Shaoran é subitamente transportado para uma realidade alternativa, onde se encontra morto. Agora, com a ajuda de Eriol, ele deve encontrar o caminho de volta para casa. E então, sua jornada começa... CAPÍTULO DEZENOVE NO AR. Não, não é um sonho!
Rated: Fiction T - Portuguese - Adventure - Syaoran L., Sakura K. - Chapters: 20 - Words: 176,017 - Reviews: 141 - Favs: 33 - Follows: 8 - Updated: Dec 22, 2005 - Published: Jan 4, 2003 - id: 1158567
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Capítulo Onze — Descoberta
Magno observou Vladimir sair pela porta do quarto com o semblante
preocupado. Rapidamente o mago virou-se sobre os calcanhares e caminhou até
a escrivaninha abarrotada de livros, onde estivera pesquisando instantes atrás.
Juntou os pergaminhos e arrumou o local, guardando o material de volta em
sua mala e fechando-a com um cadeado de ferro.
Olhou ao redor, contemplando o quarto onde estava hospedado. O local
era bastante confortável. Simples e por isso mesmo sofisticado. Magno
fizera o possível para que o local ficasse o mais a seu gosto possível,
organizando-o impecavelmente e mantendo uma ordem característica de sua
personalidade metódica. Os poucos móveis, que incluíam uma grande cama de
colunas, uma cômoda de cedro, um espelho e uma cadeira, além da
escrivaninha sobre a qual estivera debruçado nas últimas cinco horas,
possuíam um quê de antigo, nem por isso deixando de serem formosos e fora
de moda. Do teto, pendia um lustre com uma única lâmpada, que àquela hora
estava acesa, trazendo uma claridade peculiar ao aposento.
Olhou pela janela, contemplando a Lua e as estrelas e lutando para
afastar as idéias pessimistas que insistiam em aparecer em sua mente
cansada. O Guardião do Fogo sabia que, àquela altura dos acontecimentos, o
que quer que tivesse que acontecer com o grupo, já tinha acontecido.
Restava rezar para que eles pudessem superar as provações que iriam ser
colocadas em seu caminho; para que resistissem bravamente como os guerreiros
valentes que eram, até que ele pudesse encontrar uma forma de ajudá-los.
Pois era isso mesmo que eles eram, cada um deles: guerreiros. Lutavam por um
objetivo comum, protegiam aquele mundinho insignificante e, por isso mesmo,
tão importante e valioso; lutavam porque acreditavam que o futuro poderia
ser melhor.
Ele também lutaria, lutaria com todas as forças para trazê-los de
volta sãos e salvos, não importava o custo que tivesse que pagar. Estava
determinado a dar a própria vida pela segurança daqueles jovens, quase
crianças diante de seus olhos experientes e antigos, que tanto já haviam
testemunhado no passado. Ainda tinham tanto a viver, tantas histórias para
contar...
Voltou a pensar no pressentimento que havia tido durante a conversa
com o Guardião da Terra. A idéia que lhe viera à mente naquele instante
ainda o perturbava, dando-lhe os mais diversos motivos para temer. Quisera
ele aquela teoria fosse um engano, pois se tal hipótese se confirmasse, então
o que eles pensavam serem os motivos do ataque de dois anos atrás estavam
completamente errados. Klaus mentira sobre suas razões.
Se a idéia que se formara em sua cabeça naquele momento se
revelasse verdade, então Eriol e os outros enfrentavam uma força muito além
de suas expectativas, uma entidade cujo poder era de uma magnitude tal que
seus poderes seriam insuficientes para enfrentar.
Ergueu a mão, como se quisesse tocar a Lua com a ponta dos dedos.
Imediatamente a janela se fechou, trancando-se ao mínimo gesto do mago.
Caminhando lentamente, ele sentou-se na cadeira, de frente para a
escrivaninha, agora vazia.
Estava cansado, as longas horas de pesquisa lhe haviam consumido mais
energias do que ele inicialmente imaginara. Seu corpo precisava de descanso.
Inconscientemente espreguiçou-se, terminando por soltar um longo e demorado
bocejo.
"Você devia dormir, Magno." disse uma voz, junto ao batente da
porta do aposento. Magno abriu os olhou e fitou a figura esguia que se
encontrava parada do lado de fora do quarto. Sorriu para a mulher, que
retribuiu o gesto, se aproximando. "Você exige demais de si mesmo, meu
amigo. Pode ser o líder do Conselho, mas não precisa suportar tudo
sozinho."
"Eu sei, Inghrid." tornou o Mago, enquanto a Guardiã da Lua se
sentava na cama. "Entretanto a situação é tão enigmática que não
pude fazer mais nada além de sentar-me aqui e pesquisar a tarde toda."
"E se perder em meio às suas pesquisas, não é?" interrompeu a
maga. "Mesmo sendo o maior dentre nós, Magno, ainda assim tem seus
limites como ser humano. Não exija de seu corpo algo muito além do que
ele pode suportar."
O Guardião do Fogo sorriu diante da colocação de sua amiga.
Realmente, ele estivera tão concentrado e obcecado em desvendar o mistério
por trás da Jornada que quase se esquecera de seus limites como homem.
Aquela era uma característica marcante de sua personalidade. Não
raramente o mago renegava seus limites em detrimento de suas obrigações,
deixando aqueles completamente de lado em prol destes. Só descansava depois
de ver uma missão concluída e de saber que tudo dera certo. Já havia
discutido com os outros magos sobre isso, mas ninguém podia negar que, em
parte, fora justamente por causa daquela teimosia e obstinação que o alemão
ganhara o posto de líder. Sua determinação era insuperável e sua força
de vontade, inigualável.
