- Capítulo Dois – Conselho de Magos
A semana não demorou a passar e, antes que Shaoran percebesse, o dia marcado tinha chegado.
Logo cedo se encontraram com Tomoyo e Sakura. Ambas haviam dito para as famílias que iriam aproveitar as férias da faculdade para viajar. Sakura vinha acompanhada de Yukito. Obviamente, Yue iria com ela.
Bom dia cumprimentou Eriol. Que bom que chegaram. Estamos terminando de preparar tudo. Partiremos, no mais tardar, daqui uma hora.
E assim foi feito. Uma hora depois, tudo estava pronto para a partida do grupo. Todos se reuniram no hall de entrada da mansão de Eriol.
Como iremos para sua casa nas montanhas, Eriol? perguntou Shaoran. Afinal, creio que você não tem um carro, não é?
Eriol apenas sorriu.
Quem disse que iremos de carro? falou Eriol.
indagou o jovem chinês.
Um carro não é necessário quando se pode viajar por meio de magia disse o rapaz inglês. Shaoran piscou, tentando compreender o sentido daquelas palavras.
Está me dizendo que iremos viajar por meio de teleporte? perguntou o jovem guerreiro.
exclamou Eriol levantando uma das mãos e sussurrando. Venite, spiritu venti. Vocati meam respondete. Gratiam potestatem et vestram nobis cedite. Me ad fatum meum ducite.
Houve um imenso clarão, e em seguida todos desapareceram.
Shaoran sentiu seu corpo rodopiar e uma luz ofuscante bloqueou sua visão. Quando tornou a abrir os olhos, o que viu não foi a porta de entrada da mansão de Eriol. Estava na frente de uma bela casa de madeira. Era uma construção simples, porém bela e atraente. Não era muito sofisticada, mas tinha um charme especial. Enquanto admirava a casa, um esquilo se aproximou.
Que lindo! exclamou Sakura, acariciando o pequeno animal. Shaoran sorriu, assim como Tomoyo.
Vamos entrar? perguntou Eriol. O grupo concordou. Pegaram a bagagem e caminharam em direção à porta. O interior da casa era muito bonito. De fato, parecia muito maior por dentro do que por fora, o que Shaoran acreditou ser um truque de Eriol. Era bem característico dele. Ampliar o interior sem, no entanto, afetar o exterior.
Após ajeitarem tudo, o grupo sentou-se na sala, em frente à lareira. Não falaram nada, apenas esperaram. Esperaram pela fatídica hora quando teriam que partir.
Shaoran não pôde deixar de notar que Yukito estava estranhamente calmo e calado. Era como se ele soubesse de tudo. Não tinha perguntado quem era ele quando se encontraram pela manhã. Tampouco questionara sobre a magia de Eriol ou sobre a viagem.
Provavelmente o Yukito daquela dimensão era diferente do Yukito que conhecia. Provavelmente ele sabia de tudo. Talvez, e Shaoran acreditou ser aquela a verdade, o Yukito daquela dimensão pudesse se lembrar de sua vida como Yue. Essa seria a provável razão de seu comportamento sério e compenetrado.
Aos poucos foi entardecendo. O Sol lentamente foi se pondo no horizonte, e o azul brilhante do céu foi dando lugar ao laranja e ao vermelho. O crepúsculo veio lentamente, compondo uma pintura bela e tocante. Shaoran observou, maravilhado, um lago todo tingido de vermelho. Uma águia voou, esplendorosa, em direção ao horizonte longínquo e se perdeu no amontoado de luzes e cores que desabrochavam na frente dos olhos do jovem guerreiro. Não demorou muito e o Sol tinha se posto por completo. O lago, antes cheio de vida e de cores, estava negro. Negro como a noite que surgia. Logo, Shaoran pôde ver um fraco brilho ao longe no céu.
Está na hora. disse Eriol, levantando-se do sofá. Todos se olharam e imediatamente se puseram em pé.
Fique tranqüilo, Eriol. falou Tomoyo. Cuidarei de tudo por aqui até que vocês voltem.
Eu sei que vai. disse Eriol abraçando Tomoyo pela última vez. Espero não demorar.
O jovem inglês então caminhou até o grande espelho que havia na sala.
Para chegar à sede do conselho, devemos entrar no mundo entre os mundos. disse Eriol. Pois o Conselho não está situado neste mundo. Está além dele, entre o tudo e o nada, entre o cheio e o vazio. Entre o ser e o não ser.
O jovem bruxo tocou o espelho com as mãos. Sua superfície pareceu oscilar. Tremeu e piscou, e pareceu tornar-se líquida. Era como água, clara, transparente, pura. Todos olharam maravilhados o argênteo portal. Eriol fez um sinal, e todos se aproximaram.
disse o jovem.
Um a um eles entraram no espelho, deixando aquele mundo para mergulhar em outro, completamente desconhecido. Shaoran olhou para trás e pôde ver de relance a mãozinha branca de Tomoyo se erguendo num último aceno. Distanciavam-se rapidamente, e logo Tomoyo estava longe, e sua pequena forma parecia um ponto na imensidão, uma minúscula e diminuta estrela contra um céu escuro.
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O grupo prosseguia rapidamente. Era como se eles voassem na imensidão. Estavam leves, soltos como plumas.
Subitamente, sentiram algo os puxando para baixo. Fraco a princípio, mas subitamente ganhou uma força grande e descomunal. Yukito e Nakuru assumiram suas formas verdadeiras, na tentativa de proteger seus mestres. Em vão. Todos sentiram seus corpos caírem vertiginosamente.
Percebendo que não seria capaz de manter todos no ar, Eriol sussurrou:
Venite, spiritu venti. Vocati meam respondete. Gratiam potestatem et vestram nobis cedite. Me ad fatum meum ducite.
No mesmo instante, todos foram teleportados para o chão.
O que aconteceu? perguntou Shaoran.
Não sei. respondeu Eriol. Havia um tom de preocupação em sua voz. Isso jamais aconteceu antes.
Sakura e Shaoran se entreolharam. Pelo modo como Eriol havia dito aquelas palavras, significava que aquilo não era bom.
Parece que teremos que ir a pé. falou o jovem feiticeiro. E teremos que ir logo se quisermos chegar na hora marcada.
O grupo se pôs a andar. Estavam no meio de um grande descampado, onde a grama era cinza e a Lua brilhava como prata.
Por que você não nos teleporta, Eriol? perguntou Nakuru, deixando de ser Ruby Moon.
Creio que é melhor irmos andando, querida Nakuru. respondeu Eriol. Nakuru deu os ombros.
Além do mais, algo está interferindo nos meus poderes. pensou o jovem. Se eu os teleportar algo pode acontecer.
Continuaram caminhando em silêncio. Foi então que, após algumas horas, Shaoran perguntou.
Como é a sede do Conselho, Eriol?
Eriol sorriu.
O Conselho se reúne no Palácio de Magno, um grande castelo feito todo de prata, marfim e cristal. Ainda me lembro da primeira vez que vi as altas torres do palácio, reluzindo qual diamante de prata na imensidão do universo. Quando o Sol passa através das torres de cristal, é possível ver todas as cores do mundo; luzes ofuscantes e hipnotizantes.
