Capítulo 4 – Rumo a um Futuro
Ano de 23xx. Seu céu noturno tem um olhar entristecido, amortiçado, há séculos sem o inconfundível ar romântico dado pela Dama da Noite, e quase não mais se passa por firmamento. As nuvens se reúnem negras e pesadas, tristes, há muito chorando suas esperanças, em forma de uma chuva tempestuosa que estala com bravura contra o mundo de baixo. Mas, por mais pura que suas gotas sejam, o amargo nunca será lavado, sempre continuará impregnado na essência. Lágrimas não vão mudar o mundo. É essa a reflexão que invade a mente de um reploid, um guerreiro, trajando uma bela armadura azul de detalhes amarelos, cujo elmo lhe ergue levemente o conjunto de vívidos fios castanhos. Um Omni, Zenkai.
Protegido pelas grossas paredes tecnológicas do Laboratório Principal, aquele enorme e imponente edifício, esse ser encara uma janela, estático ao meio de um longo corredor. Mas seus olhos amarronzados não fitam apenas o cair das gotas de chuva, também enfrentam seu próprio reflexo desenhado na superfície do vidro, sua própria face desiludida. Em pensamento, apenas uma frase dá voltas: "O que eu devo fazer?".
Neste momento, uma porta se abre, repentina, dando entrada a dois outros reploids. O mais alto deles, de armadura purpúrea e longos cabelos prateados em tranças, caminha acelerado até Zenkai, mirando-o com certa agressividade, e pára, à frente do outro sujeito, gordo e baixíssimo, coberto por uma couraça amarela, que apenas sorri brincalhão, tranqüilo com as mãos nas costas. O omni de trajes azuis volta o rosto à direção do companheiro, coberto por uma indiferença mortal.
- O invasor conseguiu escapar pela máquina do tempo. – Ele explica.
- O que? Como você pôde deixar isso acontecer? – O recém-chegado questiona em gritos, nervoso.
- Eu cheguei muito tarde.
- O que faremos agora...?
- Ainda há um meio de impedi-lo.
Zenkai dá as costas e sai andando pelo longo piso, ambos o seguindo. Sem muita demora, acabam em frente a uma pequena porta metálica, trancada, emanando uma terrível sensação de segredo. O guerreiro azul aproxima a mão direita ao painel e, em velocidade irreconhecível, pressiona os botões formando uma senha. A entrada se ergue em um leve chiado eletrônico, ao que uma luz intensa sai do recinto, atingindo o rosto dos três. Adentram, atravessando a luminosidade, para que seus olhos sejam mais uma vez acertados, mas dessa vez pela surpresa que os arregala. Ao centro da sala, uma outra máquina do tempo se estaciona, bem mais equipada e detalhada que aquela roubada por Alpha, imponente, brilhante. Zenkai se aproxima e, relutante, toca o vidro de proteção.
Em 21xx, duas semanas se passaram desde que Alpha chegou. Por dias, ele caminhou maravilhado por uma cidade que, em sua casa, não passava de um mundo de sonhos. Um lugar de infinitos prédios enfileirados, todos refletindo a luz da igualdade em todas as suas cores, colocando humanos e reploids a conviverem, a caminharem e trabalharem juntos, como deveria ser. No entanto, há um tempo, isso mudou. As ruas agora estão desertas, silenciosas, cinzentas, cobertas por um pesado ar de tensão e morte. Tudo se transformou em um campo de batalha.
Em um dos cantos, um pequeno grupo de reploids bem armados, com apenas vinte e cinco membros, esperam de pé, com um típico olhar de ida sem volta estampado em suas faces. Ruídos entrelaçados de centenas de passos vão ficando cada vez mais audíveis para esses guerreiros, esses Maverick Hunters, que até começam a suar frio. O inimigo vai tomando forma: um imenso batalhão de mechaniloids, que marcha fria e impiedosamente pelas ruas, deixando claro que querem destruir tudo que estiver vivo. Os reploids empunham suas armas, esperando o momento do confronto.
