Capítulo Dezessete — Aquele Que Veio Antes do Tempo
Dor. Era tudo que ele podia sentir naquele momento, pungente, lancinante, arrancando-lhe pedaços da sua alma e dilacerando seu corpo. A escuridão o envolvia em um mundo incógnito, mergulhando-o no desespero do desconhecimento. A dúvida atormentava sua mente e fustigava-lhe o pensamento.
Perguntou-se o que havia acontecido. Em um momento estava beijando Sakura e no outro tudo que podia sentir era uma amargura cruel e impiedosa, e uma agonia opressiva e massacrante. Recordava-se vagamente de colunas altas e escuras, que se elevaram ameaçadoramente ao seu redor e o tragaram para lugar nenhum.
A dor aos poucos diminuiu e cedeu espaço para um estranho sentimento de vazio. Não podia ver nada exceto a escuridão que cobria seus olhos. O silêncio rodeava seu corpo como um manto negro e dominava seus sentidos com sua melodia, surda como um coro de vozes caladas; uma sinfonia de instrumentos mudos que proferiam em altas notas sua música de som algum.
Tentou movimentar seu corpo mas algo o impedia, como se grilhões invisíveis atassem firmemente seus membros. Quanto mais lutava, mais sentia-se impotente diante daquela força impiedosa. Por fim, decidiu não lutar mais. Estava cansado, precisava de um pouco de descanso. Estaria ele morrendo?
"Se isso for morrer, até que não é tão mal." ele pensou. "Nem dói mais."
Respirou fundo e deixou-se relaxar. O silêncio não mais o incomodava; na verdade, naquele momento, chegava até mesmo a parecer convidativo e aconchegante. Deixou-se abraçar por aquela paz mórbida e, ainda assim, tão vivaz.
Sua mente passou a divagar, voar longe, perder-se no oceano turbulento das memórias e recordações. Imagens de sua infância passaram por sua cabeça, nítidas e vivazes, trazendo ao mesmo tempo nostalgia e saudosismo. Não conseguiu deixar de sorrir. Tudo é tão mais fácil quando se é criança; sentimentos definidos, certo e errado, mágoa ou alegria, sorrisos ou lágrimas.
Recordou-se do dia em que conheceu Sakura, do dia derradeiro, aquele que acabou por mudar sua vida por completo. Lembrou-se do modo como se apaixonou por ela, quando nem ao menos sabia direito o que era se apaixonar. Cartas Clow, julgamentos, encontros e desencontros... Como uma tormenta em alto mar, as lembranças dos últimos acontecimentos inundaram sua mente. Kirsten, Patrick, a Jornada...
Um lampejo de consciência correu por sua mente e Shaoran inquietou-se. Não podia entregar-se daquele modo, tinha que lutar, sair dali — onde quer que fosse aquele lugar —, reunir-se ao grupo novamente.
E foi naquele momento, no limiar entre consciência e ilusão, que Shaoran ouviu uma voz suave e terna:
"Excitate vos e somno, liberi mei."
O rapaz tentou entender de onde vinha aquela voz, mas para seu desapontamento não chegou a conclusão alguma. Forçou-se a abrir os olhos, deparando-se com uma escuridão tão profunda quanto a anterior. Muitas dúvidas passaram por suas cabeça naquele momento, mas antes que qualquer uma delas pudesse ser resolvida, a voz soou de novo:
"Excitate, vos e somno, liberi fatali."
Seus olhos aos poucos conseguiram discernir os contornos de algo que parecia ser uma pessoa. Não era muito alta — de fato estava longe de ser —, possuía olhos negros risonhos e o um nariz levemente saliente. Seu rosto era dominado por uma farta barba branca e trazia os cabelos longos caídos sobre os ombros atarracados.
O estranho estendeu a mão para Shaoran. Atordoado que estava, não conseguiu negar a ajuda que lhe era oferecida. Sentiu um leve arrepio ao tocar a mão do estranho, uma energia diferente, impiedosa mas ainda assim morna e suave.
"Como se sente, meu jovem?" perguntou o senhor, sorrindo para o rapaz. "Foi uma queda e tanto, não? Eu confesso que quase me assustei quando você caiu aqui, vindo de lugar nenhum. Bem, em parte foi culpa sua, não é mesmo?"
"Como?" indagou Shaoran, confuso com as palavras daquele homem. "Quem diabos é você?"
O estranho sorriu. Deu alguns passos para trás e contemplou o jovem por alguns segundos, analisando-o da cabeça aos pés. Pigarreou, tossiu e finalmente falou.
"Meus nomes são os mais diversos. Para os gregos eu era Chrono, para os romanos, Saturno. O fato, meu jovem, é que o nome pouco importa, eu sou aquele que veio antes do próprio tempo. Eu sou o Ancião dos Tempos!" bradou o homem, estufando o peito e gargalhando. Mas a felicidade não durou muito, pois o velho logo foi acometido por um acesso de tosse que acabou por tirar toda a pompa do momento.
Shaoran o fitou com um olhar um tanto descrente... Seria aquele velho maluco realmente o Ancião dos Tempos? Aproximou-se e perguntou se estava tudo bem. O homem apenas balançou a cabeça.
"Otimo, ótimo. Eu apenas me empolguei um pouco. Sabe como é, morando neste lugar, não é sempre que eu tenho a chance de me apresentar para as pessoas. É difícil ver uma cara nova por aqui, sabe?"
Shaoran balançou a cabeça positivamente. Piscou os olhos, levemente confuso com tudo aquilo. E foi então que a dúvida novamente veio à sua cabeça.
"Por falar neste lugar, onde exatamente eu estou?"
"Você realmente não adivinha, meu jovem?" Chrono indagou, recebendo uma negativa do chinês. "Ora, este é o lugar onde tudo termina. Este é o Fim dos Tempos."
