Shaoran é subitamente transportado para uma realidade alternativa, onde se encontra morto. Agora, com a ajuda de Eriol, ele deve encontrar o caminho de volta para casa. E então, sua jornada começa... CAPÍTULO DEZENOVE NO AR. Não, não é um sonho!
Rated: Fiction T - Portuguese - Adventure - Syaoran L., Sakura K. - Chapters: 20 - Words: 176,017 - Reviews: 141 - Favs: 33 - Follows: 8 - Updated: Dec 22, 2005 - Published: Jan 4, 2003 - id: 1158567
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Capítulo Nove — Interlúdio Parte I: Busca Desesperada
"Você tem que se acalmar, Sakura." falou Tomoyo. Havia duas
semanas que a jovem Dama das Cartas se encontrava em um estado de profundo
desespero. Desde que Shaoran fora atingido por aquele estranho raio e
desaparecera sem maiores razões aparentes, ela tentava encontrar uma
explicação, algo que trouxesse seu Lobo de volta.
"Nervosa do jeito que está, não conseguirá nada, Sakura. Só vai
conseguir fazer um buraco no chão." falou Kero, observando a garota andar de um lado para o outro. Voou para perto de sua mestra,
fazendo-a parar. A preocupação nos olhos do pequeno guardião era visível
e palpável mas ele sabia que não poderia ajudar a resolver aquele problema
se estivesse com a mente conturbada. Tinha que se concentrar nas questões
que possuíam diante de si.
Sakura se sentou no sofá que havia no quarto de Tomoyo. Estavam
apenas as duas mulheres e os dois guardiões. Parado em um canto, Yue estava
quieto. Mantinha os olhos fechados, embora sua postura continuasse austera e
imponente. Todavia, Sakura sabia que sob aquela expressão compenetrada e
aquela máscara de disciplina e frieza, seu guardião estava bastante
inquieto.
"Já faz duas semanas, Tomoyo!" exclamou Sakura. "Como pode
pedir que eu me acalme? Duas semanas e nós ainda não temos uma pista
sequer sobre o que aconteceu aquele dia! Quero Shaoran de volta e vou até o
Inferno se precisar para trazê-lo de volta para nós."
"Sabemos disso, Sakura." falou Tomoyo. "Mas seu nervosismo não
nos levará a lugar algum. Precisa manter a cabeça fria para podermos
pensar com clareza. Shaoran precisa da nossa ajuda. Ele precisa de você.
Concentre-se, sei que nós podemos solucionar tudo isso. E nós vamos
resolver tudo! Antes que perceba terá Shaoran de volta e tudo não terá
passado de um sonho. Ainda vamos rir de tudo isso."
Sakura limitou-se a concordar com um aceno de sua cabeça, ao mesmo
tempo em que se levantava e caminhava até a janela. Levantou a persiana,
que estava meio fechada, contemplando o imenso jardim da mansão Daidouji,
com todas aquelas flores exuberantes, cuja beleza estonteante enchia os
olhos de todas as pessoas que as admiravam.
Sua mente conturbada preocupava-se em formular as mais diversas
teorias a respeito do paradeiro de seu namorado. O súbito modo como o rapaz
desaparecera, em meio a um raio róseo que o envolveu por completo sem
qualquer razão visível e racional a perturbava em demasia. Sakura ainda
ficou muito tempo examinando a árvore sob a qual estavam naquele momento.
Porém, não chegando a qualquer conclusão plausível, acabou desistindo de
sua análise. Estava claro que não poderia fazer nada sozinha, mas não
gostava daquele sentimento de impotência.
Desviou os olhos do jardim, virando-se para o aposento que a abrigava
e fitando Tomoyo profundamente com seus olhos verde-esmeralda. Não
conseguiu evitar que um pequeno sorriso se formasse em seus lábios ao
pensar no quanto a amizade da jovem lhe era valiosa. Juntas, as duas já
haviam passado por tanta coisa, muitas das quais ninguém jamais iria sequer
imaginar. Sakura já não imaginava mais sua vida sem Tomoyo, da mesma forma
como não a imaginava sem seu Pequeno Lobo.
"O que houve?" perguntou a jovem de longos cabelos negros, diante
do olhar que Sakura lhe lançava.
"Nada." respondeu a moça. "Estava apenas pensando o quando você
é importante para mim. Você nunca me deixou sozinha, qualquer que fosse o
problema. Obrigada por tudo que está fazendo, Tomoyo."
Sorrindo, a garota de olhos cor de violeta se levantou, caminhando até
perto de Sakura e abraçando-a ternamente.
"Não precisa me agradecer, Sakura. Você sabe o quanto é
importante para mim e o quanto eu te amo. Não te deixaria passar por tudo
isso sozinha."
Permaneceram abraçadas por mais algum tempo, tentando transmitir forças
uma a outra. Kero sorriu ao ver o quão bela era a amizade que unia aquelas
duas jovens. Por fim, separaram-se, Sakura sentindo sua determinação
fortalecida.
"Telefonei para Hong Kong ontem." disse a jovem Dama das Cartas.
"Meiling está vindo para cá para nos ajudar. Ela disse que tomaria o
primeiro vôo de amanhã, pois tinha que resolver algumas coisas por lá
antes de viajar."
Tomoyo acenou a cabeça.
"E eu recebi a resposta do e-mail que enviei para Eriol. Ele disse
que está vindo da Inglaterra para ajudar nas buscas. Ele chega depois de
amanhã, no vôo do meio-dia. Enquanto isso, disse que estará pesquisando
por lá, nos livros antigos escritos pelo mago Clow." ela falou.
