Capítulo Dezenove — Lágrima
Os jardins de Destino são vastos. Quando se caminha por eles, cada passo é uma escolha, cada momento é único. Com efeito, poder-se-ia vagar por lá durante toda uma vida e jamais desvendá-los por completo. Mesmo após a morte o caminho continua, desdobrando seus intrínsecos labirintos diante da existência de cada ser do universo.
Naquele instante, entretanto, Destino não caminhava pela relva de seu jardim como costumava fazer em dias mais corriqueiros. A ocasião era muito importante para ser classificada como tal. As páginas de seu livro não mentiam jamais. Elas anunciavam mudança. Uma grande mudança. O que estava para acontecer definiria o rumo na existência de muitos e ele sabia que, uma vez mais, precisava convocar seus irmãos.
Destino caminha por sua morada sem jamais titubear. Ele não faz escolhas. Cada passo que dá está traçado em seu livro. Naquele momento, como já havia sido previsto, ele adentrava um salão amplo de mármore polido. Em uma das paredes havia sete quadros bastante peculiares. Cada um deles continha um objeto emoldurado, dentre eles um ahnk e um coração de cristal.
Destino olhou ao redor e não era possível dizer se sorria ou se sua expressão era algo mais além de um simples sorriso. Nunca é possível afirmar nada sobre ele. O mistério o circunda e o envolve como um manto denso e inviolável.
"Irmãos. Eu estou em minha galeria e convoco a Família. Sou eu, Destino, dos Perpétuos, quem os chama. Venham a mim."
Então, um por um, seus irmãos começaram a chegar. A primeira foi Morte, graciosa até o fim, trajada em um longo vestido de cetim negro. Logo atrás dela estava Sonho, sério, vestindo o manto da noite sobre os ombros esguios. A terceira a chegar foi Desespero, caminhando lado a lado com Desejo, que sorria com desdém enquanto olhava ao redor de si, para a fortaleza de seu irmão. Por último veio pequena Delírium, a irmã caçula. Ela era a mais jovem dos Perpétuos, mas ainda assim mais antiga que as estrelas do firmamento.
"Olá, irmão. A que devemos a honra de seu chamado?" indagou Desejo com sua voz arrastada, sentando-se preguiçosamente à mesa de reunião do Destino.
"Meu livro revela que um ciclo acaba de se encerrar. Um novo deve se iniciar. Um grande fato irá operar em breve e é preciso que todos os Perpétuos estejam atentos aos movimentos do universo."
"Eu gosto de ciclos." devaneou Delírium, olhando para todos os lugares e para lugar algum ao mesmo tempo. "Ciclos são legais, principalmente quando posso andar neles. Uma vez eu andei num ciclo vicioso. Fiquei tonta."
Sonho se remexeu em sua cadeira, inquieto.
"Não gosto disso." ele murmurou. "Da última vez que você convocou uma reunião os portões do Inferno foram abertos."
"Isso é tudo que tenho para lhes falar. A reunião está terminada." bradou Destino, erguendo-se sobre os demais e lançando sua presença grandiosa sobre o salão. Delírium resmungou algo que ninguém compreendeu. Destino lançou um gesto de despedida e logo depois tornou a caminhar rumo ao seu jardim. Então, lentamente, os outros irmãos se dispersaram, voltando cada um ao seu respectivo domínio, pensando no que estava por acontecer.
Magno pousou a pena sobre o tinteiro e suspirou. Já estava há mais de três horas redigindo o relato que deveria mandar aos Iluminados sobre os passos de Amanda. Todos os pormenores haviam sido considerados e postos na carta. Tomou cuidado especial com o episódio de Durval e a Biblioteca do Vaticano e, logo depois, procurou relatar a invasão ao seu castelo.
Esticou os braços e sentiu-os estalarem sob o peso do cansaço. Suas costas respiraram aliviadas quando ele se levantou da poltrona de couro e se espreguiçou longamente.
"Já está tarde, Magno. Descanse um pouco." falou Inghrid, adentrando os aposentos do líder do Conselho e indo pousar as mãos sobre seus ombros tensos.
"Sim. Talvez seja realmente melhor poupar energias para o que virá. A batalha se aproxima. A tempestade ameaça desabar."
A Guardiã da Lua concordou. Ela também sentia o universo se agitando e as energias da Criação confluindo. Algo estava para acontecer e, o que quer que fosse, afetaria todos eles sem exceção.
"Temo que ela já tenha desabado. Eu imagino como eles estão se saindo. Seyfried... Eriol..." ela divagou, olhando pela janela e encarando a Lua no céu. Densas nuvens se aglomeravam em torno de seu astro guardião e transmitiam uma sensação agourenta.
"Gostaria de saber tanto quanto tu. Mas no momento tenho apenas conjecturas e possibilidades."
Sentiram a brisa entrar pela janela e estremeceram. Era uma brisa gelada, vinda do norte. Aquele sopro cortante e imundo seria suficiente para congelar até mesmo a mais calorosa das almas. Seu toque era tão pútrido que aqueles que o sentiam poderiam tentar se purificar até sua vontade trincar e suas almas desvanecerem e, ainda assim, jamais teriam sucesso.
"Não gosto disso..." murmurou Inghrid, esfregando os braços em um gesto de temor. Magno encarou a feiticeira por alguns instantes. A corrente de ar que soprava e entrava pela janela subitamente se aglutinou na sala, espalhando papéis, bagunçando documentos e congelando esperanças. Então, num movimento brusco e repentino, assoviou uma nota funesta, espiralou ao redor das velas que iluminavam o aposento e as apagou, fazendo o mundo mergulhar na escuridão. E ali, envolto pelas trevas, sozinho com seus pensamentos, o Guardião do Fogo finalmente compreendeu.
