Duat

Autor (a): Phoenix

Comentários:

Olá leitores,

esta é mais uma fic que tenho o prazer de apresentar a vcs. Nela estarão presentes apenas os personagens Challenger, Roxton, Marguerite, Verônica e Malone. Espero que gostem desta nova estória (se for de mentirinha é assim que se escreve né? Ou a gramática já mudou?!) cuja estrutura será um pouco diferente (isso vcs notarão logo!) e possam me acompanhar na longa jornada que é escrever uma fic. Tomarei aqui a liberdade de utilizar alguns elementos de outras culturas, assim como personagens e fatos históricos, mas gostaria de ressaltar que, assim como na fic anterior, tudo isso será feito com o devido respeito a pessoas, culturas e acontecimentos. Sempre que houver alguma citação, ou for necessária uma explicação sobre alguma passagem, a referência estará no final do capítulo.Sempre é bom lembrar que os reviews são bastante aguardados e por isso muito bem vindos!

Um beijo a todos e boa leitura!

Phoenix!

CAPÍTULO 1

Rotinas. Por mais estranho que o mundo perdido fosse, até mesmo nele havia rotina. Assim eram as manhãs na casa da árvore: Marguerite nunca acordava com o melhor dos humores, mas sempre melhorava depois de uma bela xícara de café. Roxton acordava com a cara meio amassada, mas a visão da bela herdeira era um estímulo para reativar suas energias. Challenger parecia nem mesmo ter dormido, pois acordava com a corda toda, dirigindo-se imediatamente a seu santuário, leia-se laboratório, antes mesmo do primeiro gole de café. Malone e Verônica acordavam bem, nem animados demais, nem praguejando qualquer um que passasse em sua frente, e sempre eram os mais simpáticos à mesa, cumprimentando a todos com delicadeza e seu melhor sorriso.

Todos os dias começavam mais ou menos assim, com pouca ou nenhuma alteração significativa, mas naquela manhã as coisas seriam um pouco diferentes. A rotina dos aventureiros era cansativa, pois sobreviver naquele lugar tinha um alto preço. Eles já estavam fartos de ter que executar tarefas exaustivas todos os dias, como cortar lenha, procurar comida, verificar a cerca, fazer a manutenção do elevador, entre outras coisas, e por isso, decidiram que pelo menos uma vez por semana teriam um dia de folga.

Neste dia não haveria nenhuma tarefa específica para ninguém e cada um poderia fazer o que quisesse; preparariam tudo de forma que aqueles dias fossem uma espécie de domingo no mundo civilizado. Pensaram em todos os detalhes para que a nova decisão desse certo e na noite anterior fizeram planos, entre muitos risos de satisfação, e torceram para que no dia seguinte a natureza lhes brindasse com um dia primoroso.

Na manhã seguinte, a natureza não se fez de rogada e provavelmente aquela foi a mais bela manhã de verão no plateau. Sentados à mesa, degustando o delicioso café cujo cheiro se espalhava por toda a casa, quiçá as redondezas, eles começaram a falar sobre amenidades e sobre os planos de seu dia de folga. Como aquele era o primeiro "domingo" no plateau, eles decidiram ficar juntos, fazendo um típico programa família: piquenique na praia! Mas, em meio ao café, foi Malone quem trouxa à tona o assunto que mudaria seus planos definitivamente, embora eles não pudessem sequer vislumbrar o que estaria por vir.

O jornalista era tímido, inseguro e muitas vezes suas atitudes poderiam até mesmo ser julgadas como infantis, mas quando se tratava de contar histórias ele parecia se tornar outro homem; seus olhos ganhavam um outro brilho, sua voz se tornava mais firme e seus gestos menos contidos, pode-se mesmo dizer que ele crescia em estatura, tomando conta da cena e se tornando um hábil condutor do espetáculo. Em meio a goles de café e nacos de broa, ele comentou sobre o sonho que teve na noite anterior. Ele não costumava relatar seus devaneios oníricos, mas naquele dia não pôde conter-se diante do conteúdo deveras estranho.

Ele começou falando das cenas desconexas que permearam o sonho: ele estava em um lugar estranho, do qual não reconhecia nenhum elemento. Estava cercado por ruínas, blocos de pedra aos pedaços e muita poeira por onde quer que ele olhasse. Não havia nada intacto até onde a vista dele podia alcançar e por mais que andasse ainda não conseguia se localizar. Perdido naquele quebra cabeças tamanho gigante, Malone não sabia o que fazer, pois por mais que andasse, não sai do cenário, como se uma gigantesca redoma cercasse tudo e impedisse a sua saída dali.

De repente a poeira começou a se erguer do chão, e um redemoinho se formou. Ele se aproximava rapidamente de Malone que tentava fugir, sem sucesso e quando o jornalista estava prestes a ser capturado em seu carrossel alucinante, a poeira se dissipou e de dentro do tufão surgiu um vulto. De início o jornalista se assustou com a aparência do ser que aos poucos foi se configurando melhor, mas depois, ao observar atentamente o semblante dele, seu espírito se tranqüilizou.