"Faz tanto tempo desde que os vimos pela última vez, não é
mesmo?" disse Sakura. "Estou com saudades."
"É verdade." respondeu Tomoyo. "Vamos aproveitar para
conversar bastante e tirar o atraso de todos os anos que não os vimos."
Sakura concordou, sorrindo ao pensar que encontraria seus amigos mais
uma vez depois de tanto tempo.
"Espero que com a ajuda da reencarnação de Clow tenhamos mais
sorte e possamos resolver tudo." falou Kero. Todos concordaram.
"Já está ficando tarde." falou Sakura. "É melhor eu voltar
para casa. Vou aproveitar para pesquisar um pouco mais. Quem sabe as cartas
possam me indicar alguma coisa."
"Tudo bem. Boa sorte então, Sakura. Tomara que solucionemos esse
mistério o quanto antes." falou Tomoyo, levantando-se.
Sakura pegou sua bolsa da mesinha que havia no centro do quarto da
amiga, fazendo com que Kero entrasse dentro da mesma. Yue voltou à forma de
Yukito, que depois de muito tempo de treino e estudo já conseguia manter
algumas das memórias de sua identidade real, embora sua personalidade doce
se mantivesse intacta.
Como boa anfitriã, Tomoyo fez questão de acompanhá-los até o portão.
Desceram as escadas da mansão Daidouji sem pressa. Percorreram os degraus
de mármore até o saguão de entrada, que dava para a passarela aberta no
jardim. Tomoyo os conduziu até o grande portão de ferro que guardava a
entrada da mansão.
"Bem, é aqui que nós nos despedimos, pessoal." falou a filha de
Sonomi. "Boa sorte com as cartas, Sakura. Espero que descubra algo."
"Eu também, Tomoyo." falou Sakura. "Eu também."
"Nos encontramos novamente amanhã?" perguntou a jovem de olhos
violeta.
"Certamente que sim." respondeu Sakura.
"Então até amanhã." falou Tomoyo.
"Até amanhã." falou a feiticeira, virando-se e caminhando em
direção à sua casa, tendo Kero em sua bolsa e Yukito ao seu lado.
"Quer que eu te acompanhe, Sakura?" perguntou o rapaz de cabelos
prateados.
Despediram-se, cada um indo para um lado. Sakura caminhou lentamente
pelas ruas de Tomoeda, percorrendo sem pressa a distância que ligava a casa
de Tomoyo à sua própria. Enquanto andava, pensava em como a ausência de
Shaoran era angustiante. Acostumara-se a ter o jovem sempre por perto e
saber que ele podia estar correndo perigo naquele momento a amedrontava em
demasia.
"Vamos, Sakura." pensou. "Deixe de ser tão paranóica! Não
vai acontecer nada com o Shaoran!"
Duvidava das próprias palavras. Sua intuição era forte e naquele
momento ela lhe mostrava um sentimento novo e estranho, uma angústia
crescente, como se houvesse uma certa urgência pairando no ar.
Continuou caminhando, cruzando o Parque Pingüim e chegando, por fim,
ao portão de um sobrado amarelo. Abriu o pequeno portão branco de madeira
de sua casa, buscando a chave da porta em sua bolsa. Logo a encontrou,
destravando a porta e entrando em sua casa. As luzes estava acesas, fato que
Sakura estranhou. Seu pai ainda deveria estar na universidade, uma vez que
iria repor uma aula que perdera e seu irmão ainda deveria estar
trabalhando.
Tirou os sapatos e pendurou a bolsa, após permitir que Kero saísse
de dentro dela. Então caminhou até cozinha, surpreendendo-se por encontrar
Touya fazendo o jantar.
"O que houve?" perguntou. "Pensei que ainda estivesse em serviço."
"Fui liberado mais cedo." falou Touya. "Hoje é dia de reunião
geral dos chefes de setor e por isso todos os funcionários foram
dispensados do turno da noite."
"Que bom." falou Sakura, simplesmente, tomando um copo de água
antes de subir para seu quarto.
"Antes que eu me esqueça, diga para aquela bola de pêlos parar de
assaltar a geladeira durante a noite." falou seu irmão, em um tom um
pouco irritado. "Ele comeu o bolo da sobremesa de hoje!"
Sakura sorriu.
"Tudo bem, eu digo." falou a moça, antes de desaparecer da
cozinha. Subiu as escadas rapidamente, entrando em seu quarto e fechando a
porta.
Sentou-se na cama, cansada depois de mais um dia de procura infrutífera.
Mal podia esperar que Eriol e Meiling chegassem. Com eles, tudo certamente
iria ficar mais fácil. Além do mais, estava com saudades de seus amigos. Não
os encontrava havia anos e ela pretendia aproveitar a ocasião para saber o
que acontecera durante todo o tempo que ficaram sem se ver.
"Touya não ia trabalhar hoje?" perguntou Kero.
"Ele foi dispensado mais cedo." respondeu Sakura. "E mandou você
parar de assaltar a geladeira. Você comeu o bolo que meu pai tinha
feito."
Kero apenas resmungou algo ininteligível, sentando-se em sua cama.
Sakura, por sua vez, estava pensativa, alheia a tudo ao seu redor.
Levantou-se da cama lentamente, caminhando até seu escrivaninha e
abrindo a primeira gaveta, onde se deparou com um livro. Abriu-o e tomou em
suas mãos as cartas que haviam dentro dele. De alguma forma elas pareciam
inquietas, como se algo não estivesse bem.
"Ora, realmente não está bem!" pensou. "Shaoran está sumido!"