"Katrina..." murmurou Magno.
Lentamente, cada um a sua maneira, os Guardiões começaram a sentir a terrível tragédia que se abatera sobre seus amigos. Um a um eles caminharam através dos corredores escuros do castelo de Magno em direção ao salão de reuniões, onde seu Líder já os aguardava, junto de Inghrid.
À medida que caminhavam sentiam seus corações apertados baterem com pesar dentro do peito. Cada passo era penoso e arrastado, como se daquela forma pudessem postergar a confirmação que não tardaria a chegar. Ela não era necessária, entretanto. Embora suas mentes se sentissem tentadas a negar, em seu íntimo soava a certeza amarga: Katrina estava morta.
Olharam ao redor, para as grandiosas paredes de cristal que reluziam à parca luz das tochas acessas. Até mesmo o fulgor daquelas chamas parecia ter diminuído em luto pela Guardiã da Luz. Para eles, aquele corredor nunca parecera tão longo e triste.
Adentraram, por fim, o salão principal, sendo prontamente recepcionados pelo semblante pesaroso de Magno e pelos olhos distantes de Inghrid. Anna e Dimitri trocaram um olhar de cumplicidade com seus colegas e tomaram seus lugares à mesa de reunião.
Silêncio. Nada era dito. Fosse o silêncio um demônio tão grandioso e opressor e ele certamente já teria engolido suas cabeças. Mas aquele silêncio era necessário. Desconfortável e muito perturbador, é verdade, mas ainda assim vital para que aqueles quatro corações angustiados pudessem se recompor. Anna foi a primeira a recuperar a voz:
"Não é verdade, é? Katrina..."
"Não pertence mais a este mundo." completou Magno, impassível. Embora o sentimento de pesar fosse grande, nada mais podia ser feito. Katrina havia cumprido seu papel no grande esquema do mundo. Ela merecia o descanso, afinal.
"Por que?" indagou Anna, suspirando. "Isso tudo está fugindo do nosso controle."
"Será que algum dia realmente tivemos controle sobre alguma coisa?" redargüiu Magno suavemente. "Ou será que tudo não faz parte de um plano maior? Mikhael, Shaoran, a Jornada. Tudo está conectado em uma malha intrínseca. A confluência dos eventos nos guiou inevitavelmente a este ponto; a este desfecho."
"Desfecho?" Anna franziu as sobrancelhas.
"A morte de Katrina, embora trágica, não é de todo inesperada. É um marco. A divisória entre o novo e o antigo."
"Destruição." ponderou Dimitri, começando a compreender onde Magno queria chegar. "Para que o novo possa ser criado, o antigo deve desaparecer. Isso quer dizer que..."
Magno e Inghrid apenas balançaram a cabeça, em confirmação.
"As portas do universo abrem-se agora para a renovação. Esta era do Conselho chegou ao fim." anunciou o Guardião do Fogo, com firmeza.
Katrina apenas observava a comoção ao redor de seu corpo. Não havia mais nada que pudesse fazer. Não fazia mais parte daquele mundo para interferir ou confortar aqueles que amava. Ela sabia que tinha cumprido seu dever e que merecia descansar. Havia aceitado sua sina no momento em que adotara Sakura como sua pupila e tomara parte na Jornada. Não se arrependia de sua decisão, mas preocupava-se com o que aguardava seus amigos dali para frente.
Atentamente, viu quando Eriol, Seyfried e Durval sentaram-se na relva sob as árvores e começaram a entoar uma canção suave em sua homenagem. Uma canção de morte e esperança. Sorriu inconscientemente. Ela gostava daquela música. Logo ao lado, Sakura a abraçava com força enquanto chorava em desespero. Shaoran havia se ajoelhado ao seu lado e procurava confortá-la. Dawn estava encolhida em um canto, soluçando baixinho enquanto ruminava seus pensamentos. Kerberus, Yue e os outros guardiões haviam formado um círculo ao redor do corpo da feiticeira e naquele momento estendiam suas asas ao alto em um ato de respeito, proteção e luto.
Pobres crianças, pensou Katrina, e naquele momento se referia tanto a Sakura quanto à pequena Dawn. Não é fácil lidar com tantas perdas em tão tenra idade.
"Elas ficarão bem, acredite." murmurou uma voz suave atrás dela. Katrina girou graciosamente sobre os pés e pôs-se a fitar sua companhia. Nem mesmo após a morte a Guardiã havia perdido sua graciosidade. "Embora provações severas as aguardem num futuro breve, elas ficarão bem."
"Quem é você?" indagou a Guardiã da Luz, sem deixar de sorrir. A sua frente estava uma garota bastante peculiar. Trajava um longo vestido negro que lhe descia até os calcanhares. Usava uma maquiagem bastante pesada, que realçava seus traços delicados e conferia-lhe uma graça sobrenatural. Katrina reparou especialmente nos olhos — ela nunca havia visto olhos tão gentis e sinceros. Sua voz era como uma suave melodia de ninar. Seu pescoço era adornado com um anhk, preso por uma fina gargantilha de prata polida.
"Pensei que soubesse, Katrina. Você pode nunca ter me visto, mas certamente me conhece." Katrina apenas sorriu, meneando a cabeça de leve.