Ele não sabia mas estava diante de Anúbis, o deus com cabeça de chacal e corpo de homem, o guia e guardião dos mortos. No exato momento em que a divindade estendia sua mão na direção de Malone, e parecia pronunciar algo, este acordou sobressaltado, com um corte brusco na cena. Vendo-se na segurança de seu quarto, o coração descompassado foi aos poucos voltando ao normal. Ele estava lavado de suor e levou um certo tempo para pegar no sono novamente. Apesar do medo, tentou retornar ao sonho para saber o que o deus diria, mas não teve sucesso: nesta nova etapa de sono, ele não mais sonhou.

Os outros ouviram atentamente o relato de Malone, mas nada comentaram, com os ouvidos atentos a todos os detalhes. O jornalista não parava de falar, atropelando mesmo as palavras; tudo lhe intrigava: a falta de congruência entre os acontecimentos, as cenas, os elementos presentes no sonho, mas o que mais lhe chamava a atenção era que, de alguma forma, apesar de não entender nada, a única coisa que ele pode identificar com clareza, era o local onde seu devaneio se passava, o Egito Antigo!

Ao terminar seu fantástico relato, o silêncio pairou na casa e o jornalista ficou meio constrangido, achando que tivesse sido enfadonho, ou meio louco. Depois de mais um tempo, um a um, todos eles começaram a falar ao mesmo tempo e foi preciso que Challenger pedisse silêncio e organizasse as falas a fim de que pudessem se entender. Mais calmos, cada um dos exploradores começou a contar seu próprio sonho; não, eles não sonharam a mesma coisa, mas todos tiveram sonhos estranhos naquela noite e todos eles se passaram no Egito. Como isso poderia ser explicado?

Challenger ouviu a todos e foi o último a relatar seu sonho; ao final, enquanto o burburinho havia se instalado de novo, numa mistura interminável de vozes, o cientista continuava com os cotovelos apoiados na mesa e a mão direita coçando a barba cor de fogo. Em sua profissão, o comportamento natural era buscar a lógica das coisas, pois para a ciência, tudo tem uma explicação, mesmo que ela ainda não seja conhecida. Mas, por mais que ele se esforçasse, não conseguia fazer com que os sonhos fizessem sentido, apesar disso, tinha uma certeza inabalável de que além de se passarem no mesmo lugar, todos eles estavam ligados de alguma forma; ele só precisaria descobrir como.

Depois do alvoroço inicial, eles decidiram que os sonhos eram complicados demais para que tentassem entender; além disso, concordaram que sonhos eram coisas absolutamente sem sentido, não valendo a pena perder mais tempo do que já haviam perdido, pensando nisso. Assim, terminaram o café, que teve que ser refeito diante dos protestos de Marguerite de que não beberia 'aquilo' gelado, e se apressaram em arrumar os últimos detalhes para o planejadíssimo piquenique na beira da praia.

E lá foram eles, rumo ao bendito passeio. A praia ficava um pouco distante, mas a prometida visão do mar e a tranqüilidade que aquele lugar oferecia compensava qualquer caminhada. Depois de muito andar, já perto do local escolhido para o piquenique, eles notaram que o lugar estava um pouco diferente de como o conheciam, e foi Verônica, seguida por Roxton, com seus olhos treinados de caçador, quem primeiro notou isso. À medida que andavam e olhavam ao redor, notavam que as coisas ficavam mais e mais estranhas, como se aquele lugar tivesse mudado suas feições de uma hora para outra.

Para ser mais exata e retratar de modo fiel a situação vista por eles, posso dizer que a região que dava acesso à praia estava absolutamente diferente, como se não fizesse parte do plateau. Havia pedras por todos os lados, como se fosse uma espécie de sítio arqueológico abandonado, muitos pés e mãos certamente passaram por ali, provavelmente guiados pela mesma curiosidade que agora prendia a atenção de todos e fazia com que continuassem ali investigando tudo, superando até mesmo seu sexto sentido que certamente avisava que aquele não era um lugar tão seguro assim.

Vindo não se sabe de onde, eles ouviram um miado longo e melodioso e se assustaram, saindo do quase transe em que todos estavam imersos em meio às misteriosas ruínas. Olharam em todas as direções, mas não foram capazes de discernir de onde o som havia saído. Pouco depois, já prestes a voltar ao exame do lugar, foram novamente surpreendidos, mas desta vez pelo dono do miado: um grande gato preto, de pêlo reluzente, e penetrantes olhos verdes. Ele andava com seu passo malandro e sinuoso por entre as pedras, ignorando a presença dos exploradores.