- Capitão Slash... O senhor está pronto para morrer? – Um dos hunters brinca, sorrindo.
- Você é um Maverick Hunter há apenas três dias e já está querendo morrer? Seu infeliz. – Responde o capitão, sorrindo de volta.
E então, os bravos guerreiros avançam contra as tropas inimigas. Eles rasgam pela multidão com toda sua fúria, atacando e destruindo tudo que estiver se mexendo e não possuir forma humana, cientes de que serão pulverizados se derem qualquer brecha que seja. Com grande habilidade e experiência, seus disparos e golpes são certeiros e mortais, nenhum oponente é capaz de se esquivar ou sair com vida. No entanto, mesmo para Hunters desse nível, encarar tantos inimigos ainda é suicídio. De fato, o que lhes garante a sobrevivência é um único fato misterioso: a cada segundo o número de mechaniloids vai diminuindo de maneira anormal, como se eles desaparecessem unidos à neblina. O capitão Slash é o único a perceber isso. Ele maneja seus sabres de maneira excepcional, usando-se de toda a leveza do corpo para se esquivar, em longos e graciosos saltos, dos disparos que vêm de todas as direções. No trabalho conjunto com seus hunters, que também lutam muito bem, tudo se encerra em dez minutos. Nada mais fica à vista deles, exceto as carcaças desanimadas dos oponentes.
- Ei! Estão todos vivos? – O capitão grita encostado em uma parede, cansado.
- Sim, senhor! Quase ninguém ficou ferido! – Um dos reploids responde.
- Onde está aquele novato? – Slash olha para os lados.
- Pessoal! Olhem! – Um outro hunter berra cheio de surpresa, apontando ao alto com o dedo indicador.
Todos se reúnem, olhando na direção indicada, e ficam boquiabertos. Centenas de mechaniloids, mais da metade das tropas que os hunters enfrentaram, correm pelo alto dos prédios, pesados e selvagens, perseguindo um único reploid. Um reploid esverdeado que carrega um profundo semblante determinado, saltando de edifício em edifício para atrair a fúria do inimigo. O novato de quem o capitão perguntara. Ninguém mais, ninguém menos do que Alpha.
- Ele é louco!
- Não. Ele é impressionante. – Slash interrompe a euforia. – Conseguiu atrair mais da metade dos mechaniloids para o seu encalço, levando-os para longe de nós e salvando nossas vidas, e agora está esperando o melhor momento para se livrar deles. Com o devido treinamento, poderá ser tão bom quanto X e Zero.
Alpha continua atravessando pelo alto da cidade, desviando-se com cautela dos vários tiros que avançam em sua direção. De repente, uma poderosa energia começa a fluir de seu peito, espalhando-se como uma tempestade para todo o corpo, enchendo-o com um brilho que dá inveja às estrelas. Seus olhos firmam. As pernas flexionam. Alpha vira-se para os oponentes e desfere um longo salto, ativando o canhão de seu braço direito, o Alpha Buster, mirando-o. A tensão faz tudo correr mais devagar. Em um grito decisivo, o imenso raio de plasma varre o horizonte, como um grande cometa.
Muito perto dali, atravessando uma enorme extensão de águas pacatas, é possível ver uma pequena ilha desabitada. Ali, porém, os raios lunares não chegam. Tudo é dominado por uma sombra. Uma obscuridade se estendendo sobre toda a ilha, fruto de um imenso objeto que flutua aos céus. Mantendo-se ao alto pela energia emanada das dezenas de propulsores espalhados por sua base, é uma fortaleza voadora, repleta de torres, apresentando formas semelhantes às de um castelo. Antigas, mas ainda ameaçadoras.
Lá, no alto da torre mais alta, larga e imponente, uma figura observa pela vasta janela. Um reploid de cabeça ausente de fios, de braços cruzados no cômodo de sua abrangente armadura branca, carregando às costas uma finíssima capa. Seu sorriso é largo, firme, maléfico, e acima de tudo inconfundível. É o sorriso de Sigma, o Maverick mais terrível e poderoso que já existiu.