Ao longo de sua vida, Magno ouvira muitas pessoas criticarem aquela
determinação, vista por muitos como exacerbada. Por causa dela, já havia
deixado de fazer muitas coisas, deixado passar muitas oportunidades... Seu
noivado fora completamente arruinado e muitos amigos acabaram se afastando.
Mas aquilo que era seu principal defeito era também sua maior qualidade.
Afinal, por causa daquela mesma determinação ele se tornara um mago tão
formidável e justo. Por causa daquela mesma determinação em fazer o que
era certo, ajudara tantos judeus durante a Segunda Guerra e lutara tanto
para ver arruinada a ditadura de Hitler. Não fosse aquela teimosia, não
teria sido eleito Diácono Superior de Berlim nem Líder do Conselho.
O mago ponderou um instante e pesou os resultados de seus atos. E a
única conclusão a qual pôde chegar foi que tudo valera a pena. Salvara
tantas vidas, dera felicidade a tantas pessoas, que tudo pela qual tinha
passado mostrava seu valor perante a humanidade. Afinal, o que era a
felicidade de poucos comparada à alegria de muitos?
Suspirou, ainda mergulhado em suas memórias e recordações. Ao seu
lado, Inghrid o fitava de forma profunda e respeitosa. Sabia que o mago
pensava em seu passado e não teria a indiscrição de interrompê-lo. Ao
longo dos anos havia aprendido a respeitar Magno como ninguém. De todos os
membros do Conselho, Inghrid era quem estava ao lado de Magno há mais
tempo. Dessa forma, era quem melhor o entendia, seus motivos, medos e métodos.
Aproveitou o tempo para refletir também. Assim que Vladimir entrara
no salão onde todos estavam, dizendo que Magno ordenara o retorno ao
castelo do Conselho, Inghrid soube que algo não ia bem. Conhecendo o mago,
ela sabia que se tudo estivesse em ordem ele teria aproveitado o tempo
restante para descansar e só voltariam ao castelo no dia seguinte, após um
farto desjejum e com um sorriso no rosto por mais uma missão bem sucedida.
Entretanto, não fora bem isso que acontecera. Magno aparentava uma
seriedade exacerbada que tirava a tranqüilidade da Guardiã da Lua de forma
bastante desconcertante.
Olhou através da janela fechada e seus olhos pousaram no astro que
representava seus poderes no Conselho. A Lua estava entrando em sua fase
minguante, preparando-se para esconder-se no firmamento, envolta em mistérios
muito além da compreensão dos simples seres mortais, pessoas comuns, mas
que faziam toda a diferença naquele mundo.
Fitou a Lua demoradamente, pedindo ao seu astro regente que lhe
concedesse sabedoria e força para os dias que viriam, certamente carregados
de questões profundas e que necessitariam de uma profunda e acurada análise.
Ela sorriu ao pensar na palavra análise. Lembrou-se de como tomara
contato com o mundo da Magia, ainda em sua adolescência. Sua mãe fora uma
bruxa de considerável poder. E foi da maneira mais inusitada que Inghrid
tomou conhecimento dos poderes que sua mãe e, por conseguinte, ela possuía.
Uma jovem Inghrid, então com 15 anos de idade, voltava para casa na
noite do solstício de verão crente de que todos já dormiam. Entretanto,
para seu espanto, havia uma luz azulada em um dos aposentos de sua casa.
Movida de intensa curiosidade, ela abriu a porta para ver de que se tratava
tal fato, bastante incomum por sinal. Sua surpresa não poderia ter sido
maior ao ver sua mãe, realizando o ritual de recepção do solstício.
Inghrid sempre fora uma pessoa racional ao extremo. Por essa razão,
aceitar a magia fora algo muito difícil para sua mente analítica e cética.
A maga custou a entender que no mundo, nem tudo podia ou devia ser explicado
com base na racionalidade. Existiam coisas que não podiam ser definidas com
o cérebro, deviam ser sentidas com a alma e o coração. E foi exatamente
essa a lição mais difícil de ser aprendida.
Claro que ela não conseguiu negar tais verdades por muito tempo, e
os anos trataram de mostrar à feiticeira que sua mente podia pregar
truques, ao contrário de sua intuição. Para ela, a lição mais básica
foi a mais difícil: aprender a escutar a Alma do Mundo.
"Isso é bastante curioso." ela ouviu uma voz dizer, puxando-a de
volta à realidade. Magno a fitava com especial interesse.
"O que disse?"
"Disse que isso é bastante curioso. Não é do teu feitio ficar
imersa em teus pensamentos desta forma. Normalmente quem divaga de tal forma
e com tal profundidade sou eu. O que acontece contigo, minha amiga?"
Inghrid riu, olhando para o Guardião do Fogo com uma expressão
descrente.
"Ora, Magno! Do modo como fala até parece que somente você tem o
direito de refletir! Eu estava apenas recordando alguns fatos de meu
passado."
"Recordar é sempre bom, se pudermos extrair algo positivo da
recordação."
"De fato!" concluiu Inghrid, levantando-se. "Mas não foi para
recordar que eu vim até aqui. Vladimir me disse que voltaríamos ao Castelo
em uma hora. O que acontece, Magno? Há algo que você não nos contou."
"E não vou contar. Não agora. Quero que todos estejam presentes
para que a explicação possa ser, se não mais fácil, mas simples. Desta
forma pouparemos tempo e poderemos concentrar nossos esforços nas questões
que demandam real atenção."
