Capítulo Nove — Interlúdio Parte I: Busca Desesperada
"Você tem que se acalmar, Sakura." falou Tomoyo. Havia duas semanas que a jovem Dama das Cartas se encontrava em um estado de profundo desespero. Desde que Shaoran fora atingido por aquele estranho raio e desaparecera sem maiores razões aparentes, ela tentava encontrar uma explicação, algo que trouxesse seu Lobo de volta.
"Nervosa do jeito que está, não conseguirá nada, Sakura. Só vai conseguir fazer um buraco no chão." falou Kero, observando a garota andar de um lado para o outro. Voou para perto de sua mestra, fazendo-a parar. A preocupação nos olhos do pequeno guardião era visível e palpável mas ele sabia que não poderia ajudar a resolver aquele problema se estivesse com a mente conturbada. Tinha que se concentrar nas questões que possuíam diante de si.
Sakura se sentou no sofá que havia no quarto de Tomoyo. Estavam apenas as duas mulheres e os dois guardiões. Parado em um canto, Yue estava quieto. Mantinha os olhos fechados, embora sua postura continuasse austera e imponente. Todavia, Sakura sabia que sob aquela expressão compenetrada e aquela máscara de disciplina e frieza, seu guardião estava bastante inquieto.
"Já faz duas semanas, Tomoyo!" exclamou Sakura. "Como pode pedir que eu me acalme? Duas semanas e nós ainda não temos uma pista sequer sobre o que aconteceu aquele dia! Quero Shaoran de volta e vou até o Inferno se precisar para trazê-lo de volta para nós."
"Sabemos disso, Sakura." falou Tomoyo. "Mas seu nervosismo não nos levará a lugar algum. Precisa manter a cabeça fria para podermos pensar com clareza. Shaoran precisa da nossa ajuda. Ele precisa de você. Concentre-se, sei que nós podemos solucionar tudo isso. E nós vamos resolver tudo! Antes que perceba terá Shaoran de volta e tudo não terá passado de um sonho. Ainda vamos rir de tudo isso."
Sakura limitou-se a concordar com um aceno de sua cabeça, ao mesmo tempo em que se levantava e caminhava até a janela. Levantou a persiana, que estava meio fechada, contemplando o imenso jardim da mansão Daidouji, com todas aquelas flores exuberantes, cuja beleza estonteante enchia os olhos de todas as pessoas que as admiravam.
Sua mente conturbada preocupava-se em formular as mais diversas teorias a respeito do paradeiro de seu namorado. O súbito modo como o rapaz desaparecera, em meio a um raio róseo que o envolveu por completo sem qualquer razão visível e racional a perturbava em demasia. Sakura ainda ficou muito tempo examinando a árvore sob a qual estavam naquele momento. Porém, não chegando a qualquer conclusão plausível, acabou desistindo de sua análise. Estava claro que não poderia fazer nada sozinha, mas não gostava daquele sentimento de impotência.
Desviou os olhos do jardim, virando-se para o aposento que a abrigava e fitando Tomoyo profundamente com seus olhos verde-esmeralda. Não conseguiu evitar que um pequeno sorriso se formasse em seus lábios ao pensar no quanto a amizade da jovem lhe era valiosa. Juntas, as duas já haviam passado por tanta coisa, muitas das quais ninguém jamais iria sequer imaginar. Sakura já não imaginava mais sua vida sem Tomoyo, da mesma forma como não a imaginava sem seu Pequeno Lobo.
"O que houve?" perguntou a jovem de longos cabelos negros, diante do olhar que Sakura lhe lançava.
"Nada." respondeu a moça. "Estava apenas pensando o quando você é importante para mim. Você nunca me deixou sozinha, qualquer que fosse o problema. Obrigada por tudo que está fazendo, Tomoyo."
Sorrindo, a garota de olhos cor de violeta se levantou, caminhando até perto de Sakura e abraçando-a ternamente.
"Não precisa me agradecer, Sakura. Você sabe o quanto é importante para mim e o quanto eu te amo. Não te deixaria passar por tudo isso sozinha."
Permaneceram abraçadas por mais algum tempo, tentando transmitir forças uma a outra. Kero sorriu ao ver o quão bela era a amizade que unia aquelas duas jovens. Por fim, separaram-se, Sakura sentindo sua determinação fortalecida.
"Telefonei para Hong Kong ontem." disse a jovem Dama das Cartas. "Meiling está vindo para cá para nos ajudar. Ela disse que tomaria o primeiro vôo de amanhã, pois tinha que resolver algumas coisas por lá antes de viajar."
Tomoyo acenou a cabeça.
"E eu recebi a resposta do e-mail que enviei para Eriol. Ele disse que está vindo da Inglaterra para ajudar nas buscas. Ele chega depois de amanhã, no vôo do meio-dia. Enquanto isso, disse que estará pesquisando por lá, nos livros antigos escritos pelo mago Clow." ela falou.
"Faz tanto tempo desde que os vimos pela última vez, não é mesmo?" disse Sakura. "Estou com saudades."
"É verdade." respondeu Tomoyo. "Vamos aproveitar para conversar bastante e tirar o atraso de todos os anos que não os vimos."
Sakura concordou, sorrindo ao pensar que encontraria seus amigos mais uma vez depois de tanto tempo.
"Espero que com a ajuda da reencarnação de Clow tenhamos mais sorte e possamos resolver tudo." falou Kero. Todos concordaram.
