Duat

Autor (a): Phoenix

Um agradecimento especial a todos aqueles que acompanharam esta narrativa com paciência e carinho. Aqui termina esta jornada para que outras recomecem.

Palavras

Não as quero doces nem amargas

Quero apenas as que possam expressar

O que não consigo mostrar

Mas que é a mais pura essência de mim

Não as quero loucas nem poucas

Mas raras e caras

Na verdade, claras como o ínfimo momento do fim da tarde

Quando as luzes ainda não se acenderam

E as esperanças ainda não se apagaram

Quando a vida parece fazer todo o sentido do mundo

Com a paz repousando placidamente no coração de cada um

CAPÍTULO 15

A vida, que mistério é este que nos absorve e sobre o qual temos quase ou nenhum poder de decisão? Alguns acreditam no livre arbítrio, mas eu pessoalmente acredito bastante no destino; acho que a vida é uma enorme peça de teatro, onde cabe a cada um representar o papel que lhe coube. Alguns o fazem bem, outros nem tanto, mas o que importa é que as cortinas nunca se fecham de fato e no fim das contas, o espetáculo é da melhor qualidade, incrível e deslumbrante, pois mesmo os vilões, e porque não dizer, principalmente eles, têm lições valiosas para todos. Digam a verdade, quem não tem o bem e o mal dentro de si? Quem nunca errou? Quem gostaria de fazer as coisas novamente, quem sabe desta vez da maneira correta?

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Cada um dos aventureiros fez sua escolha baseada única e exclusivamente nos desejos de seus corações e por isso mesmo, acredito que não haveria motivos para que se arrependessem. Nem por isso aquele momento deixaria de ser doloroso, até porque, no momento em que decidiram seus caminhos, cada um foi para seu lugar exatamente como estava com as roupas do corpo e toda a expectativa de anos.

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Quando dividia sua vida com Jessie, ainda em Londres, Challenger nunca havia notado a medida perfeita de seu amor por ela; foi preciso ficar longe, e por muito tempo, para que finalmente ele entendesse que tipo de sentimento era este. Por isso, ele resolveu voltar para casa, a outra, já que a casa da árvore seria sempre o seu lar. A esposa quase morreu de susto ao vê-lo de volta, especialmente por notar quanta saudade havia naquele peito.

É claro que a ciência ainda dividia, e continuaria sempre a dividir espaço em seu coração com sua mulher, mas Challenger aprendeu a tornar a divisão um pouco mais equilibrada, de modo que Jessie agora dispunha de momentos inteiramente destinados a si. O cientista saía mais, apreciava as coisas simples e os momentos aconchegantes em casa, mesmo que não estivesse cercado de experiências mirabolantes e tubos de ensaio. Mas, foi uma decisão tomada por ele, que deixaria a mulher, os amigos e acho que até vocês, supresos.

Em uma tarde ensolarada, Challenger convidou Jessie para um passeio, no meio do caminho parou em frente a um casarão antigo de paredes carcomidas. A mulher não entendeu, mas ele foi subindo a longa escadaria e ofereceu o braço para que ela se apoiasse e o seguisse, coisa que ela fez, mesmo sem saber o propósito de tal atitude. Ao adentrar a casa, os olhos de Jessie ficaram marejados; era um orfanato. Havia muitas crianças brincando no pátio, correndo pra lá e pra cá em uma algazarra sem fim. Quase não notaram os dois visitantes; apenas uma garotinha com cerca de 3 anos e cabelos vermelhos como o cientista, interrompeu sua corrida subitamente.

Ela virou-se bem devagar e ficou a olhá-los, serenamente. Aqueles olhinhos, de um verde profundamente escuro cativaram imediatamente o casal. Aquela seria Sofie Challenger, a primeira dos três filhos do cientista.

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A fortuna de Roxton era realmente incalculável, isso sem falar no título de Lorde para o qual não havia preço que pagasse. Esta constatação deixara a herdeira muito feliz, mas devo dizer que não tanto quanto a certeza de que o amor e a veneração daquele homem eram só seus. Ela bem que tentava disfarçar esta irrefutável verdade, mas bem lá no fundo, o Lorde não precisava de provas do amor de sua Marguerite.