Voltou a se sentar, olhando as cartas, uma a uma. A estranha aura de
agitação em torno delas começava a incomodar a jovem que, apesar do esforço
para manter a calma, começava a ceder para seu desespero.
A energia exalada pelas cartas não transmitia somente inquietude.
Havia algo mais na cálida aura que era emanada por cada umas delas. Sakura
sentiu um certo medo na essência pura de suas amigas, um sentimento que
mesclava ansiedade e angústia em uma única emoção. Lembrou-se
imediatamente da sensação de urgência em seu coração, fazendo com que
crescesse sua necessidade de obter respostas.
A jovem pensou no quanto as cartas eram importantes para ela. Foi por
causa delas que vivera os melhores anos de sua vida. Passara por muitas
aventuras e vivera coisas tão extraordinárias quanto em qualquer história
de ficção. Havia sido por causa das cartas que ela havia conhecido
Shaoran, que acabara se tornando alguém tão importante em sua vida. Elas não
eram apenas meras ferramentas mágicas, eram muito mais. Eram suas amigas,
companheiras que em horas de desespero sempre lhe deram força e apoio.
Horas como aquela.
Foi então que, subitamente, Sakura foi tomada por uma estranha
tontura e uma forte dor de cabeça, que vinha em espasmos, quase como se
alguém estivesse martelando suas têmporas. Junto com a dor, ela podia ver
flashes, visões que se mostravam como quadros, frames
de um filme.
Viu Shaoran conversando com Eriol. Depois viu o amigo lutando em um
descampado contra um homem de manto negro e logo em seguida a visão mudou
para um grande salão, onde várias pessoas estavam sentadas ao redor de uma
mesa de madeira. Ela conseguiu divisar Shaoran, Eriol e, estranhamente, ela
mesma, tendo seus guardiões logo atrás de si.
Tudo ficou escuro por um breve espaço de tempo, após o qual Sakura
pôde ver cenas de seu primeiro encontro com Shaoran, logo após ele ter
voltado da China. Lembrou-se com júbilo desse dia, que lhe trazia sempre
tantas boas recordações.
A visão mudou e a jovem feiticeira contemplou um grande portal
negro, que era cruzado por ela, Shaoran, Eriol e mais algumas pessoas que não
conhecia.
Sua cabeça latejou uma vez mais, a dor trazendo consigo imagens do
Festival de Verão do ano anterior. Reconheceu o momento em que Shaoran lhe
deu um pequeno enfeite de cabelo feito pelos sacerdotes do Templo e que ela
guardava com muito carinho.
Outro espasmo. Desta vez ela viu um bela mulher erguer as mãos e
irradiar uma forte luz sobre uma passarela coberta de criaturas grotescas.
Tudo novamente ficou escuro. Quando ela conseguiu ver de novo, reparou que
novamente era a passarela de antes. Mas desta vez, somente Shaoran e ela
mesma estavam lá. Lutavam contra um ser bastante insólito. Sakura sentiu
um calafrio percorrer sua espinha diante da aparência brutal daquela
criatura.
O espasmo veio pela milésima vez, revelando ela mesma abraçada a
seu amado Lobo. Pétalas de flores pairavam no ar, rodopiando e flutuando
sobre as cabeças do casal. Lentamente eles se beijaram e a visão cedeu
espaço para uma intensa confusão, onde colunas negras emergiam do chão e
se elevavam aos céus, trazendo um grande caos o todo o ambiente ao redor.
As imagens se distorceram em um enorme borrão, fazendo com que o aspecto caótico
daquela ilusão tomasse uma aparência ainda mais confusa e desordenada.
Súbito, a visão cessou, a dor indo embora juntamente com a incômoda
sensação de tontura que a acompanhava. Sakura deitou-se na cama, tentando
recuperar o fôlego. Aquilo era por demais estranho. Costumava ter visões,
sim, mas nunca daquele forma. Os fatos sempre lhe eram mostrados em sonhos,
durante a noite, enquanto dormia. Ver coisas daquela forma, acordada, era
uma experiência nova e, até certo ponto, assustadora para ela.
Sacudiu a cabeça com força, pensando nas imagens que testemunhara
durante aqueles poucos segundos de aflição. Segundos que para ela
pareceram horas longas e intermináveis, carregadas de agonia e surpresa. Os
acontecimentos que lhe foram mostrados eram tão estranhos, que apenas o caráter
efêmero da visão a tornava suportável.
Sem hesitar, Sakura se levantou, caminhando até sua escrivaninha.
Aquilo tudo a estava deixando louca. Precisava fazer algo antes que sua
sanidade ameaçasse ceder perante a dureza dos fatos.
Sentou-se, tendo a sua frente somente o baralho das cartas mágicas.
Contemplou-as longamente, pedindo aos céus para que a ajudassem naquele
momento. Estendeu um lenço preto sobre a superfície lustrada da mesa,
dispondo suas amigas sobre o tecido sedoso. Embaralhou-as com cuidado,
pensando que elas a ajudariam mais uma vez. Delicadamente cortou o maço em
três partes, voltando a uni-los em um único monte.
"Por favor." pensou. "Por favor me ajudem. Preciso de respostas
e sei que vocês podem me ajudar."
Tocou o baralho com os dedos e puxou a primeira carta, dispondo-a
sobre o lenço. Pegou a segunda, colocando-a abaixo da primeira. A outra
carta veio abaixo da segunda e a seguinte, abaixo da terceira. As quatro
cartas formavam uma coluna vertical na extremidade esquerda do lenço.
Sakura pegou outra carta, colocando-a mais acima do tecido,
simbolizando o ponto Norte. A outra carta foi colocada simbolizando o Leste.