"Já está ficando tarde." falou Sakura. "É melhor eu voltar para casa. Vou aproveitar para pesquisar um pouco mais. Quem sabe as cartas possam me indicar alguma coisa."
"Tudo bem. Boa sorte então, Sakura. Tomara que solucionemos esse mistério o quanto antes." falou Tomoyo, levantando-se.
Sakura pegou sua bolsa da mesinha que havia no centro do quarto da amiga, fazendo com que Kero entrasse dentro da mesma. Yue voltou à forma de Yukito, que depois de muito tempo de treino e estudo já conseguia manter algumas das memórias de sua identidade real, embora sua personalidade doce se mantivesse intacta.
Como boa anfitriã, Tomoyo fez questão de acompanhá-los até o portão. Desceram as escadas da mansão Daidouji sem pressa. Percorreram os degraus de mármore até o saguão de entrada, que dava para a passarela aberta no jardim. Tomoyo os conduziu até o grande portão de ferro que guardava a entrada da mansão.
"Bem, é aqui que nós nos despedimos, pessoal." falou a filha de Sonomi. "Boa sorte com as cartas, Sakura. Espero que descubra algo."
"Eu também, Tomoyo." falou Sakura. "Eu também."
"Nos encontramos novamente amanhã?" perguntou a jovem de olhos violeta.
"Certamente que sim." respondeu Sakura.
"Então até amanhã." falou Tomoyo.
"Até amanhã." falou a feiticeira, virando-se e caminhando em direção à sua casa, tendo Kero em sua bolsa e Yukito ao seu lado.
"Quer que eu te acompanhe, Sakura?" perguntou o rapaz de cabelos prateados.
"Não precisa, Yukito. Obrigada." respondeu Sakura. "Posso voltar sozinha. Kero está comigo."
"Tudo bem então. Eu vou para casa." falou.
Despediram-se, cada um indo para um lado. Sakura caminhou lentamente pelas ruas de Tomoeda, percorrendo sem pressa a distância que ligava a casa de Tomoyo à sua própria. Enquanto andava, pensava em como a ausência de Shaoran era angustiante. Acostumara-se a ter o jovem sempre por perto e saber que ele podia estar correndo perigo naquele momento a amedrontava em demasia.
"Vamos, Sakura." pensou. "Deixe de ser tão paranóica! Não vai acontecer nada com o Shaoran!"
Duvidava das próprias palavras. Sua intuição era forte e naquele momento ela lhe mostrava um sentimento novo e estranho, uma angústia crescente, como se houvesse uma certa urgência pairando no ar.
Continuou caminhando, cruzando o Parque Pingüim e chegando, por fim, ao portão de um sobrado amarelo. Abriu o pequeno portão branco de madeira de sua casa, buscando a chave da porta em sua bolsa. Logo a encontrou, destravando a porta e entrando em sua casa. As luzes estava acesas, fato que Sakura estranhou. Seu pai ainda deveria estar na universidade, uma vez que iria repor uma aula que perdera e seu irmão ainda deveria estar trabalhando.
Tirou os sapatos e pendurou a bolsa, após permitir que Kero saísse de dentro dela. Então caminhou até cozinha, surpreendendo-se por encontrar Touya fazendo o jantar.
"O que houve?" perguntou. "Pensei que ainda estivesse em serviço."
"Fui liberado mais cedo." falou Touya. "Hoje é dia de reunião geral dos chefes de setor e por isso todos os funcionários foram dispensados do turno da noite."
"Que bom." falou Sakura, simplesmente, tomando um copo de água antes de subir para seu quarto.
"Antes que eu me esqueça, diga para aquela bola de pêlos parar de assaltar a geladeira durante a noite." falou seu irmão, em um tom um pouco irritado. "Ele comeu o bolo da sobremesa de hoje!"
Sakura sorriu.
"Tudo bem, eu digo." falou a moça, antes de desaparecer da cozinha. Subiu as escadas rapidamente, entrando em seu quarto e fechando a porta.
Sentou-se na cama, cansada depois de mais um dia de procura infrutífera. Mal podia esperar que Eriol e Meiling chegassem. Com eles, tudo certamente iria ficar mais fácil. Além do mais, estava com saudades de seus amigos. Não os encontrava havia anos e ela pretendia aproveitar a ocasião para saber o que acontecera durante todo o tempo que ficaram sem se ver.
"Touya não ia trabalhar hoje?" perguntou Kero.
"Ele foi dispensado mais cedo." respondeu Sakura. "E mandou você parar de assaltar a geladeira. Você comeu o bolo que meu pai tinha feito."
Kero apenas resmungou algo ininteligível, sentando-se em sua cama. Sakura, por sua vez, estava pensativa, alheia a tudo ao seu redor.
Levantou-se da cama lentamente, caminhando até seu escrivaninha e abrindo a primeira gaveta, onde se deparou com um livro. Abriu-o e tomou em suas mãos as cartas que haviam dentro dele. De alguma forma elas pareciam inquietas, como se algo não estivesse bem.
"Ora, realmente não está bem!" pensou. "Shaoran está sumido!"
Voltou a se sentar, olhando as cartas, uma a uma. A estranha aura de agitação em torno delas começava a incomodar a jovem que, apesar do esforço para manter a calma, começava a ceder para seu desespero.