Shaoran sentiu suas pernas fraquejarem e ele caiu de joelhos. Tais palavras não poderiam ter causado maior impacto no jovem guerreiro. O Fim dos Tempos... O lugar onde tudo termina. Então finalmente tudo havia acabado... Todo seu esforço havia sido em vão... Todo o sofrimento, todas as lágrimas, todas as lutas...
Porque tal discernimento lhe causasse tamanha consternação, pela primeira vez em muitos anos Shaoran se permitiu chorar. Deixou que as lágrimas corressem livremente, numa tentativa inútil de amenizar o desespero crescente em seu coração. Falhara. Falhara miseravelmente. Decepcionara a todos... Sakura, seu pai, Eriol, o Conselho... E o pior, falhara consigo próprio. Nenhuma derrota poderia ser mais amarga.
"Por que chora?" indagou Chrono com sua voz suave.
"Choro pelo fracasso, pela constatação de que eu não pude completar a missão que me foi conferida. Choro por Sakura, por seu amor perdido. Choro por Eriol, pois ele confiou em mim e eu o decepcionei. Choro simplesmente pela terrível sina imposta pelo Destino, que não se apiedou de mim e de meus companheiros."
"Acalme-se, jovem." falou o ancião, e naquele momento sua voz veio enérgica e forte. "Afinal, você ainda está vivo. Ainda há ar em seus pulmões. Você ainda respira e por isso não deve desistir!"
Shaoran meramente balançou a cabeça.
"Qual o sentido de viver quando não se tem mais o que buscar? Qual o sentido de viver se, após todo o esforço e finda a labuta, tudo que se contempla é a escuridão?"
"Não perca as esperanças!" Chrono bradou, e naquele momento o ancião pareceu adquirir um brilho novo e grandioso. Shaoran admirou-se com a magnitude daquele ser. "Este é o lugar onde tudo termina... Mas também é o lugar onde tudo começa."
O rapaz ergueu a cabeça. Chrono parecia um ser realmente divino. Seu corpo exalava uma energia pura, tão antiga quanto o Tempo e tão formidável quanto o milagre da Criação. Apenas por um momento. Então, a energia se foi. O brilho que antes o envolvia faiscou e desapareceu, restando apenas sua lembrança efêmera. E Chrono voltou a parecer um velhinho frágil e gorducho.
"O lugar onde tudo começa?" indagou Shaoran, ainda incerto do que acabara de ouvir. Chrono assentiu e esticou a mão na direção do guerreiro. O jovem ponderou por um instante, mas acabou por aceitar a ajuda oferecida.
Levantou-se e contemplou o ambiente ao seu redor. O lugar tinha a aparência de estar perdido no meio do nada. Shaoran podia sentir o chão sob seus pés, mas tinha a sensação estranha de estar flutuando. A escuridão ainda predominava, soberana e absoluta. Paradoxalmente, ainda assim era possível ver a uma distância considerável. Por toda parte, várias janelas podiam ser vistas, flutuando em meio ao negrume daquele lugar estranho.
"Sim, meu rapaz, o lugar onde tudo começa." falou Chrono com sua voz rouca. "Tenho acompanhado você há algum tempo, sabe? Que aventura, hein! Quisera eu ter uma aventura dessas!"
Shaoran fitou o velho longamente, como se não acreditasse no que acabara de ouvir.
"Aventura? O senhor acha que isso é somente uma aventura? Uma missão grandiosa como esta é muito mais do que uma simples aventura!"
"Talvez para você, que ainda é tão jovem." disse Chrono ao mesmo tempo em que alisava a longa barba branca. "Mas um dia você aprenderá que tudo na existência é relativo. E para mim, que já testemunhei incontáveis vidas de homens, sua Jornada é algo quase insignificante."
Houve uma pequena pausa. Shaoran ainda fitava o ancião a sua frente. Chrono respirou fundo e continuou.
"Não nego que seja deveras interessante ficar olhando os rumos do universo, mas é um tanto entediante passar a eternidade fazendo a mesma coisa, sabe? Tem vezes que eu gostaria de tomar o lugar de algumas pessoas... Imagina se eu estivesse no lugar de Carlos Magno ou comandando as tropas da Marinha Inglesa!" falou Chrono, empolgado, estufando o peito e batendo continência. Shaoran franziu as sobrancelhas diante da visão, ao mesmo tempo em que imaginava o ancião como um oficial da Marinha Real... Em sua mente formou-se a imagem de um velho vestindo o uniforme britânico. A figura brandia desajeitadamente uma espada. A barba branca balançava ao vento e os cabelos longos caíam-lhe sobre os olhos. A barriga saliente, era claramente visível sob a camisa branca do uniforme.
O jovem balançou a cabeça com força, tentando por tudo afastar o pensamento de sua mente. Ergueu os olhos e tornou a fitar Chrono, que ainda tinha o ar sonhador. Meneou a cabeça de um lado para o outro, perguntando-se mentalmente como aquele velho louco e obtuso poderia ser o poderoso Ancião dos Tempos.
Tornou a olhar ao seu redor, dessa vez com mais cuidado. As inúmeras janelas que enchiam o lugar se estendiam por metros e metros a perder de vista. Eram feitas em madeira escura, minuciosamente talhadas. Não possuíam vidro, tampouco travas, mas todas, sem exceção, estavam fechadas.
Passou a caminhar em torno das janelas flutuantes. Afinal, se havia janelas, em algum lugar haveria de ter uma porta.
"O que procuras?" indagou Chrono, observando calmamente o jovem perscrutar o local.
"Uma porta por onde eu possa sair. Não posso ficar aqui por muito tempo. Já demorei demais." Shaoran respondeu decidido.