Outra para o Sul e outra para o Oeste. No centro, entre as quatro cartas,
foi colocada uma outra, simbolizando a comunhão dos quatro pontos cardeais.
Concentrou-se por um momento antes de prosseguir. Respirou fundo, à
medida que sentia sua energia harmonizando-se com a essência de suas
cartas. Uniu as mãos em uma prece silenciosa, pedindo por sabedoria e
conhecimento.
"Eu pergunto à Terra, o que tens a me dizer?" indagou a jovem,
ao mesmo tempo que virava a primeira carta da coluna vertical. A carta da Terra.
Sakura imaginou o que aquilo poderia significar. A Terra falando sobre ela
mesma. Decidiu continuar.
"Eu pergunto à Água, o que tens a me dizer?" ela inquiriu,
virando a segunda carta da coluna. A Balança. A Terra e a Balança.
O que significava aquilo, afinal? Equilíbrio na Terra? Deu prosseguimento
ao ritual.
"Eu perguntou ao Ar, o que tens a me dizer?" falou, virando a
terceira carta. Apagar. O que poderia ser apagado? A Terra? O Equilíbrio?
"Eu pergunto ao Fogo, o que tens a me dizer?" ela perguntou,
virando a última carta da coluna. A Sombra.
Olhou as quatro cartas que tinha diante de si. Terra, Balança,
Apagar e Sombra. O que elas queriam lhe dizer? Pensou um pouco. A Sombra
representava alguma ameaça. Talvez... O equilíbrio da Terra estivesse ameaçado
pelas Sombras.
Decidiu partir para as outras cartas. Contemplou as cinco cartas
restantes dispostas sobre o lenço formando uma cruz. Esperava que com elas
pudesse obter alguma pista sobre o paradeiro de Shaoran e, quem sabe, ligá-la
à mensagem que as quatro primeiras cartas haviam passado.
Respirou fundo antes de continuar com a leitura. Ela queria saber o
que estava acontecendo, mas ao mesmo tempo tinha medo do que poderia
encontrar.
De onde estava, Kero apenas assistia enquanto sua mestra se
concentrava profundamente na interpretação dos sinais. Ele sabia que o
poder das cartas era grande e que elas podiam muito bem revelar o que estava
acontecendo. Além disso, confiava em Sakura. Ele sabia que a garota tinha
capacidade suficiente para interpretar corretamente os sinais revelados a
ela.
Olhou sua mestra mais uma vez. Sakura estava de olhos fechados, em
profunda concentração. Ergueu a mão direita, tocando a carta com a ponta
dos dedos.
"O que revelas para mim, ó Vento Norte?" ela falou com convicção,
virando a carta do topo da cruz. O Labirinto. Shaoran estava perdido.
Sakura sentiu um aperto no coração ao saber que seu Lobo estava perdido e
poderia estar sofrendo.
"O que revelas para mim, ó Vento Leste?" ela disse, virando a
carta da direita. O Tempo se mostrou, revelando que Shaoran estava
perdido... no Tempo? Sakura estranhou aquilo. Como o rapaz poderia estar
perdido no tempo? Tentou raciocinar e pensar em uma razão para tal fato,
mas não chegou a qualquer conclusão plausível. Decidiu prosseguir. Talvez
as próximas cartas lhe dessem a explicação que procurava.
"O que revelas para mim, ó Vento Sul?" ela perguntou, ao mesmo
tempo em que virava a carta que formava a ponta inferior da cruz. O Retorno
se fez visível, indicando, talvez, que Shaoran estivesse perdido em um
tempo passado. Encarou as três cartas sobre a mesa, desviando o olhar para
as duas que ainda restavam. Àquela altura, a jovem feiticeira já não
sabia mais o que esperar.
"O que revelas para mim, ó Vento Oeste?" indagou a garota,
virando a carta da esquerda. Os Gêmeos. Estranho... Seria aquela a
causa de toda aquela bagunça? Mas o que os Gêmeos poderiam
representar? Por mais que ela pensasse, não conseguia descobrir. Decidiu
revelar a última carta, que lhe diria o motivo de tudo aquilo.
"Aos Quatro Ventos eu lanço minha voz. Que ela atravesse o Tempo e
o Espaço. Que cruze as barreiras da existência. Que os Quatro Ventos
revelem perante mim o que antes estava oculto e invisível."
Virou a quinta e última carta, que estava ao centro da cruz. A Luz.
Aquela era a razão de toda aquela questão. Shaoran estava perdido em um
tempo passado. O papel dos gêmeos ainda era um mistério para ela, mas o
motivo era claro: busca por luz. Iluminação. Mas trazer luz sobre o que?
Sakura arriscou puxar uma última carta do topo do baralho,
deparando-se com a Escuridão. Trazer Luz à Escuridão. Essa era a
resposta que as cartas tinham para dar. Para que o equilíbrio natural da
Terra não fosse destruído pelas sombras, deveria-se trazer luz à escuridão.
Entretanto ela não podia imaginar como aquilo se relacionava com o fato de
Shaoran estar perdido no tempo e nem como os Gêmeos se encaixavam
naquele quebra-cabeças. As pistas pareciam estar incompletas, embora a
jovem soubesse que algo lhe escapava aos sentidos.
A Dama das Cartas pensou em como aquele episódio era por demais insólito.
As respostas que obtivera quase não haviam sanado suas dúvidas. Ao contrário,
pareciam querer incitá-las ainda mais. As verdades contidas nas cartas
haviam ajudado a decifrar, em parte, algumas questões, clareando alguns
poucos pontos acerca dos mistérios envolvendo Shaoran e seu desaparecimento
repentino. Por outro lado, haviam enevoado outros tantos pontos, fazendo da
dúvida algo inevitável.