Ele não sai de sua posição, permanece em pé observando um ponto fixo naquele céu quase nublado, cutucando os braços, ansioso, inquieto, até o momento chegar. Um repentino disparo de plasma colide com a porta, forte a ponto de arremessá-la com tudo na direção do maverick, que permanece calmo.
- Vocês demoraram.
Tão veloz que arremessa ao ar uma série de rastros ilusórios, Sigma vira-se e, com um único golpe de antebraço, faz a porta voar contra a parede. O silêncio toma conta por alguns segundos. Da escuridão do lado de fora, um guerreiro finalmente adentra. Um reploid de armadura azul, que pára próximo à entrada. X. Mirando um olhar esverdeado carregado de determinação, o canhão de seu braço direito ganha forma, envolto pelos ventos da energia concentrada. Em seguida, entra e coloca-se ao lado dele um hunter de couraça escarlate, imponentes orbes azuis e longos e brilhantes cabelos dourados saindo por detrás do elmo. Zero. Puxando o cabo do sabre encaixado às costas, ele golpeia o ar, formando, em um estouro, a reluzente lâmina incandescente. Por último, surge, parando do outro lado, um jovem hunter de armadura escura e cabelos volumosos espetados atrás do capacete. Axl. Ele mantém uma postura descontraída, carregando em prontidão seu par de pistolas.
- Isso acaba aqui, Sigma! – X firma os olhos.
- De uma vez por todas! – Zero olha ameaçador.
- Quando chutarmos seu traseiro! – Axl sorri em desafio.
- Heehee... – O maverick pousa a mão sobre sua capa e a joga para longe. – Vocês já não têm meios de me impedir.
Zero e Axl se dispersam. X e Sigma avançam um contra o outro, rasgando ferozes como dois relâmpagos, e se batem com toda energia, punho contra buster. Um clarão se levanta, jogando ambos para longe. Mas, ao contrário do hunter, o maverick não tem tempo para se estabilizar. Assim que seus pés tocam o chão, um vulto avermelhado se aproxima; parecido com um sopro, leve, mas veloz. O guerreiro escarlate, Zero, que salta desferindo um corte rumo à cabeça. Quando tudo parece estar perto do fim, restando poucos segundos, Sigma ergue o antebraço. A fúria da lâmina de plasma é bloqueada, em um grande show de luzes e faíscas. O hunter persiste, perseguindo-o em forma de um verdadeiro ciclone de cortes esverdeados, rápido a ponto de seus braços se tornarem borrões, mas todos os ataques continuam sendo bloqueados. Neste momento, uma pequena chuva de tiros atravessa rumo às costas do maverick e o acerta em cheio, abrindo sua guarda. Um último corte de Zero arde sobre o tórax de Sigma, que se afasta em um pulo.
- Hehe, gotcha! – Axl gira no dedo uma das pistolas, sorrindo.
De volta à cidade, em meio a todo o silêncio, o corpo de Alpha repousa sobre a rua, mergulhado em uma inconsciência quieta e profunda, tão fria que poderia significar a morte. Os companheiros ficam espalhados pelo local, encarando cada um ao seu modo, com olhares e direções diferentes, mas não podem negar a preocupação que nasce em semblante. Mas, então, para quebrar tudo isso, o jovem desperta. Seus belos olhos verdes desabrocham devagar, até verem tudo perfeitamente, e ele ergue o tronco, apoiando-se no chão com as mãos. Todos os hunters olham-no, sorridentes, mas apenas um se aproxima.
- Alpha, você foi realmente esplendido. Muito obrigado. – Slash dá seus cumprimentos, em seguida lhe oferecendo a mão.
- Obrigado... Mas... Eu nem sei como fiz aquilo. – Responde humilde, segurando-lhe a mão e sendo levantado.
- É muito simples. – O capitão vira-se, olhando a fortaleza de Sigma flutuar ao longe. – Você tem um poder inigualável, chamado coração. Um poder que nos abre ao que é mais importante. Que não nos deixa desistir. Que nos permite usar toda a nossa força. Um poder que falta em muitos humanos e reploids. Eu senti, naquela hora, que isso queimava em seus olhos.