"Tenha calma, jovem." falou o Ancião. "Por que tanta pressa?"
"Preciso me encontrar com meus amigos o quanto antes. Eles precisam saber sobre Amanda."
"Ah, a pressa da juventude..." suspirou Chrono com o olhar perdido ao longe. "Para vocês, nada pode esperar. Tudo precisa ser tão imediato. Acalme-se, rapaz. Descanse, recomponha-se, dê um tempo para si mesmo. Afinal, você passou por muitas provações."
Shaoran meneou a cabeça impacientemente, controlando-se para não ser rude com o homem. Parou, fitou uma das janelas fechadas e respirou fundo.
"O senhor não entende." ele disse com a voz rouca. "Algo muito grande vai acontecer! Preciso avisá-los, o tempo urge!"
Chrono soltou uma gargalhada alta e estridente, pegando Shaoran de surpresa. O jovem franziu o cenho e, por um breve instante, chegou a pensar que o velho havia perdido a pouca sanidade que aparentava ter. Chrono gargalhava freneticamente, curvando-se para frente. Respirava rapidamente e tornava a gargalhar.
"Desculpe!" ele disse, tentando recuperar o controle. "Desculpe, mas foi muito engraçado. O tempo urge..." e tornou a gargalhar.
"Perdão pela minha falta de senso de humor, mas eu gostaria de saber o que foi tão engraçado." sussurrou o guerreiro, mostrando claramente que havia se ofendido com a atitude do velho.
"Ora, meu rapaz, você está no Fim dos Tempos! Aqui, tudo nasce e tudo termina! Aqui todo o tempo existe e não existe tempo algum! Aqui o Tempo é nosso amigo e não nosso rival!" falou o ancião, lentamente recuperando o controle.
O jovem Lobo piscou, repreendendo-se mentalmente por aquela falha. Tinha que prestar mais atenção ao que dizia ou fazia... Aquele velho não deixava nada passar desapercebido.
Sentou-se sobre algo semelhante a um degrau, logo abaixo do parapeito de uma das janelas flutuantes. Respirou fundo e sentiu a aura ancestral daquele lugar entrar por suas narinas, chegar até seus pulmões, e de lá se espalhar por todo seu corpo. Sentiu um calafrio e um arrepio muito forte correu por sua espinha. Chrono sorriu e sentou-se ao seu lado.
"Vá com calma, rapaz. Não precisa tomar todo o ar para si." ele brincou, dando um tapinha nas costas do chinês. Então levantou-se e pôs-se a caminhar em círculos.
Shaoran sentia-se cansado. Agora que tinha se acalmado podia sentir o quanto seu corpo precisava de descanso. Os músculos treinados estavam doloridos pelo esforço da Jornada e das incessantes batalhas. Suas mãos, calejadas pelos anos, estavam enrijecidas e inchadas. Até mesmo o peso de suas roupas parecia incomodá-lo. Seu árduo treinamento fora capaz de fazê-lo esquecer a dor durante o momento crítico. Mas naquela hora, quando ele se permitiu por um breve instante relaxar, todos os tributos pelos seus esforços foram cobrados. Seus olhos ficaram subitamente pesados. O jovem lutou contra o sono que teimava em domá-lo. Sem sucesso. Logo, o Lobo foi subjugado e Shaoran mergulhou em um sono sem sonhos. Não muito longe, Chrono sorriu.
"Descanse bem, rapaz. Vai precisar de forças dobradas para aquilo que virá."
Acordou de um sobressalto, sem saber quantas horas haviam se passado. Olhou para os lados, ainda sonolento. Piscou algumas vezes até seus olhos conseguirem focalizar alguma coisa. Não havia muito para ver entretanto, ainda estava sob o parapeito da janela, rodeado pela imensidão do Fim dos Tempos.
Não muito longe, Chrono espiava atentamente uma das janelas. Shaoran tossiu levemente e o velho desviou sua atenção para o jovem.
"Já acordado?" ele indagou ao mesmo tempo em que fechava a janela. "Como se sente?"
"Bem." Shaoran respondeu. "Quanto tempo eu fiquei dormindo?"
Chrono balançou a cabeça.
"Rapaz, você ainda não entendeu que neste lugar o Tempo não importa. Pare de se preocupar com o Tempo, pois ele aqui está sob minha vontade e meu capricho. Com um pensamento, eu poderia fazê-lo voltar à infância ou até mesmo fazê-lo envelhecer!" bradou o Ancião, e no instante seguinte Shaoran sentiu-se subitamente estranho. Olhou com assombro para suas mãos enrugadas e deixou escapar um suspiro de espanto. Suas pernas já não tinham a mesma força e seus olhos estavam cansados. Então, no instante seguinte, estava normal novamente. Olhou para Chrono, que sorria abertamente. O chinês via claramente o quanto aquilo o divertia.
"É estranho." ele murmurou, assim que se recobrou do susto. "É estranho não ter que se preocupar com o Tempo."
"Isso porque vocês são ensinados a vida toda a se preocupar com ele." Chrono falou, constatando o óbvio. "Vocês estão sempre com tanta pressa. Desde cedo, as pessoas são ensinadas a correr, a fazer o dia... Como é mesmo a palavra? 'Render'! Correm de um lado para o outro freneticamente, movidos por uma paranóia insana que os engolfa e os engole."
"É como dizem, tempo é dinheiro." falou Shaoran.
"Perdão, mas não é." Chrono o interrompeu severamente. "Tempo não é e nunca foi dinheiro. Acha mesmo que a vida foi feita para ser vivida com pressa? O tempo que as pessoas têm na Terra é tão curto. Vocês deveriam aproveitar mais o presente que lhes foi dado."
"Presente?" inquiriu Shaoran.