Assim que chegaram à Londres, Roxton propôs casamento, mas Marguerite ainda ficou com um pé, para não dizer, os dois, atrás. Ela temia perder sua liberdade, afinal de contas, estava acostumada a não ter que se importar com ninguém, a não ter destino certo, hoje aqui, amanhã em qualquer parte do globo terrestre, só ela e seu corpo, buscando, caçando algo que nem mesmo ela sabia o que era. Por este motivo, o Lorde ainda teve que esperar por longos 365 dias para que ela finalmente dissesse "sim".

Passado o burburinho em torno da famosa Expedição Challenger e findo os quase intermináveis preparativos da festa que a herdeira fez questão absoluta de acompanhar em detalhes, eles casaram, com toda a pompa e circunstância. Foi uma data marcante, não só pelo casamento, mas também porque esta foi a única ocasião em que Verônica saiu do plateau. Ela foi madrinha do casamento junto com Ned. O destino deles, vocês saberão mais adiante, tenham paciência.

O que ela achou de Londres? Interessante... foi o que respondeu à Ned e aos outros amigos, mas definitivamente aquele não era o tipo de agitação que ela gostava; nada se comparava às festas à moda Zanga, nem mesmo às corridas matinais para fugir de raptors. Ned respirou fundo, quando voltou à Londres, teve um leve sentimento de nostalgia, mas não sofreu. Apenas recordou o que havia vivido de bom ali, mas agora se sentia mais que seguro para voltar ao Mundo perdido.

Perguntas sobre a jovem exuberante não faltaram, mas Ned, que já esperava por isso, despistava e atribuía sua origem a alguma cidadezinha longínqua, que nem sequer existia no mapa. Como as atenções estavam sobre os noivos, como todo casamento deve ser, não houve maiores problemas. Jessie e Challenger formaram o outro casal de padrinhos dos noivos.

Mas, voltando ao casamento, aconteceu uma coisa que vocês não fazem nem idéia! Pouco depois de a noiva ter entrado em um deslumbrante vestido, ricamente ornado, a cerimônia foi bruscamente interrompida pela chegada de um convidado mais que especial. Ele arrebatou imediatamente todos os olhares e sua chegada causou um burburinho, especialmente entre seus colegas de viagem: quem diria ... Summerlee estava de volta!

Apesar da emoção, os aventureiros de outrora conseguiram se controlar e deixaram que os noivos voltassem a brilhar, principalmente Marguerite, cujos olhos brilhavam mais que os diamantes que tornavam sua beleza ainda mais exuberante. A cerimônia foi retomada, afinal teriam muito tempo para os detalhes.

Finalmente casados, Lorde e Lady Roxton seguiram para a festa que se realizou no salão anexo à Igreja. Nem preciso dizer que tudo estava de acordo com o que havia de mais luxuoso na época e com certeza nenhum dos convidados teve do que reclamar: a comida era farta e de primeira qualidade, as pessoas estavam elegantemente trajadas e a alegria era tão grande que quase podia ser concretamente sentida. Os noivos valsavam por entre as mesas, desmanchando-se em mesuras com todos, em especial com os cinco amigos.

O casamento era o centro, mas a ansiedade não pode deixar de aparecer e os amigos quiseram saber como Summerlee havia conseguido a façanha de se salvar, coisa que ele não hesitou em contar em detalhes. Ele realmente havia sido gravemente ferido e foi um milagre que tivesse sobrevivido; ele atribui sua salvação a duas coisas. Ao fato de ter sido encontrado por generosos homens de uma tribo, que passavam pela cachoeira naquele momento e não mediram esforços nem dedicação para salvá-lo, afinal de contas, foram necessários quase dois meses para que ele se recuperasse plenamente.

Além disso, sua salvação também se deveu à sua própria vontade de viver, que havia se tornado muito forte depois da experiência no Mundo Perdido. Antes de chegar ao plateau, ele jamais poderia imaginar que àquela altura de sua vida viveria tão intensamente ao lado de um de seus maiores rivais na ciência e dos estranhos mais preciosos que poderia encontrar. Ao saber do casamento de Marguerite e Roxton, ele nem pestanejou; não poderia faltar ao testemunho desta feliz união.

Após a festa, os noivos passaram a noite em um requintado hotel da cidade e na manhã seguinte, bem cedo partiram para a lua de mel, que aconteceu em um lugar marcante para ambos: o Egito. Foi uma homenagem ao lugar que os uniu de fato, ou melhor, fez com que retomassem as rédeas de seu destino. Percorreram várias cidades e em meio a hotéis luxuosos, passeios incríveis e lugares paradisíacos, eles aproveitaram durante quase um mês, os prazeres que o dinheiro pode comprar e o bom gosto pode escolher.