"Sim, que tolice a minha. Claro que sei quem você é. Mas confesso que sempre te imaginei um pouco mais alta." ambas sorriram. "Pensei que você usasse um manto também."
"Não." disse Morte. "Prefiro algo mais casual. Mas como hoje é um dia especial resolvi colocar esse vestido."
Katrina suspirou e sorriu um pouco mais. Era incrível como a presença daquela garota a acalmava. Morte trazia consigo um sentimento morno e aconchegante, que envolvia seu coração e sua alma em um embalo suave e maternal.
"O vestido lhe cai muito bem." ela disse, tornando a fitar seu grupo. Morte apenas agradeceu e voltou seu olhar na mesma direção. Shaoran abraçava Sakura de um modo quase paternal. Com lágrimas nos olhos, sussurrava palavras de conforto ao ouvido da garota. Ao redor, diminutos pontos luminosos dançavam um bailado melancólico de despedida.
"Pode parecer ingratidão da minha parte." suspirou Katrina, sem jamais desviar os olhos de Sakura e Shaoran. "Sei que agora poderei descansar mas... será que o momento realmente havia chegado? Digo... será que ela está preparada?"
Morte sorriu.
"Ela estará. Em breve. Ela jamais poderia estar com você por perto."
"Entendo." murmurou Katrina, vendo o sofrimento de sua pupila. "Mesmo assim... Gostaria de ter passado um pouco mais de tempo ao lado dela. Bem, creio que não há mais tempo."
"Muito pelo contrário, você tem todo o tempo do mundo agora." Morte riu, fazendo Katrina sorrir também.
"Você é sempre assim?" perguntou a Guardiã. Morte apenas balançou a cabeça e suspirou pesadamente, exibindo um sorriso singelo de cumplicidade e afeto.
"Ora, se eu não for, quem será? Carrego um fardo grande, Katrina, grande e pesado. Por isso preciso encarar as coisas com o máximo de entusiasmo. As pessoas não me entendem, mas eu as entendo o suficiente para saber que tudo que precisam é de um sorriso para iluminar suas almas sofridas."
Katrina deu meia volta e sentou-se sobre a grama, próxima a uma árvore. A tarde chegava ao fim e com ela morria uma parte da luz do universo. A morte de um Guardião é sempre sentida por todos, sem exceções. A luz que Katrina carregava consigo era a chama que acendia a Esperança em muitos corações humanos.
À medida que o sol descia pelo firmamento e se escondia por trás das fartas copas das árvores, as pessoas ao redor de todo mundo começavam a ponderar. Fechavam-se em seus quartos para ruminar seus pensamentos. E ali, envoltos no silêncio em que o mundo havia mergulhado, cada ser humano sentiu o pior frio do mundo: o da solidão.
"Não podemos deixá-la aqui." Katrina ouviu Patrick dizer para seus companheiros. O cavaleiro levantou-se e caminhou até Sakura e Shaoran. Fitou o corpo de Guardiã por um longo tempo até que, por fim, inspirou profundamente e disse: "Vamos."
"Para onde?" indagou Shaoran, sem compreender o que Patrick pretendia.
"Temos que enterrá-la. Katrina merece um funeral apropriado. Ou tão apropriado quanto as circunstâncias podem proporcionar."
"Patrick tem razão." murmurou Kirsten, pesarosa, sendo imediatamente amparada por Eriol. "Ela não pode ficar aqui. Uma Guardiã como ela deveria receber as mais altas honrarias que as mentes humanas são capazes de conceber."
"Lamento apenas não dispormos de tempo ou de recursos para tal honraria." suspirou Seyfried.
Um a um eles se levantaram. Durval tomou o corpo de Katrina nos braços e pôs-se a caminhar, seguido de perto por Eriol e Seyfried. Atrás deles ia o restante do grupo, enfileirado em uma estranha e melancólica procissão. De ambos os lados, os muitos espíritos luminosos que habitavam o bosque se postaram, acompanhando a marcha dos amigos e iluminando parcamente seu caminho em uma mistura sombria de luz e trevas.
Caminharam lentamente até o centro do bosque, onde encontraram uma clareira. Durval parou de súbito, olhando ao seu redor com um olhar clínico. Ato contínuo, depositou o corpo de Katrina sobre o solo e reverenciou em um gesto que mesclava respeito e saudade.
"É aqui", disse ele, virando-se para encarar seus companheiros, "que a memória de Katrina Le Faye descansará até o fim dos tempos, quando o mundo atingir seu limiar. Deste solo sagrado, nenhum mal se aproximará."
Ergueu os braços e em suas mãos se fez ver um imenso cajado de ferro com um único diamante incrustado na ponta. Durval murmurou uma prece solitária em homenagem à Guardiã da Luz. Então, apontou o cajado para o solo, que se partiu diante de seu poder.
"Chegará um dia em que o próprio tempo definhará e o universo engolirá sua própria cabeça." pronunciou Eriol, aproximando-se e tomando o corpo de Katrina em seus braços. "Somente então este solo sagrado poderá ser desfeito, pela vontade daquele que está acima de nós e nos julga com sua sabedoria infindável."
O Guardião do Sol caminhou até o local onde a terra cedera e depositou sua amiga no fundo em um movimento gracioso. Gracioso como a própria Katrina um dia fora. Fechou os olhos e murmurou sua despedida, esperando que a Guardiã da Luz pudesse ouvi-lo onde quer que estivesse.