"A vida, meu rapaz! Um mundo tão vasto diante de seus olhos e você não se dão conta. Tudo que sabem fazer é contar dinheiro! Não entendo como conseguem ser tão cegos. Bem, como eu poderia entender se nem mesmo Ele entende."
"Ele?" Shaoran murmurou. "Quem é ele?"
Chrono o fitou, descrente.
"Ele, ora! O Demiurgo! Kami Sama! Jeová, Allah, Deus ou seja lá como você o chama. É realmente engraçado, não é? Ele enviou anjos e mensageiros aos homens e cada um resolveu entender de uma maneira diferente... Olha só no que tudo isso resultou. Quando Ele os criou, acho nem mesmo sua infindável sabedoria foi capaz de prever o caos que vocês armariam!"
Shaoran não soube ao certo o que dizer. Ponderou por um instante sobre as palavras do ancião, pensando nas pessoas que o rodeavam, em suas atitudes e suas crenças. Não era difícil concordar com as palavras do velho. A verdade que elas carregavam era clara e cristalina. Chrono, entretanto, não parecia prestar atenção ao rapaz. Estava com o olhar ao longe, perdido em pensamentos.
Shaoran passou a olhar aquelas estranhar janelas flutuantes. Correu os dedos pela estrutura de madeira e tocou nas dobradiças de ferro. Aquilo aparentava estar lá há milênios, entretanto seu aspecto ainda se mantinha novo. A janela não possuía trinco ou qualquer mecanismo de trava, o que acabou por deixar o rapaz curioso. Tentou abrir uma delas, mas seu esforço se mostrou completamente em vão.
Deixou de lado a janela e tornou a fitar Chrono, que ainda parecia perdido em seus próprios pensamentos. Ficou observando o velho em silêncio. Vez ou outra o ancião balbuciava algo para si mesmo, coçava o topo da cabeça calva, e tornava a fitar coisa alguma. A princípio pareceu engraçado ver aquela cena tão incomum mas, ao cabo de alguns minutos, aquilo começou a entediá-lo profundamente.
Levantou-se de supetão, o que acabou por chamar a atenção de Chrono. O Ancião parou de murmurar palavras desconexas e passou a fitar Shaoran. Seus olhos estavam estranhamente vazios e opacos, muito diferentes dos olhos alegres, vivos e irritantemente risonhos que o velho possuía.
"Olá!" ele cumprimentou. "Quem é você?"
Shaoran piscou por alguns segundos, atordoado com a pergunta.
"Perdão, senhor?"
"Quem é você?" repetiu Chrono, estendendo os dedos gorduchos na direção do jovem. A mão pesada do velho tocou seu ombro e Shaoran estremeceu. Chrono recuou um pouco e seu olhar gelado correu o jovem dos pés à cabeça.
"Está ficando louco? Eu cheguei aqui há tempos!"
"Você é o Escolhido!" Chrono gritou subitamente, assustando o rapaz. Sua voz estava estranhamente gutural e monstruosa. Shaoran deu um passo para trás, tropeçou e caiu sobre o vazio que havia sob seus pés. "Não importa qual caminho escolha trilhar, todos eles conduzirão ao mesmo desfecho. Sete vezes o mundo vai girar. Sete trombetas irão soar. O Sol será Eclipsado e o céu se tingirá de vermelho. E aqueles que dormem nas sombras irão acordar de seu sono. Sua caminhada apenas começou."
Chrono urrou, tremendo loucamente. Então balançou a cabeça com força e seus olhos voltaram às órbitas. Piscou algumas vezes e, por fim, tornou a fitar Shaoran. Novamente sorriu para o jovem.
"Do que falávamos mesmo? Ei, o que está fazendo aí no chão?" ele perguntou, e o jovem notou que a alegria havia voltado aos seus olhos. Shaoran o fitou com desconfiança.
"O que disse agora há pouco?" ele inquiriu num fio de voz. Chrono não pareceu entender.
"Perguntei o que estávamos falando. Parece que eu saí do ar um pouco. Sabe como é, rapaz, é a idade."
O ancião soltou uma gostosa gargalhada e passou a mão na barba branca, alisando-a de ponta a ponta.
"Estávamos falando sobre Deus e o Tempo." disse Shaoran, ainda encarando o homem. Ele não parecia se lembrar do que havia falado antes.
Velho maluco, pensou o jovem.
Chrono sorriu.
"Sim!" exclamou. "Sim, Deus! O que me lembra que preciso devolver-lhe aquela Caixa de Raios que peguei emprestado em nosso último encontro para o chá... Sim, isso, a caixa... Mas não! Nós não falamos sobre o Tempo, meu rapaz!"
O chinês resmungou alguma coisa ininteligível a respeito da falta de sanidade do velho.
"Não, meu rapaz, eu sou perfeitamente são!" bradou o velho, pegando o rapaz de surpresa. Chrono podia ler seus pensamentos! "Não duvide de minha sanidade. Apenas estou aqui há tempo demais... Não tenho muita companhia, sabe, este lugar é meio deserto."
Shaoran notou uma ponta de tristeza na voz do ancião e só então se deu conta de como aquele senhor era solitário. Ele já havia mencionado antes que não tinha muita companhia, mas somente naquele momento o jovem assimilou por completo suas palavras. Olhou Chrono, mas desta vez viu o ancião com outros olhos. Ele já não parecia um velho louco e risonho, mas sim um senhor em idade avançada que precisava de companhia. Não devia ser fácil manter sozinho a corrente do tempo.
"Deve ver difícil para você passar a eternidade preso neste lugar, não é?" indagou. Chrono soltou uma risada desanimada.
"Sim, rapaz, você não tem idéia do quanto. Vivo, mas não posso morrer. Esta é minha maior bênção e também minha maior maldição."