Inghrid assentiu.
"Que assim seja." murmurou, virando-se e caminhando em direção
à porta. Magno viu a silhueta alta da feiticeira sair do aposento e
desaparecer em meio à penumbra do corredor.
Terminou rapidamente de arrumar seus pertences e desceu as escadas,
encontrando-se com Seyfried e os outros magos no saguão principal do
Castelo do Tempo. Rapidamente se dirigiram ao salão do espelho, guiados por
um dos membros da Ordem.
Contemplaram pela última vez as paredes de pedra do imenso Castelo
antes de cruzarem o portal que os levaria de volta à sede do Conselho.
Um após o outro, os seis mago entraram no espelho, cruzando o portal
argênteo que ligava dois lugares sagrados e poderosos, deixando para trás
o Castelo do Tempo.
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O espelho no canto do aposento tremeluziu e deixou de refletir os móveis
ao redor, assumindo uma tonalidade prateada e fosca, logo em seguida dando
passagem a seis magos muito apressados. Colocaram seus pertences no chão,
cansados da viagem que, apesar de ser mais rápida do que se feita por
outros meios, ainda assim consumia energia daqueles que a realizavam.
Olharam à sua volta. O aposento estava exatamente como da última
vez que o viram. Os móveis, em sua habitual harmonia, transmitiam uma ordem
que em nada refletia o estado mental daqueles seis companheiros, cuja mente
se encontrava num turbilhão imenso e caótico.
Magno gesticulou com a ponta dos dedos, acendendo a lareira e
fazendo-a arder com a costumeira chama avermelhada, preenchendo o local com
um calor intenso e reconfortante.
Sentaram-se todos nos sofás e poltronas que haviam ao redor da
mesinha do centro. Estavam próximas o bastante da lareira para serem
aquecidas, mas distantes o suficiente para evitar acidentes inesperados. A
disposição dos assentos permitia que todos pudessem enxergar os outros
companheiros facilmente, independente da posição e do lugar que tomassem.
Magno fitava os presentes de forma séria e profunda. Imaginava de
que modo poderia abordar um assunto tão delicado, que traria consigo um árduo
trabalho de pesquisa e reconhecimento.
Havia grande expectativa pairando no ar, rodeando os seis amigos e
trazendo pensamentos dos mais diversos, desde indagações e suposições até
idéias pessimistas, amedrontadas e obscuras.
Cinco magos encaravam Magno de forma respeitosa, aguardando que o
mago se pronunciasse e revelasse os motivos de tamanha correria e apreensão.
Cada um deles estava curioso e queriam saber por quê seu líder havia
retornado ao palácio tão subitamente. Todos eles haviam visto o mago
deixar a sala de rituais do Castelo do Tempo com uma expressão carregada e
rígida, sabendo que aquilo significava problemas.
De todos, somente Vladimir parecia ter o mínimo conhecimento a
respeito das razões que moviam o Iluminado, seus motivos e suas suspeitas.
A conversa que tivera com o Guardião do Fogo fora rápida, mas o suficiente
para que ele entendesse que a situação demandava bastante atenção.
Olharam-se sem dizer nada durante um longo tempo, minutos que mais se
assemelhavam a dias inteiros, arrastados de forma lenta e pesada. Mas a
situação não poderia permanecer daquela forma por mais tempo. Sem
conseguir suportar mais aquele silêncio sepulcral, Durval de manifestou:
"Até quando pretendem permanecer desse jeito? Pelo que pude
perceber, o problema que nos afeta é bastante profundo. Deveríamos ir logo
ao ponto."
Magno concordou e se levantou. Caminhou até o centro, postando-se ao
lado da mesinha de madeira onde um vaso com um buquê de flores se mostrava.
Correu os olhos em cada um dos presentes de forma decidida, encarando todos
com a mesma expressão de autoridade e firmeza.
"O dia todo fui atormentado por uma sensação de perigo, algo que
martelava minha mente e meu coração. Tal sensação rodeava os
companheiros escolhidos para realizar a Jornada. Receio que nossos amigos
estejam correndo um grande risco de vida."
Os cinco magos se entreolharam. A expressão no rosto de Vladimir
confirmava o que Magno havia acabado de falar. Sem dizer mais nenhuma
palavras, os cinco companheiros se levantaram num sobressalto, exasperados e
amedrontados com as alarmantes palavras do Guardião do Fogo.
"Não podemos perder tempo!" exclamou Magno, já caminhando até
a porta.
"Tem razão, Magno, não podemos." disse Seyfried, aproximando-se
do amigo e colocando a mão em seu ombro. "Nós faremos as pesquisas. Você
descansará por essa noite."
O mago olhou para a Guardiã da Água com uma expressão confusa:
"Como?"
"Você escutou, Magno." falou Inghrid. "Está cansado, meu
amigo. Teu corpo está esgotado. Permita a si mesmo um momento de paz. Durma
somente por esta noite e deixe o resto conosco. É só isso que te pedimos,
todos nós."
Magno olhou para seus companheiros, que o encaravam de forma profunda
e decidida.
"A situação não deixa brechas para tal sossego." disse o mago,
sendo prontamente interrompido por Vladimir.
"Sabemos disso. E não deixaremos que tal situação se agrave.
Todavia, você já exigiu demais de si mesmo enquanto esteve trancado
naquele quarto. Descanse e confie a nós a responsabilidade de tal
demanda."