- Capitão... Eu...
Porém, antes que ele diga qualquer coisa mais, uma nova marcha estoura aos ouvidos de todos. Os hunters olham aos lados e vêem uma multidão ganhando forma nos confins da rua, com vinte e cinco máquinas humanóides caminhando com uma firmeza de ameaça. Reploids aliados às sombras, de cujos rostos só é possível ver os olhos, que por entre a escuridão reluzem em um terrível tom de sangue. Ao meio de tantos indivíduos, ninguém percebe que um deles, indistinto, puxa da cintura um pequeno sabre de raios. Tudo o que vêem é um rastro luminoso, um corte de plasma, correr furioso na direção de Alpha.
Quando tudo parece perdido, quando tudo que o jovem vê é um clarão ofuscando seus olhos, alguém chega para socorrer. Slash, munido de toda sua percepção e velocidade, surge saltando até o companheiro e o empurra para longe, salvando-o, mas se condenando. A onda incandescente atinge o capitão e rasga sua couraça como se fosse papel, quase o separando em duas partes, e continua o caminho até desaparecer. O Hunter continua de pé, imóvel, até parecendo estar bem, mas é obvio que não. Depois de um gemido quase inaudível, o corpo desgastado se joga contra o chão.
Alpha fica no chão, sem conseguir se mover, com um rosto trêmulo e abismado olhando a queda de seu taichou. Não sabe o que fazer, e as sombras marchantes se aproximam cada vez mais. Por fim, quando suas imagens finalmente se tornam reconhecíveis, eles param. O reploid esverdeado olha de canto.
- Sigma!
Ele levanta assustado, com o rosto úmido de suor frio. Os vinte e cinco mavericks, todos trajando a mesma armadura verde que Sigma usara em sua primeira rebelião, rodeiam e encaram o novato com olhares inexpressivos e mortais. Uma situação aterradora, que nem os piores pesadelos podem comportar. Enquanto os outros hunters se reúnem para socorrer o capitão, Alpha firma os pés e ativa o canhão de seu braço direito. Ele mira-o com toda sua coragem, fixa os olhos com toda firmeza, mas nem chega a disparar. Os inimigos simplesmente somem de vista, correndo para todos os lados.
- Hã? Para onde foram?
A resposta vem bem dolorosa. Sete chutes consecutivos lhe atingem com força total, erguendo-o ao ar violentamente. E nem tem tempo para pensar, quando sente cinco socos baterem as costas, jogando-o longe. O corpo cai inerte sobre uma pequena residência, pondo o telhado abaixo. Alpha, estirado sobre o piso em rachaduras, já nem tem forças para se contorcer, tampouco gemer. Com o andar de um executor, frio e amedrontador, um dos Sigmas se aproxima lentamente do jovem reploid. Envolvendo toda a cabeça com sua mão enorme, ele o ergue, apertando com força, muita força. Os sons do elmo trincando ecoam cruéis pelas paredes, enquanto lágrimas de pura angústia escorrem dos olhos cerrados.
- Por que eu não consigo... Ficar mais forte...?
Sigma permanece em um dos cantos, olhando, um de cada vez, os três adversários. Ele continua segurando o ferimento, mas sua face não expressa qualquer sinal de dor, pelo contrário, ativa uma risada quase descontrolada, divertida.
- Eu devia saber que não poderia vencê-los sem usar toda a potência desse corpo... Hee hee...
Curiosidade desponta no semblante dos hunters, quando Sigma ergue-se com o corpo ereto, fechando os olhos e unindo os punhos em frente ao tórax. Correntes elétricas começam a fluir por sua armadura, todas se concentrando nos punhos e nas costas, tempestuosas, estalantes. O maverick abre os olhos e a energia ganha forma: como um demônio ao nascer, duas gigantescas asas de plasma surgem das costas, diabólicas e purpúreas, batendo o ar para seu primeiro vôo.
- Zero, você será o primeiro! Mwahahaha!
