3 – Vontade de Sair

Anakin, que voltara do treino com um farto cabelo castanho, tratava carinhosamente a mulher. De manhã, acordava-a com beijos doces e apaixonados, fazia-lhe festas na cabeça; antes de adormecer, abraçava-a com força e adormecia assim, assegurando-se que ela não o deixaria. Amava Padmé. A última pessoa que tinha amado tanto fora a sua mãe e tinha sido capaz de matar por ela. Amava Padmé assim tanto? Sim, reflectiu, seria capaz de matar por Padmé. Seria capaz de fazer tudo por ela, excepto magoá-la. Nunca a faria sofrer. Disso tinha a certeza.

A senadora acordou e, de olhos fechados, procurou o corpo do marido na cama. Não o encontrou. Levantou-se e vestiu o robe de seda branca que se encontrava aos pés da cama. Dirigiu-se até à varanda. Ele estava de pé, de olhos fechados. Os raios de sol tocavam-lhe na cara. As mãos repousavam uma na outra, atrás das costas. Respirou fundo.

- Bom dia, Padmé. – continuava de olhos fechados.

Ela aproximou-se dele e plantou-lhe um beijo na face – Tens que acordar sempre tão cedo?

- Sim... Tenho que relaxar e reflectir de manhã.

Padmé afastou-se, arrependida, com uma das mãos a cobrir a boca – Desculpa... Não te queria interromper.

Anakin envolveu-lhe a cintura com os braços fortes – Não interrompes... Só consigo pensar em ti.

Ela corou e beijou-o. Abraçaram-se e ficaram algum tempo assim. Em silêncio, as mãos dele na cintura dela, a boca dela no seu pescoço. Aquele momento transmitia todo o amor que sentiam um pelo outro.

Durante a refeição voltaram a falar sobre a República. Padmé estava preocupada. Levantava-se e andava em círculos, torcendo as mãos. Anakin tinha que insistir que ela se sentasse e acabasse de comer. A esposa comia mas continuava a falar, nervosa como ele nunca a tinha visto antes. Nessa tarde, Padmé fez um pedido a Anakin.

- Vamos embora daqui.

O jovem Skywalker pousou o garfo na mesa. Lentamente, olhou para a mulher à sua frente. Fitou-a durante alguns segundos. Ela parecia ansiosa. A sua resposta foi curta e incisiva – Não.

- Por favor...

- Tu estás em perigo. Não podemos sair daqui.

- Eu não estou em perigo...

- Porque é que estás num palácio escondido de todos? Na companhia de robots?

Padmé levantou-se e colocou-se ao lado de Anakin.

- Não, Padmé... – continuou ele – Sofreste dois atentados. Tens sorte em estar aqui, junto a mim.

- Não acredito... Tu... Não queres sair de Naboo porque não queres lutar nas guerras.

Anakin olhou para Padmé, incrédulo.

- Não estás preocupado com a minha saúde. Estás preocupado contigo!

Irritado, ele levantou-se. Era muito mais alto que ela. Gritou-lhe – Nunca me voltes a dizer isso! Como é que eu podia estar mais preocupado comigo?

Padmé ficou imóvel, chocada. Anakin gritara-lhe. Ela não percebeu como ambos deixaram a situação fugir do seu controlo. Antes do casamento, Anakin era um rapaz com uma personalidade algo tempetuosa mas era sempre afável no que respeitava a Padmé, acatando as decisões dela com calma. A senadora sentiu vontade de chorar. Anakin estava mudado. Porque é que isso não lhe agradava? Cerrou os punhos e tentou argumentar. Dizer algo que mostrasse a Anakin que não lhe devia gritar. Não conseguiu. As palavas não saiam. O que lhe ocorria era tão desagradável que perderia toda a razão. Apercebeu-se que estava a pensar como se estivesse em frente a um senador qualquer, a quem tinha que apresentar uma contra-proposta. Padmé nunca fora assim. Triste, finalmente arranjou palavras.

- O que é que nos aconteceu, Anakin? – pestanejou, impedindo as lágrimas de sair – O que é que me fizeste? Porque mudaste?