A energia exalada pelas cartas não transmitia somente inquietude. Havia algo mais na cálida aura que era emanada por cada umas delas. Sakura sentiu um certo medo na essência pura de suas amigas, um sentimento que mesclava ansiedade e angústia em uma única emoção. Lembrou-se imediatamente da sensação de urgência em seu coração, fazendo com que crescesse sua necessidade de obter respostas.
A jovem pensou no quanto as cartas eram importantes para ela. Foi por causa delas que vivera os melhores anos de sua vida. Passara por muitas aventuras e vivera coisas tão extraordinárias quanto em qualquer história de ficção. Havia sido por causa das cartas que ela havia conhecido Shaoran, que acabara se tornando alguém tão importante em sua vida. Elas não eram apenas meras ferramentas mágicas, eram muito mais. Eram suas amigas, companheiras que em horas de desespero sempre lhe deram força e apoio. Horas como aquela.
Foi então que, subitamente, Sakura foi tomada por uma estranha tontura e uma forte dor de cabeça, que vinha em espasmos, quase como se alguém estivesse martelando suas têmporas. Junto com a dor, ela podia ver flashes, visões que se mostravam como quadros, frames de um filme.
Viu Shaoran conversando com Eriol. Depois viu o amigo lutando em um descampado contra um homem de manto negro e logo em seguida a visão mudou para um grande salão, onde várias pessoas estavam sentadas ao redor de uma mesa de madeira. Ela conseguiu divisar Shaoran, Eriol e, estranhamente, ela mesma, tendo seus guardiões logo atrás de si.
Tudo ficou escuro por um breve espaço de tempo, após o qual Sakura pôde ver cenas de seu primeiro encontro com Shaoran, logo após ele ter voltado da China. Lembrou-se com júbilo desse dia, que lhe trazia sempre tantas boas recordações.
A visão mudou e a jovem feiticeira contemplou um grande portal negro, que era cruzado por ela, Shaoran, Eriol e mais algumas pessoas que não conhecia.
Sua cabeça latejou uma vez mais, a dor trazendo consigo imagens do Festival de Verão do ano anterior. Reconheceu o momento em que Shaoran lhe deu um pequeno enfeite de cabelo feito pelos sacerdotes do Templo e que ela guardava com muito carinho.
Outro espasmo. Desta vez ela viu um bela mulher erguer as mãos e irradiar uma forte luz sobre uma passarela coberta de criaturas grotescas. Tudo novamente ficou escuro. Quando ela conseguiu ver de novo, reparou que novamente era a passarela de antes. Mas desta vez, somente Shaoran e ela mesma estavam lá. Lutavam contra um ser bastante insólito. Sakura sentiu um calafrio percorrer sua espinha diante da aparência brutal daquela criatura.
O espasmo veio pela milésima vez, revelando ela mesma abraçada a seu amado Lobo. Pétalas de flores pairavam no ar, rodopiando e flutuando sobre as cabeças do casal. Lentamente eles se beijaram e a visão cedeu espaço para uma intensa confusão, onde colunas negras emergiam do chão e se elevavam aos céus, trazendo um grande caos o todo o ambiente ao redor. As imagens se distorceram em um enorme borrão, fazendo com que o aspecto caótico daquela ilusão tomasse uma aparência ainda mais confusa e desordenada.
Súbito, a visão cessou, a dor indo embora juntamente com a incômoda sensação de tontura que a acompanhava. Sakura deitou-se na cama, tentando recuperar o fôlego. Aquilo era por demais estranho. Costumava ter visões, sim, mas nunca daquele forma. Os fatos sempre lhe eram mostrados em sonhos, durante a noite, enquanto dormia. Ver coisas daquela forma, acordada, era uma experiência nova e, até certo ponto, assustadora para ela.
Sacudiu a cabeça com força, pensando nas imagens que testemunhara durante aqueles poucos segundos de aflição. Segundos que para ela pareceram horas longas e intermináveis, carregadas de agonia e surpresa. Os acontecimentos que lhe foram mostrados eram tão estranhos, que apenas o caráter efêmero da visão a tornava suportável.
Sem hesitar, Sakura se levantou, caminhando até sua escrivaninha. Aquilo tudo a estava deixando louca. Precisava fazer algo antes que sua sanidade ameaçasse ceder perante a dureza dos fatos.
Sentou-se, tendo a sua frente somente o baralho das cartas mágicas. Contemplou-as longamente, pedindo aos céus para que a ajudassem naquele momento. Estendeu um lenço preto sobre a superfície lustrada da mesa, dispondo suas amigas sobre o tecido sedoso. Embaralhou-as com cuidado, pensando que elas a ajudariam mais uma vez. Delicadamente cortou o maço em três partes, voltando a uni-los em um único monte.
"Por favor." pensou. "Por favor me ajudem. Preciso de respostas e sei que vocês podem me ajudar."
Tocou o baralho com os dedos e puxou a primeira carta, dispondo-a sobre o lenço. Pegou a segunda, colocando-a abaixo da primeira. A outra carta veio abaixo da segunda e a seguinte, abaixo da terceira. As quatro cartas formavam uma coluna vertical na extremidade esquerda do lenço.
Sakura pegou outra carta, colocando-a mais acima do tecido, simbolizando o ponto Norte. A outra carta foi colocada simbolizando o Leste. Outra para o Sul e outra para o Oeste. No centro, entre as quatro cartas, foi colocada uma outra, simbolizando a comunhão dos quatro pontos cardeais.