Eriol afastou-se alguns passos e invocou seu báculo, que brilhou fortemente e encheu aquela clareira de luz e calor pela primeira e única vez. Apontou para Katrina e sorriu enquanto murmurava algumas palavras em sua memória. As roupas da Guardiã brilharam e cederam lugar a um longo vestido de cetim branco e azul. Todas as marcas das infindáveis lutas desvaneceram como a escuridão que se curva perante a luz cálida de uma vela.
"Feliz é aquele que busca no simples e no singelo a razão de sua felicidade. Sábio é aquele que enxerga na humildade a maior prova de força e nobreza." pronunciou Seyfried, aproximando-se até parar ao lado de Eriol. "Katrina entendia isso. E por essa razão foi feliz e sábia como poucos. Honremos sua memória, portanto."
Eriol e Durval tornaram a se aproximar. Deram as mãos e gesticularam largamente, desenhando no ar como regentes que comandam suas orquestras. E a terra voltou a urrar e tremeluzir. Perante suas vontades o solo se fechou, engolindo o corpo esbelto de Katrina rumo às suas entranhas sagradas. Então, foi a vez de Kirsten e Patrick se aproximarem, lado a lado, como parceiros de longa data que eram.
Ambos tiraram lentamente as espadas de suas bainhas e juntos começaram a marcar a terra. Em perfeita sincronia eles traçaram uma ampulheta envolta por um dragão, símbolo da Ordem dos Dragões do Tempo. O fino traçado de suas lâminas reluziu sob a luz da Lua que nascia; um brilho suave, da mesma cor de uma manhã pálida de outono, quando o sol reluz no orvalho das folhas, refletindo-se e refratando-se na imensidão do universo.
"Abençoada seja a alma dos justos de coração, pois compreendem as sutilezas do espírito e as fazem ser ouvidas. Louvada seja sua sabedoria pois entendem que amor e ódio são apenas faces da mesma moeda. Katrina sabia disso e assim atingiu imensurável iluminação e sapiência." proclamaram os dois em uníssono.
As espadas se cruzaram e juntos Kirsten e Patrick finalizaram o desenho. Baixinho, sussurraram uma prece e aqueles que estavam presentes tiveram a impressão que o casal rezava não só por Katrina, mas por todos eles. Eriol conseguiu distinguir algumas palavras do antigo idioma dos Dragões, uma língua tão antiga quanto a própria existência do mundo.
"Sinto que deveria dizer alguma coisa," suspirou Sakura, "mas no momento em que minhas palavras são mais necessárias minha voz parece sumir."
"Seu silêncio é bem vindo, jovem Sakura." disse Seyfried, em um tom ligeiramente reconfortante. "Muitas vezes o silêncio diz mais que dezenas de palavras vazias lançadas ao vento."
Eriol sorriu para sua amiga e balançou a cabeça, confirmando as palavras da Guardiã da Água. Sakura limitou-se a baixar o olhar, melancólica, e conformar-se com seu silêncio, pensando no sentimento que Katrina fazia queimar em seu peito.
Dawn aproximou-se da jovem feiticeira e a abraçou. Juntas, transmitiram conforto uma a outra, em um abraço carregado de saudade e desespero. Seus corações batiam juntos naquele momento e ambas compreendiam os sentimentos uma da outra.
Durval, Eriol e Seyfried deram um passo a frente e uniram as mãos com Patrick e Kirsten.
"In nomine Pater, et Filis, et Spiritum Sancti. Amen."
"Amen." murmuraram todos.
Os braços lentamente se fecharam e tornaram a pousar ao lado dos corpos cansados. Ao seu redor, silenciosamente, os pontos luminosos aos poucos se dispersaram e sumiram, mas a clareira não mergulhou totalmente na escuridão, como Sakura pensou que aconteceria. Sobre suas cabeças, o firmamento encheu-se de estrelas, que surgiam para acompanhar a Lua cheia. Pálida e fria, sua luz pareceu débil demais para aquecer aqueles corações enegrecidos.
"É isso então." murmurou Seyfried, suspirando profundamente. "Este é o adeus."
Durval balançou a cabeça, concordando.
"Sim. Agora precisamos descansar e nos re-agrupar."
"Para que?" sussurrou Sakura, desanimada.
"Para marcharmos rumo ao castelo de Amanda, garota." disparou uma voz arrastada atrás deles. Sakura virou-se num rompante. Kerberus e Spinel imediatamente se adiantaram, rosnando ameaçadoramente. Shaoran e Patrick levaram a mão às espadas. "Poupem seus esforços, novatos, não estou aqui para duelar."
"E para que seria, bruxo?" vociferou Durval, olhando fixamente para Mikhael, que saia das sombras a passos lentos.
"Para propor uma aliança." respondeu o sacerdote, brincando distraidamente com um galho de álamo entre os dedos. Os olhos de Eriol brilharam. Kirsten e Patrick começaram a sussurrar entre si. Sakura e Shaoran trocaram olhares incrédulos. Durval soltou uma risada, como quem se divertia muito com a situação.
"Uma aliança?" desdenhou Patrick, deslizando os dedos ao longo do punho da espada. "Que tipo de tolos você julga que nós sejamos?"
"Do tipo que são espertos o bastante para enxergar que precisam de minha ajuda para entrar no castelo. Ou estou errado em supor que vocês não fazem a mais vaga idéia de onde ele fica? Ora, se pretendem parar Amanda, só vão fazer isso confrontando-a diretamente. As coisas estão além do ponto em que poderiam ser resolvidas com política ou estratagemas."