Subitamente ele parou e virou-se para os estupefatos aventureiros e novamente pôs-se a andar, como se quisesse ser seguido; e ele não teve que se esforçar muito para que isso acontecesse. O gato é por si só um animal misterioso, um enigma, em carne e osso, a ser desvendado. Seu olhar frio, confunde e amedronta e no Egito dos faraós eram considerados guardiões do outro mundo, sendo comuns em muitos amuletos. Talvez por estas características marcantes, não poderia ter havido guia mais atraente, e os aventureiros não foram capazes, nem mesmo a desconfiada Marguerite, de resistir à sua tentadora presença.

Andando entre as ruínas, eles se deparavam com cada vez mais objetos quebrados, em pedaços, denotando que alguém ou melhor, algumas pessoas haviam vivido ou pelo menos passado por ali. Foi Malone, que neste momento já nem procurava mais pelo gato, mas era guiado por sua curiosidade típica de repórter, quem notou, um pouco mais afastado, uma construção semelhante a um arco, mas em péssimo estado de conservação. Estava mesmo em ruínas como as demais construções do lugar, mas ainda podia se ver símbolos, inscrições na pedra.

Sabendo que Marguerite era a especialista ali em línguas, ele a chamou a fim de que ela pudesse, quem sabe, desvendar parte daquele mistério. A herdeira aproximou-se rapidamente das pedras inscritas e pôs-se a tentar decifrar os símbolos. A língua era diferente de tudo que ela conhecia, na verdade já havia visto aquilo, mas não tinha a mínima idéia de como decifrar, não sabia que outra língua poderia usar como base ou de que técnica poderia se valer a fim de compreender a mensagem codificada. Os demais aventureiros se aproximaram do jornalista e da herdeira, curiosos em saber o que tanto atraía a atenção dos dois.

Marguerite passou as pedras com símbolos para os outros, mas eles disseram o óbvio: se ela não sabia o que aquilo poderia significar, que dirá eles, que já perdiam muito tempo se esforçando para falar sua própria língua como mandava a boa gramática. O que eles não sabiam é que aqueles símbolos já haviam confundido e atormentado diversas mentes através dos tempos e o mistério só foi desfeito quando o francês Jean-François Champollion, através da Pedra de Rosetta foi capaz de decifrá-los, dando início a uma nova ciência: a egiptologia, ramo da arqueologia dedicado ao estudo histórico e artístico da cultura egípcia em sua etapa antiga.

Desviando o olhar para a base do portal, única parte intacta deste, os aventureiros perceberam apenas naquela hora a existência de uma pequena estátua em forma de gato, e, quem diria, o misterioso gato preto, elegantemente sentado ao lado dela. Ambos, gato e estátua estavam na mesma posição, e não fosse pela diferença de tamanho e pela força vital que emanava dos olhos do animal, talvez fosse difícil distinguir entre um e outro.

Enquanto Verônica e Malone acariciavam o majestoso felino, e Challenger continuava hipnotizado com as pedras, o caçador abaixou-se para olhar a estátua mais de perto; encantado por sua beleza ele a tomou em suas mãos. Naquele exato momento, instintivamente ele soube que não deveria ter feito isso.

Um forte tremor de terra foi sentido, seguido por trovões e raios que abalaram o céu, fazendo-o assumir tons de chumbo e rasgos de violeta. Os aventureiros não sabiam o que estava acontecendo, mas em um instinto de sobrevivência e proteção, eles aproximaram-se uns dos outros e tornaram-se testemunhas oculares de um fato notável.

O portal, que se resumia a nada mais que um punhado de pedras e pó, foi envolto por uma luz caleidoscópica e gradativamente foi se recompondo, assumindo em pouco tempo a forma de um portal completo, de beleza incomensurável. Naquele instante qualquer vestígio de cautela que pudesse haver nos aventureiros desfez-se como uma bolha de sabão, e eles, um a um, cruzaram o portal sumindo em um facho de luz cor de prata.

CONTINUA....

Referências

Pedra de Rosetta: Os egípcios nos deixaram inúmeros vestígios materiais de sua cultura, mas nenhum deles foi tão festejado como a Pedra de Rosetta. Até a sua descoberta, em 1799, e sua decodificação, em 1822, as escritas egípcias mais importantes – os hieróglifos e o demótico – não podiam ser lidas pelos estudiosos. A Pedra de Rosetta traz um decreto emitido em 27 de março de 196 a.C. pelo faraó Ptolomeu V – Epifânio, em comemoração ao primeiro aniversário de sua coroação. Emitido quando o Egito estava sob domínio grego, o decreto foi registrado nas três escritas em uso na época: hieróglifa, demótica e grega.A equivalência das três seções permitiu, partindo-se do grego, a decodificação das escritas utilizadas pelos egípcios. A tarefa, no entanto, não foi simples: exigiu muito conhecimento e perspicácia.

DISCLAIMER: Os personagens aqui citados fazem parte da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World", não sendo, portanto de propriedade do(a) autor(a) desta fanfiction.