6 – Gon-Il Kelabe

Ao entrar na nave espaçosa, Padmé foi saudada por um jovem que nunca havia visto antes. Era alto, tez morena e de cabelos ruivos. Um aprendiz de Jedi, conclui ela, após avistar a inconfundível trança no cabelo do rapaz. Ele mantinha os olhos no infinito, com medo de olhar nos olhos uma senadora. Era a sua primeira missão e estava receoso. Não queria falhar.

Apercebendo-se das emoções do rapaz que continuava à sua frente, sem a deixar sentar, Padmé falou, numa voz calma e transparecendo uma nota de felicidade, devido à sua reconciliação com o marido.

- Sou a Senadora Amidala... – estendeu-lhe a mão – E tu és?

Ele olhou para Amidala, a boca abrindo-se devagarinho. Via-o a pensar no que havia de dizer, tentando não ferir a consideração da senadora e arranjar problemas.

- O teu nome? – insistiu.

- Gon... – pigarreou – Perdão, senhora... Gon-Il Kelabe... – voltou a olhar para o infinito.

- Muito bem, Gon-Il... Podemo-nos sentar?

- Claro, senhora... Peço imensa desculpa... – ele afastou-se e indicou-lhe um banco acolchoado, de cor azulada. Esperou que ela se sentasse e sentou-se a dois bancos de distância.

Padmé não conseguiu reprimir um risinho. – Senta-te aqui. – replicou, apontando para o banco a seu lado.

Gon-Il obedeceu por mera cortesia. Estava envergonhado e não sabia se era por ser a sua primeira missão; por ter que proteger uma senadora; ou pelo facto de a sua protegida ser jovem e simpática. Bastante corado, também devido ao facto de ser ruivo, começou a passar o sabre de luz de mão para mão, sem acender a lâmina.

- És tu que me vais proteger até Coruscant?

Ele acenou – E em Coruscant também... – esclareceu, baixinho.

- Estás com medo?

O sabre de luz caiu-lhe das mãos, rolando por todo o chão da nave. Padmé colocou-lhe um braço sobre o ombro.

- Não estejas. Fala comigo. – vendo que o rapaz continuava calado, ela prosseguiu – Tens quantos anos?

- Dezassete.

- Começaste cedo a treinar para Jedi?

- Sim...

- E quem é o teu mestre?

Ao ouvir esta pergunta, Gon-Il sobressaltou-se. Olhou para ela com uma expressão assustada enquanto se levantava para apanhar o sabre de luz – O meu mestre pediu-me que lhe desse uma mensagem e eu esqueci-me... Peço imensa desculpa...

- Mostra-me a mensagem. – não era uma ordem, era um pedido.

O mestre de Gon-Il era Kuanuma Shii. Um Jedi muito respeitado e um humano. De tez negra e protuberantes olhos castanhos, parecia-se bastante com Mace Windu, exceptuando a farta cabeleira preta que possuía. A sua imagem holográfica começou a falar.

- Senadora, apresento-lhe o meu Padawan. Gon-Il Kelabe. É a primeira missão do rapaz mas penso que é o protector que a Senadora precisa. Irá acompanhá-la enquanto estiver em Coruscant. Os meus melhores cumprimentos...

Padmé agradeceu a Gon-Il e o silêncio instalou-se na nave. Apenas se ouvia a respiração dos dois. A Senadora Naberrie nunca fora conhecida pela sua paciência.

- Gon-Il, eu sou apenas uma rapariga.

Finalmente, parecendo despertar de um sono profundo, o rapaz sentou-se a seu lado por iniciativa própria e disse, numa voz bem audível:

- Venho de Tatooine.

Padmé sorriu, interiormente – Já estamos a conversar. Esqueçe que eu sou uma senadora. Sou uma rapariga que conheceste hoje.

- Vou ver se consigo. – Pela primeira vez, desde a entrada da sua protegida na nave, o jovem Kelabe sorriu.

- És de Tatooine? Um... – ela hesitou – ... amigo... Um amigo meu também vem desse planeta. E também é um Jedi.

O Jedi de quem Padmé falava estava no palácio de Naboo, deitado na cama, a ouvir mais uma discussão entre R2-D2 e 3-CPO. O dia passara lentamente para ele e só se levantou quando viu o sol a pôr-se. Repentinamente, Anakin tomou uma decisão. Tirou o anel do dedo e pegou na aliança da sua esposa. Enrolou ambos num pedaço de veludo preto e guardou-os num bolso, junto à anca. Colocou a luva na mão direita e o seu manto castanho sobre a cabeça. A sua arma estava no cinto. Sentou-se na cama, viu o sol a desaparecer e, quando a lua encheu o quarto de luz, escreveu uma pequena nota, entregou-a a C-3PO e saiu.