E assim eles foram levando a vida. Não poderia dizer que formaram um casal comum, como os outros, mas eram felizes à sua maneira. Lady Marguerite bem que tentava se controlar, mas vez por outra, ela era subitamente atacada por um terrível mal: a cobiça. Comprava jóia atrás de jóia compulsivamente, como se nenhuma gema fosse capaz de satisfazer sua voracidade pelo luxo.

Em outras épocas, nada lhe agradava e o mau humor era quase irremediável, mas logo passava. Lorde Roxton não tinha sangue de barata, e chateava-se com a herdeira, mas depois chegava à conclusão de que isso de nada adiantava, era o jeito dela, e ele mais que ninguém sabia disso. Com o casamento havia levado o pacote completo: o melhor e o pior de Marguerite.

Adaptar-se à vida em sociedade não foi nenhum problema, afinal ela já fazia parte dela. Por isso mesmo juntou-se ao seleto grupo de senhoras que semanalmente reuniam-se para versar sobre as novidades. Entre chás e petit fours, discutiam, a moda parisiense, os tecidos orientais, cada vez mais exuberantes, as pérolas literárias e até mesmo o mais novo joalheiro em destaque. Era fútil, mas servia para passar o tempo. Além disso, servia também de massagem ao ego, afinal, cada vez que adentrava os salões, era comum que as damas tivessem que segurar seus queixos diante de tamanha beleza e elegância. O mesmo acontecia nas festas: intimamente ela ria com seu poder de atrair os olhares masculinos e enfurecer as mulheres, que beliscavam seus pares incansavelmente.

O sonho de Roxton era um filho, mas não era compartilhado por ela. Isso era mais por medo que por desejo; a herdeira temia não ser uma boa mãe, já que suas feridas da infância ainda doíam muito. Mas quis o destino, que dois anos depois viessem ao mundo os gêmeos Joseph e Sarah; o menino tinha os olhos da mãe e os traços fortes do pai, mas a menina era a cópia fiel da mãe, e os anos provaram que era assim não só em traços como em maneiras. Uma Marguerite em miniatura.

Os anos passavam e eles criavam seus filhos, dedicando algum tempo às frivolidades da nobreza. Embora rica e ao lado de seu lorde, Marguerite jamais sentiu a mesma paz que havia experimentado no Mundo Perdido. Muitas vezes ela sentava na varanda, olhando os campos de girassol e suspirava; tinha tudo que poderia querer naquele momento, ou pelo menos era isso que repetia para si mesma cada vez que seus olhos marejavam. O lugar onde melhor se sentia era na casa de praia; curiosamente era a mais simples de suas propriedades, mas tinha um tesouro incomparável: o mar. Quando fechava seus olhos e ouvia o barulho das ondas, uma paz tomava conta dela e a Lady quase podia ouvir as gargalhadas de seus amigos e os mágicos sons daquela terra encantada.

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Do mesmo modo que não podemos dizer que Marguerite e Roxton formavam um casal convencional, Ned e Verônica também não formavam. O jornalista havia decidido ficar no Mundo Perdido, mas não sem antes ter voltado à Londres uma vez mais. Ele apenas constatou que aquele não era seu mundo, nunca havia sido de fato. Quando ele voltou encontrou a jovem da selva em casa, pintando um seu retrato. Era a certeza de que ele precisava; estava em casa.

O jovem sonhador, inexperiente e inseguro, amadurecia a cada dia e ganhava os contornos de um homem, o companheiro que Verônica precisava. Eles formavam um interessante casal, onde as características de um equilibravam as do outro; o que faltava em um, era compensado pelo outro. Por isso mesmo, a cada dia Ned ficava mais à vontade e a jovem, por sua vez, mais leve por ter com quem dividir as responsabilidades. Por sorte deles, uma coisa que com certeza não havia no Mundo perdido era tédio. Agora, sem a presença dos outros aventureiros, tinham mais tempo para se dedicar um ao outro e aos planos de construir sua própria família.

Embora amasse Ned, Verônica continuava bastante independente e por isso, de vez em quando ela saía para passear sozinha, coisa que o jornalista aprendeu a respeitar. Nestes momentos ela pensava em seus pais, de quem nunca recebera notícias; nas coisas pelas quais havia passado durante todos estes anos e na saudade que sentia de seus amigos. Mas, todas estas lembranças eram suprimidas, pelo menos em parte por outra: a certeza de que ao chegar em casa encontraria seu porto seguro. Ned.