Concentrou-se por um momento antes de prosseguir. Respirou fundo, à medida que sentia sua energia harmonizando-se com a essência de suas cartas. Uniu as mãos em uma prece silenciosa, pedindo por sabedoria e conhecimento.
"Eu pergunto à Terra, o que tens a me dizer?" indagou a jovem, ao mesmo tempo que virava a primeira carta da coluna vertical. A carta da Terra. Sakura imaginou o que aquilo poderia significar. A Terra falando sobre ela mesma. Decidiu continuar.
"Eu pergunto à Água, o que tens a me dizer?" ela inquiriu, virando a segunda carta da coluna. A Balança. A Terra e a Balança. O que significava aquilo, afinal? Equilíbrio na Terra? Deu prosseguimento ao ritual.
"Eu perguntou ao Ar, o que tens a me dizer?" falou, virando a terceira carta. Apagar. O que poderia ser apagado? A Terra? O Equilíbrio?
"Eu pergunto ao Fogo, o que tens a me dizer?" ela perguntou, virando a última carta da coluna. A Sombra.
Olhou as quatro cartas que tinha diante de si. Terra, Balança, Apagar e Sombra. O que elas queriam lhe dizer? Pensou um pouco. A Sombra representava alguma ameaça. Talvez... O equilíbrio da Terra estivesse ameaçado pelas Sombras.
Decidiu partir para as outras cartas. Contemplou as cinco cartas restantes dispostas sobre o lenço formando uma cruz. Esperava que com elas pudesse obter alguma pista sobre o paradeiro de Shaoran e, quem sabe, ligá-la à mensagem que as quatro primeiras cartas haviam passado.
Respirou fundo antes de continuar com a leitura. Ela queria saber o que estava acontecendo, mas ao mesmo tempo tinha medo do que poderia encontrar.
De onde estava, Kero apenas assistia enquanto sua mestra se concentrava profundamente na interpretação dos sinais. Ele sabia que o poder das cartas era grande e que elas podiam muito bem revelar o que estava acontecendo. Além disso, confiava em Sakura. Ele sabia que a garota tinha capacidade suficiente para interpretar corretamente os sinais revelados a ela.
Olhou sua mestra mais uma vez. Sakura estava de olhos fechados, em profunda concentração. Ergueu a mão direita, tocando a carta com a ponta dos dedos.
"O que revelas para mim, ó Vento Norte?" ela falou com convicção, virando a carta do topo da cruz. O Labirinto. Shaoran estava perdido. Sakura sentiu um aperto no coração ao saber que seu Lobo estava perdido e poderia estar sofrendo.
"O que revelas para mim, ó Vento Leste?" ela disse, virando a carta da direita. O Tempo se mostrou, revelando que Shaoran estava perdido... no Tempo? Sakura estranhou aquilo. Como o rapaz poderia estar perdido no tempo? Tentou raciocinar e pensar em uma razão para tal fato, mas não chegou a qualquer conclusão plausível. Decidiu prosseguir. Talvez as próximas cartas lhe dessem a explicação que procurava.
"O que revelas para mim, ó Vento Sul?" ela perguntou, ao mesmo tempo em que virava a carta que formava a ponta inferior da cruz. O Retorno se fez visível, indicando, talvez, que Shaoran estivesse perdido em um tempo passado. Encarou as três cartas sobre a mesa, desviando o olhar para as duas que ainda restavam. Àquela altura, a jovem feiticeira já não sabia mais o que esperar.
"O que revelas para mim, ó Vento Oeste?" indagou a garota, virando a carta da esquerda. Os Gêmeos. Estranho... Seria aquela a causa de toda aquela bagunça? Mas o que os Gêmeos poderiam representar? Por mais que ela pensasse, não conseguia descobrir. Decidiu revelar a última carta, que lhe diria o motivo de tudo aquilo.
"Aos Quatro Ventos eu lanço minha voz. Que ela atravesse o Tempo e o Espaço. Que cruze as barreiras da existência. Que os Quatro Ventos revelem perante mim o que antes estava oculto e invisível."
Virou a quinta e última carta, que estava ao centro da cruz. A Luz. Aquela era a razão de toda aquela questão. Shaoran estava perdido em um tempo passado. O papel dos gêmeos ainda era um mistério para ela, mas o motivo era claro: busca por luz. Iluminação. Mas trazer luz sobre o que?
Sakura arriscou puxar uma última carta do topo do baralho, deparando-se com a Escuridão. Trazer Luz à Escuridão. Essa era a resposta que as cartas tinham para dar. Para que o equilíbrio natural da Terra não fosse destruído pelas sombras, deveria-se trazer luz à escuridão. Entretanto ela não podia imaginar como aquilo se relacionava com o fato de Shaoran estar perdido no tempo e nem como os Gêmeos se encaixavam naquele quebra-cabeças. As pistas pareciam estar incompletas, embora a jovem soubesse que algo lhe escapava aos sentidos.
A Dama das Cartas pensou em como aquele episódio era por demais insólito. As respostas que obtivera quase não haviam sanado suas dúvidas. Ao contrário, pareciam querer incitá-las ainda mais. As verdades contidas nas cartas haviam ajudado a decifrar, em parte, algumas questões, clareando alguns poucos pontos acerca dos mistérios envolvendo Shaoran e seu desaparecimento repentino. Por outro lado, haviam enevoado outros tantos pontos, fazendo da dúvida algo inevitável.