Era engraçado ouvir Eriol falar do Conselho e de Magno. Ele falava do líder do Conselho com extremo respeito e reverência. Era difícil de acreditar que pudesse haver alguém ainda mais poderoso que Eriol.
Subitamente, Eriol parou de andar.
O que houve, Eriol? perguntou Spinel.
Não posso dar um passo à frente. falou o rapaz. Algo me impede.
falou Shaoran.
Algo está me prendendo. falou Eriol. Alguém lançou um feitiço sobre mim!
Mas quem? exclamou Shaoran.
Não sei ainda. respondeu Eriol. Quando caímos, pude sentir um grande poder. Alguém nos forçou a cair. Preciso descobrir quem foi. Parece que não conseguirei avançar antes de desfazer esse feitiço. Prossigam sem mim. Alcançarei vocês assim que puder.
Mas Eriol! protestou Sakura.
Não se preocupe! Estarei bem! disse o inglês, sorrindo como sempre. Sigam sua sombra até que a Lua se esconda e nasça o dia. Então virem para o Norte e encarem a queda d'água. Não há tempo a perder! Ruby Moon, Spinel Sun! Venham comigo!
Não houve tempo para discussões. No instante seguinte Eriol ergueu uma barreira que os separou.
Mesmo a contra gosto, Shaoran, Sakura, Kero e Yue se puseram a andar, deixando Eriol e seus guardiões para trás.
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Eriol observou enquanto o grupo se afastava. Então, quando eles eram somente pequenos pontos ao longe, Eriol deu meia volta e começou a caminhar de volta para onde tinham começado sua jornada. Usando seus poderes, rapidamente ele conseguiu chegar até onde ele sentia uma forte presença mágica. Lá, a reencarnação de Clow pôde identificar uma pegada, sua pegada. Em volta da pegada havia quatro pregos enferrujados. Eriol não precisou pensar para reconhecer o feitiço. Era o Ritual dos Quatro Pregos, um ritual baseado no Elemento da Terra. Simples, mas forte se o conjurador tivesse grande poder.
Eriol não precisou de muito tempo para cancelar a magia. Na verdade, demorou menos do que esperava.
O rapaz acabara de se levantar, e já começara a andar quando uma voz o deteve.
Demoraste menos que o previsto, Clow. falou uma voz seca.
Eriol se virou bruscamente procurando por sua chave. Ali, há poucos metros de distância, um homem estava parado, observando Eriol. Aparentava estar na casa dos quarenta, possuía cabelos castanhos e olhos negros. Não era muito alto, tampouco forte fisicamente. O estranho trajava um pesado manto negro. O capuz estava jogado para trás, caindo-lhe sobre os ombros.
Os dois se encararam. Eriol fitou os olhos daquele homem estranho; olhos frios, olhos de um assassino.
Quem sois vós? indagou o jovem inglês, segurando em suas mãos um pequeno objeto em forma de chave.
Sou Mikhael Lübeck, o Bispo Negro. Vim por Klaus. Hei de vingar sua morte. disse o bruxo em voz baixa.
Eriol transformou sua chave em báculo, mas a primeira investida foi de Mikhael. O bruxo colocou a mão dentro de um pequeno saquinho de veludo que trazia consigo e sussurrou:
Baal, Ignis Deus! Meas preces et vocati audi et meam respondi. Ignem furiae inflammari facite.
Então arremessou no ar um punhado de salitre que logo se inflamou, tomando a forma de um grande dragão incandescente que voou na direção de Eriol. Spinel e Ruby Moon voaram, na tentativa desesperada de proteger seu mestre. Infelizmente, ambos estavam demasiado longe para alcançar Eriol a tempo. Mas não era a toa que Eriol era a reencarnação de um dos mais poderosos magos da Terra. Erguendo o báculo e murmurando algumas palavras, o dragão de fogo sumiu, tão rápido quanto tinha aparecido.
Mas aquele fora apenas o início do embate. Logo, ambos os bruxos estavam envolvidos em uma disputa de gigantes. A batalha se estendeu por muito tempo.
Logo, ambos os lados estavam completamente esgotados. Eriol arfava e seu peito subia e descia continuamente. Seu coração batia num ritmo frenético e a adrenalina lhe corria o sangue. A próxima investida seria decisiva. Eriol se preparou, e Mikhael fez o mesmo. Novamente, Eriol esperou pelo ataque do Bispo Negro.
Mikhael tirou o pesado manto que usava e, levando ambas as mãos ao peito nu, sussurrou:
Tenebrarum Spiritum, Chaos Domine, potestatem vestram me cedite. Augares, corpum vos me offer.
Eriol não precisou ver o que viria a seguir para identificar o ritual: O Corpo de Augares. Mikhael usou as unhas para rasgar seu próprio peito. De dentro dele, inúmeras baratas saíram voando na direção de Eriol, que empunhava seu báculo. As baratas rodearam Eriol, Spinel e Ruby Moon atacando-os com dolorosas mordidas. A reencarnação de Clow então ergueu o báculo para o céu e um enorme clarão foi visto. No minuto seguinte, todas as baratas haviam desaparecido. Foi a vez de Eriol investir. O jovem mago fechou os olhos e murmurou:
Aquae Ninfae, Ignis Salamandrae, ad me venite. Incendite hostibus meum.
No instante seguinte Mikhael foi acometido de uma forte e insuportável dor. Ele estava queimando... queimando por dentro. Eriol estava fazendo o sangue do sacerdote das trevas ferver. O bruxo gritou em agonia e desespero. Quase sem forças, o sacerdote murmurou algumas palavra que não puderam ser reconhecidas e logo em seguida desapareceu da vista e dos sentidos de Eriol. Apenas sua voz ainda pôde ser ouvida:
Vos arrependereis profundamente do que fizestes a mim neste dia, Clow. Eu subestimei vosso poder. Isso não acontecerá novamente agora que vi o que sois capaz de fazer. Nos encontraremos novamente!
E sua voz se dissipou no ar, tão logo Eriol conseguiu se recompor. Seus Guardiões se levantavam do chão quando Eriol recolheu seu báculo.
Devemos nos apressar. falou o rapaz. Esse ocorrido muda tudo, todos os planos. Devo encontrar-me com Magno tão logo isso seja possível.
Os três companheiros se puseram a caminhar em direção ao castelo de Magno para ver o Conselho. Eriol sabia que a vinda daquele bruxo anunciava algo mais, algo que ele não ousava imaginar. Era o vendaval que precedia a tempestade.
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Enquanto isso, Shaoran, Sakura e os Guardiões haviam chegado à uma bela cachoeira.
Encarem a cachoeira. Era isso que Eriol havia dito, embora nenhuma dos dois soubesse o que aquilo significava realmente. Ficaram um tempo parados, até que um estalo veio à cabeça de Shaoran. Lentamente ele se aproximou da cachoeira. Então, subitamente, saltou na direção da imensa queda d'água. Para o espanto de seus companheiros, o jovem desapareceu por trás das águas que caiam vertiginosamente naquela cachoeira.
gritou ele. Não há problema. Pulem também!