Foi em uma destas caminhadas que ela resolveu se demorar um pouco e foi até a aldeia Zanga, rever velhos amigos. Ao vê-la, ainda um pouco distante, a sacerdotisa sorriu. Ela foi ao encontro da jovem, a olhou por um tempo como se admirasse que belo trabalho o tempo havia feito, transformando a menina em uma bela mulher e depois lhe deu um longo e caloroso abraço. A sábia mulher foi a primeira a saber o que Verônica e Ned descobririam um tempo depois: sua família começava a se formar de fato, com a chegada do primeiro filho.

Ned ficou mais que radiante, e foi assim com os outros dois que vieram, sendo ao todo dois meninos e uma menina. Para aquela família, os dias tornavam-se cada vez mais alegres, especialmente as refeições, com os risos infantis, misturados ao riso de seus jovens e doces pais.

O jornalista teve uma longa e próspera carreira literária embora não guardasse para si nada do que ganhava. Não precisava de nada para ser feliz, como bem poderia dizer Sócrates. Pedia que Challenger, seu contato, enviasse os cheques a um endereço sem nome. Ninguém nunca soube, ele nunca disse e Challenger nunca perguntou, mas o lucro ia para um orfanato, onde ele havia crescido; talvez por isso amasse e odiasse tanto a herdeira; tinham origens semelhantes.

Pode parecer estranho, que alguém tão doce e ingênuo como ele houvesse crescido em um internato, mas como vamos saber que tipo de artimanhas a mente humana usa para se proteger? Uns enlouquecem, outros ficam espertos, até demais, e há ainda outros que se refugiam nos sonhos, criando seu fantástico mundo particular, fechado para todos, mas com fronteiras sem fim para si mesmo. Acho que Ned encaixa-se nesta última categoria. Aos sonhadores cabe a construção de quartos empoeirados e reclusos, onde até mesmo o mais tímido dos homens pode ser ao mesmo tempo, tudo e nada.

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Muitos anos se passaram; houve períodos em que a correspondência entre "civilização" e Mundo Perdido foi intensa, mas também houve outros em que nada se sabia nem de um lado nem de outro. As cartas, deixadas em uma caixa postal em segredo em um lugar combinado, matavam um pouco da saudade, mas em nada se comparavam a presença daquelas pessoas queridas.

E foi assim que, dez anos depois de terem deixado o Mundo perdido, quem diria, novamente a Casa da Árvore receberia inesperados visitantes. A Expedição Challenger mais uma vez havia se formado, mas havia sido acrescida de algumas importantes pessoas: Challenger trouxe sua Jessie, e, quem diria, seus três filhos do coração; Marguerite e Roxton vieram com os dois filhos e também veio Summerlee, o único sem acompanhante. Lá encontraram Malone, Verônica e seus três filhos.

Enquanto uma suave chuva molhava a selva lá fora, os amigos, velhos e novos, deliciavam-se não apenas com o chá, mas principalmente com a presença uns dos outros. Ao mesmo tempo riam e choravam diante da emoção do reencontro, como se naquele momento um turbilhão de lembranças tivesse invadido a casa da árvore. Relembraram aventuras vividas, os sustos, as surpresas e assim iam matando a saudade.

Vocês devem estar se perguntando: eles voltaram para morar definitivamente no Mundo Perdido? E há alguma coisa definitiva na vida? Agora, sabendo como ir e voltar, não precisariam mais ficar presos, nem em Londres nem no plateau. Poderiam estar onde quisessem, quando quisessem.

E foi assim; apenas os cinco sabiam como ir e voltar ao mundo perdido. Aliás, esse era o meio pelo qual Ned publicava seus romances fantásticos e mantinha contato com o mundo exterior. O encontro com o Egito não havia permitido apenas o resgate de suas almas, mas também conhecer a saída do Mundo Perdido. Na verdade isso só não havia acontecido antes, pois não era hora; haviam sido reunidos por um motivo e precisavam chegar ao fim dele, para só então estarem livres. Tudo a seu tempo.

Seríamos nós viajantes no tempo e espaço, a cada momento ocupando diferentes corpos e exibindo diferentes gestos, sempre a procura de algo? Para onde estaríamos indo, de onde poderíamos ter vindo? Não sei dizer, mas continuo caminhando na certeza de que um dia chegaremos a algum lugar, talvez para imediatamente partir e assumir novos papéis nesta comédia que é a vida.