Ficaram em silêncio. Shaoran fitava Chrono sem parar, ainda tentando digerir suas palavras. Não posso morrer. Esta é minha maior bênção e minha maior maldição. Nunca realmente pensara em como a imortalidade podia ser cruel. Uma mistura de sentimentos tomou conta de seu coração. Imaginou o que aquilo significava, até que finalmente compreendeu: estava com dó de Chrono.
"Eu poderia fazer companhia, se o senhor quiser." ele disse. O ancião ergueu os olhos, como se não acreditasse no que havia acabado de ouvir. Seus olhos se iluminaram e ele voltou a sorrir. Mas diferente das outras vezes, aquele era um sorriso puro, que refletia seu coração naquele momento. E Shaoran não precisou pensar para saber o que ele sentia: Chrono estava agradecido.
Retomaram a conversa, dessa vez em um clima bem menos pesado do que o anterior.
"Que tal falar sobre o tempo agora?" Shaoran perguntou, arrancando uma gargalhada de Chrono.
"Sim, rapaz, seria muito propício!" ele respondeu, dando um tapinha nas costas do jovem. "O tempo... Já que vamos passar algum tempo juntos, é melhor que eu te explique algumas coisas, não é mesmo?"
Shaoran riu da empolgação de seu anfitrião. E que ótimo anfitrião ele era! Agora que havia esquecido sua mágoa e compreendido o coração de Chrono ele fora capaz de ver o quanto aquele velho biruta podia ser inteligente, sagaz e, acima de tudo, sábio!
"E foi então que eu percebi que havia esquecido de girar a ampulheta!" disse, Chrono, arrancando uma gostosa risada de Shaoran.
"Imagino que deve ter sido uma confusão, não é mesmo?" o rapaz indagou.
"Sim, e como! Daquela vez eu tive que correr para consertar tudo antes que o curso do tempo fosse alterado drasticamente. Foi meu primeiro erro. E o único também... Ele ficou tão nervoso, por pouco Suas mãos sagradas não puxaram minhas orelhas!" ele falou, cobrindo as orelhas com as mãos."
Shaoran sorria abertamente, como não fazia há tempos desde que aquela loucura toda começara.
"Mas sabe quem realmente queimou os miolos de tanto desespero?" Chrono perguntou, recebendo uma negativa. "Os três Dragões... Eles ficaram louquinhos tentando arrumar tudo."
"Os Dragões?" indagou Shaoran, surpreso e visivelmente interessando. "Os Dragões do Tempo? O senhor os conhece?"
"Mas é claro que eu os conheço, meu jovem! Quem você acha que os criou?" exclamou o ancião, sorrindo. Shaoran balançou a cabeça, por que será que não estava surpreso com aquilo? "É muito engraçado vê-los daqui de cima. E eles acham que controlam alguma coisa... Coitados."
"Mas por que o senhor não interfere? Afinal, lá eles ganham o mérito por coisas que você faz!"
Mas Chrono simplesmente balançou a cabeça.
"Não, meu jovem, é assim que deve ser. Eu não tenho nada a provar para ninguém — exceto, talvez, a Ele. Sei o valor que possuo. É sempre assim com os seres da Terra, olham somente aquilo que querem ver. Os grandes imperadores enxergavam a si mesmos como os governantes dos povos, não é mesmo? E os povos os viam como seus verdadeiros governantes. Todos estavam ocupados demais com seus afazeres — uns mandando e outros sendo mandados —, para perceber que as coisas não são tão simples assim." houve uma breve pausa antes que o velho resolvesse retomar a palavra "O Mundo não gira em vão, meu jovem! Não senhor! Há muito mais por trás de tudo isso do que as imagens e as aparências deixam transparecer! E muitas vezes, aqueles que realmente fazem acontecer permanecem no anonimato."
Shaoran nada falou, apenas olhou para Chrono que parecia resignado à idéia de permanecer desconhecido para a maioria das pessoas por toda eternidade. O jovem não sabia se teria a mesma força que o ancião para suportar tudo aquilo. Em sua cabeça, aqueles que mereciam a glória deveriam possuí-la.
Decidiu mudar de assunto rapidamente. Sua mente não conseguiria chegar a conclusão alguma naquele momento.
Levantou-se e fitou uma das janelas flutuantes.
"O que tem atrás dessas janelas?" ele indagou. Chrono levantou-se e se aproximou dele.
"Cada uma delas mostra um lugar no espaço e no tempo. Através delas eu monitoro o Universo e direciono a linha do tempo. Cada uma delas é uma página da imensa História da Humanidade." Shaoran ergueu as mãos, querendo mais uma vez abrir aquela janela, mas o ancião segurou seu braço antes que ele pudesse tocar na madeira. "Há coisas que os olhos mortais não devem ver."
O rapaz rapidamente afastou a mão, desculpando-se por seu gesto. Então puxou outro assunto. E depois mais outro, e outro ainda. Ambos se divertiram bastante na companhia um do outro e, juntos, puderam esquecer por um momento das aflições que tanto os preocupavam. O Fim dos Tempos nunca testemunhara tanta alegria.
É bem verdade que naquele lugar o tempo não passa realmente. Entretanto, se pudesse contar o tempo — ou se estivesse interessado nisso —, Shaoran teria percebido que as horas logo viraram dias. E os dias viraram meses. E os meses, anos...
Shaoran aprendeu muito com Chrono. E Chrono aprendeu muito com Shaoran. Trocaram experiências, opiniões, falaram de tudo e de nada. Criaram laços, fortes como a corda de um marinheiro e suaves como um lenço de seda. Laços de cumplicidade, amor e companheirismo; laços de amizade.