"Continuo perguntando se nos toma por tolos. Afinal por quais motivos você a trairia sabendo o que aconteceu com Klaus?"
"A pergunta é pertinente, mas de todo desnecessária." suspirou Mikhael. "Pensei que, depois de tanto tempo, vocês me conhecessem melhor a ponto de saber que ninguém me passa para trás. Ninguém. O contrato que eu tinha com Amanda acaba de ser... como posso colocar? Quebrado."
Patrick grunhiu algo ininteligível no antigo idioma dos dragões. Kirsten olhou de soslaio para o companheiro e pousou uma mão em seu ombro. Eles trocaram algumas palavras em dracônico, falando o mais baixo possível. Apesar de seus esforços para manterem a voz baixa, Durval conseguiu distinguir as palavras "ordem" e "tradição". Kirsten pareceu se exaltar ligeiramente.
"Ora, Patrick, não seja teimoso. Você quer discutir a Tradição, mas você próprio a quebrou no momento em que permitiu..." a voz da guerreira pareceu vacilar. Ela olhou rápida e discretamente para Dawn e suspirou. "A Tradição nos guia em tempos de paz. Em tempos de guerra o bom senso deve prevalecer. Nós não poderíamos recorrer à Tradição desde o momento em que decidimos tomar parte nesta Jornada."
Eriol fitou sua amiga e sorriu. Kirsten havia amadurecido muito desde que a Jornada havia tido início. Ele nunca duvidara da capacidade da jovem amazona, mas naquele momento, pela primeira vez, ele chegou a pensar que aquela garota possuía uma vontade e um instinto digno dos mais poderosos dragões de mundo.
"E que bom senso há em fazer acordos com o inimigo? Vender a alma ao diabo?" Patrick inquiriu rispidamente. Kirsten bufou, irritada. Eriol suspirou e decidiu aproveitar a deixa.
"Há o bom senso de reconhecer que estamos todos no mesmo barco." começou a reencarnação do Mago Clow, coçando levemente o queixo. "Nós precisamos de ajuda para chegar até o castelo de Amanda. E não estou errado em afirmar que Mikhael também precisa de nossa ajuda para tal."
Os olhos do sacerdote faiscaram sob a luz do sol. Todas as atenções se voltaram ao feiticeiro, que encarava Eriol com uma leve irritação. O jovem inglês sorriu cordialmente para seu rival, fato que só fez aumentar a inimizade que Mikhael sentia por ele.
"O Guardião do Sol está certo." ele grunhiu, desconfortável em falar sobre suas fraquezas. "Não tenho poder suficiente para adentrar os portões do castelo sozinho, mas todos juntos poderíamos desafiar o poder de Amanda."
Yue e Ruby Moon trocaram olhares preocupados. Kero grunhiu algo e deu um passo adiante, sempre mantendo a austeridade. O vento roçou de leve nas copas das árvores e assobiou uma nota aguda. Os olhos de Mikhael faiscaram e fixaram-se em Dawn.
"Ou talvez vocês prefiram deixar o assassinado de Katrina Le Faye impune. Talvez sua benevolência os impeça de tomar uma atitude mais drástica. Como é mesmo? Se fores agredido, oferece a outra face?" ele zombou.
"Creio que a vingança não esteja em sua lista de opções. Mas ora, o que eu estou falando? Afinal temos aqui uma pessoa que usou o poder para se vingar de uma cidade inteira. O que aconteceu com sua chama, menina? Ou você já se esqueceu do que te fizeram?"
Dawn deixou escapar um gemido de dor. Claro que ela não se esquecera, tudo era recente demais, doloroso demais para ser esquecido. A ferida havia cavado seu caminho fundo na alma de Dawn. Sua cicatriz jamais desapareceria.
A garota sentiu uma lágrima correr-lhe a face e tocar-lhe os lábios, tornando o mundo amargo e vazio. Depois dela outras vieram e logo Dawn chorava abertamente. Envergonhada por sua fraqueza, ela se virou e correu.
"Dawn! Espere!" gritou Sakura, vendo a silhueta esbelta da menina desaparecer por entre as árvores. Atirando um olhar furioso para Mikhael ela disparou atrás da pequena, com medo do que poderia vir a acontecer com ela.
"Isso foi golpe baixo!" Morte protestou, indignada. "Ora, se eu pudesse o levaria comigo agora mesmo."
Katrina suspirou e levantou-se da pedra onde estivera sentada. Ela empertigou-se e passou a caminhar na direção que Sakura e Dawn haviam tomado. Antes de desaparecer no meio do bosque, entretanto, ela ainda lançou um último olhar para trás, para seus amigos.
Shaoran havia se levantado também e já se preparava para ir atrás das duas garotas quando as mãos fortes de Eriol o seguraram. Balançando a cabeça, o jovem mago suspirou tristemente e olhou fundo nos olhos do guerreiro chinês. Shaoran imediatamente compreendeu que elas precisavam de privacidade.
Patrick observou em silêncio o lugar para onde Sakura e Dawn haviam corrido e encarou Mikhael com frieza. Seu rosto estava lívido e quando falou sua voz veio carregada de rancor.
"Você desdenha de nossa honra, bruxo, mas alguém como você jamais compreenderia o verdadeiro valor da compaixão."
"Rá!" gritou Mikhael, e dessa vez ele parecia indignado. "Compaixão! Que valor tem a compaixão quando os homens não são dignos dela? Quando não há neste mundo um único ser humano cujos valores o faça merecedor de tal honraria. Há décadas corro o mundo e desde que aprendi a discernir sorriso e escárnio, jamais encontrei um homem que fosse desprovido do manto negro do egoísmo."