"Por que as coisas têm que ser tão difíceis?" murmurou Sakura, sentindo uma ponta de desapontamento e desânimo atingi-la.
"Para que possamos aprender algo com elas." falou Kero, de dentro de sua gaveta. "Nada que realmente vale a pena é fácil, Sakura. Nem deve ser. As dificuldades são colocadas em nosso caminho para que, no futuro, possamos nos lembrar delas e do que aprendemos com elas. E então poderemos dizer com orgulho que conseguimos vencer mais uma provação em nossas vidas."
Sakura sorriu diante da colocação de seu Guardião. Não podia negar a sabedoria evidente nas palavras de Kero, que induziam a uma profunda reflexão. O pequeno ser alado podia ser bastante sensato em alguns momentos.
Olhou para o relógio em sua mesa de cabeceira, vendo que já passava das dez horas. A leitura das cartas tomara mais tempo do que ela inicialmente imaginara. Sem dizer nada, a garota se levantou, decidida a tomar um banho e dormir. O dia seguinte seria bastante exaustivo, uma vez que Meiling chegaria de Hong Kong.
Kero observou sua mestra sair do quarto e se dirigir ao banheiro. Mentalmente, o Guardião relembrava os fatos narrados por Sakura, tentando encontrar mais pistas para tudo aquilo. Relacionava o acontecimento aos sinais mostrados pelas cartas momentos antes, analisando seus significados e buscando alguma conexão entre eles que estivesse além do óbvio e do racional. Era claro e evidente que a resposta dada pelas cartas não se restringia tão somente à leitura feita por Sakura. Havia algo mais por trás de tudo. Algo que, de alguma forma, carregava consigo todo o destino do mundo.
Lembrou-se de oito anos antes, da época em que Sakura ainda era uma Card Captor. Tinha saudades daqueles tempos. Tudo era tão mais fácil, mais simples e mais claro. As soluções pareciam sempre estar ao seu alcance, não importando os problemas. Recordou-se com júbilo do dia em que Sakura leu as cartas pela primeira vez, durante o incidente com a carta do Espelho. Como ele gostaria que o desfecho de tudo aquilo fosse fácil como fora daquela vez. Doce ilusão.
Voltou a pensar em sua mestra. Tantos anos haviam se passado desde que a conhecera. Tinha que admitir que Sakura havia superado todas as suas expectativas, tanto no campo da magia como na área pessoal. A garota havia-se tornado uma grande feiticeira. Mais ainda, havia-se tornado uma companheira e amiga fiel e única, ocupando um espaço no coração do pequeno guardião que nem mesmo o Mago Clow tivera o privilégio de possuir.
Viu Sakura entrar no quarto novamente, recém-saída do banho. Vestia um pijama azul claro com detalhes em branco. Tinha o nome bordado em letras prateadas no peito, juntamente com o desenho que uma pequena flor. Escovava os cabelos castanhos, que agora estavam um pouco abaixo dos ombros. O pequeno sorriu diante do pensamento que lhe veio à cabeça, mostrando o quanto a garota havia mudado. Não era mais uma criança. De fato, há muito tempo deixara de ser. Havia crescido e se tornado uma mulher formidável. Não que fosse a garota mais bonita do mundo, mas possuía uma beleza exótica e incomum. Isso, somado ao seu ar inocente e à sua aparência pura e casta lhe conferiam uma graciosidade única e especial. Talvez por essa razão atraísse tantas atenções para si, muito embora ela nem sempre gostasse de tantos olhares e cortejos.
A garota terminou de escovar o cabelos e depositou a escova sobre a cômoda de madeira, virando-se em seguida e caminhando até a janela. Levantou a mão no intuito de fechá-la, mas deteve-se ao olhar o céu do lado de fora, que se mostrava limpo e claro. A cena era bastante rara. Quase não havia nuvens e as poucas que podiam ser vistas estavam bastante esparsas. A Lua já não estava mais cheia. Começava a diminuir, se preparando para entrar em seu quarto minguante. Ao redor, as estrelas fulgiam e cintilavam, alheias à toda preocupação que atormentava o pequeno coração da jovem Dama das Cartas.
"Shaoran." murmurou. "Onde você está?"
Ergueu a mão de novo, desta vez fechando definitivamente a janela de seu quarto. Dentro dele, a fraca luz da lâmpada do abajur projetava sombras difusas sobre as paredes, distorcendo imagens e fazendo-as tomar proporções bizarras e incomuns.
Contemplou aquelas sombras durante um longo tempo, até que seu olhar desviou para sua escrivaninha. Viu o lenço preto que usara anteriormente para ler as cartas. Não muito longe havia um porta-lápis e um bloco de notas ao lado, com algumas palavras rabiscadas às pressas. Mas não foi tudo aquilo que capturou a atenção da garota. No fundo da mesa, quase encostado na parede, ela divisou um porta retrato, onde uma foto de três amigos se mostrava timidamente em meio à penumbra do aposento. Shaoran, Tomoyo e ela própria estavam sorrindo, tendo ao fundo aquilo que se parecia com um festival.
"O Festival de Verão do Templo." pensou Sakura, com um sorriso.
Logo ao lado, havia outra foto, tirada no aeroporto no dia em que Eriol partira para a Inglaterra.
"Eriol." murmurou a jovem. "Venha logo, por favor. Preciso de você."