Por fim, quando o mundo completou mais um ciclo e as estrelas do firmamento se tornaram um pouco menos brilhantes, Chrono percebeu que o momento da despedida havia chegado. E mesmo sabendo das responsabilidades do rapaz e de sentir uma imensa gratidão pelo que ele havia feito, o ancião não pôde deixar de se entristecer um pouco com a partida de seu amigo.
"Está na hora de voltar, Shaoran." ele disse, pousando a mão sobre o ombro do guerreiro. "Seu destino o aguarda. Já postergamos este momento por tempo demais."
"Tem razão." falou Shaoran. "Entretanto, eu permaneci aqui por muito tempo e já não sinto mais a força que tinha antes."
Olhou para suas mãos, mais velhas do que ele podia se recordar. Contemplou seu reflexo contra o vidro de uma das janelas e assustou-se quando viu a farta barba que ganhara. E foi só então que se deu conta de que desligara-se de sua missão por muito tempo. Tempo demais. E agora que devia retomá-la, sua disposição já não era a mesma.
"Ora, rapaz, isso nunca foi problema." disse Chrono estendendo as mãos em sua direção. Shaoran sentiu um formigamento tomar conta de todo seu corpo. No instante seguinte, seu velho vigor estava de volta. Suas mãos estavam fortes novamente e ansiavam pelo toque de sua espada. E ele percebeu que o tempo não passara realmente. Tudo estava como um dia fora.
Olhou para Chrono e sorriu. A hora da despedida havia chegado. Não esqueceria nunca daquele velho tão maluco e tão sábio.
"Venha." disse o ancião.
"Para onde?" indagou o novamente jovem Shaoran.
"Está na hora de te mostrar aquilo que nenhum olhar mortal jamais contemplou." ele respondeu, caminhando para perto de uma janela. Com um movimento de sua mão a vidraça se abriu, juntamente com a persiana de madeira. Do outro lado, Shaoran pôde ver Sakura na passarela do tempo. Não muito longe estava o corpo mutilado e disforme de Hanz. Sakura parecia estar desesperada, procurando por alguma coisa. Então, um portal se abriu e de dentro deles vieram Eriol, Katrina, Kirsten, Patrick e Dawn. A Guardiã da Luz abraçou Sakura. Eriol pareceu perguntar algo, e a resposta de Sakura chocou a todos. Os amigos começaram a olhar para todos os cantos com uma grande urgência estampada em seus olhos. E foi só então que Shaoran se deu conta.
"Sou eu quem eles estão procurando! Preciso voltar!"
"Então volte!" disse Chrono.
"Mas como?" indagou o chinês.
Chrono riu.
"Tolinho! É só pular a janela!"
Shaoran balançou a cabeça. Chrono jamais mudaria. Sorriu e seus olhos se encontraram com os do ancião.
"Adeus, rapaz. Obrigado por tudo. Poucos teriam feito o que fez para ajudar um velho como eu. Boa sorte em sua Jornada."
"Adeus, meu amigo." disse Shaoran. "Não esquecerei tudo o que aprendi aqui."
"Eu sei que não." respondeu o velho. "Quando voltar, será como se nada disso houvesse acontecido. Ninguém mais deve saber o que você viu aqui. Guarde isso para sempre em seu coração."
Shaoran assentiu. Abraçaram-se forte, passando energia um ao outro. Então, respirando fundo, o guerreiro subiu no degrau que havia logo abaixo do parapeito da janela. Respirou fundo, contou até dez e pulou para o outro lado, onde Sakura e seus amigos o esperavam.
"Valete, liberi." disse Chrono, sorrindo, antes de fechar a janela mais uma vez.
"Shaoran! Sakura! Entrem!" gritaram Kirsten e Patrick ao mesmo tempo. Observaram os dois jovens atravessarem o portal e sumirem na direção da passarela do tempo. Gritaram por Eriol, Katrina e Dawn, mas antes que qualquer um deles pudesse se aproximar, Zilah atacou Patrick.
O Cavaleiro saltou e concentrou todas as suas forças para rechaçar o ataque.
"O portal!" ele ouviu Kirsten gritar e só então percebeu que tivera que desviar sua energia do ritual. O portal vacilou por um instante e desapareceu com um estalo alto e agudo. Patrick tornou a pisar no chão e fitou Zilah, que gritava uma enxurrada de amargos palavrões contra o guerreiro.
Juntos, Kirsten e Patrick voltaram a duelar contra os zumbis invocados por Christian. Logo ao lado, Eriol e Katrina enfrentavam Mikhael.
A Guardiã da Luz saltou e invocou uma tempestade de raios que fulminou o campo e varreu dele o enxame de zumbis. Então, Dawn ergueu os braços e todo o local foi tomado por labaredas rubras. Os quatro bruxos começaram a ser encurralados.
Mikhael gritou para seus companheiros e eles se re-agruparam em torno de seu líder. Um de costas para o outro, eles tentaram rechaçar a muralha de fogo que se fechava ao seu redor. Sua distração deu a Eriol o tempo que ele precisava para concentrar seu poder.
Ergueu o báculo em riste e fechou os olhos. Concentrou-se e reuniu todas as suas forças. Em seu íntimo, ele rezava para aquilo funcionar. Aquele feitiço consumiria quase toda sua força e ele ficaria vulnerável após o ataque. Ao seu lado, Katrina sentiu a energia que havia em todo aquele local começar a se agitar e confluir para um mesmo lugar: a ponta do báculo de Eriol. As densas nuvens que acobertavam o céu se dissiparam e a luz voltou a tocar o solo. Ao ver o astro regente de Eriol brilhar ao longe no firmamento, Katrina compreendeu o que ele pretendia.