O Guardião não conseguiu responder. Apenas voltou a olhar os cinco
magos, que o rodeavam. Percebeu a preocupação de cada um deles e sentiu-se
grato por ter amigos tão preciosos.
"Tudo bem, acatarei a decisão da maioria. Entretanto, digo-vos que
não há paz, como Inghrid proclamou há pouco. No momento não há calmaria
antes da tormenta. Há apenas a tempestade."
Disse isso e deixou o aposento, dirigindo-se rapidamente até seu
quarto. Sentia-se profundamente grato em ter ao seu redor pessoas que se
preocupavam com ele. Saber que aqueles cinco magos realmente ligavam para
sua saúde, e não apenas para sua posição no Conselho, preenchia seu
peito com um sentimento morno e reconfortante de bem estar e felicidade.
Adentrou seus aposentos na ala Sul, imediatamente encarando a grande
cama de colunas que se postava no centro do dormitório. Os lençóis tinham
um quê de antigos, transmitiam uma aparência de não terem sido usados
durante muito tempo. E de fato, Magno mal podia se recordar da última vez
que precisou dormir naquela cama, embora todos os dias os criados do Castelo
tratassem de arrumá-la, deixando-a em um estado impecável para seu mestre.
Deu uma volta no quarto vazio, respirando profundamente a
reconfortante aura de tranqüilidade que aquele lugar transmitia. Ainda
pensava em como solucionar o mistério que o incomodava, tamanho o incômodo
que sentia em seu peito.
Entretanto, vendo que se permanecesse daquele jeito, passaria a noite
toda em claro e não descansaria como seus companheiros desejavam, parou.
Fechou as pesadas cortinas de algodão que adornavam as janelas de seu
quarto e caminhou até sua cama.
Deitou-se lentamente, procurando relaxar e fazendo o possível para
afastar os problemas de sua cabeça. Por fim, após alguns longos minutos de
luta, onde ele revirava na cama e ajeitava o travesseiro incessantemente, o
mago por fim se permitiu adormecer. Lentamente o sono se apoderou de sua
mente cansada, arrancando as preocupações que lhe atormentavam,
libertando-o dos grilhões de consternação que o prendiam e carregando-o
em seus braços até o reino onírico de Morfeu.
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Os cinco magos observaram Magno sair da sala, aliviados por saber que
seu líder teria uma noite de descanso decente entre tantas outras em claro.
Compreendiam a gravidade da situação, mas não entendiam a mente obstinada
de Magno, que não se permitia em nenhum momento relaxar.
Admiravam a conduta responsável do amigo, mas preocupavam-se em
demasia com sua saúde se continuasse a agir daquela forma. Afinal, mesmo
que a aparência não denunciasse, o Guardião do Fogo já carregava mais de
100 anos em suas costas.
Decidiram, ao cabo de alguns minutos, dar início às pesquisas.
Saindo da aconchegante sala, os cinco se dirigiram até a grande e vasta
biblioteca que havia no castelo.
Adentraram o local, onde imensas estantes de madeira emergiam do chão
e se prolongavam até muito acima de suas cabeças. Em cada uma delas,
volumes dos mais variados se mostravam, alguns grandes e grossos. Outros,
finos e pequenos, mas nem por isso menos importantes ou menos bonitos.
Correram os olhos pelas prateleiras, contemplando o conteúdo único
de cada uma delas. A sabedoria de milhares de anos estava guardada naquelas
prateleiras gigantescas, tornando aquele lugar uma fonte de conhecimentos há
muito esquecidos pela humanidade.
"Muito bem, pessoal." disse Seyfried com um suspiro. "Vamos
começar. Peguem todos os documentos e tomos relacionados à Irmandade de
Tenebras dos últimos dois anos. Se temos que descobrir algo, devemos começar
pela raiz do problema."
Todos concordaram, meneando a cabeça, e começaram a procurar os
referidos documentos, tomando o cuidado de não deixar escapar nada que
fosse. Por mais nebulosa que fosse a questão, era consenso geral que o
cerne do problema era a Irmandade. Obviamente os acontecimentos dos dois
anos anteriores eram mais profundos do que aparentavam à primeira vista.
Sentaram-se na comprida mesa que havia ao centro do salão. A disposição
das prateleiras era feita de forma a rodear a mesa, com o objetivo de
facilitar o caminho a qualquer uma das estantes independente do lugar que se
sentasse.
A iluminação, feita somente com a luz de velas, não representava
empecilho algum para a leitura minuciosa e para a dissecação metódica dos
pergaminhos. Ao contrário, a chama amarelada das velas de cera branca pareciam fornecer luz mais que suficiente para o estudo
cuidadoso que era efetuado em torno daqueles escritos.
As horas se arrastaram, uma após a outra, lenta e demoradamente.
Todos os escritos pareciam dar voltas e mais voltas, mas não levavam a
lugar nenhum. A impressão que tinham era que algo tentava despistá-los. Ou
isso ou estavam procurando no lugar errado.
Vladimir pensava na conversa que tivera com Magno no Castelo do
Tempo. Nas palavras do próprio mago, o Destino pregava mais peças do que
aparentava. Subitamente, o Guardião da Terra teve uma idéia.
"Estamos fazendo errado. Ampliem o espaço de tempo das pesquisas.
Procurem os arquivos da Irmandade de dez anos atrás." proclamou o mago.
"Que quer dizer, Vlad?" indagou Durval, curioso.
"Minha intuição diz que devemos aumentar a área de busca."
