Rich Girl

II – Festa

Sakura acordou cedo, logo após o nascer do sol. Abraçou as cobertas, sem a mínima vontade de se levantar. Mais um dia, o mesmo tédio de sempre. Esticou o braço, puxando a cortina e deixando a luz encher o quarto. Naquela manhã quente, um mergulho não iria matar ninguém. Vestiu seu maiô e saiu, esperando não encontrar ninguém no caminho.

A água estava gelada, mas isso não a impediu de pular e atravessar a piscina diversas vezes. Adorava nadar, principalmente logo depois de acordar. Assim que colocou a cabeça para fora da água, deu de cara com seu irmão, Touya, que segurava um roupão com o braço direito.

"Vista-se", disse ele, seco. "Nosso pai quer falar com você."

"O que ele quer?", perguntou Sakura, enquanto subia a escada da piscina.

"Não sei, mas parece que está inventando alguma coisa para esta noite."

O Sr. Fujitaka adorava dar festas no castelo dos Kinomoto. Eram sempre feitas em cima da hora, mas eram para sempre lembradas por cada um de seus convidados. Cada festa tinha um tema diferente e atraíam pessoas de todos os lugares, enchendo o castelo de diferentes homens e mulheres.

Ele estava sentado em seu escritório, numa enorme cadeira giratória de couro marrom. Atrás dele havia uma janela que proporcionava uma linda vista do jardim, mas que no momento estava protegida por uma cortina. Prateleiras ocupavam todas as paredes, e em cima deles havia diversos livros sobre os mais variados assuntos, de passarinhos a observação de estrelas e planetas. Sakura e Touya entraram em silêncio, esperando que o pai lhes dirigisse a palavra.

"Que tal um festa hoje à noite? Já enviei os convites."

Sakura sorriu, fingindo gostar da idéia.

"Está ótimo, papai."

"Qual o tema dessa vez?"

"Branco! Todos virão vestidos de branco. Os empregados já estão organizando o salão. Apresentem-se lá às dezenove horas em ponto."

"Sim, papai", concordou Sakura.

"Com licença", disse Touya, se retirando, ao que foi seguido por sua irmã. Assim que estavam longe o suficiente, ele desabafou:

"Não sei como ele não se cansa dessas festas."

"Touya, você sabe que ele faz isso desde que a mamãe morreu. Talvez isso o alegre um pouco."

"É... talvez."

Foram para a sala, tomar café da manhã. Sakura passou a tarde organizando seu armário e trocando de vestidos, até encontrar um que lhe agradasse.


Quando o relógio anunciou sete horas da noite, Touya já estava na entrada do salão, vestindo um elegante terno branco. Seu pai ajustava os últimos detalhes com os empregados. Sakura chegou correndo, alguns minutos atrasada, sob o olhar reprovador de seu pai. Mesmo assim, ela não pode deixar de admirar o trabalho que haviam feito no salão de festas, todo decorado com balões e faixas brancas. Havia uma mesa de bufê em um canto, repleta de delícias. Levantou a barra do seu vestido para subir o degrau e observar melhor. Ela usava um vestido longo – e branco – com rendas e detalhes azuis permeando as mangas e a barra. Um colar com uma pedra azul lhe adornava o pescoço. O salão ficava na parte de cima da casa; assim, Touya pôde observar, ao longe, os convidados chegando. Logo o salão estava cheio de pessoas bonitas e bem-vestidas. A música tocava alta e algumas delas estavam no centro, dançando, enquanto outras conversavam às mesas. A família Kinomoto cumprimentava todos que chegavam.

Quando não havia mais novos convidados, Sakura deu uma volta pelo salão conversando rapidamente com as pessoas, como era usual. Logo já estava cansada daquela festa. Queria voltar para o seu quarto e dormir, mas seu pai não permitiria que deixasse um de seus eventos sociais. Quando ninguém estava olhando, saiu do salão e fechou a porta de vidro, aliviada. Apoiou-se na sacada, observando a cidade iluminada pelo luar. Seu vestido agitava-se com o vento, assim como seus cabelos. Logo sentiu uma presença perto de si e virou-se. Um jovem de cabelos castanhos, vestindo um smoking preto, também observava a cidade, com as mãos atrás das costas. Sakura observou-o. Aquele rosto lhe parecia familiar. Aproximou-se, olhando-o.

"Você é o garoto de ontem à noite!"

Ele deu um pulo, assustando-se com a presença dela. Não esperava que alguém mais estivesse ali.

"Desculpe...", ele começou a dizer, mas logo também a reconheceu. "Você estava na cidade!"

"Sim! E você me salvou", ela disse emocionada, por ter encontrado seu herói novamente.

"Não foi nada", ele disse envergonhado. Estendeu a mão. "Aliás, sou Syaoran Li."

"Sou Sakura", ela respondeu, apertando a mão dele. "O que você está fazendo aqui fora, Syaoran?"

"Eu... só estou descansando um pouco. E você, não devia estar na festa?"

"Também estou um pouco cansada."

A porta de vidro se abriu. Assim que viram quem era, Syaoran se abaixou, apoiando um joelho no chão e abaixando a cabeça.

"Sakura! Algumas pessoas aqui querem conhecê-la melhor."

"Já estou indo, papai."

Assim que a porta se fechou novamente, ela virou-se para falar com Syaoran, mas surpreendeu-se ao vê-lo naquela posição.

"O que você está fazendo!"

"Desculpe-me, princesa. Se eu soubesse que você era a princesa Sakura Kinomoto, nunca lhe teria dirigido a palavra daquela maneira."

"Do que você está falando? Pare com isso e levante-se agora!"

Ele obedeceu, mas permaneceu de cabeça baixa, com os cabelos cobrindo seus olhos. Ela segurou seu braço.

"Você não precisa fazer isso. Nunca. Agora vamos voltar para a festa."

"Eu não posso, eu..."

Nesse momento, um dos cozinheiros apareceu ofegante, vindo da entrada de serviço.

"Li! O chefe quer que você pegue umas caixas lá embaixo."

"Já estou indo", ele respondeu, acenando. Sakura continuou a olhar para ele, sem entender o que estava acontecendo.

"Desculpe-me, princesa. Mas eu não pertenço à sua festa."

Desceu as escadas, deixando-a perplexa e sozinha sob a luz da lua.

Continua...