Por um momento Patrick pareceu perder a voz. Mikhael o fitava com um misto de austeridade e tristeza, como se naquele momento carregasse sobre seus ombros todo o peso do universo. Patrick gaguejou, mas foi Kirsten quem falou primeiro.
"Talvez você esteja certo quando diz que todos nós somos egoístas. Mas é isso que nos faz merecedores da compaixão. Pois todos os dias tentamos ao máximo superar nosso egoísmo. E muitos de nós conseguem! É isso que deveria contar no final. Não o percurso, mas o resultado. A superação e não o defeito. A vontade e não o fracasso."
"Você é jovem, menina. Não compreende a alma humana. Piedade e compaixão não vencem guerras. Diga-me, jovem guerreira, por que eu deveria amar meus inimigos, afinal? Por que oferecer a outra face se eu posso esmigalhar meus oponentes com as mãos?"
"Porque a compaixão e a benevolência vêm daqueles que menos esperamos. E volta para nós nos momentos de necessidade, mostrando-se uma luz que chega para nos acalentar quando estamos sós e nus na escuridão."
Mikhael engasgou e sufocou a risada. Recompondo-se rapidamente ele passou a fitar Kirsten, que retribuiu o olhar com a mesma ferocidade que lhe era dirigida. A amazona mantinha a postura rígida de uma verdadeira guerreira, embora a dúvida a consumisse por dentro. Teria ela a capacidade de enfrentar Mikhael? Aquele era o teste pelo qual estivera esperando. Sua vontade devia prevalecer.
Eles permaneceram lá, em um embate silencioso. Espírito e mente trabalhavam de forma incansável. Qualquer um que vacilasse naquele momento perderia. Kirsten sabia disso e justamente por essa razão estava determinada a não ceder.
Olhos nos olhos, as tensões foram aumentando. Ela é apenas uma menina ingênua, Mikhael pensou. Mas a ingenuidade dela pode me ser útil no final.
Ele jamais vai compreender, Kirsten disse para si mesma. Esta pode ser uma batalha perdida, mas eu não vou me mover.
Patrick olhou de Mikhael para Kirsten e sentiu os ânimos começarem a aflorar. Aquela disputa não os levaria a lugar nenhum. O cavaleiro sabia que precisava colocar um fim naquilo. Naquele momento. Mas no instante em ele que deu um passo a frente Mikhael suspirou e desviou os olhos, sorrindo levemente.
"Enquanto perdemos tempo com disputas infrutíferas, Amanda se aproxima mais e mais de seu objetivo." disse Mikhael, olhando para o outro lado. Kirsten piscou os olhos e sorriu. Sim, ela havia vencido. Mikhael fitou Eriol com descaso. "Você irão se juntar a mim ou não? Responda, Guardião do Sol."
"Não!" Durval interpelou, sua voz áspera retumbando na clareira como um trovão. "Dentre todos nós quem mais sofreu por causa desta Jornada foi Xiao Lang Li. Se há alguém com o direito de escolher, é ele. Deixem-no decidir, portanto."
Shaoran engasgou com as palavras o Guardião das Sombras. Assustado ele sentiu todos os olhares se voltarem para si. Acuado pela esperança daqueles olhos, ele sentiu os joelhos enfraquecerem. Por que ele afinal? Ele não era ninguém importante. Fechando os olhos, Shaoran suspirou.
Muitas coisas lhe passaram pela cabeça naquele momento. Sakura chorando nos salões do castelo de Magno. As batalhas na passarela do tempo. Katrina morrendo. Dawn se desesperando. Tanta destruição. Tanto sofrimento. Não!, ele gritou para si mesmo. Aquilo precisava parar. Amanda precisava ser detida. De um jeito ou de outro.
"Mostre-nos o caminho." ele falou simplesmente, encarando Mikhael. Em sua alma, estava decidido a dar um fim a todo aquele caos. O sacerdote da Tenebras sorriu de lado e deu um passo a frente.
"Muito bem, eis a planta do castelo." ele murmurou, retirando um rolo de pergaminho de um dos bolsos escondidos em suas vestes.
"Dawn!" Katrina ouviu a voz de Sakura ressoar em meio às árvores frondosas que se estendiam até onde a vista alcançava. Apressando o passo ela avistou a jovem feiticeira, que corria tentando encontrar a pequena. A Guardiã deslizou graciosamente na direção que sua pupila havia tomado, seguida de perto pela Morte, que acompanhava tudo calada.
"Dawn!" Sakura gritou mais uma vez ao avistar a menina. Ela estava encostada em uma árvore, soluçando abraçada aos joelhos. Mantinha a cabeça baixa escondida no meio da saia de linho e seu corpo balançava para frente e para trás. "Dawn, meu amor!"
Sakura correu para abraçá-la, acalentando ternamente o corpo frágil de Dawn em seus braços. A garota levantou os olhos e seu olhar encontrou o de Sakura. Nada precisou ser dito. Juntas elas choraram. Por todo sofrimento que já haviam passado, pela morte de Halig, pelo sacrifício de Katrina.
"Por que?" Dawn inquiriu, soluçando fortemente. "Por que as pessoas têm que sofrer? Por que tem que haver dor?"
