e por isso venho lhe fazer uma proposta. Aperte minha mão e nunca mais verá este lugar, nunca mais sofrerá, será um de nossos soldados de elite."
Ele estendeu a mão, esperando minha resposta. Confesso que, naquele momento, hesitei ao ser atingido pela sinceridade afiada de suas palavras e olhos. Não senti maldade vinda dele, mas ele parecia acreditar cegamente no que fazia. Ergui-me junto de minha cabeça e ativei o Alpha Buster, mirando-o.
"O SEU potencial está sendo desperdiçado ferindo os humanos. E se a minha resposta for NÃO?"
"Então você será nosso inimigo, e como tal, deverá ser destruído. Agora só há uma maneira de sair daqui, Alpha. É me derrubando e pegando aquela Ride Chaser."
Ele apontou ao longe, era uma Adion IX, atualmente nenhum veículo pode se comparar à sua velocidade. Encurralado e sem mais opções, mandei o primeiro disparo.
O tiro esverdeado seguiu como um raio, mas ele apenas saltitou para o lado e saiu ileso. Ai, uma hipótese se tornou certeza: estava lidando com um Omni. Colocando mais motivação no ato, mandei mais ataques com todo o vigor que eu contava no momento. Minha ansiedade fez o tempo perder a velocidade. O reploid então puxou um cabo de metal das costas e a arma aumentou seu comprimento, se tornando um bastão. Manejando-o como se fosse parte do corpo, ele desfez meus tiros com simples golpes leves. A surpresa acabou baixando meu espírito combativo. Ele então correu na minha direção pronto para me enviar ao nada, já perdi as esperanças vendo que o tempo para reagir era inexistente. Exatamente quando fechei os olhos, escutei algo grande se chocando contra meu inimigo e colocando-o ao chão. Voltei à visão e reconheci o enorme reploid da noite passada, imobilizando o Omni.
"ALPHA! É A SUA CHANCE, CORRA!"
Eu juro que queria ajudar ele, mas sabia que se o fizesse, todo o esforço seria em vão. Corri rumo à Adion e saltei sobre o veículo, acelerei a máquina ao seu limite para derrubar uma das grades. Enquanto seguia pela estrada maltratada, evitei olhar para trás. Não podia mais fazer isso, o que nos espera é apenas o futuro.
Foram dez minutos de ansiedade sobre a Ride Chaser, mas eu finalmente alcancei o prédio que chamavam de Laboratório Principal. Para evitar os incômodos da segurança do edifício, segui por uma rampa improvisada pelos destroços dos arredores e voei para a janela do segundo andar, atravessando-a. A Adion acabou se danificando, mas naquele momento ela já era inútil.