Todos imediatamente concordaram e voltaram ao trabalho. Algumas horas
mais tarde todo o árduo trabalho começava a mostrar tímidos resultados,
embora as pistas ainda fossem escassas e rarefeitas.
O relógio anunciou quatro e meia da madrugada. Os cinco companheiros
se espantaram com o tempo em que estiveram absortos em sua tarefa. A
concentração era tanta que eles nem sequer perceberam a passagem do tempo.
Continuaram seus afazeres com determinação. Mais algumas horas, e
logo o Sol despontava no horizonte, lançando sua luz sobre a Terra.
Lentamente o Castelo e seus arredores começaram a acordar para um novo dia.
Mas não aqueles cinco. Há muito já estavam com a mente ativa, apressados
em encontrar soluções e respostas para suas indagações. E eles
encontrariam, definitivamente encontrariam.
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Magno espreguiçou-se em meio aos lençóis, renovado após uma noite
de sono decente, a primeira em muitos dias. Sentou-se na beirada da cama,
piscando os olhos na tentativa de despertar por completo. Olhou para os
lados, ainda um pouco disperso. Finalmente colocou-se em pé, pronto para
mais um dia de trabalho. Esperava que seus cinco amigos houvessem tido algum
sucesso nas pesquisas que estavam fazendo desde a noite anterior.
Vestiu-se e abriu as cortinas, respirando profundamente o ar
revigorante que havia em torno do palácio. Era incrível como, mesmo após
mais de 50 anos, aquele lugar ainda continuava a fasciná-lo.
Virou-se sobre os calcanhares, caminhando imponentemente até a porta
e girando a maçaneta. Um dos criados já o esperava do lado de fora, tendo
nas mãos uma caixa. Adentrou o aposento tão logo Magno o deixou, pondo-se
a arrumar o local para deixá-lo novamente impecável para quando seu mestre
tivesse que usá-lo novamente.
Percorreu o corredor que ligava a ala Sul às demais alas do Castelo,
vendo o incessante ir e vir de criados, absortos em suas tarefas,
transmitindo uma aparência de eficácia, perfeitamente integrados em uma
malha de presumida eficiência. Pensou no que seria do Castelo sem todos
aqueles empregados, que se encarregavam, diariamente, de mantê-lo em ordem
e harmonia.
O mago olhou à sua volta, contemplando toda aquela gente. Pessoas
comuns, mas que faziam toda a diferença. Pensou em tudo o que ocorrera ao
longo da história da humanidade. Não teria, ela mesma, sido feita por
pessoas como aquelas? Pessoas normais que, por sua bravura e força de
vontade, haviam mudado os rumos dos fatos! Tanto se falava de Napoleão,
Hitler, Joana D'arc, Vasco da Gama e tantos outros, mas quem realmente
fazia toda a diferença eram as pessoas pequenas. Pequenas e por isso mesmo
grandiosas!
Que teria sido de Napoleão sem todas as pessoas que o rodeavam? Será
que Hitler teria chegado onde chegou sem seus acessores e empregados? Teria
Vasco da Gama chegado às Índias não fosse aqueles que construíram seu
navio, mas que nunca foram mencionados em livro algum? Ele duvidava muito.
Ponderou consigo mesmo, chegando à conclusão de que o mundo não
estava nas mãos dos gigantes, mas sim dos humildes, que continuavam dia após
dia, lutando para simplesmente viver.
Cruzou o pátio central, adentrando a ala Oeste, onde ficava a
biblioteca. Os longos corredores se cruzavam perfeitamente, levando a várias
partes do castelo. Seria muito fácil para alguém desacostumado com tudo
aquilo se perder em meio àqueles corredores. Mas não Magno, que conhecia o
castelo como a palma de sua mão. Em poucos minutos ele cruzava as portas
da biblioteca e adentrava o imenso salão, sendo prontamente cumprimentado
por seus amigos e companheiros de trabalho.
"Muito bem, o que descobristes?" indagou o mago.
"Bom dia para você também, Magno." interpelou Anna com um
sorriso. "As pesquisas estão rendendo alguns frutos, muito embora nós
ainda não possamos colhê-los, uma vez que ainda não amadureceram."
"Entendo." disse o Guardião do Fogo. "Mas o que foi que
encontraram?"
"Apenas pistas esparsas sobre algumas atividades da Irmandade na última
década. Segundo alguns registros, nos últimos dez anos houve uma movimentação
bastante incomum dentro de um setor interno da Ordem. Atitudes bastante
suspeitas. Tentamos ampliar ainda mais a linha de tempo, mas os relatos se
perdem na neblina. A partir de um certo momento os dados são nebulosos ou dúbios,
o que confunde nossas pesquisas e acaba trazendo resultados incertos."
"Compreendo. Fizestes um excelente trabalho, todos vós! Parabéns!"
"Obrigado, Magno. Entretanto, muito trabalho ainda deve ser
feito." falou Seyfried. Todos concordaram e Magno sentou-se junto ao
grupo, no intuito de ajudar a finalizar as pesquisas.
O Guardião do Fogo contemplou as dezenas de pergaminhos espalhados
sobre a grande mesa de madeira. A luz amarelada das velas se mesclava à luz
do sol, que entrava pelas altas janelas que rodeavam o salão e adquiria
tonalidades multicoloridas pelos belos vitrais, minuciosamente trabalhados,
que adornavam cada uma daquelas janelas.