O relógio apitou: era quase meia noite. Sakura decidiu dormir de uma vez por todas. O dia havia sido bastante cansativo e o dia seguinte prometia ser tão ou ainda mais desgastante que aquele.
Caminhou até sua cama, apagando a luz do abajur durante o trajeto. Uma série de gestos simples, automáticos, quase inconscientes. Deitou-se, envolta pela suave escuridão que dominava o quarto, iluminado somente pela fraca luz da Lua que entrava pela janela. Era a única coisa que não permitia que o aposento mergulhasse por completo na mais profunda escuridão.
Antes de fechar os olhos, ainda olhou ao redor, desejando com todas as forças que tudo aquilo encontrasse logo seu fim, para o bem ou para o mal. Pelo menos assim toda aquela ansiedade e angústia desapareceria. Sabia que o enigma que envolvia o desaparecimento do guerreiro chinês era complexo. Talvez resultasse em algo trágico. Sacudiu a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos de sua mente perturbada.
Por fim, após alguns minutos de reflexão, adormeceu, entregando-se aos braços de Morfeu e deixando que ele a carregasse para seu reino etéreo e surreal onde ela poderia, pelo menos durante a noite, sonhar.
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A madrugada não tardou a passar. A alvorada despontou no horizonte, trazendo os raios quentes e revigorantes do Sol nascente e tingindo o céu de um laranja profundo.
Sakura despertou mais cedo que de costume naquele dia, fato que chamou a atenção de Kero. Não era do feitio de sua mestra levantar junto com o Sol, tampouco estar tão disposta àquela hora da manhã. Então lembrou-se da chegada de Meiling. Talvez a ansiedade do reencontro tivesse tirado o sono da garota.
"Bom dia." cumprimentou o guardião.
"Bom dia, Kero." respondeu Sakura, abrindo as janelas e espreguiçando-se longamente, antes de caminhar até o guarda roupa e tirar um vestido azul.
Trocou-se em silencio, lenta e despreocupadamente. Não sabia ao certo porque levantara tão cedo. Todos ainda dormiam. Entretanto, ela não sentia mais sono. Sabia que não conseguiria voltar a dormir. Desceu as escadas até a cozinha, preparando-se para fazer o café da manhã.
Enquanto cozinhava, as lembranças das visões que tivera na noite anterior voltaram a atormentá-la, trazendo de volta consigo aquele sentimento de urgência que ela conhecia bem. Decidiu não ficar pensando naquilo. Esperaria até que Meiling e Eriol tivessem chegado para, só então, retomar seus problemas. Por horas, descansaria.
Não demorou muito e seu pai logo desceu, surpreendendo-se por encontrar a filha acordada àquela hora.
"Aconteceu alguma coisa, Sakura?" perguntou. "Ainda é muito cedo, durma mais um pouco, filha. Hoje eu deveria preparar o café."
"Não se preocupe, papai." falou a jovem, com uma expressão suave. "Não estou mais com sono. Gostaria de te ajudar."
Fujitaka sorriu diante do rosto terno da filha, caminhando para perto dela. Tinha sorte de ter alguém tão doce e meiga como Sakura. Tinha muito orgulho de sua filha e não escondia isso de ninguém. Por essa razão ficara muito preocupado quando recebeu a notícia do desaparecimento de Shaoran. Sabia o quanto ela o amava e percebeu a crescente queda no ânimo de sua pequena Flor. Vê-la sorrindo novamente o enchia de uma alegria quente e reconfortante.
Observou a garota preparar habilidosamente algumas panquecas doces, enquanto ele próprio fazia suco de laranjas. Alguns minutos depois, o café da manhã estava pronto.
Sentaram-se à mesa, servindo-se das panquecas que Sakura havia feito. Nesse meio tempo, Touya também acordara, juntando-se ao pai e à irmã.
A hora do desjejum prosseguiu normalmente, sem maiores distrações e contratempos. Sakura procurou aliviar um pouco o estresse das últimas semanas. A conversa com seu pai e seu irmão contribuiu imensamente para isso.
Tão logo terminou de tomar o desjejum, Sakura se levantou e subiu de volta para seu quarto, arrumando-se para ir à casa de Tomoyo. Prendeu os cabelos em um rabo de cavalo e colocou o livro das cartas em sua bolsa, tomando cuidado para não esquecer nada importante. Colocou o pingente da chave em volta do pescoço, enquanto contemplava a si mesma no espelho. Sorriu para o próprio reflexo, diante do pensamento de que, se fosse antigamente, se ela ainda tivesse dez anos de idade, estaria chorando abraçado ao travesseiro ao invés de estar tomando efetivamente uma atitude. Não que aquilo fosse motivo para risos, mas ela não podia deixar de achar graça da situação.
Terminou de se arrumar e saiu, tendo como destino a mansão de sua amiga. Tanto Sonomi quanto os muitos criados que trabalhavam na mansão já haviam se acostumado com a presença constante da garota na propriedade. Desde que o namorado fora dado como desaparecido, a jovem parecia buscar freqüentemente o conforto e o carinho da amiga. Ou pelo menos era isso o que pensavam.
Caminhou até o portão devagar, este reagindo e abrindo-se automaticamente à mera aproximação da jovem. Foi cumprimentada jovialmente pelo porteiro da mansão, respondendo no mesmo tom suave. Caminhou pelo jardim através das muitas flores que adornavam a beira da passarela, adentrando a casa e, seguindo instruções de uma criada, indo até o pátio dos fundos, onde Tomoyo a esperava.