Ela, que se repete como uma roda viva, onde o ritmo e a cadência dependem das peças que a compõem, muito embora o ato de girar nunca cesse. É a cobra que morde o próprio rabo, o oroboro, o eterno recomeçar, como no mito egípcio que fala sobre isso e mostra que tudo volta ao que sempre foi:


Primeiras coisas

Ao amanhecer do tempo, Re deu à luz a si mesmo. Sentindo que estava só, Re cuspiu, e de sua saliva nasceram Shu, o ar, e Tefnut, a umidade. As união de Shu e Tefnut veio Geb, o deus da terra e Nut, a deusa dos céus. Das lágrimas de Re vieram os primeiros seres humanos. Ele construiu as montanhas, fez a humanidade e os animais, os céus e a terra. A cada manhã ele se levanta e navega em seu barco, Sektet, através do céu. À noite, Nut o engole, e ao amanhecer ele renasce mais uma vez dele mesmo. A serpente Apep é sua inimiga, nascida da saliva da Grande Mãe, Neith. Re todas as noites combate Apep, a serpente do caos. Alguns acreditam que um dia Apep conseguirá devorar Re, e então o mundo terminará. Outros, que Re ficará tão velho e cansado que vai esquecer quem é. E tudo que ele criou se transformará em nada. E então, talvez, Re novamente dê à luz a si mesmo.

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Aqui encerro esta jornada dos aventureiros que tomei por tarefa narrar, mas não sem antes apresentar-lhes o mais intrigante de toda essa história; espero que vocês acreditem no que vou lhes contar. Por uma dessas artimanhas do destino, querido leitor, outro dia folheando velhos livros em um canto escuro e empoeirado de uma antiga biblioteca, encontrei um interessante livro, diferente dos demais, não sei dizer bem em que. Tinha capa semelhante às dos outros, mas algo nele chamou minha atenção; tinha capa de couro marrom e letras prateadas, já pálidas devido ao desgaste; afinal o tempo não poupa nada nem ninguém, apenas as pirâmides, que nada temem, nem mesmo o tempo.

Ao abrir, deparei-me com algo que talvez soe familiar a vocês como a mim soou:

"Na arte da sobrevivência cada um encontra a forma que mais lhe agrada, ou na maioria das vezes, a forma que pode. Eu escolhi escrever, não necessariamente para manter vivo o corpo, mas a alma, que se expande a cada linha. Todas as pessoas que serviram de personagem às minhas histórias existiram e sempre vão existir pelo menos em minha mente, pois sua presença, carregada de uma mágica incompreensível, deixou marcas indeléveis em mim. Cada um com suas paixões fossem elas: saber, riqueza, aventura, tinham como marca maior ao privilégio de poderem ser chamados verdadeiramente de humanos. Choraram, sofreram, riram, ganharam e também perderam, mas sempre com amor, carinho e um espírito maior que tudo: o bem. Mesmo que em certas oportunidades, ele viesse embrulhado em finos fios de sarcasmo, orgulho, empáfia, isolamento ou poder".

E, mais adiante:

"Vivia em suspenso, como se esperasse acordar a qualquer momento, ou melhor, como se estivesse me afogando e tentasse desesperadamente vir á tona e puxar o último fôlego de ar puro. Para mim, era como se o mundo fosse uma festa, mas eu não tivesse sido convidado, barrado em um baile tão atraente quanto distante; deslocado em qualquer lugar que fosse, julgado inadequado pelo pior algoz que alguém pode ter: seu próprio eu. O que me restou então? Embarcar no que muitos julgaram ser loucura, mas o que para mim foi o engatinhar de uma vida: mergulhei no mundo perdido, cujo nome é um paradoxo, visto que, foi nele, que estando perdido, me achei. Foi um sopro de ar fresco em meio à cortina de fumaça que havia sido minha existência. Existem coisas que acontecem e não sabemos bem o porque; talvez não devamos saber mesmo, pois mais importante que saber é sentir, mais importante que chegar é ter coragem de tentar, ousar, buscar, libertar a alma de tudo que a tolhe, dos grilhões de nossa própria consciência. A tentação da herdeira, a bravura do Lorde, a sabedoria do professor, a astúcia do cientista, a natureza da guerreira ...eu mesmo...a descoberta"

FIM

Disclaimer: os personagens aqui citados fazem parte da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World", não sendo, portanto de propriedade do(a) autor(a) desta fanfiction.