"Talvez..." Sakura começou, mas se calou logo em seguida. Ela suspirou tentando encontrar uma resposta. É claro que havia um motivo. Ela sabia que sim, mas naquele momento sua cabeça não conseguia pensar com clareza.
Dawn olhou de volta para a direção onde ela sabia que estava a clareira. Ela podia sentir a movimentação de Patrick e dos outros. Cada um deles estava imerso em seus próprios conflitos. Cada um deles dava o máximo de si para resolver tudo.
"Sabe..." Dawn falou calmamente, embalada pelo calor do abraço de Sakura. "Minha mãe costumava cantar uma música quando ficava triste. Ela dizia que, de alguma forma, essa música fazia ela se sentir melhor."
Sem esperar por uma resposta de Sakura, Dawn fechou os olhos e respirou fundo. Então, calmamente, ela começou a cantar, e sua voz era a manifestação de um lamento profundo e doloroso. Sakura olhou para ela com compaixão estampada no fundo de seus olhos verdes.
Do amor restou apenas a terrível mágoa
Da lembrança ficou somente o meu pesar
Sentimentos escondidos no brilho da água
Da lágrima que hoje eu me ponho a chorar
Ao Coração restou apenas a melancolia
Ao Espírito ficou somente a consternação
E em palavras devagar se traduzia
O duro sentimento nos versos da canção
Aos Ventos Quatro cantava o belo bardo
A felicidade que eu almejava e que eu queria
Sem saber do Destino, o triste fardo
Que um dia eu, por azar, carregaria.
Distante está agora o lábio que sorria
Sorrisos de alegria e sorrisos de amor
Jamais ver de novo a estrela que luzia
E do fogo, jamais sentir nas mãos o seu calor
Com carinho eu guardo na memória
A lembrança da Luz que já não mais
Seu brilho e fulgor tornaram-se história
Das memórias que somente o Tempo traz.
Aquele que foi e aquele que nunca será
Carreguem de mim meu sofrimento
Eu pergunto se um dia haverá
Derradeiro fim ao meu tormento
A lágrima pela minha face a rolar
De negro meu horizonte a tingir
Eu peço agora forças para achar
Um caminho por onde prosseguir
Eu nego do punho a força e da espada o corte
Saúdo da alma o Carinho e da mente a Razão
Eu quero renovar minha Vida e minha Sorte
Ter de novo Fé, Orgulho e Coração
Não quero mais chorar, não quero mais sofrer
Novos belos sonhos eu desejo hoje possuir
Abertos verdes campos poder então correr
E aos lábios ter de novo a alegria de sorrir
Lágrima cruel, finda agora a minha dor
Hoje o desejo é renovar, recomeçar
Caminhar devagar sobre relva, campo e flor
E da vida a alegria, para sempre retomar.
Quando terminou, Dawn sentiu sua alma suavizar. Aqueles versos lentamente acalmaram seu coração perturbado e tranqüilizaram seu espírito. Sakura ainda apertava os braços ao redor de seu corpinho gracioso. Dawn olhou para ela com ternura e sorriu. Então, algo lhe veio à cabeça. De repente, ela sabia a resposta.
"Eu acho... eu acho que tudo isso é um teste." ela falou em um tom solene. Sua voz estava carregada de uma sabedoria profunda que fez Sakura se espantar, como se naquele momento encarasse uma outra Dawn. "Toda essa dor é um teste. Porque é ela que nos faz mais forte. No final, quando a superamos, nós nos tornamos sempre melhores do que éramos antes. Vencer a dor é uma prova de coragem."
Sakura sorriu, orgulhosa de sua pequena. Mas ela não foi a única.
Não muito longe, Katrina trocou um olhar de cumplicidade com a Morte. As duas fitaram Dawn com um sorriso cálido e jovial.
"Acho que não tenho com o que me preocupar." Katrina falou, mais para si mesma do que para Morte. Então, virando-se para sua companheira, ela sorriu. "Estou pronta."
"Você sempre esteve, Katrina Le Faye." Morte respondeu, gargalhando. Seus olhos gentis reluziram sob a luz da Lua que brilhava firme no céu. Então, estendendo a mão para Katrina, ela disse calmamente. "Destino ainda tem coisas preparadas para seus amigos. Mas se eles encararem as provações como aquela garotinha, tudo ficará bem."
A Guardiã sorriu e pegou a mão da Morte. Ela era morna e acolhedora, e transmitia uma paz sem precedentes. Katrina fechou os olhos cansados e ouviu o som de asas poderosas. Então, sentiu seu corpo ficar leve e começar a subir lentamente. Enquanto suas asas se abriam para o infinito, ela se atreveu a olhar pela última vez para baixo, para o mundo que deixava para trás.
"Adeus, meu amores." ela sussurrou para Dawn e Sakura, cujas formas reluzentes ficavam cada vez menores, até desaparecerem por completo.
Katrina subiu por uma eternidade. Então, por fim, a Guardiã alcançou seu destino e ela se alegrou. Erguendo o dedo indicador, sua alma tocou a luz da Lua, que explodiu em mil estilhaços faiscantes.
Dawn olhou para o céu para se despedir de Katrina. Ela jogou um beijo e acenou, sorrindo.
"Adeus, Katrina. Adeus, irmã." ela gritou, fitando a Lua cheia. Como que em resposta, a Lua reluziu e explodiu em milhares de estrelas cadentes. Do alto do firmamento, as duas amigas viram um pequeno ponto luminoso descer lentamente. Dawn estendeu o braço e pegou o ponto no ar. Então, olhando para a palma de sua mão, ela sorriu.