Dito, ele voa como um relâmpago na direção do hunter escarlate, arrastando o ar, enquanto desfere golpes impiedosos com ambas as asas. Zero ainda não se intimida. Firmando a face, ele puxa o sabre e salta com tudo para cima de Sigma, retribuindo contra todos os ataques. No entanto, o hunter não pode fazer muito contra asas tão enormes. Seu braço é repelido no primeiro contato, tamanha a força do outro, é atingido em cheio pelo segundo golpe, sendo arremessado contra a parede com um ferimento enorme no peito.
- E agora... O protótipo!
Sigma ergue-se e desce contra Axl, na mesma velocidade. O hunter abre fogo com suas pistolas, desesperado, mas os disparos são engolidos sem dó pelas asas. Um tapa é desferido com as mesmas, jogando o rapaz com tanta força que seu corpo atravessa e estilhaça a janela como uma pedra.
- E por último...!
Elevando os braços, ainda envoltos pelas correntes de energia, o vilão pousa golpeando o chão. Uma enorme onda energética se eleva rumo ao reploid azulado, que nada tem tempo de fazer, apenas ser engolido. Quando as chamas purpúreas somem, X cai de joelhos, com a couraça completamente despedaçada. Sigma se aproxima em risos e suspende o reploid pelo pescoço, apertando bem devagar, especialmente para fazê-lo sofrer. Os gemidos de resistência soam como música aos seus ouvidos.
- Hehe... Sua sorte acabou, assim como a de seus queridos humanos.
- Eu... Não, nós... – O hunter pousa as mãos sobre os braços de Sigma. – Ainda não fomos derrotados!
O vilão franze o cenho, em estranheza, e olha para os lados, apenas para se deparar com a figura avermelhada que pensou já haver destruído. Como um verdadeiro herói que nunca desiste, Zero está de pé uma outra vez, emanando uma fervorosa aura escarlate. O cansaço e os ferimentos baixam sua cabeça, dificultam seus movimentos, mas a determinação ergue seu espírito, aflora um olhar profundo e azul, mostra o futuro. Jogando-se ao oponente, a lâmina de seu sabre nasce em um raio gigantesco, e ele avança em giros, como um tornado faminto. Sigma não diz nada, não expressa nada, apenas solta o pescoço de X e expande as asas, voando de encontro ao guerreiro.
- Zero, quando você vai aprender a permanecer morto?
Os cometas se chocam. Um crepitar titânico precede um clarão ardente e absoluto, o resultado é incerto. Quando o brilho desaparece, ambos ainda se encontram de pé, eretos, imponentes, como aquela honra do fim de uma luta. Mas o fluxo das asas começa a ficar tremulo, incompleto, distorcido, até sumir. Sigma, sentindo um corte enorme se desenhar em seu tórax, cai agachado, segurando o ferimento à lamúrias. Zero permanece de costas para o maverick, com os cabelos ao vento agitando vitória.
- Sigma, pode voltar quantas vezes quiser. Nunca irá vencer. – O hunter finaliza, guardando o sabre às costas.
Nisso, por um instinto desconhecido, o vilão olha para a janela. Axl também se ergueu, está equilibrado nas bordas, visivelmente abatido e de cabeça inclinada, mas, assim o companheiro de longos fios dourados, não vai tombar. Suas mãos e ombros comportam um rifle muito grande e pesado, a G-Launcher, cuja mira cai perfeita sobre o corpo vulnerável de Sigma. Enquanto a brisa vai deslizando geniosa por sua armadura azul escura, refrescando o corpo e agitando bonito o cabelo rígido, esferas de concentração nascem animadas, circulando calorosas até a arma, fazendo seu canhão transbordar em uma intensa energia dourada. Por fim, os dedos do garoto pressionam o gatilho, libertando um raio monstruoso que ruge distorcendo todo seu caminho e engole Sigma como se fosse um pedaço de nada. A G-Launcher volta à forma das duas pistolas, Axl baixa os braços e ergue o rosto.
- Isso mesmo. Porque seus motivos são fracos. – O jovem conclui, descendo da janela para dentro da arena.