Um a um, os três amigos saltaram. Quando se levantaram e olharam a sua volta, descobriam que estavam atrás da cachoeira, numa espécie de caverna. Continuaram prosseguindo, até que puderam avistar uma luz no final de um longo túnel de pedra. O grupo se pôs a correr na direção da luz, e o que viram quando saíram da caverna os fez arregalarem os olhos. Ali, bem diante deles, um magnífico castelo reluzia à luz do Sol. Nem Sakura nem Shaoran haviam visto algo semelhante em toda vida. Era magnífico ver a luz refletindo no alto das torres de cristal e se perdendo no horizonte. Era como se todas as cores do universo estivessem mescladas naquele lugar, dançando em miríades faiscantes e hipnotizantes. O grupo parou, maravilhado com a visão, até que uma voz os despertou de seu devaneio.
Quem sois vós? perguntou um homem. Era muito alto, possuía olhos muito negros e longos cabelos igualmente negros, presos em um rabo de cavalo. Ao seu lado estava um mulher esbelta e muito bonita. Quem sois vós? perguntou novamente o homem.
Eu sou Shaoran Li! gritou o rapaz chinês. Esta é minha amiga, Sakura Kinomoto, e seus dois Guardiões.
Os dois piscaram ao ouvirem o nome de Sakura.
Então vós finalmente chegastes. falou o homem. Eu sou Magno Schneider, Supremo Iluminado da Ordem dos Iluminados, Grão-mestre do Conselho de Magos.
Mas onde está Eriol? perguntou a mulher. Ele parece não estar com vocês.
Shaoran ia começar a explicar o que acontecera há algumas horas atrás, mas antes que pudesse dizer qualquer palavra uma voz o interrompeu:
Estou aqui, Seyfried. disse Eriol. Todos olharam o jovem inglês. Sua aparência era de cansaço, e ele possuía o semblante sério. Desculpem a demora mas tive um contratempo no meio do caminho. Fui atacado por um membro da Irmandade de Tenebras.
Sakura gritou à simples menção da palavra , fato que Shaoran não estranhou, afinal ela tinha visto o Shaoran daquela dimensão ser assassinado pelas mãos de um Sacerdote da Irmandade.
Sakura sentiu suas pernas fraquejarem e ela caiu no chão, tremendo incontrolavelmente. Num súbito impulso, Shaoran se abaixou e abraçou a garota, confortando-a em seus braços. Aos poucos, Sakura se acalmou, embalada pelo calor do abraço do jovem.
Que abraço gostoso. pensou a garota. Como seria bom poder ficar assim para sempre.
Permaneceram daquele jeito por alguns minutos, até que Shaoran se levantou e estendeu a mão para ajudá-la. Sakura sorriu e se levantou com a ajuda do jovem.
Tum a tenebrarum sacerdote oppugnatus es, amico meum? perguntou Magno, virando-se para Eriol.
Ita fuit. disse Eriol. Et potentissimus quidam.
Intellege. Nihil boni hoc est. Immo pessimum. falou Magno. Calamitas nula sola.
Eriol concordou com a afirmação de Magno. Nem Sakura nem Shaoran entendiam o que os dois magos conversavam: falavam em latim.
Expediamos nos igitur. disse o imponente líder, e havia um tom de urgência em sua voz. Imcipendum est Consilium sine mora.
Virou-se e começou a caminhar na direção do castelo, seguido de perto por Eriol e Seyfried. Shaoran, Sakura e os Guardiões imediatamente foram atrás dos três feiticeiros.
Entraram em um grande hall que levava aos outros aposentos. Magnos os conduziu por um largo e comprido corredor, iluminado somente pela luz de uma centena de velas que se acenderam imediatamente após a entrada de Magno, até um imenso salão. Lá, havia uma grande mesa redonda onde cinco outros magos estavam a espera. Sob a mesa, havia um grande círculo talhado, com dois triângulos entrelaçados, formando uma estrela de seis pontas no centro, e apresentando runas antigas esculpidas e algumas letras hebraicas.
O que é isso? cochichou Sakura à Shaoran.
É o Selo de Salomão. respondeu o rapaz. Representa o macrocosmo; a perfeita integração entre matéria e espírito, estética e sensibilidade.
Bem dito, Shaoran. falou Eriol, e logo em seguida virou-se para Sakura. Neste símbolo estão representados todos os conhecimentos mágicos, todos os segredos esotéricos, todas as forças universais. Completado com as características pessoais, purificado e depois consagrado, ele se torna o mais potente pentáculo de proteção contra qualquer tipo de ataque externo.
Sakura estava deslumbrada. Nunca havia visto nada igual. Nunca havia sentido nada igual. Aquele lugar, todo ele transmitia um sensação de poder, de proteção. Aquele lugar tinha uma atmosfera que não podia ser explicada. Simples humanos, mortais comuns, jamais saberiam tudo o que aquele local trazia consigo. Sakura podia sentir um poder antigo. Quase tão antigo quanto o Céu e a Terra e o Sol e a Lua. Era um poder que existia desde a criação, como se a própria essência da criação estivesse impregnada naquele local.
ordenou Magno em sua voz imperiosa e firme. Imediatamente, Shaoran e Sakura tomaram os lugares que lhes fora indicado. Os Guardiões preferiram permanecer em pé. Eriol também tomou seu lugar na mesa. Por um breve instante, ninguém falou nada, até que Magno os olhou e disse:
Apresentar-vos-ei agora os membros do Conselho. Sakura e Shaoran olharam para o imponente mago.
Este é Vladimir Koslakovich. falou Magno, ao mesmo tempo em que um homem muito alto ficava em pé. Graalmeister da Ordem do Santo Graal e Guardião da Terra.
Esta, como vós já conhecestes anteriormente, é Seyfried, a Rainha de Atlântida. Foi a vez da bela mulher que os recepcionara junto com Magno se levantar. Shaoran arregalou os olhos ao saber que aquela era a lendária Rainha do Reino Perdido de Atlântida.
Prefiro o termo Princesa, Magno. falou Seyfried em um tom doce. Atlântida só tem um governante, e Poseidon ainda é o soberano dos mares e de meu Reino. Eriol sorriu a este comentário. Magno continuou:
Seyfried é a Guardiã da Água, a mais alta Pontífice Magister do Círculo Interno dos Magos Atlantes.
Esta é Anna den Adel, Guardiã do Ar. Uma bela mulher se levantou, usava um longo vestido azul e possuía olhos azuis muito belos. Ela é Mestra da Ordem dos Senhores da Tempestade.
Shaoran e Sakura estavam calados, escutando a tudo com atenção. Então o homem ao lado de Anna se levantou.
Este é Durval Vandroy. falou Magno. Magister da Ordem de Salomão e Guardião das Sombras.
Durval se sentou, e foi a vez de outra mulher se levantar.
Esta é Katrina Le Faye, a mais poderosa Wicca da Irlanda do Norte e Guardiã da Luz.
Katrina chamou a atenção de Sakura e Shaoran. Era muito bonita. Trajava uma longa túnica branca e usava seu longo cabelo loiro solto, caindo-lhe sobre os ombros. Tinha olhos cinzas e a pele muito branca. Ela parecia irradiar luz; uma luz branca e reconfortante.