"Por que as coisas têm que ser tão difíceis?" murmurou Sakura,
sentindo uma ponta de desapontamento e desânimo atingi-la.
"Para que possamos aprender algo com elas." falou Kero, de dentro
de sua gaveta. "Nada que realmente vale a pena é fácil, Sakura. Nem deve
ser. As dificuldades são colocadas em nosso caminho para que, no futuro,
possamos nos lembrar delas e do que aprendemos com elas. E então poderemos
dizer com orgulho que conseguimos vencer mais uma provação em nossas
vidas."
Sakura sorriu diante da colocação de seu Guardião. Não podia
negar a sabedoria evidente nas palavras de Kero, que induziam a uma profunda
reflexão. O pequeno ser alado podia ser bastante sensato em alguns
momentos.
Olhou para o relógio em sua mesa de cabeceira, vendo que já passava
das dez horas. A leitura das cartas tomara mais tempo do que ela
inicialmente imaginara. Sem dizer nada, a garota se levantou, decidida a
tomar um banho e dormir. O dia seguinte seria bastante exaustivo, uma vez
que Meiling chegaria de Hong Kong.
Kero observou sua mestra sair do quarto e se dirigir ao banheiro.
Mentalmente, o Guardião relembrava os fatos narrados por Sakura, tentando
encontrar mais pistas para tudo aquilo. Relacionava o acontecimento aos
sinais mostrados pelas cartas momentos antes, analisando seus significados e
buscando alguma conexão entre eles que estivesse além do óbvio e do
racional. Era claro e evidente que a resposta dada pelas cartas não se
restringia tão somente à leitura feita por Sakura. Havia algo mais por trás
de tudo. Algo que, de alguma forma, carregava consigo todo o destino do
mundo.
Lembrou-se de oito anos antes, da época em que Sakura ainda era uma
Card Captor. Tinha
saudades daqueles tempos. Tudo era tão mais fácil, mais simples e mais
claro. As soluções pareciam sempre estar ao seu alcance, não importando
os problemas. Recordou-se com júbilo do dia em que Sakura leu as cartas
pela primeira vez, durante o incidente com a carta do Espelho. Como ele
gostaria que o desfecho de tudo aquilo fosse fácil como fora daquela vez.
Doce ilusão.
Voltou a pensar em sua mestra. Tantos anos haviam se passado desde
que a conhecera. Tinha que admitir que Sakura havia superado todas as suas
expectativas, tanto no campo da magia como na área pessoal. A garota
havia-se tornado uma grande feiticeira. Mais ainda, havia-se tornado uma
companheira e amiga fiel e única, ocupando um espaço no coração do
pequeno guardião que nem mesmo o Mago Clow tivera o privilégio de possuir.
Viu Sakura entrar no quarto novamente, recém-saída do banho. Vestia
um pijama azul claro com detalhes em branco. Tinha o nome bordado em letras
prateadas no peito, juntamente com o desenho que uma pequena flor. Escovava
os cabelos castanhos, que agora estavam um pouco abaixo dos ombros. O
pequeno sorriu diante do pensamento que lhe veio à cabeça, mostrando o
quanto a garota havia mudado. Não era mais uma criança. De fato, há muito
tempo deixara de ser. Havia crescido e se tornado uma mulher formidável. Não
que fosse a garota mais bonita do mundo, mas possuía uma beleza exótica e
incomum. Isso, somado ao seu ar inocente e à sua aparência pura e casta
lhe conferiam uma graciosidade única e especial. Talvez por essa razão
atraísse tantas atenções para si, muito embora ela nem sempre gostasse de
tantos olhares e cortejos.
A garota terminou de escovar o cabelos e depositou a escova sobre a cômoda
de madeira, virando-se em seguida e caminhando até a janela. Levantou a mão
no intuito de fechá-la, mas deteve-se ao olhar o céu do lado de fora, que
se mostrava limpo e claro. A cena era bastante rara. Quase não havia nuvens
e as poucas que podiam ser vistas estavam bastante esparsas. A Lua já não
estava mais cheia. Começava a diminuir, se preparando para entrar em seu
quarto minguante. Ao redor, as estrelas fulgiam e cintilavam, alheias à
toda preocupação que atormentava o pequeno coração da jovem Dama das
Cartas.
"Shaoran." murmurou. "Onde você está?"
Ergueu a mão de novo, desta vez fechando definitivamente a janela de
seu quarto. Dentro dele, a fraca luz da lâmpada do abajur projetava sombras
difusas sobre as paredes, distorcendo imagens e fazendo-as tomar proporções
bizarras e incomuns.
Contemplou aquelas sombras durante um longo tempo, até que seu olhar
desviou para sua escrivaninha. Viu o lenço preto que usara anteriormente
para ler as cartas. Não muito longe havia um porta-lápis e um bloco de
notas ao lado, com algumas palavras rabiscadas às pressas. Mas não foi
tudo aquilo que capturou a atenção da garota. No fundo da mesa, quase
encostado na parede, ela divisou um porta retrato, onde uma foto de três
amigos se mostrava timidamente em meio à penumbra do aposento. Shaoran,
Tomoyo e ela própria estavam sorrindo, tendo ao fundo aquilo que se parecia
com um festival.
"O Festival de Verão do Templo." pensou Sakura, com um sorriso.
Logo ao lado, havia outra foto, tirada no aeroporto no dia em que
Eriol partira para a Inglaterra.