De fato, encontrou a amiga sentada em um banco de madeira que havia perto de uma roseira. Tomoyo lia um grosso volume, cujo título já quase apagado exibia em letras douradas a palavra "Hamlet".
"Finalmente decidiu saltar dos livros de design para a literatura clássica?" perguntou a Dama das Cartas em tom de provocação, aproximando-se da amiga. Tomoyo apenas sorriu.
"Shakespeare." falou a garota. "Faz bem mudar de ares de vez em quando. Devia ler, é muito bom."
"Acho que vou recusar." falou Sakura, sorrindo. "Eu já o li uma vez. Além do mais, minha vida já está trágica o suficiente sem a ajuda de livros. Não preciso complementá-la com histórias de vingança e dissertações sobre a natureza do ser humano. Quem sabe numa próxima vez."
"Quem sabe." disse Tomoyo, divertida, enquanto marcava a página e fechava o livro. "Algum progresso."
"Sim, se é que podemos realmente chamar de progresso." falou Sakura, sentando-se ao lado de Tomoyo. Fechou os olhos e respirou fundo antes de contar à amiga o que descobrira na noite anterior. Sentiu uma infinidade de fragrâncias se misturar ao perfume das rosas que haviam ao lado, compondo um perfume único e surreal. Voltou a abrir os olhos, encarando Tomoyo.
"Li as cartas ontem. Elas me disseram que Shaoran está perdido no tempo."
Tomoyo franziu as sobrancelhas. "Como?"
E Sakura passou a contar a leitura que fizera na noite anterior, tomando cuidado para não omitir nem um detalhe sequer. Contou à amiga como o ritual se desenvolvera, o modo como as cartas se mostraram, uma após a outra, revelando as pistas para o mistério que as rodeava.
Contou também sobre as visões que tivera. Era estranho ter crises como aquela. A visão lhe mostrou cenas de sua própria vida intercaladas com outras que ela não conseguia identificar. Fora uma visão premonitória bastante diferente daquelas que ela estava acostumada.
Tomoyo estava quieta. O término da narrativa lhe dera muito o que pensar. Tinha que concordar com a amiga, a visão realmente estava fora dos padrões as quais elas estavam acostumadas. Entretanto, se aquilo era um bom ou mal sinal ela não sabia dizer.
Tomou um gole do chá que havia sido servido momentos antes de Sakura iniciar seu relato, tentando encontrar alguma forma de interligar os fatos. As pesquisas que tinha feito haviam sido de todo infrutíferas e a leitura das cartas não acrescentava nada. Era irritante aquela aparente falta de capacidade delas.
"Talvez estejamos concentrando nossos esforços na direção errada, Sakura." falou a jovem de cabelos escuros. "Tanta busca, tantas pesquisas e tudo resulta em nada. Mesmo as aparentes respostas que nos são reveladas parecem apenas contribuir para aumentar nossas dúvidas."
"Eu sei, Tomoyo. Mas parece evidente que o problema é por demais complexo para que possamos resolvê-lo sozinhas. Vamos esperar por Eriol e Meiling. Com eles aqui tudo ficará mais fácil." disse Sakura, tentando acreditar no que dizia.
"Já que tocou no assunto, tomara que a Meiling chegue logo. Estou com saudades." falou Tomoyo. "Acho que ela vem depois do almoço."
"Não vão precisar esperar tanto!" disse uma voz, próxima ao banco.
Meiling caminhou rapidamente através do pátio e se aproximou do banco, sorrindo para as duas jovens que estavam sentadas. Sua personalidade não aparentava ter mudado muito, como Sakura e Tomoyo bem puderam perceber pelo tom de voz vibrante e pelo modo determinado como andava. Fisicamente, entretanto, estava muito diferente. Cortara os longos cabelos negros, que agora estavam um pouco abaixo da linha dos ombros, e prendera-os em um rabo de cavalo. Crescera bastante desde seu último encontro com as amigas, tornando-se a mais alta das três.
"Estávamos com saudades, Meiling!" falou Tomoyo, abraçando a amiga.
"Faz muito tempo, não é?" perguntou Sakura. Meiling concordou, soltando-se de Tomoyo e abraçando a jovem feiticeira também.
"O que fez com Xiao Lang, Sakura?" perguntou a chinesa, em tom de provocação.
"Não vamos falar sobre isso agora." falou a jovem de olhos verdes. "Eriol chega amanhã. Explicaremos tudo quando ele também estiver aqui. Dessa forma pouparemos tempo e poderemos nos concentrar nas buscas. Por hora, falemos sobre coisas mais agradáveis!"
Meiling apenas assentiu, observando Tomoyo e Sakura se sentarem e fazendo o mesmo.
"Você está linda, Meiling!" falou Tomoyo. "Os anos foram bastante generosos contigo."
"Eu sempre fui linda, Tomoyo." falou a garota, brincando. A jovem riu da graça feita pela amiga. "Mas falando sério, obrigada. Mas eu não sou a única, não é mesmo? Vocês duas também estão ótimas! Quase não a reconheci, Sakura. o que fez com o cabelo?"
"Decidi deixá-lo crescer um pouco. Achei que ficaria bom." ela respondeu.
"E realmente ficou. Você está muito bonita desse jeito." disse Meiling. Sakura agradeceu. conversaram por um longo tempo, até que uma criada as chamou para o almoço.