Quando olharam novamente para Magno, o feiticeiro estava apresentando outro membro do Conselho.
Esta é Inghrid McAlister. Inghrid é a Suprema Da'ath Kether da Golden Dawn, e Guardiã da Lua.
Então, Magno virou-se para Eriol.
Este, como vós já sabeis, é Lead Clow, ou Eriol Hiiragizawa, como vós o chamais. Clow é Supremo Irmão da Casa de Chronos e Guardião do Sol.
Por último, eu, Magno Schneider, sou Supremo Iluminado da Ordem dos Iluminados e Diácono Superior da cidade de Berlim, na Alemanha. Sou o Guardião do Fogo e Grão-mestre do Supremo Conselho de Magos.
Sakura e Shaoran continuavam calados, apenas ouvindo. Kerberus e Yue estavam parados atrás de Sakura, assim como Spinel Sun e Ruby Moon estavam atrás de Eriol. Por um momento, nenhuma palavra foi pronunciada. Então, Magno ficou em pé, sendo seguido por todos os outros magos. Sakura e Shaoran também se levantaram.
Nunc caerimonia fit initii Magorum Supremi Consilii. disse Magno. Vis atque Sapientia Universi adesse possint hac hora, ad nos regendos atque servandos. Potestates intersint Valentes atque ratio principii universalis.Ita sit itaque fiat.
disseram os outros em uníssono. Então novamente todos voltaram a se sentar. Magno prosseguiu:
Eu, Magno Schneider, Grão-mestre do Supremo Conselho de Magos, declaro aberta esta reunião.
Como é do conhecimento de todos os presentes, Lead Clow se deparou com um estranho fato de rompimento da malha das dimensões. O jovem Shaoran Li foi transportado de sua dimensão original para esta, onde se encontra morto.
Shaoran sentiu um arrepio passar pelo seu corpo. Ainda não se acostumara totalmente com o fato de estar morto naquele lugar.
O objetivo deste Concílio é descobrir o que ocasionou sua vinda repentina e encontrar um modo de retorná-lo à sua dimensão real antes que sua estada aqui comece a causar danos, tanto a esta dimensão quanto a ele mesmo. Passo agora a palavra à Clow, que irá explicar melhor os fatos.
Obrigado, Magno. agradeceu Eriol. O jovem que aqui se encontra, como já dito anteriormente, é Shaoran Li. Por algum motivo extremamente forte ele foi transportado para esta dimensão. Não pude encontrar explicação para tal fato e por isso precisamos nos reunir novamente. Segundo os resultados das minhas análises e pesquisas, foi essa própria dimensão quem buscou e transportou Shaoran para cá, influenciada por uma vontade muito intensa.
Uma vontade? perguntou Durval, o Guardião das Sombras. Sua voz era grave e seca. Vontade de quem?
Isso eu não sei responder. falou Eriol. Não pude descobrir isso.
Acredito piamente, meu amigo, que talvez a menina Sakura tenha a explicação para tudo isso. disse Magno, olhando fixamente para Sakura. A garota se encolheu um pouco, por causa do olhar intenso de Magno. Era como se o bruxo pudesse ver dentro dela; como se ele enxergasse detalhes que ela própria desconhecia. Shaoran não gostou do olhar que o Líder do Conselho lançava à garota.
Mas qual poderia ser a relação entre a menina Sakura e a vinda de Shaoran? perguntou Inghrid, a Guardiã da Lua. Magno sorriu.
Será que não podes mesmo pensar em nada, Inghrid? indagou o mago. O que a menina Sakura poderia ter com isso tudo? Clow disse que uma forte vontade estava relacionada à vinda de Shaoran. De quem seria tal vontade?
Imediatamente um estalo veio à mente de todos. Sakura corou furiosamente diante do olhar de Shaoran, que agora a fitava fixamente.
Eu... eu... Sakura estava confusa. Ela não sabia como podia ter trazido Shaoran para aquela dimensão. Mas... eu não fiz... eu não pretendia...
Sabemos que não, Sakura. disse Eriol. Sabemos que não teve a intenção. Contudo, teve o desejo.
indagou a garota, confusa.
respondeu Eriol. Pense, Sakura, e responda honestamente. Depois que Shaoran morreu, você nunca desejou tê-lo por perto novamente? Nunca desejou que ele não tivesse morrido, e que pudesse vê-lo mais uma vez?
Sakura hesitou por um momento. Então, sem levantar os olhos, respondeu, com a voz vacilante:
Todos o magos sorriram.
Isso explica muita coisa. disse Seyfried, ainda sorrindo. Todavia, apenas a vontade de Sakura não seria o suficiente para fazer a própria dimensão em que vivemos rasgar sua própria barreira natural. Algum outro fator que ainda nos é desconhecido foi responsável pela invocação do rapaz.
Todos concordaram. A discussão se prolongou por algumas horas e, a despeito dos esforços de todos, ainda não haviam descoberto que fator havia, juntamente com o desejo de Sakura, transportado o jovem chinês. Foi então que um estalo veio à cabeça de Katrina.
Clow, me diga, quando foi mesmo que Shaoran morreu? perguntou Katrina.
Há dois anos atrás, em julho. Não me recordo do dia exato, mas lembro que era julho. Foi no mesmo dia que nos encontramos para a revisão anual dos manuscritos de Salomão e para organizar a biblioteca do Conselho. Lembra-se que levantei-me subitamente durante a reunião e deixei o Conselho?
Katrina disse que sim.
Pois bem. continuou Eriol. Saí apressado porquê havia pressentido o perigo. Todavia, não fui rápido o suficiente. Quando cheguei no local da batalha, Shaoran já havia sido morto por Klaus.
Sakura fechou os olhos com força. A garota sentiu seus olhos ficarem cheios de água conforme ela ia se lembrando daquele dia fatídico. Não bastassem as lembranças da tragédia que ocorrera, ainda lhe veio à tona o sentimento de culpa que sempre a afligia. O sentimento de não ter sido capaz de salvar aquele que ela amava mais do que a própria vida. Logo, a garota irrompeu num soluçado choro, fazendo com que as atenções se virassem para ela. Todos sabiam o quanto ela sofria e o quanto era doloroso lembrar-se de tudo. Sentiram pena dela; em Shaoran, esse sentimento somando-se a um enorme aperto no coração ao ver aquela garota tão linda, triste e abatida daquele jeito.
E novamente, num súbito impulso, como se nada mais importasse, Shaoran abraçou Sakura, oferecendo carinho e conforto à garota. Todos viram Sakura se encolher nos braços do jovem.
Chorou. Chorou muito. Chorou até que seus olhos já não conseguiam derramar mais um única e solitária lágrima sequer. Então, sem dar atenção ao Conselho ou à reunião, Sakura se aconchegou no abraço quente e protetor de Shaoran e lá ficou, como se nada mais existisse.
Não chore mais. disse Shaoran num tom suave. Tudo ficará bem. Eu prometo.