"Eriol." murmurou a jovem. "Venha logo, por favor. Preciso de
você."
O relógio apitou: era quase meia noite. Sakura decidiu dormir de uma
vez por todas. O dia havia sido
bastante cansativo e o dia seguinte prometia ser tão ou ainda mais
desgastante que aquele.
Caminhou até sua cama, apagando a luz do abajur durante o trajeto.
Uma série de gestos simples, automáticos, quase inconscientes. Deitou-se,
envolta pela suave escuridão que dominava o quarto, iluminado somente pela
fraca luz da Lua que entrava pela janela. Era a única coisa que não
permitia que o aposento mergulhasse por completo na mais profunda escuridão.
Antes de fechar os olhos, ainda olhou ao redor, desejando com todas
as forças que tudo aquilo encontrasse logo seu fim, para o bem ou para o
mal. Pelo menos assim toda aquela ansiedade e angústia desapareceria. Sabia
que o enigma que envolvia o desaparecimento do guerreiro chinês era
complexo. Talvez resultasse em algo trágico. Sacudiu a cabeça, tentando
afastar aqueles pensamentos de sua mente perturbada.
Por fim, após alguns minutos de reflexão, adormeceu, entregando-se
aos braços de Morfeu e deixando que ele a carregasse para seu reino etéreo
e surreal onde ela poderia, pelo menos durante a noite, sonhar.
____________________
A madrugada não tardou a passar. A alvorada despontou no horizonte,
trazendo os raios quentes e revigorantes do Sol nascente e tingindo o céu
de um laranja profundo.
Sakura despertou mais cedo que de costume naquele dia, fato que
chamou a atenção de Kero. Não era do feitio de sua mestra levantar junto
com o Sol, tampouco estar tão disposta àquela hora da manhã. Então
lembrou-se da chegada de Meiling. Talvez a ansiedade do reencontro tivesse
tirado o sono da garota.
"Bom dia." cumprimentou o guardião.
"Bom dia, Kero." respondeu Sakura, abrindo as janelas e espreguiçando-se
longamente, antes de caminhar até o guarda roupa e tirar um vestido azul.
Trocou-se em silencio, lenta e despreocupadamente. Não sabia ao
certo porque levantara tão cedo. Todos ainda dormiam. Entretanto, ela não
sentia mais sono. Sabia que não conseguiria voltar a dormir. Desceu as
escadas até a cozinha, preparando-se para fazer o café da manhã.
Enquanto cozinhava, as lembranças das visões que tivera na noite
anterior voltaram a atormentá-la, trazendo de volta consigo aquele
sentimento de urgência que ela conhecia bem. Decidiu não ficar pensando
naquilo. Esperaria até que Meiling e Eriol tivessem chegado para, só então,
retomar seus problemas. Por horas, descansaria.
Não demorou muito e seu pai logo desceu, surpreendendo-se por
encontrar a filha acordada àquela hora.
"Aconteceu alguma coisa, Sakura?" perguntou. "Ainda é muito
cedo, durma mais um pouco, filha. Hoje eu deveria preparar o café."
"Não se preocupe, papai." falou a jovem, com uma expressão
suave. "Não estou mais com sono. Gostaria de te ajudar."
Fujitaka sorriu diante do rosto terno da filha, caminhando para perto
dela. Tinha sorte de ter alguém tão doce e meiga como Sakura. Tinha muito
orgulho de sua filha e não escondia isso de ninguém. Por essa razão
ficara muito preocupado quando recebeu a notícia do desaparecimento de
Shaoran. Sabia o quanto ela o amava e percebeu a crescente queda no ânimo
de sua pequena Flor. Vê-la sorrindo novamente o enchia de uma alegria
quente e reconfortante.
Observou a garota preparar habilidosamente algumas panquecas doces,
enquanto ele próprio fazia suco de laranjas. Alguns minutos depois, o café
da manhã estava pronto.
Sentaram-se à mesa, servindo-se das panquecas que Sakura havia
feito. Nesse meio tempo, Touya também acordara, juntando-se ao pai e à irmã.
A hora do desjejum prosseguiu normalmente, sem maiores distrações e
contratempos. Sakura procurou aliviar um pouco o estresse das últimas
semanas. A conversa com seu pai e seu irmão contribuiu imensamente para
isso.
Tão logo terminou de tomar o desjejum, Sakura se levantou e subiu de
volta para seu quarto, arrumando-se para ir à casa de Tomoyo. Prendeu os
cabelos em um rabo de cavalo e colocou o livro das cartas em sua bolsa,
tomando cuidado para não esquecer nada importante. Colocou o pingente da
chave em volta do pescoço, enquanto contemplava a si mesma no espelho.
Sorriu para o próprio reflexo, diante do pensamento de que, se fosse
antigamente, se ela ainda tivesse dez anos de idade, estaria chorando abraçado
ao travesseiro ao invés de estar tomando efetivamente uma atitude. Não que
aquilo fosse motivo para risos, mas ela não podia deixar de achar graça da
situação.
Terminou de se arrumar e saiu, tendo como destino a mansão de sua
amiga. Tanto Sonomi quanto os muitos criados que trabalhavam na mansão já
haviam se acostumado com a presença constante da garota na propriedade.
Desde que o namorado fora dado como desaparecido, a jovem parecia buscar
freqüentemente o conforto e o carinho da amiga. Ou pelo menos era isso o
que pensavam.
Caminhou até o portão devagar, este reagindo e abrindo-se
automaticamente à mera aproximação da jovem. Foi cumprimentada
jovialmente pelo porteiro da mansão, respondendo no mesmo tom suave.