É dito que duas cabeças pensam melhor que uma única. Que dizer então
de seis das cabeças mais geniais de que se tem notícia? Se havia algo que
não existia para o Conselho era o impossível. A inabalável força de
vontade de cada um daqueles magos em muito transpunha os limites da
normalidade e os elevava a pessoas realmente fabulosas. Sua determinação não
encontrava paralelos em qualquer lugar que fosse.
E foi com essa determinação incessante que prosseguiram, minuto após
minuto, hora após hora. Todos os volumes que se acumulavam sobre a mesa de
cedro tinham seu conhecimento minuciosamente dissecado perante a leitura
cuidadosa e sistemática de cada mago.
Já haviam reunido muito material quando o relógio anunciou meio
dia. Decidiram, ao cabo de alguns minutos, fazer um pequeno e rápido
intervalo para o almoço. Levantaram-se lentamente, sentindo os ossos
cansados de seus corpos estalarem e caminharam até a ampla sala de jantar,
com a comprida mesa de marfim ao centro, onde a refeição foi servida.
Conquanto aproveitassem aquele pequeno momento de tranqüilidade,
suas mentes ainda se encontravam concentradas nas informações contidas nos
registros da biblioteca, sem dúvida bastante perturbadores, em parte por
sua nebulosidade incomum, em parte por sua carga de indubitável ameaça.
E foi naquele momento, enquanto pensava no conteúdo enigmático dos
textos encontrados, que o Líder do Conselho lembrou-se de uma coisa:
"Até onde eu sei, Klaus queria as cartas para ele."
Levantou-se num rompante:
"Mas se fosse somente isso, a Irmandade não teria enviado ninguém
para substituí-lo."
Seu rosto estava lívido, profundamente perturbado pelas lembranças
que lhe atingiam naquele momento:
"Eles somente enviariam alguém caso o membro anterior tivesse
sido eliminado em alguma missão para a Ordem."
Fechou os olhos, à medida que o diálogo que tivera com Eriol e os
outros feiticeiros na noite da audiência lhe voltava à memória:
"E você acredita
que a Irmandade estava por trás da atuação de Klaus, não é?"
Empurrou a cadeira e saiu do salão a passos largos e apressados,
sendo logo acompanhado dos outros cinco magos, que o seguiram sem
pestanejar. Percorreram os longos corredores de volta à biblioteca e logo
Magno estava revirando arquivos antigos do século XIX.
"O que procura com tanto desespero, Magno?" inquiriu Anna,
levemente preocupada com a atitude do amigo.
"Encontrai tudo o que puderdes sobre o ataque de Klaus von Karajan
contra Clow Reed em sua encarnação passada. Minha intuição me diz que é
lá que encontraremos a chave para juntar todas as pistas que juntamos."
Os cinco trocaram olhares confidentes. Cada um daqueles rostos
transmitiam uma única certeza: agora sim as coisas andariam; Magno tivera
um de seus súbitos clarões intuitivos.
Sem perder tempo, puseram-se a buscar nas pastas e arquivos todos
os registros que Clow escrevera quando vivo após a época de criação das Cartas que
levavam seu nome e que, posteriormente, haviam sido transmitidas a Sakura
como legado de sua existência.
Os documentos estavam em um estado bastante frágil devido aos vários
anos de existência desde sua formulação, o que demandou especial cuidado
por parte de cada um deles para não destruir ou danificar nenhum daqueles
escritos tão antigos, raros e importantes.
Voltaram a se sentar, na incumbência de encontrar o ponto de conexão
entre todas as pistas e estabelecer uma ponte de ligação entre passado e
presente. Magno sentiam em seu coração que as respostas estavam naqueles
documentos velhos.
Tal intuição, mais uma vez, se mostrou verdadeira, tão logo começaram
a vasculhar os antigos registros que Clow fizera de sua vida.
Descartados alguns pergaminhos que nada continham de útil, Magno
finalmente encontrou o que procurava:
____________________
Londres, 19 de Maio de 1812
As coisas estão se agravando. Deixei Hong Kong há dois dias e
mudei-me para a Inglaterra no intuito de despistar meu perseguidor,
esperando que desistisse de me procurar. Todavia, parece que meus esforços
foram inúteis. Quem quer que seja, tem um talento sobrenatural para
perseguir pessoas. Sinto-me como uma presa que foge de seu caçador.
Londres está imensamente diferente da última vez que a
visitei. Os tempos de modernidade estão, de fato, chegando. A chamada
Revolução Industrial tomou todo o país. A invenção da máquina a vapor
trouxe grande dinamismo à produção. Já não vejo mais os artesãos que
costumavam abrir suas portas nas ruas. Imagino onde toda essa tecnologia vai
nos levar.
Tentei
com todas as forças interceptar o rastro de meu oponente ou encontrar vestígios
de seu poder, mas uma densa sombra se ergue no horizonte e encobre meus
olhos, bloqueando meus sentidos por completo. Acreditar que existe alguém
com tal capacidade de dissimulação é até certo ponto inverossímil.
Custo a compreender tal fato.
Kerberus
e Yue estão agitados. Este último principalmente, e sua inquietação me perturba em demasia. Não é comum a sua
pessoa ficar consternado de tal forma e com tal intensidade. Ele afirma que
a Lua está inquieta e que seu astro guardião lhe sussurra no ouvido o
perigo que se aproxima.
Kerberus,
como não podia deixar de ser, está impaciente e apreensivo. Talvez tal
dissimulação por parte de meu algoz atice o espírito guerreiro que queima
dentro de seu coração felino. Não posso culpá-lo.
Não
posso usar meus poderes em potência total sob o risco de ser descoberto em
meu atual refúgio, mas espero poder solucionar esse mistério o quanto
antes.