Sakura nada disse. Não havia nada a ser dito e nem Shaoran queria que algo fosse dito. Ter Sakura novamente perto de si era maravilhoso, sentir o corpo da garota colado junto ao seu, os corações batendo freneticamente. Eles se olharam, e Shaoran teria beijado Sakura se seus olhos não tivessem cruzado com os de Eriol, que o fez deter-se imediatamente e acordar para a dura realidade que o cercava. Foi então que se lembrou das palavras de Eriol. Lentamente, muito para o desgosto de Sakura, o abraço se desfez; Shaoran retomando seu lugar na mesa do Conselho.
Magno obviamente percebera o clima pesado que se formava. Querendo amenizar um pouco a atmosfera que rodeava o Conselho, o imponente mago declarou uma pausa. Sabia que nada poderia ser feito com a mente agitada e o coração e o espírito atormentados.
Shaoran agradeceu à Magno pela pausa. Precisava pensar, ficar sozinho por um momento para recolocar a cabeça e o coração em seus devidos lugares. Levantou-se e saiu tão rápido quanto pôde. Um a um, todos fizeram o mesmo, com exceção de Eriol e Magno que pretendiam aproveitar o tempo para conversar em particular.
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Shaoran caminhou pelos extensos jardins do castelo durante algum tempo, até que encontrou um lugar onde uma fonte de cristal jorrava uma água pura e cristalina. Aproximou-se e se sentou ao lado da fonte. Ficou um tempo em silêncio, tentando ordenar seus pensamentos. Foi quando sentiu um mão em seu ombro.
exclamou o rapaz ao ver Seyfried para ao seu lado, com um olhar preocupado.
Não me chame assim. pediu a mulher. Apenas Seyfried. Apenas meu nome.
Shaoran a olhou silenciosamente. Era muito bonita. Possuía profundos olhos azuis que reluziam e cintilavam.
Sente-se perdido? perguntou a mulher. Nakuru já havia feito a mesma pergunta à ele.
respondeu Shaoran. Mesmo com Eriol me ajudando. Sei que ele fará o possível para me ajudar, mas ainda assim eu me sinto perdido e confuso. Agora com a Sakura ao meu lado, sinto-me ainda mais confuso e angustiado. Eu queria poder beijá-la e sentir seu calor novamente, mas não posso.
Ela não é a Sakura que você ama. disse Seyfried, repetindo as palavras de Eriol.
Eu sei. replicou o rapaz. Mas ela é tão igual à minha Sakura. Eu fico tão confuso quando ela está perto.
disse a maga. Mas lembre-se sempre que logo estará com a Sakura que ama de verdade. Sei que está passando por uma dura provação, possivelmente a pior de toda sua vida, mas tudo sempre chega ao fim. E com Eriol e os outros membros do Conselho pesquisando e ajudando, acredito que logo você será devolvido à sua dimensão.
Shaoran a olhou, agradecendo pelas palavras de consolo.
agradeceu. Seyfried apenas sorriu. Seguiu-se um longo silêncio. Um silêncio interrompido somente pelo farfalhar das folhas ao vento. Estava claro. O dia estava bonito e o sol reluzia nas águas da fonte.
Gostaria de saber como a Sakura está agora. murmurou Shaoran, mais para si mesmo do que para Seyfried. A maga sorriu novamente. Nunca tinha visto um amor tão grande e profundo. Aquele rapaz realmente amava Sakura com todo o coração.
Quer mesmo saber como está Sakura neste momento? perguntou a feiticeira. Shaoran a olhou.
Posso mesmo? Como? Seyfried admirou a maneira como os olhos do jovem brilharam.
ordenou a maga. Logo em seguida, ela se debruçou sobre as águas da fonte, tocando-a com a ponta dos dedos. Shaoran a ouviu murmurar algumas palavras em latim. Logo em seguida, a superfície da água estremeceu e emitiu uma forte luz branca. Então, olhando dentro da fonte, Shaoran pôde ver. Ela, sua Sakura. E de alguma forma, ela parecia estar angustiada. Tomoyo estava junto, e parecia tentar acalmar Sakura.
O que está acontecendo? perguntou Shaoran, visivelmente preocupado.
O tempo daqui, não rouba o tempo de lá. disse Seyfried. Já faz dez dias que você está aqui. Portanto, faz dez dias que você sumiu de sua dimensão real. Não é de se espantar que a Sakura da sua dimensão esteja preocupada.
Shaoran ficou sem reação. Então faziam dez dias que ele havia deixando Sakura. Havia dez dias que ele estava perdido em uma dimensão paralela e completamente estranha.
O rapaz silenciou ao pensar na dor e no desespero que sua amada Sakura poderia estar sentindo no momento.
Acame-se, Shaoran. disse Seyfried. Para ela era fácil falar, não era ela quem estava passando por tudo aquilo. Mas Seyfried ainda não tinha terminado. Desesperar-se não irá resolver problema algum agora. Tudo o que você pode fazer é confiar em Eriol e no resto de nós. Mantenha sua mente limpa de preocupações e procure controlar a si mesmo. Logo, você voltará para casa. Eu prometo.
Shaoran assentiu. Sabia que a Princesa estava certa. Por mais difícil que fosse, não podia perder a calma agora que tinha chegado tão longe. Faltava pouco agora. Recompondo-se, o jovem agradeceu à Seyfried pelo apoio. A feiticeira apenas sorriu.
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Já passava do meio dia e Sakura caminhava pelo imenso pátio central do castelo. Ela pensava no momento em que Shaoran a abraçara e em como havia sido bom senti-lo ao seu lado novamente.
Ela se perguntava por que o sentimento de culpa novamente a assolara, uma vez que já havia compreendido e aceitado que a morte de Shaoran fora algo inevitável e que estava além de seu poder impedi-la.
Uma lágrima solitária correu o rosto da garota, indo salgar-lhe os lábios. Era doloroso pensar que em breve Shaoran voltaria à sua dimensão original e que ela novamente ficaria sozinha. Era sufocante pensar que o reencontrara para logo perdê-lo novamente.
Mas ela não queria mais isso. Não queria mais ficar sozinha. Não queria mais sentir-se abandonada. Ela sofrera tanto tempo a falta de seu amor, não queria separar-se novamente dele.
Porém, ela sabia que Shaoran estava sofrendo também. Sofrendo por estar num lugar que, embora parecesse familiar, era um lugar completamente estranho a ele.
Sakura não queria ver seu Pequeno Lobo triste. Queria que ele pudesse logo voltar para casa e acabar com a angústia que estava sentindo. Mas ao mesmo tempo, não queria sofrer com a separação. Sentia-se perdida, não sabia mais o que fazer.
E foi em meio ao caos que estavam sua mente e suas emoções, que Katrina a encontrou.
A Guardiã da Luz estava caminhando pelo pátio para buscar um pouco de paz. Lembrara-se de algo que certamente seria importante, mas teria que esperar o intervalo acabar para falar com todos sobre seus pressentimentos.
Espero que minhas suposições estejam corretas. pensou a bela mulher.
Ela continuou caminhando lentamente, como sempre fazia quando estava ansiosa com alguma coisa. Caminhava devagar, sentindo cada passo de dava, respirando profundamente, abrindo e fechando os dedos das mãos e banhando-se na Luz do Sol.