Caminhou pelo jardim através das muitas flores que adornavam a beira da
passarela, adentrando a casa e, seguindo instruções de uma criada, indo até
o pátio dos fundos, onde Tomoyo a esperava.
De fato, encontrou a amiga sentada em um banco de madeira que havia
perto de uma roseira. Tomoyo lia um grosso volume, cujo título já quase
apagado exibia em letras douradas a palavra "Hamlet".
"Finalmente decidiu saltar dos livros de design para a literatura
clássica?" perguntou a Dama das Cartas em tom de provocação,
aproximando-se da amiga. Tomoyo apenas sorriu.
"Shakespeare." falou a garota. "Faz bem mudar de ares de vez em
quando. Devia ler, é muito bom."
"Acho que vou recusar." falou Sakura, sorrindo. "Eu já o li
uma vez. Além do mais, minha vida já está trágica o suficiente sem a
ajuda de livros. Não preciso complementá-la com histórias de vingança e
dissertações sobre a natureza do ser humano. Quem sabe numa próxima
vez."
"Quem sabe." disse Tomoyo, divertida, enquanto marcava a página
e fechava o livro. "Algum progresso."
"Sim, se é que podemos realmente chamar de progresso." falou
Sakura, sentando-se ao lado de Tomoyo. Fechou os olhos e respirou fundo
antes de contar à amiga o que descobrira na noite anterior. Sentiu uma
infinidade de fragrâncias se misturar ao perfume das rosas que haviam ao
lado, compondo um perfume único e surreal. Voltou a abrir os olhos,
encarando Tomoyo.
"Li as cartas ontem. Elas me disseram que Shaoran está perdido no
tempo."
Tomoyo franziu as sobrancelhas. "Como?"
E Sakura passou a contar a leitura que fizera na noite anterior,
tomando cuidado para não omitir nem um detalhe sequer. Contou à amiga como
o ritual se desenvolvera, o modo como as cartas se mostraram, uma após a
outra, revelando as pistas para o mistério que as rodeava.
Contou também sobre as visões que tivera. Era estranho ter crises
como aquela. A visão lhe mostrou cenas de sua própria vida intercaladas
com outras que ela não conseguia identificar. Fora uma visão premonitória
bastante diferente daquelas que ela estava acostumada.
Tomoyo estava quieta. O término da narrativa lhe dera muito o que
pensar. Tinha que concordar com a amiga, a visão realmente estava fora dos
padrões as quais elas estavam acostumadas. Entretanto, se aquilo era um bom
ou mal sinal ela não sabia dizer.
Tomou um gole do chá que havia sido servido momentos antes de Sakura
iniciar seu relato, tentando encontrar alguma forma de interligar os fatos.
As pesquisas que tinha feito haviam sido de todo infrutíferas e a leitura
das cartas não acrescentava nada. Era irritante aquela aparente falta de
capacidade delas.
"Talvez estejamos concentrando nossos esforços na direção
errada, Sakura." falou a jovem de cabelos escuros. "Tanta busca, tantas
pesquisas e tudo resulta em nada. Mesmo as aparentes respostas que nos são
reveladas parecem apenas contribuir para aumentar nossas dúvidas."
"Eu sei, Tomoyo. Mas parece evidente que o problema é por demais
complexo para que possamos resolvê-lo sozinhas. Vamos esperar por Eriol e
Meiling. Com eles aqui tudo ficará mais fácil." disse Sakura, tentando
acreditar no que dizia.
"Já que tocou no assunto, tomara que a Meiling chegue logo. Estou
com saudades." falou Tomoyo. "Acho que ela vem depois do almoço."
"Não vão precisar esperar tanto!" disse uma voz, próxima ao
banco.
Meiling caminhou rapidamente através do pátio e se aproximou do
banco, sorrindo para as duas jovens que estavam sentadas. Sua personalidade
não aparentava ter mudado muito, como Sakura e Tomoyo bem puderam perceber
pelo tom de voz vibrante e pelo modo determinado como andava. Fisicamente,
entretanto, estava muito diferente. Cortara os longos cabelos negros, que
agora estavam um pouco abaixo da linha dos ombros, e prendera-os em um rabo
de cavalo. Crescera bastante desde seu último encontro com as amigas,
tornando-se a mais alta das três.
"Estávamos com saudades, Meiling!" falou Tomoyo, abraçando a
amiga.
"Faz muito tempo, não é?" perguntou Sakura. Meiling concordou,
soltando-se de Tomoyo e abraçando a jovem feiticeira também.
"O que fez com Xiao Lang, Sakura?" perguntou a chinesa, em tom de
provocação.
"Não vamos falar sobre isso agora." falou a jovem de olhos
verdes. "Eriol chega amanhã. Explicaremos tudo quando ele também estiver
aqui. Dessa forma pouparemos tempo e poderemos nos concentrar nas buscas.
Por hora, falemos sobre coisas mais agradáveis!"
Meiling apenas assentiu, observando Tomoyo e Sakura se sentarem e
fazendo o mesmo.
"Você está linda, Meiling!" falou Tomoyo. "Os anos foram
bastante generosos contigo."
"Eu sempre fui linda, Tomoyo." falou a garota, brincando. A jovem
riu da graça feita pela amiga. "Mas falando sério, obrigada. Mas eu não
sou a única, não é mesmo? Vocês duas também estão ótimas! Quase não
a reconheci, Sakura. o que fez com o cabelo?"
"Decidi deixá-lo crescer um pouco. Achei que ficaria bom." ela
respondeu.
"E realmente ficou. Você está muito bonita desse jeito." disse
Meiling. Sakura agradeceu. conversaram por um longo tempo, até que uma
criada as chamou para o almoço.