Que Deus me ajude.
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Londres, 22 de Maio de 1812
Finalmente
meu perseguidor revelou sua face perante minha presença. É Klaus von
Karajan, acólito da Irmandade de Tenebras, Ordem de magia ancestral fundada
pelas próprias entidades do submundo inferior.
O
Sacerdote disse que queria as cartas. Imagino como ele tomou conhecimento de
sua existência, uma vez que sua criação constitui fato recente. Creio que
a Irmandade tem seus próprios métodos sombrios e ilícitos para obter tais
informações.
Kerberus
está machucado. Sua impulsividade o levou a cometer a imprudência de
atacar o bruxo diretamente, sem sequer conhecer suas habilidades e
conhecimentos. Em momentos como esse penso se foi realmente sábio dar a
Kerberus sua personalidade explosiva e impetuosa.
Yue
está calado. Suas suspeitas se consumaram, mesmo que ele não desejasse por
tal coisa. Quando indagado pelos motivos de somente ele ter sentido a ameaça
e Kerberus não, pude apenas explicar que tudo tem relação com os astros
que regem cada um deles.
Kerberus
é ligado ao Sol, ao calor, ao fogo. Assim, está também ligado à verdade,
à espontaneidade e extroversão.
Yue,
no entanto, é regido pela Lua, que caracteriza o frio, a noite, estando
relacionado à introspecção e dissimulação, sobriedade e reflexão. Eis
o motivo de Yue ter sentido a aproximação do perigo, pois este se escondeu
sob o véu da noite, quando seus poderes estão no auge de sua plenitude.
Entretanto,
se a atitude do meu querido guardião Kerberus foi precipitada, em
contrapartida pôde me fazer visualizar parte da capacidade de Klaus. O
poder do sacerdote é grande, o que me traz grande preocupação. Temo as
conseqüências que um confronto direto contra o bruxo possa causar. Muitas
vidas seriam arriscadas e perdidas. Preciso pensar em algo e rápido. O
tempo urge.
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Londres,
25 de Maio de 1812
Satsuki
chegou de Hong Kong para me ajudar. Pergunto-me como ela me encontrou.
Segundo ela, porque estamos ligados por amor fraterno. Não posso discordar
totalmente de suas palavras.
Preocupa-me,
entretanto, sua segurança. Satsuki é forte, não posso negar, mas uma
sensação me perturba a alma. Não posso mandá-la embora, sei que ela não
iria mesmo que eu pedisse. Resta, assim, zelar por sua segurança, protegê-la
com todas as minhas forças.
Não
posso negar, contudo, que sua presença em muito acalma e conforta meu espírito
preocupado. Fico feliz por tê-la ao meu lado. Juntos iremos resolver tudo
de uma vez por todas.
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Hong
Kong, 30 de Maio de 1812
Finalmente
terminou. Tudo está acabado, mas a que preço? Kerberus e Yue estão
seriamente feridos, uma grande fábrica de tecidos foi inteiramente destruída
durante o combate e Satsuki, minha amada irmã, pereceu vítima dos poderes
sinistros de Klaus.
Ainda
agora, dois dias após o ocorrido, lamento tamanho infortúnio. Imagino se,
caso tivéssemos esperado mais um pouco, nos reservado mais um pouco, tudo não
poderia ter sido diferente. Infelizmente, a única resposta a qual posso
chegar é que tudo deveria acontecer. Foi inevitável. Mas tal pensamento não
pode diminuir meu pesar. A inquietação na alma daqueles que ficaram não
pode ser amenizada pela lembrança daqueles que se foram.
Voltamos
a Hong Kong hoje pela manhã, para sepultar o corpo de minha querida Satsuki.
Creio que além disso, um diálogo com meus dois guardiões será necessário.
Devo lhes explicar em que constitui a Morte.
Ademais,
preocupa-me o pressentimento de que havia mais nisso tudo do que eu pude
perceber. A obstinação de Klaus me pareceu excessiva, beirando o
desespero. Pergunto-me se seu interesse se limitava tão somente às cartas
ou se tal desculpa ocultava motivos maiores. Esta dúvida, entretanto,
levarei comigo para sempre.
Kerberus
e Yue estão indignados porque eu permiti a Klaus escapar com vida.
Entretanto, acredito que vidas demais foram arriscadas e perdidas nesta
batalha. Tirar vidas não está no nosso direito. Não compete a mim punir
de tal forma. Mas Klaus ficou seriamente machucado. Os ferimentos que lhe
causei não deixarão marcas somente em seu corpo, mas também em sua alma.
Resta-me apenas rezar para que, a partir de agora, tenhamos um pouco de paz.
E se algo tiver que acontecer, estarei aguardando atento.
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Magno terminou de ler os pergaminhos, ainda espantado com o relato
que acabara de ver. Era óbvio que Klaus não queria as cartas somente para
benefício próprio. Suas razões escondiam motivos muito maiores e mais
profundos.
Levantou-se, já sabendo onde deveria procurar informações sobre o
Sacerdote negro. Os arquivos da biblioteca do Conselho eram grandes, mas só
havia um lugar com registros completos das atividades da Irmandade de
Tenebras: a sede dos Iluminados.
Despediu-se rapidamente de seus companheiros, dirigindo-se até a
conhecida sala do espelho. Atravessou o portal que ligava o castelo à sede
principal de sua Ordem, sendo recepcionado por um dos vigias que guardavam o
local.