E foi durante essa caminhada que Katrina escutou um gemido fraco. Olhou para os lados, procurando saber de onde tinha vindo o som. Avistou Sakura a pouco mais de cinco metros de distância, sentada no chão, encostada em uma pilastra de pedra. Estava com a cabeça abaixada, apoiada nos joelhos.
Katrina aproximou-se devagar. Foi então que percebeu que Sakura chorava copiosamente. Era um choro soluçado, tímido. Sentou-se ao lado de Sakura, tomando o cuidado de não assustar a garota.
Por que choras? perguntou, embora já soubesse a resposta. Sakura ergueu a cabeça e a olhou. Os olhos verdes de Sakura encontraram os profundos olhos cinzentos de Katrina. A feiticeira sorria; um sorriso leve, singelo.
Por um momento, nada foi dito. Então, Katrina tomou Sakura nos braços. Sakura se encolheu e aceitou o conforto oferecido pela Guardiã. A sensação de segurança contida naquele abraço só podia ser comparada à sensação de segurança do abraço de Shaoran. Era como se uma suave e cálida luz a envolvesse por completo, embalando-a e não deixando que nada de mal a tocasse.
Depois de algum tempo, quando Sakura já tinha se acalmado, Katrina se afastou.
Estou confusa. falou Sakura, sem olhar para a Guardiã. Não quero perder Shaoran, mas ao mesmo tempo não quero vê-lo sofrer. O que eu faço?
Katrina fitou Sakura com muita pena da garota. Ela podia sentir o quanto a jovem estava sofrendo.
Primeiro acalme sua mente e seu coração. disse Katrina. Quando puder acalmar e manter o controle sobre si mesma, poderá escutar o que seu coração realmente quer. E só então poderá tomar a decisão correta.
Sakura nada disse. Apenas ouviu as palavras da Guardiã. Permaneceu em silêncio. Então, após alguns minutos, perguntou, com a voz carregada de angústia.
Como posso me acalmar? Eu não sei. Cada vez que penso em Shaoran, lembro-me do dia em que ele morreu, de como eu nada pude fazer para salvá-lo. Lembro que não quero mais ficar sozinha. E então, me vem à cabeça a imagem do Shaoran de agora, e eu não quero vê-lo sofrer. Eu não sei mais o que pensar.
O desespero de Sakura estava começando a retornar. Antes que isso pudesse acontecer e a tristeza tomasse novamente sua alma, Katrina colocou a mão na testa da jovem. Um sensação inigualável de tranqüilidade e paz tomou conta de Sakura, quase fazendo-a mergulhar em um suave torpor.
Tenha calma. falou Katrina com sua voz macia. Não fique consternada. Tenha paciência e saiba guiar seus pensamentos e suas emoções, sem perder o controle sobre elas. Controlar a si mesmo é a base para dominar todas as outras coisas na sua vida.
Sakura concordou silenciosamente com a Guardiã. Tinha razão. Não poderia ficar sempre se preocupando. Tinha que se controlar para poder decidir o que fazer.
Procurou acalmar suas emoções. Respirou fundo, e fechou os olhos. Concentrou-se e abriu seu coração. Silenciosamente, conversou com o universo a sua volta. Procurou escutar os sons que o silêncio trazia, tentando absorver a sabedoria nele contida.
Olhou para a imensidão do cosmos e o cosmos a olhou. Virou-se então para o infinito, para o lugar de onde tudo havia vindo e para onde tudo voltaria. E percebeu que tinha as respostas para todas as suas perguntas. Viu a si mesma parada na imensidão, viu sua família, viu seus amigos, viu Shaoran.
Pensou em tudo o que o rapaz significava pare ela. Pensou em seu amor pelo Pequeno Lobo. Pensou no significado desse amor. E, por fim, tomou uma decisão.
Sakura pôs-se de pé. Possuía um novo olhar. Um olhar decidido. Seus olhos brilhavam. Aquele mesmo brilho que tanto encantava as pessoas voltara a aparecer.
Shaoran deve voltar à sua dimensão real. falou Sakura resolutamente. Um brilho róseo emanava de seu corpo. Katrina sorriu, sabendo que finalmente encontrara a discípula correta.
Sakura finalmente está pronta para aprender tudo sobre a Tradição e ser integrada ao Conselho. pensou. Ela será de grande valia depois que receber os ensinamentos corretos e estiver pronta para se juntar a nós.
Já se passou muito tempo. falou Katrina. Devemos voltar agora.
Sakura balançou a cabeça, concordando. Juntas, as duas feiticeiras se puseram a andar de volta para o salão.
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Quando entraram novamente no salão, todos os outros já as esperavam, inclusive Shaoran, que estava sentado em seu lugar olhando para baixo.
Sakura rapidamente tomou seu lugar junto ao resto do Conselho. Shaoran ergueu os olhos do chão assim que sentiu Sakura sentar-se ao seu lado.
Está tudo bem, Sakura? perguntou o rapaz, preocupado. Sakura sorriu para ele.
Estou melhor agora. Obrigada por se preocupar, Shaoran. falou a garota. Shaoran ficou bastante aliviado ao ver o brilho nos olhos da jovem.
Daremos continuidade à reunião do Conselho. proclamou Magno.
Katrina levantou-se, fazendo todos olharem para ela.
Como eu ia dizer antes do intervalo, no dia em que Shaoran morreu, algumas horas depois de Eriol ter saído, eu senti um imenso distúrbio no fluxo energético universal. Eu não soube explicar o que era. No entanto, sabia que algo muito grave havia acontecido. Infelizmente, eu nunca consegui explicar o que fora aquela sensação.
E por que nunca nos disse nada? perguntou Inghrid.
Sem teorias concretas, eu nunca comentei nada com ninguém. falou Katrina. Percebo agora meu erro. Está claro para mim que o que eu senti naquele dia estava relacionado com a morte de Shaoran nesta dimensão.
O que te faz pensar isso? perguntou Seyfried. Por que você acha que o que sentiu tem ligação com a morte de Shaoran?
O que senti naquele dia, foi como se algo muito importante fosse perdido. Mas também senti algo parecido com um sentimento de engano, como se aquela perda fosse errada.
falou Vladimir. Talvez a morte de Shaoran realmente tenha sido um engano. Como Guardião da Terra, eu também tenho influência no tempo. E a mim também me pareceu naquele dia que um engano havia sido cometido. Mas os problemas envolvendo as Brujas me tomaram a atenção e eu ignorei a sensação.
Agora que você falou, eu também me lembro vagamente de ter sentido algo naquele dia. falou Durval. Mas como estávamos demasiado ocupados com a organização dos documentos e registros do Conselho, dei pouca importância.
Magno olhou todos um por um. Ele também tinha tido uma sensação estranha naquele dia mas, como os outros, também tinha dado pouca importância, estando ele preocupado com muitos outros problemas envolvendo questões político administrativas de seu cargo como Diácono Superior de Berlim e como Grão-mestre do Conselho.
Parece-me que todos tivemos uma estranha sensação naquele fatídico dia. falou Magno. Vergonhosamente, ignoramos nossa intuição para direcionarmos nossa atenção à problemas e questões supérfluas, ao invés de nos atermos aos acontecimentos de real importância. E ainda temos a audácia de dizer que somos os maiores Magos do mundo. Nosso erro foi digno de rebaixamento. Foi um erro cometido por principiantes.