"Cubram os olhos!" ela ordenou a Kirsten e Patrick. Agarrando Dawn, a Guardiã da Luz se abaixou e cobriu a garota. Bem a tempo! No momento seguinte o Sol brilhou ainda mais forte. Sua luz ofuscante se espalhou pela planície e concentrou-se, fulminando tudo aquilo que tocava. Eriol estava usando a energia do Sol em um ataque terrível e devastador. Naquele instante, por um breve momento, o universo brilhou, para depois tornar a mergulhar em sua escuridão eterna.
Mikhael quase não teve tempo de reagir ao ataque do inglês. Seus olhos se arregalaram ao ver a energia do Sol queimando a campina. Pensando rápido, ele fez a única coisa que podia: concentrou seus poderes e teleportou seu grupo para longe dali. Aquela havia sido a terceira vez que Eriol escapava com vida de seu ataque.
Quando tudo acabou, Mikhael e seu grupo não mais se encontravam na planície. O silêncio reinava absoluto. Katrina se levantou e estendeu a mão para Dawn. Kirsten e Patrick abriram os olhos, estupefatos com a magia que haviam presenciado. Eriol continuava em pé, com o báculo erguido.
Sentindo todas as suas forças se esvaírem, o mago deixou cair o báculo, que voltou a tomar a forma de chave. Suas pernas fraquejaram e ele foi de encontro ao chão.
"Eriol!" disse Katrina, correndo para ajudar o amigo.
"Eu estou bem." ele murmurou. "O último feitiço exauriu minhas energias por completo. Preciso de alguns minutos para me recompor."
Pegou sua chave e colocou-a em torno do pescoço. Então fechou os olhos e respirou fundo, sentindo o cheiro de fumaça daquele lugar.
"Tanta destruição." ele murmurou. "Será que vale a pena?"
"Foi necessário." disse Katrina, olhando ao seu redor e contemplando a planície arrasada. "Você não teve escolha."
"Será que não?" ele replicou melancólico. Colocou-se de pé e observou a campina. A grama que um dia fora verde havia sido reduzida a cinzas. O cheiro de fumaça e morte pairava no ar, para lembrar a todos que um dia houvera vida naquele lugar. Não muito longe, Eriol contemplou a flor que vira antes da batalha. Suas pétalas jaziam no chão, despedaçadas, uma mera lembrança de seu esforço para sobreviver.
Aproximou-se do que restara da planta e ajoelhou-se sobre a terra. Tomou as pétalas nas mãos, cavou um buraco no solo e as enterrou, pedindo perdão por tanta destruição. Não conseguiu evitar que uma lágrima rolasse por seu rosto diante daquele cenário estéril. Vidas inocentes não deveriam sofrer com suas disputas.
Katrina murmurou uma prece rápida em nome de sua deusa. Então, Patrick e Kirsten voltaram-se para o grupo.
"O portal está aberto novamente. Devemos nos apressar para reencontrar Sakura e Shaoran." falou Kirsten. Todos assentiram e cruzaram o portal.
Ao saírem do outro lado, depararam-se com uma Sakura desesperada. A garota andava de um lado para o outro, gritando o nome de Shaoran.
"O que houve?" indagou Katrina. Sakura se atirou em seus braços.
"O Shaoran! Ele desapareceu! Hanz nos atacou! Shaoran o derrotou, mas depois ele teve um novo ataque de dor e no momento seguinte não estava mais aqui!" a jovem falava rapidamente, agitando as mãos no ar e apontando para o corpo deformado do demônio.
"Tenha calma!" interpelou Eriol, colocando as mãos nos ombros da amiga. "Conte-nos o que houve, Sakura."
E a jovem passou a narrar os fatos que se sucederam após eles terem caído na passarela. O ataque de Hanz, a cólera de Shaoran, o beijo e, por fim, o desaparecimento do rapaz.
Eriol balançou a cabeça.
"Você teve contato amoroso com ele?" indagou Kirsten. "Em nome dos Dragões! Isso pode ter conseqüências muito graves para todas as dimensões."
Sakura ficou ainda mais pálida ao ouvir aquilo e o sentimento de culpa por ter deixado seu coração falar mais alto a invadiu.
"Não se preocupe." disse Eriol, sorrindo para a amiga. "Não foi sua culpa. Tudo vai ficar bem, você vai ver. Tudo que temos de fazer agora é dar um jeito de encontrar Shaoran."
Antes que qualquer um deles pudesse se mover, porém, Shaoran caiu na passarela, vindo de lugar algum. O jovem sentiu todos os olhares recaírem sobre ele e viu o espanto que sua chegada havia causado nos amigos.
"Shaoran!" Sakura gritou, correndo para abraçar o rapaz. "Tudo bem com você? Está doendo algum lugar?"
"Calma, Sakura!" disse ele, divertido com a reação da garota. "Eu estou bem, verdade!"
Eriol se aproximou, olhando fixamente para o chinês. Shaoran notou um brilho forte e sobrenatural em seus olhos. O inglês o examinou dos pés à cabeça com interesse, fato que despertou a curiosidade do chinês.
"Posso saber o que houve, Eriol? Pare de me rodear como um abutre!" ele falou.
"Incrível!" ele murmurou. "Isso é algo que não acontece todo dia."
Shaoran o fitou com um olhar interrogativo. Ainda não tinha entendido o que o mago tanto examinava.
"Sua energia está, de algum modo, diferente, meu amigo." falou o inglês, com seu costumeiro sorriso. "Você passou por experiências, viu e ouviu coisas que ninguém jamais teve a oportunidade saber. Guarde isso com você, cuide bem dessas memórias, pois elas sem dúvida lhe valerão muito um dia."
O guerreiro o fitou boquiaberto. Eriol não poderia saber o que ele havia passado... ou podia? A dúvida tomou sua mente, mas ele logo a afastou. Não importava realmente. Tudo que importava era que ele não esqueceria de Chrono e das coisas que havia aprendido com o ancião.
