Rich Girl
III – Chocolate
Sakura passou a noite pensando em Syaoran. Antes imaginava que seu salvador era um lindo príncipe, e agora... Ele continuava sendo lindo, mas não tinha uma única gota de sangue real. Era um simples empregado do castelo! Mas isso não importava. Ele parecia ser um cara legal e simpático, o único no mundo que havia conversado com ela como se ela fosse uma pessoa normal, e faria de tudo para conhecê-lo melhor.
Assim, quando foi pegar o café da manhã, separou um pedaço de bolo para dar a ele quando o encontrasse e embrulhou-o em um guardanapo. Afinal, não há nada melhor para começar uma amizade do que um pouco de chocolate com leite condensado e granulado por cima.
Com o doce em mãos, Sakura começou a percorrer o castelo. Começou pela cozinha e passou pela piscina, para encontrá-lo no jardim a alguns metros da casa. Estava completamente diferente do que no dia anterior, pois estava aparando as roseiras com uma tesoura enorme e vestia calças e blusa surradas. Sakura cumprimentou-o, estendendo-lhe o pedaço de bolo.
"Olá, Syaoran."
Ele passou um lenço pela testa suada antes de conseguir olhar para ela, tapando o sol com a mão.
"Princesa Sakura", disse surpreso, fazendo uma reverência. Ela pegou-lhe pelo braço, puxando-o para cima.
"Já disse que você não precisa fazer isso. E pode me chamar de Sakura."
"Certo, prin... Sakura".
"Eu trouxe bolo para você".
"Obrigado", ele disse, pegando o embrulho das mãos dela. "Mas... o que você está fazendo aqui?"
Sakura surpreendeu-se com a pergunta, achando que ele estava tirando sarro da sua cara.
"Estou trazendo um pedaço de bolo pra você, não é óbvio?"
"Não, eu quis dizer... você é uma princesa, e eu... estou aqui cortando plantas."
"E daí? Eu sou uma princesa porque nasci assim, e você está trabalhando aqui por algum motivo, e não podemos mudar isso. Mas se você acha que as nossas origens são mais importantes do que o nosso presente agora, então eu não posso fazer nada."
Ela começou a andar de volta, com raiva. Estava tentando de tudo para fazer amizade com ele e ele a tratava desse jeito, ignorando suas boas intenções. Já estava na metade do caminho quando ouviu Syaoran chamá-la.
"Sakura, espera!"
Ele correu ao seu encontro e estendeu-lhe uma rosa vermelha.
"Você tem razão. Vamos começar de novo, tudo bem?"
Ela sorriu e pegou a rosa. Ia dizer alguma coisa, quando Touya chegou.
"Sakura", ele disse, sério, "por que você está falando com um empregado?"
"Eu...", ela ficou sem saber o que dizer.
"Desculpe-me, senhor", Syaoran interrompeu, salvando-a mais uma vez. "É minha culpa, mas eu precisava avisá-la que deveria tomar cuidado enquanto estão cortando a grama". Apontou o jardineiro ao longe, que carregava um cortador de grama.
"Tudo bem. Vamos, o seu professor de piano está lhe esperando".
Ela seguiu o irmão de volta ao castelo, mas não sem antes acenar para Syaoran Li com a rosa.
Em cada dia da semana a princesa Kinomoto tinha uma aula diferente. Todas eram dentro do castelo, pois seu pai não autorizava sua saída, e os professores eram altamente qualificados, escolhidos a dedo das melhores escolas particulares do país. Segunda-feira era o dia da aula de piano, que ela detestava. O dia que mais gostava era terça-feira, quando tinha aula de natação, e que não demorou a chegar. Foi para a piscina logo cedo, para treinar um pouco antes que a professora chegasse, e achou que fosse morrer de vergonha quando encontrou Syaoran lá, limpando a piscina com uma rede.
"Bom dia, Sakura."
"Syaoran!", disse, cobrindo-se com a toalha. "Além de aparar roseiras, você também limpa piscinas?"
"Pois é... Acho que não há serviço que eu não faça por aqui. Mas já estou quase terminando."
"Não tem problema, eu espero", ela disse, sentando-se numa cadeira branca debaixo de um guarda-sol amarelo. "Minha professora só vai chegar..."
"Ás oito e meia, eu sei."
Ela olhou para ele, assustada.
"É por isso que eu limpo a piscina às sete e meia."
"Ah sim, claro. Mas ainda é muito cedo... que horas você acorda?"
"Seis horas em ponto", ele respondeu, jogando as folhas, que havia capturado na piscina, em um balde.
"Mas isso é muito cedo!"
"Eu sei", ele riu, "mas eu moro longe e demoro uma hora para chegar aqui".
"Onde você mora?"
Syaoran olhou para ela, sorrindo.
"Você não iria saber".
"Claro que iria!", ela levantou-se com as mãos na cintura, desafiando-o.
"Está bem..."
Ele deixou a rede perto da piscina e aproximou-se dela, abaixando-se para que seus olhos ficassem na mesma altura. Sakura pôde sentir a respiração dele batendo atrás de sua orelha, o que fez seu coração bater mais rápido.
"Está vendo aquelas casas lá em cima?", ele disse, apontando para o morro, quase todo verde a não ser por algumas construções, a muitos quilômetros de distância. Sakura balançou a cabeça, sem conseguir falar. "Então... em uma delas mora minha família".
Dito isso, ele se virou para continuar a trabalhar. Sakura inspirou fundo, tentando recobrar sua respiração normal e voltar à conversa.
"Como é a sua família?"
"Ah, nós somos muito unidos... Meu pai já morreu por isso eu preciso trabalhar para ajudar minha mãe a criar minha irmãzinha."
"Sinto muito pelo seu pai..."
"Não se preocupe com isso, Sakura. Minha mãe sempre diz que aquela era a hora dele partir".
Constrangida por trazer à tona aquelas memórias tristes, Sakura desviou do assunto.
"Você gostou do bolo de chocolate?"
"Sim, estava muito bom, obrigado".
"Se quiser, eu posso pegar mais para você".
Syaoran riu.
"Não precisa, nós somos bem-alimentados por aqui". Levantou a rede, segurando a alça do balde. "Pronto, pode usar a piscina agora".
"Obrigada, Syaoran".
"Só estou fazendo o meu trabalho", ele disse, carregando tudo para o depósito na casa da piscina. Sakura esticou a toalha na cadeira e mergulhou, dando a volta na piscina por baixo da água. Quando emergiu, Syaoran já estava saindo da casa da piscina, indo em direção a alguma outra tarefa.
"Syaoran", ela gritou, acenando para ele. "Quando eu vou te ver de novo?"
"A gente se encontra por aí". Ele sorriu e acenou de volta, antes de se afastar.
Continua...