Silenciosamente todos concordaram. Era verdade. Depois de tantos anos como magos eles, mais do que ninguém, deveriam saber que jamais se pode ignorar os instintos e a intuição. Escutar o coração e a Alma do Mundo era uma das lições mais básicas que qualquer mago aprendia e eles haviam se esquecido desse ensinamento.
Então, Sakura perguntou, quebrando o silêncio que se instalara:
O que esse sentimento de erro e perda quer dizer?
Ainda é cedo para respondermos. falou Eriol. Precisamos fazer alguns estudos para comprovarmos nossas suspeitas.
falou Magno. Sugiro, que nos deixem sozinhos agora. Iremos fazer alguns estudos, e para tanto, necessitamos de concentração. Acredito também que será demasiado enfadonho para vós assistirdes aos rituais e estudos que iniciaremos. Deixai-nos, portanto.
Sakura e Shaoran assentiram e saíram. Kerberus e Yue também se preparavam para sair quando foram interrompidos pela voz imperiosa de Magno.
Preciso da presença de vós. Deixai que vossa mestra saia junto com o rapaz. Vós, no entanto, deveis permanecer. A presença dos Guardiões será de fundamental importância para solucionarmos os problemas que nos envolvem.
Kerberus e Yue concordaram e voltaram para onde estavam. Sakura e Shaoran saíram do salão, fechando a porta logo atrás deles.
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Os dois jovens caminhavam pelo pátio do castelo sem, no entanto, pronunciar uma única palavra sequer. Somente a presença do outro já era suficiente. Andaram até um pequeno jardim, muito próximo do jardim de Seyfried. Havia um banco em meio às muitas flores que decoravam o local, onde o casal se sentou.
Permaneceram em silêncio durante um tempo, quando Sakura decidiu quebrar o silêncio.
Espero que tudo dê certo, Shaoran. falou a garota. Vou fazer tudo o que puder para te ajudar.
Obrigado, Sakura. agradeceu o rapaz.
Não precisa agradecer. respondeu a garota. É o mínimo que eu podia fazer para retribuir tudo o que você já fez por mim.
Bem, na verdade, não fui eu. Foi o Shaoran desta dimensão. replicou o rapaz.
Eu sei. disse Sakura. Mas se pensar bem, era você do mesmo jeito.
Shaoran não soube o que responder. Ficaram em silêncio.
Sakura pensava em Shaoran, na decisão que havia tomado algumas horas antes. Shaoran iria voltar para onde realmente pertencia, mesmo que isso acabasse com ela. Pois ela era Sakura Kinomoto, aquela garota doce que sempre se sacrificava pela felicidade das pessoas que mais amava. Mesmo que isso significasse seu próprio sofrimento.
Gostaria de saber o que Eriol e os outros Magos estão fazendo dentro daquele salão. disse Sakura. Shaoran concordou. Gostariam imensamente de saber o que os magos do Conselho estavam fazendo e por que eles os haviam pedido para sair. Estava claro que não era por causa da monotonia dos rituais e das discussões. Havia algo mais. Algo que eles não puderam descobrir.
E assim eles ficaram, discutindo e especulando sobre o que os magos faziam naquela sala. Shaoran tinha que admitir que aquilo fez bem, tanto a ele quanto a Sakura. Juntos, ambos deram boas risadas, pensando nas coisas mais absurdas para se fazer em uma reunião de magia. Shaoran já tinha quase se esquecido do que era de fato ser feliz. Mas ali, com Sakura ao seu lado, a felicidade havia voltado ao seu olhar, mesmo que tenha sido por pouco tempo. Era incrível como Sakura tinha o dom de fazê-lo sorrir, mais do que qualquer outra pessoa no mundo.
A conversa distraiu a atenção dos dois dos problemas que estavam a sua volta. De fato, foi algo que ambos estavam precisando há muito tempo.
É estranho como o tempo voa quando nos divertimos ou estamos com alguém que gostamos – e ele voa mesmo. As horas passaram como uma chuva de verão. Rápida, veloz. Um atrás do outro, os minutos se esvaíram. Logo, o dia chegava ao fim e o crepúsculo se anunciava entre as flores daquele belo jardim.
Tanto Sakura quanto Shaoran observaram o pôr-do-sol juntos, maravilhados com a bela visão.
Shaoran lembrou-se dos últimos instantes que passara com sua querida Sakura. Fora num pôr-do-sol semelhante àquele que toda sua agonia começara. E agora, num pôr-do-sol, sua agonia amenizara.
Sakura encostou sua cabeça no ombro do jovem chinês, e ambos ficaram ali, parados no meio do mundo. Então, guiados por um sentimento que ambos conheciam muito bem, começaram a aproximar seus rostos. Lentamente, sem pensar em nada mais. Seus lábios iam se tocar quando uma voz foi ouvida ao longe. Era Kerberus, que chamava os nomes dos dois.
Sakura, Shaoran. gritou o Guardião. O Conselho finalizou os estudos e pesquisas. Magno disse que vocês precisam retornar para a sala do Conselho imediatamente. Há muitas coisas a serem explicadas, muito a ser feito em pouco tempo.
O que houve, Kero? perguntou Sakura. Há algo errado? Não minta pois eu sei que há.
Sim, Sakura. Um erro muito grande foi cometido. Mas não falarei mais nada agora. Deixo para Magno explicar o que está acontecendo. Vamos rápido.
Os dois concordaram. Algo no tom de voz de Kerberus lhes dizia que muito teria que ser feito quando descobrissem tudo o que estava acontecendo. Não podiam imaginar como estavam certos.
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Os três entraram no salão e rapidamente tomaram seus lugares na mesa do Conselho. Estava silencioso. Magno fitou os dois jovens por um breve momento, antes de levantar-se de sua cadeira e começar a falar:
Durante muito tempo nós, o Supremo Conselho de Magos, discutimos, estudamos e analisamos tudo o que está acontecendo. Estudamos cuidadosamente a vinda do Pequeno Lobo para esta dimensão. Examinamos minuciosamente todos os motivos, tanto prováveis como improváveis, de sua vinda.
Tudo foi minuciosamente trabalhado e dissecado, para que pudéssemos chegar a um consenso.
E chegaram? perguntou um Shaoran muito esperançoso.
respondeu Magno. Mas a questão é mais complexa do que aparentava.
Shaoran sentiu seu estômago revirar quando ouviu aquilo. Já não bastavam todos os problemas que estava tendo, ainda viriam mais. Respirou fundo e tratou de manter a calma e ouvir o que Magno iria falar.
Após muitos estudos e experimentos feitos, descobrimos que um erro grave foi cometido pelo destino. Um erro de proporções imensas.
O curso dos fatos se contorce para uma confluência que melhor pode ser explicada como o olho de um furacão. A morte de Shaoran nesta dimensão foi um engano, algo que jamais deveria ter acontecido. Dessa forma, nossa dimensão iniciou uma incessante procura pelo que aparentemente estava-lhe faltando. Essa procura, somada ao forte desejo de Sakura, foi capaz de encontrar o Pequeno Lobo em uma dimensão paralela e transporta-lo para cá, ignorando toda e qualquer lei dimensional conhecida.