"Temos que correr!" disse Patrick, interrompendo os pensamentos de Shaoran. "Falta pouco agora para alcançarmos nosso objetivo."
"Não!" disse Shaoran. "Nosso inimigo é outro, alguém mais poderoso; alguém que acobertou sua presença atrás de Mikhael e seu grupo e agora rasteja nas sombras rumo ao seu objetivo. Já ouviram falar de Amanda Kasperhouser?"
Katrina soltou um soluço de surpresa e olhou para Eriol, que também parecia ter sido pego desprevenido. Kirsten e Patrick trocaram olhares confidentes e apertaram forte o punho de suas espadas.
"Amanda Kasperhouser? Shaoran, conte-nos tudo que sabe!" ordenou Eriol.
As horas que se seguiram foram repletas de revelações preocupantes. Eriol contou a Shaoran quem era Amanda e o guerreiro contou o que sabia sobre o plano da feiticeira. A tensão voltara a se instalar no grupo, que agora sabia o quanto aquela conspiração era grande e perigosa.
"Não percamos tempo então." disse Patrick se levantando. Juntos, ele e Kirsten abriram outro portal, não muito longe de onde estavam. Então, determinados a deter Amanda e colocar fim ao seu plano insano, o grupo de amigos cruzou o portal.
Tradução das falas em Latim ditas por Chrono:
Excitate vos e somno, liberi mei. — Acorde de seu sonho, minha criança.
Excitate vos e somno, liberi fatali. — Acorde de seu sonho, criança destinada.
Valete, liberi. — Adeus, criança.
Nome: Patrick Lancaster
País de Origem: Inglaterra
Idade: 47 anos
Data de Nascimento: 13 de Novembro de 1959
Tipo Sanguíneo: A
Posto: Cavaleiro Sênior e Segundo Sacerdote da Ordem dos Dragões do Tempo.
Passatempo: Ler, tocar piano e comprar livros.
Ficha Pessoal: Patrick nasceu em Liverpool, na Inglaterra, onde estudou em um rígido colégio tradicional. Desde cedo aprendeu a ter responsabilidade para conciliar a escola e os rigorosos treinos aos quais era submetido.
Descendente direto da família Lancaster, protagonista da Guerra das Duas Rosas, Patrick foi educado para ser um verdadeiro cavalheiro. Estudou etiqueta e aprendeu a se portar nas mais diversas situações. As festas de gala eram constantes em sua vida, bem como o luxo que seu nome carregava. Mas nada daquilo o atraía. Patrick queria mais, queria poder ser livre, poder conquistar algo com suas próprias mãos. Assim, empenhou-se em aprender tudo que podia para poder entrar na Ordem do Tempo e dar à sua vida um rumo diferente, longe daquela cela de ouro.
Aprovado com louvor nos exames de admissão, Patrick logo avançou dentro da Ordem. Seus primeiros passos rumo à sua liberdade haviam sido dados. Cursou Letras em Oxford e especializou-se em Línguas Antigas, principalmente Latim e Hebraico.
Conheceu Durval durante a Guerra do Golfo e o ajudou a se infiltrar na Biblioteca do Vaticano. Além disso, liderou inúmeras missões para a Ordem. Seu primeiro contato com Halig, o padre inglês do século XII, aconteceu durante uma fuga de um feiticeiro rival. O padre o acolheu em sua casa e eles acabaram por se tornar grandes amigos.
Patrick parece ter alcançado a independência que tanto queria. Casado e pai de dois filhos, ele atualmente reside em Londres, onde trabalha como Bibliotecário em um colégio tradicional da região.
Antes de mais nada, me desculpem! Nossa, quatro meses! Eu sei que estou (muito) atrasado, mas juro que dei tudo de mim para poder escrever este capítulo o mais rápido que eu pude. Minha vida está um tanto complicada, e eu só consegui terminar este capítulo por causa do greve na faculdade. As aulas estavam puxadas e agora eu estou trabalhando em um jornal comunitário para crianças carentes de Bauru. Meu tempo está uma bagunça! Perguntem pra Naki, ou pra Yoruki ou pra Miaka! Elas têm acompanhado minhas aventuras durante este ano.
Bem, desculpas à parte, espero que tenham gostado deste capítulo. Fiz o possível para compensar minha ausência com um capítulo bem legal. Finalmente o grupo tomou conhecimento dos planos da Amanda e agora correm contra o tempo para poder derrotá-la. Não bastasse terem que impedir a morte do Shaoran daquela dimensão, terão ainda que frustrar os planos diabólicos da feiticeira. Rezem para que eles consigam.
Tentei dar uma descontraída com o Shaoran no Fim dos Tempos. O encontro dele com Chrono era uma parte que eu estava ansioso para escrever! Me diverti muito imaginando esta parte. Para quem não conseguiu visualizar o Chrono, imaginem um velhinho gorducho, de bochechas rosadas, barbas brancas longas e olhos risonhos. Ele parece um Papai Noel, não é verdade? Agora imaginem ele em uma túnica cinza comprida com um capuz caído atrás das costas e vocês terão o Chrono que eu imaginei... Hehehe
No próximo capítulo uma grande reviravolta na trama os aguarda. O grupo consegue finalmente chegar no bosque no dia do ataque de Klaus. Agora eles terão de confrontar não só o Sacerdote Negro como também Mikhael e seu grupo. A seguir: "O Apagar de uma Luz".
Gostaria de agradecer a Bruna, a Talita e a Stella por toda a força e todo o apoio que me deram até agora. Sem vocês para agüentarem eu falando das minhas idéias malucas, este capítulo não teria saído. Obrigado.
Fico aguardando reviews e comentários, OK?
Até a próxima.
Peace, Love and Hope to all and each one of you. Now and Forever.
Felipe S. Kai