Havia sido servido arroz, legumes cozidos no vapor e um assado de aparência maravilhosa. Comeram com gosto, apreciando a companhia de amigas tão queridas. Tudo aquilo pela qual haviam passado há tantos anos tinha ajudado a forjar uma amizade inabalável, que nem mesmo o tempo ou a distância conseguiu apagar.
Tomoyo pensou em como era incrível a maneira como o contado com Naoko, Rika, Chiharu e Yamazaki havia diminuído desde que haviam começado a faculdade. Eventualmente, ainda se encontravam para uma ocasional reunião, mas cada um agora levava sua própria vida. Com Eriol e Meiling, ao contrário, os laços haviam apenas se fortalecido, a despeito do fato de cada um morar em outro país. A jovem pensou na sorte que tinha, afinal poucas pessoas podiam se gabar de realmente conservar uma amizade desde os tempos de escola.
"O que houve, Tomoyo?" perguntou Meiling, notando o pequeno sorriso nos lábios da amiga.
"Estava apenas pensando em nossa sorte por termos nos conhecido. A amizade de vocês é muito importante para mim."
Sakura e Meiling sorriram. Terminaram a refeição rapidamente, indo para o quarto de Tomoyo, onde uma criada serviu o chá e a sobremesa.
Passaram a tarde toda conversando mil e uma coisas, mas em nenhum momento ousaram tocar no assunto que as reunira ali. De certa forma, isso foi benéfico para Sakura, que conseguiu se acalmar um pouco e distanciar seu pensamentos de todos os problemas. A presença forte e animada de Meiling contribuía de forma significativa para isso.
Dado momento, Tomoyo perguntou à chinesa onde estavam suas malas. Ela não as tinha visto em nenhum momento enquanto andava pela casa.
"Estão no hotel." disse Meiling. "Deixei tudo lá antes de vir para cá."
Tomoyo se levantou.
"Achou mesmo que eu te deixaria ficar em um hotel?" indagou a jovem Daidouji. "Qual o nome do lugar? Vou pedir para que alguém busque suas coisas. Ficará aqui, em minha casa. Temos muitos quartos vagos."
Meiling tentou argumentar mas, diante da insistência de Tomoyo, cedeu. Era incrível como a garota conseguia ser persuasiva quando queria.
Tomoyo saiu do quarto, chamando por Noaki. Voltou alguns minutos depois, dizendo que tudo havia sido arranjado. As malas de Meiling chegaram uma hora depois e a jovem se instalou em um dos quartos de hóspedes que havia na mansão.
Já era noite quando se despediram, combinando de se reencontrarem no dia seguinte às onze horas, para esperar por Eriol no aeroporto. Sakura caminhou para casa pensando em como era bom ter Meiling presente de novo. Quase se esquecera de como a prima de Shaoran era divertida e alegre.
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A noite passou sem maiores transtornos. Sakura novamente acordou cedo no dia seguinte, ajudando Touya a preparar o desjejum. Chegou à casa de Tomoyo no horário marcado, já encontrando as amigas esperando-a na porta.
Entraram no carro que as levaria até o aeroporto. A viagem foi feita no mais absoluto silêncio. Se no dia anterior elas haviam evitado falar sobre o desaparecimento de Shaoran, naquele dia o problema passou a ocupar a mente de cada uma delas.
Sakura sentiu uma grande alegria por saber que Eriol a ajudaria novamente. Mal podia esperar para revê-lo. Já Meiling pensava que finalmente poderia conhecer a tão famosa reencarnação do grande mago que criara as cartas Clow, agora cartas Sakura.
Rapidamente chegaram ao aeroporto. Desceram do carro, caminhando firmemente em direção à plataforma de desembarque, ao mesmo tempo em que escutavam o vôo de Eriol ser anunciado nos auto-falantes.
Aproximaram-se com cuidado. Àquela hora o movimento no aeroporto era muito intenso. Aguardaram alguns minutos. Observaram muitas pessoas saírem pelo portão. Em meio àquela multidão de gente, Sakura conseguiu divisar um jovem de longos cabelos escuros presos em um rabo de cavalo. Tinha olhos azuis muito bonitos, emoldurados por um óculos de aros finos. Trajava uma calça social preta e uma camisa branca e trazia nas mãos um pequena gaiola, onde um ser negro se mostrava. Ao seu lado, um bela mulher de olhos avermelhados observava os arredores.
Sakura sorriu, Eriol finalmente havia chegado.
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Aqui está mais um capítulo, desta vez focado na Sakura da dimensão original. Eriol e Meiling chegam de seus respectivos países para ajudar nas buscas por Shaoran. Tomara que agora o trabalho de Sakura se torne mais fácil.
O método de leitura utilizado pela Sakura para interpretar as cartas não corresponde ao visto no episódio da Carta do Espelho. Ele foi baseado em um método de leitura de tarô.
Gostaria de agradecer à Andréa, por ter me avisado de um pequeno detalhe com relação aos nomes dos pais de Clow. Eu lhes dei nomes japoneses, mas seu pai era inglês e a mãe era chinesa. O problema com os nomes já foi corrigido. Obrigado, Dréa, pelo aviso.
Obrigado a todos que estão acompanhando esta história e me deixando reviews! Fico muito agradecido a todos vocês.
Até o próximo capítulo.
Peace, Love and Hope to all and each one of you. Now and Forever.
Felipe S. Kai