Cruzou a porta de madeira e caminhou pelos corredores harmoniosos até
chegar ao salão do Círculo Interno. Lá estavam alguns membros mais
elevados da Ordem, que pararam de conversar e viraram-se para ver quem
chegava. Sua expressão demonstrou surpresa ao se depararem com o mago.
"Magno!" exclamou um deles. "Há quando tempo, meu amigo. Que
te trazes até aqui? Pensei que estavas ocupado com assuntos do Conselho!"
"Pois são exatamente assuntos do Conselho que me trazem até aqui,
Rolland. Poderias me fornecer as chaves da ala privativa da biblioteca?"
O semblante de Rolland imediatamente adquiriu feições sérias ao
ouvir a requisição do colega. A ala privativa era restrita somente aos
membros do Círculo Interno, e mesmo estes a utilizavam muito pouco. Sua
necessidade indicava a ocorrência de problemas.
"O que queres na ala privativa? Precisas de ajuda?" indagou.
"Tais motivos são por demais densos para serem explicados em
poucas palavras. Mas aceito tua ajuda, ela será bem vinda. Posso
explicar-te brevemente enquanto pesquisamos."
Rolland concordou e se virou, entrando em uma saleta próxima. Saiu
de lá com um molho de chaves nas mãos e rapidamente tomou a direção da
biblioteca, acompanhado de perto por Magno.
Enquanto caminhavam, o mago lhe contou o problema que o afligia,
recebendo olhares espantados do companheiro.
Sentaram-se com pressa, reunindo o máximo de material disponível
sobre a Irmandade de Tenebras. Não precisaram procurar muito para encontrar
o que queriam. Após quase duas horas, Magno e Rolland encontraram um
arquivo de registro que relatava algumas atividades comandadas dentro da
ordem que já tomavam alguns séculos. Rituais estranhos e invocações
duvidosas permeavam as páginas amareladas daqueles pergaminhos.
Magno correu os olhos, cada vez mais espantados, pelo conteúdo dos
pergaminhos. Conforme prosseguia com a leitura, seu coração disparava e
acelerava. Ao final de suas pesquisas, apenas a certeza de que suas
suspeitas estavam certas e o destino guardava terríveis provações aos
seis jovens. Conforme dissera para Inghrid, não existia a calmaria antes da
tormenta, havia apenas a tempestade. E naquele momento ela ameaçava
despencar sobre suas cabeças a qualquer instante.
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Nome: Seyfried/ Victoria Strahd
País de Origem: Atlântida/ Hungria
Idade: Atualmente está com 40 anos. Sua idade
real é desconhecida.
Data de Nascimento: Sua atual encarnação
nasceu no dia 23 de Agosto de 1966
Tipo
Sanguíneo: A+
Elemento Regente: Água
Ocupação: Guardiã da Água do Supremo
Conselho de Magos e Pontífice
Magister do Círculo Interno dos Magos Atlantes.
Passatempo: Ler, estudar História, praticar natação,
pesquisar meios de reunir seu povo para a chamada "Nova Atlântida".
Ficha pessoal: Seyfried foi a Rainha de Atlântida antes de sua
destruição e mesmo após coroada, preferia o título de princesa ao de
rainha, por acreditar que o Rei de Atlântida era Poseidon, o Deus dos
Mares.
Possuidora de uma afinidade fora do comum com a água e dona de um
poder incomensurável, era capaz de guiar embarcações aliadas durante
tempestades bem como afundar navios inimigos com um movimento de seus dedos.
Após o desastre que consumiu sua terra natal, Seyfried, assim como
todo o povo de Atlântida, foi condenada a vagar eternamente pela Terra,
fadada a relembrar suas encarnações.
Ao longo de suas idas e vindas, Seyfried foi a responsável por
diversos feitos extraordinários. Lutou durante todo o tempo em que o
Tribunal da Inquisição ficou ativo, tentando por tudo desestruturar suas
bases e evitar a caçada às bruxas. Foi quem guiou o navio de Bartolomeu
Dias e o ajudou a dobrar o Cabo das Tormentas.
Atualmente, quando está afastada do mundo da magia, Seyfried leciona
História Antiga em uma escola da Suíça.
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Chegamos ao final de mais um capítulo, bastante conturbado por
sinal. Magno aparenta ter descoberto alguma coisa muito grave a respeito da
Sagrada Irmandade de Tenebras. Que conseqüências tal descoberta irá
trazer? Aguardem e verão!
Esse capítulo demorou mais que o previsto para sair. Primeiro porque
meus horários estão uma loucura. Segundo, passei por um período de falta
de inspiração. Terceiro, quando eu estava quase terminando de escrever, o
arquivo foi corrompido e eu perdi quase um terço do texto. Tive que
reescrever tudo de novo, de cabeça, com algumas modificações, já que eu
não lembrava de tudo com detalhes. Mas o bom é que tudo deu certo!
Obrigado a todos os reviews! Fico muito feliz que minha história
esteja agradando tanto! A Harumi até falou que merecia um contrato com o
CLAMP! #^_^# Valeu, Harumi!
Agradecimentos especiais à Talita, que conversou outro dia comigo e
elevou minha inspiração à estratosfera (te adoro); à Stella, cujas
conversas sempre me animam (obrigado); e à Bruna, que sempre me inspira, me
apóia e me estimula a continuar (você sabe).
No mais, vou ficando por aqui. Até o próximo capítulo!
Peace, Love and
Hope to all and each one of you. Now and Forever.
Felipe S. Kai
The author would like to thank you for your continued support. Your review has been posted.