Sakura e Shaoran nada diziam. Não sabiam o que dizer. Jamais poderiam imaginar que algo assim pudesse acontecer. Mas havia acontecido. Tinham que fazer algo, o mais rápido possível.
Magno ainda continuava em pé, falando.
Discutimos muito sobre o que deveria ser feito, e chegamos à conclusão que só há uma única alternativa.
E qual é? perguntou Shaoran.
É preciso mudar o passado. respondeu Magno. Reescrever o destino. Impedir que o Shaoran desta dimensão morra.
Isso é impossível! exclamou Shaoran. Como espera que voltemos no passado e alteremos a história? É impossível.
disse Eriol, parecendo um tanto quanto incrédulo. Será que nunca aprendeu nada com a magia, Shaoran? Pois muito me espanta ouvir algo assim vindo de você, meu amigo. Você, tanto quanto eu, deveria saber que o impossível é, quase sempre, aquilo que nunca foi tentado. O que torna algo impossível é somente o fato de você não acreditar que possa fazê-lo.
Shaoran abaixou a cabeça ao ouvir aquilo. Era verdade. Depois de tanto tempo convivendo com o mundo da magia, ele deveria saber que nada é realmente impossível. Bastava ter fé e força de vontade.
O que devemos fazer para alterar o destino? perguntou simplesmente.
Na verdade, não é um processo simples. falou Eriol, virando-se para o Guardião da Terra.
Vladimir então levantou-se de sua cadeira. Respirou fundo e, por fim, disse:
Bem, viajar no tempo é algo que deve ser feito com muita cautela. Não é tão simples como pode aparentar no início. Além disso, o fluxo e os acontecimentos temporais são supervisionados pelos Dragões do Tempo, três Dragões Ancestrais que têm como função guardar as portas do Tempo. Cada um deles rege e representa um período: Passado, Presente e Futuro.
Para viajar no tempo e alterar a história, é preciso da permissão dos três Dragões.
Sakura e Shaoran se olharam.
E o que estamos esperando? perguntou Shaoran. Vamos logo pedir permissão aos Dragões!
Bem, não é tão simples assim. falou Vladimir. Há uma série de questões burocráticas que estamos tentando solucionar. É preciso primeiro comprovar os motivos pela qual você deseja alterar o curso dos fatos perante os Dragões, o que não é fácil. Eles são extremamente criteriosos com relação a deixar ou não deixar uma alteração ser feita. Só então, após cumpridas todas as questões burocráticas, é possível realizar a viagem. Ainda assim, não são todos que podem viajar pelo tempo e alterá-lo. Algumas pessoas não estão aptas ou preparadas.
Shaoran e Sakura se entreolharam ao ouvirem o que Vladimir havia acabado de dizer. Aquilo significava que mesmo que obtivessem permissão dos Dragões para voltar no tempo e modificar o passado, ainda assim havia a possibilidade de eles não poderem fazer a viagem. Então, todos os esforços teriam sido em vão. Todo o trabalho, todos os riscos, todas as lágrimas.
Não, Sakura não podia acreditar naquilo. Depois de todo o esforço que fizeram, ainda assim não seriam capazes de consertar um erro do passado...
Não se desespere. Sakura pôde ouvir a voz de Katrina, embora mais ninguém na sala parecesse estar escutando a Guardiã da Luz. Estou falando com você mentalmente, Sakura. Não entre em pânico. Lembre-se do que eu disse sobre manter o controle. Mantenha a calma pois tudo dará certo.
murmurou Sakura.
Disse alguma coisa, Sakura? perguntou Kerberus.
disse Sakura rapidamente. Katrina apenas sorriu.
A discussão se prorrogou por mais algumas horas; horas carregadas de perguntas e de muitas respostas. Estava claro para todos naquele salão que muita coisa havia para ser feita e que não seria fácil fazê-las. Mas nenhum deles podia desistir agora. Sabiam disso.
Sabendo que nada mais havia para ser discutido, Magno declarou fim do Conselho. Todos os magos se levantaram, sendo prontamente seguidos por Shaoran, Sakura e os Guardiões. O requerimento já havia sido enviado para os Três Dragões. Restava esperar. E esperar foi tudo o que Shaoran e Sakura puderam fazer.
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Tradução dos feitiços recitados em Latim:
1. Venite, spiritu venti. Vocati meam respondete. Gratiam potestatem et vestram nobis cedite. Me ad fatum meum ducite. - Venham Espíritos do Vento. Atendam meu chamado. Cedam-me vossa graça e vosso poder. Conduzam-me ao meu destino.
2. Baal, Ignis Deus! Meas preces et vocati audi et meam respondi. Ignem furiae inflammari facite. - Baal, Deus do Fogo! Escutai minha súplica e atendei meu chamado. Faça o fogo da fúria queimar.
3. Tenebrarum Spiritum, Chaos Domine, potestatem vestram me cedite. Augares, corpum vos me offer. - Espíritos das Trevas, senhores do caos, cedam-me vosso poder. Augares, empresta-me vosso corpo.
4. Aquae Ninfae, Ignis Salamandrae, ad me venite. Incendite hostibus meum. - Ninfas da Água, Salamandras do Fogo, venham a mim. Façam meu adversário queimar.
Tradução dos diálogos em Latim entre Magno e Eriol:
Magno: Tum a tenebrarum sacerdote oppugnatus es, amico meum? - Então foste atacado por um Sacerdote das Trevas, meu amigo?
Eriol: Ita fuit. Et potentissimus quidam. - Sim. E um bastante poderoso.
Magno: Intellege. Nihil boni hoc est. Immo pessimum. Calamitas nula sola. - Entendo. Isso não é bom. Nada bom mesmo. Uma calamidade nunca vem sozinha.
Magno: Expediamos nos igitur. Imcipendum est Consilium sine mora. - Apresemo-nos, portanto. O Conselho deve iniciar sem mais demora.
Tradução da Cerimônia de Abertura do Conselho:
Magno: Nunc caerimonia fit initii Magorum Supremi Consilii. Vis atque Sapientia Universi adesse possint hac hora, ad nos regendos atque servandos. Potestates intersint Valentes atque ratio principii universalis. Ita sit itaque fiat. - Inicia-se agora a Cerimônia de Abertura do Supremo Conselho de Magos. Que a Força e a Sabedoria do Universo possam estar presentes neste momento, para nos guiar e proteger. Façam-se presentes os Poderes que Valem, e a Essência da Criação Universal. Que assim seja e assim se faça.
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Espero que tenham gostado deste capítulo. Tentei não deixá-lo muito longo e coloquei nele um pouco de ação. O confronto entre Eriol e Mikhael foi apenas o início de algo muito maior. Preparei muitas surpresas para esta saga. Elas serão reveladas no momento certo.
Agradecimentos especiais à Linda, que me ajudou com os diálogos em Latim.
Gostaria de pedir a quem leu este fic que o revisasse. Mande-me um e-mail, deixe-me um comentário. Somente assim poderei saber se estou agradando ou não.
Até o próximo capítulo.
Peace, Love and Hope to all and each one of you. Now and Forever.
Felipe S. Kai