No entanto, mesmo com a potência do tiro e o rombo gigantesco na parede, Sigma não cede, está de pé, já sem qualquer armadura para cobrir o porte, mas ainda sem se dar por vencido. Passos redondos e decididos crepitam pelo chão arruinado. O maverick olha para os lados e vê a última ameaça se aproximar. X firma as pernas e aponta o X-Buster, firmando-o no ar com a outra mão, como de costume, no momento em que os ventos de plasma começam a rodar em sua volta, furiosos e estalantes. Seus olhos esverdeados mirando firmes e induvidosos, chega o momento de disparar. Uma vasta rajada de luz abre-se daquela arma minúscula, iluminando as estrelas com um longo e belo anilado. A energia vai desaparecendo, e tudo que resta de Sigma é um punhado de cinzas tempestuosas.
- Lutamos pelo futuro... – X cerra os olhos, numa expressão entristecida. – Algo que você talvez nunca chegue a compreender...
A cabeça de Alpha está para explodir, e os dedos de Sigma tremem, atravessando aos poucos a parte mais rígida. As lágrimas já secaram, agora só restam culpas e lamurias alfinetando um coração que ainda tem esperanças. Não, o viajante do tempo ainda não desistiu. Embora o seu corpo não obedeça, ele sabe que tem que superar isso. Sabe que ainda tem uma missão a cumprir.
- "Eu quero ver as mudanças." – O rapaz, sem nem saber como, segura com força os antebraços do inimigo. – Seu maldito... – Uma aura verde começa a crescer em um fluxo violento, soprando como um caldeirão fervente, atendendo às frustrações de seu dono. – EU VOU TE MOSTRAR! – E então abre os braços, arrancando os membros do falso Sigma como meros pedaços de pano. Um berro de dor se dispara ao alto, inumano.
Bem perto dali, a batalha se apodera de cada espaço possível. Uma luta monstruosa entre hunters e clones prossegue ferindo todas as estruturas, trocando golpes e mais golpes, disparos e disparos, sem um final previsto. Quatro hunters já caíram, enquanto seis Sigmas já foram destruídos. Porém, em um momento crítico, a casa onde Alpha estava se joga aos céus em uma explosão de chamas. Todos param para olhar o que acontece. Das sombras e da fumaça, uma figura indistinta vai se aproximando dos combatentes, desferindo um andar potente e temeroso. Surge um Alpha diferente, sem aquele olhar largo e gentil que trazia simpatia a quem fitasse, agora mirando com orbes violentos e obscuros, banhados pela raiva e descontrole.
- Vocês vão... MORRER!
O canhão do braço direito se ergue, apontando a multidão. Sem nenhum aviso, nenhuma carga, ele começa a disparar contra os mavericks. As pequenas esferas de plasma avançam velozes, estourando as cabeças uma a uma, breves relâmpagos. Em um piscar de olhos, a maior parte dos clones já está inerte, estirada ao chão. Os Sigmas restantes, sete, correm na direção do rapaz, puxando seus sabres de raios.
- SUCATAS, MORRAM! – Alpha berra selvagem, indo de encontro às últimas vítimas.
Antes que o primeiro maverick sequer erga sua espada, o viajante já encostou o canhão em seu estomago.
- MORRA! – Solta o primeiro tiro. – HAH! – O segundo. – TOME ISSO! – O terceiro já quase vara o corpo do infeliz.
E então, com um semblante demoníaco e furioso, ele aponta o buster contra a face do inimigo. A energia se concentra ao peito quase como um pequeno universo em nascimento, enchendo o jovem guerreiro com um poder monstruoso. Uma rajada reluz atravessando todos os sete, consumindo-os bem aos poucos, em um calor que supera o inferno. Pedaços metálicos indistinguíveis caem contra o asfalto, esfumaçando. O corpo de Alpha já não agüenta mais a força, tamanho havia sido o consumo de seus instintos. Quando as pernas ficam bambas, seu corpo vai descendo, devagar, e cai. Lágrimas cristalinas semeiam o ar.