Havia sido servido arroz, legumes cozidos no vapor e um assado de
aparência maravilhosa. Comeram com gosto, apreciando a companhia de amigas
tão queridas. Tudo aquilo pela qual haviam passado há tantos anos tinha
ajudado a forjar uma amizade inabalável, que nem mesmo o tempo ou a distância
conseguiu apagar.
Tomoyo pensou em como era incrível a maneira como o contado com
Naoko, Rika, Chiharu e Yamazaki havia diminuído desde que haviam começado a
faculdade. Eventualmente, ainda se encontravam para uma ocasional reunião,
mas cada um agora levava sua própria vida. Com Eriol e Meiling, ao contrário,
os laços haviam apenas se fortalecido, a despeito do fato de cada um morar
em outro país. A jovem pensou na sorte que tinha, afinal poucas pessoas
podiam se gabar de realmente conservar uma amizade desde os tempos de escola.
"O que houve, Tomoyo?" perguntou Meiling, notando o pequeno
sorriso nos lábios da amiga.
"Estava apenas pensando em nossa sorte por termos nos conhecido. A
amizade de vocês é muito importante para mim."
Sakura e Meiling sorriram. Terminaram a refeição rapidamente, indo
para o quarto de Tomoyo, onde uma criada serviu o chá e a sobremesa.
Passaram a tarde toda conversando mil e uma coisas, mas em nenhum
momento ousaram tocar no assunto que as reunira ali. De certa forma, isso
foi benéfico para Sakura, que conseguiu se acalmar um pouco e distanciar
seu pensamentos de todos os problemas. A presença forte e animada de
Meiling contribuía de forma significativa para isso.
Dado momento, Tomoyo perguntou à chinesa onde estavam suas malas.
Ela não as tinha visto em nenhum momento enquanto andava pela casa.
"Estão no hotel." disse Meiling. "Deixei tudo lá antes de vir
para cá."
Tomoyo se levantou.
"Achou mesmo que eu te deixaria ficar em um hotel?" indagou a
jovem Daidouji. "Qual o nome do lugar? Vou pedir para que alguém busque
suas coisas. Ficará aqui, em minha casa. Temos muitos quartos vagos."
Meiling tentou argumentar mas, diante da insistência de Tomoyo,
cedeu. Era incrível como a garota conseguia ser persuasiva quando queria.
Tomoyo saiu do quarto, chamando por Noaki. Voltou alguns minutos
depois, dizendo que tudo havia sido arranjado. As malas de Meiling chegaram
uma hora depois e a jovem se instalou em um dos quartos de hóspedes que
havia na mansão.
Já era noite quando se despediram, combinando de se reencontrarem no
dia seguinte às onze horas, para esperar por Eriol no aeroporto. Sakura
caminhou para casa pensando em como era bom ter Meiling presente de novo.
Quase se esquecera de como a prima de Shaoran era divertida e alegre.
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A noite passou sem maiores transtornos. Sakura novamente acordou cedo
no dia seguinte, ajudando Touya a preparar o desjejum. Chegou à casa de
Tomoyo no horário marcado, já encontrando as amigas esperando-a na porta.
Entraram no carro que as levaria até o aeroporto. A viagem foi feita
no mais absoluto silêncio. Se no dia anterior elas haviam evitado falar
sobre o desaparecimento de Shaoran, naquele dia o problema passou a ocupar a
mente de cada uma delas.
Sakura sentiu uma grande alegria por saber que Eriol a ajudaria
novamente. Mal podia esperar para revê-lo. Já Meiling pensava que
finalmente poderia conhecer a tão famosa reencarnação do grande mago que
criara as cartas Clow, agora cartas Sakura.
Rapidamente chegaram ao aeroporto. Desceram do carro, caminhando
firmemente em direção à plataforma de desembarque, ao mesmo tempo em que
escutavam o vôo de Eriol ser anunciado nos auto-falantes.
Aproximaram-se com cuidado. Àquela hora o movimento no aeroporto era
muito intenso. Aguardaram alguns minutos. Observaram muitas pessoas saírem
pelo portão. Em meio àquela multidão de gente, Sakura conseguiu divisar
um jovem de longos cabelos escuros presos em um rabo de cavalo. Tinha olhos
azuis muito bonitos, emoldurados por um óculos de aros finos. Trajava uma
calça social preta e uma camisa branca e trazia nas mãos um pequena
gaiola, onde um ser negro se mostrava. Ao seu lado, um bela mulher de olhos
avermelhados observava os arredores.
Sakura sorriu, Eriol finalmente havia chegado.
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Aqui está mais um capítulo, desta vez focado na Sakura da dimensão
original. Eriol e Meiling chegam de seus respectivos países para ajudar nas
buscas por Shaoran. Tomara que agora o trabalho de Sakura se torne mais fácil.
O
método de leitura utilizado pela Sakura para interpretar as cartas não
corresponde ao visto no episódio da Carta do Espelho. Ele foi baseado em um
método de leitura de tarô.
Gostaria de agradecer à Andréa, por ter me avisado de um pequeno
detalhe com relação aos nomes dos pais de Clow. Eu lhes dei nomes
japoneses, mas seu pai era inglês e a mãe era chinesa. O problema com os
nomes já foi corrigido. Obrigado, Dréa, pelo aviso.
Obrigado a todos que estão acompanhando esta história e me deixando
reviews! Fico muito agradecido a todos vocês.
Até o próximo capítulo.
Peace, Love and
Hope to all and each one of you. Now and Forever.
Felipe S. Kai
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