Era um fragmento de cristal.
Nome: Klaus von Karajan – "A Víbora"
País de Origem: Áustria
Idade: Desconhecida
Data de Nascimento: Desconhecida
Tipo Sanguíneo: O-
Elemento Regente: Trevas
Título: Alto Sacerdote da Irmandade de Tenebras.
Área de Atuação: Europa e Extremo Oriente
Ficha pessoal: Klaus nasceu na Áustria, em uma data que ele mesmo prefere não mencionar. Os detalhes de sua vida não estão escritos em nenhum lugar senão sua própria memória. E estas são lembranças que ele, definitivamente, prefere esquecer.
Filho de artesãos pobres, Klaus ficou órfão ainda cedo, quando seus pais morreram vitimados pela cólera. Sem parentes próximos, o garoto foi morar nas ruas e lá aprendeu que, se quisesse sobreviver, teria que se virar. Por isso, já em tenra idade, Klaus era um grande trapaceiro. Desde cedo já mostrava inclinação para as artes místicas e usava seu talento para furtos e roubos. Confiança e solidariedade não eram palavras conhecidas. Mendigos não eram vistos com bons olhos afinal.
A experiência faz o ladrão e Klaus logo aprendeu que viajantes e estrangeiros eram os tipos mais vulneráveis. Sua distração e admiração ao que havia à sua volta desviava seus olhares de si mesmos. Klaus sabia tirar proveito das distrações. Por isso não hesitou ao ver uma distinta dama que andava desacompanhada pelas ruas de sua cidadela. Esgueirando-se nas sombras, ele a seguiu, ávido em colocar as mãos em sua bolsa de couro lustrado. O que ele não sabia, entretanto, é que sua vítima não era ninguém menos que Amanda Kasperhouser, uma sacerdotisa iniciada da Irmandade de Tenebras.
Descoberto em seu esconderijo, Klaus tentou atacar a jovem. Mas Amanda não era tola. Ela rapidamente percebeu as intenções do garoto e sua inclinação para a magia. Sua lábia e as promessas de poder e riqueza fascinaram o jovem, que não pensou duas vezes para aceitar sua proposta.
Amanda tornou-se tutora espiritual e mental de Klaus, iniciando-o na arte da magia e da trapaça. Mas Klaus era uma serpente mais traiçoeira que sua própria mestra. Os anos de miséria o ensinaram a pensar somente em si mesmo.
Quando lhe foi conferida a missão de tomar as recém-criadas cartas de Clow Reed, a Víbora rapidamente viu um modo de ascender ainda mais sua influência na Irmandade. Ele só não constava com a astúcia de Amanda e do próprio Clow, que frustraram cruelmente seus planos ambiciosos.
Não! Não é uma ilusão! O capítulo 19 finalmente saiu! (desvia de um tomate) O.O
Nyu! Não façam isso! Eu sei, eu sei! To MUITO atrasado! Mas não foi minha culpa. Er... Ok, em parte foi sim. Passei por um período muito grande de falta de inspiração. Some-se a isso algumas mudanças de valores e pronto, está feita a desgraça. No último ano que passou, eu li muita coisa que mudou certos conceitos que eu tinha. Isso fez com que eu perdesse um pouco de sintonia com a história e me obrigou a repensar alguns planos que tinha feito. E isso acabou consumindo mais tempo do que eu gostaria... Peço desculpas a todos.
Mas, como eu não pretendo deixar Chrono sem conclusão, aqui está o capítulo novo, repensado, revisto e reescrito. o/
Um outro motivo que fez esse capítulo levar mais tempo para ser escrito foi justamente o funeral da Katrina. Eu queria ter feito algo utilizando como base um ritual funerário wicca verdadeiro, mas minhas pesquisas não encontraram nada realmente satisfatório. Aí veio o grande dilema: devo ou não prosseguir com a idéia de só utilizar rituais verdadeiros na história? Bem, decidi abrir uma exceção para essa parte.
Os fãs de Sandman devem ter percebido que fiz uma homenagem à série nesse capítulo, com a aparição da Morte, né? Ela é minha personagem favorita da mitologia do gênio Neil Gaiman. A Morte é doce, gentil e sincera. E o modo como ela ajuda seu irmãozinho rabugento, o Sonho, nas histórias de Sandman, é sublime.
(momento merchandising mode on)
Para quem não conhece, Sandman é uma graphic novel que foi publicada originalmente pela DC Comics na década de 90, na linha Vertigo, e mais tarde pela Ópera Gráfica. Ela narra as aventuras de Morpheus, o Rei dos Sonhos, e de seus seis irmãos, os Perpétuos: Destino, Morte, Desespero, Desejo, Destruição e Delírium. É uma mistura sublime de fantasia, mitos modernos e personagens cativantes. Vale a pena ser lido. Para quem ficou curioso, a Conrad está reeditando a série atualmente em edições de luxo. Quem quiser saber mais, é só me escrever! o/
Ah sim, mesmo com a demora, gostaria de receber reviews, please? No último capítulo eu só tive três comentários. Vamos lá, pessoal. Quanto mais reviews eu receber, mais rápido sairão os capítulos. O próximo capítulo já está quase pronto. Vamos fazer assim, eu só posto o capítulo 20 quando receber pelo menos cinco reviews, ok? Então não sejam preguiçosos. É só clicar no botãozinho ali em baixo.
Para os admiradores da Dawn, há um conto solo escrito para ela na minha página da Fiction Press. Ele se passa anos antes do encontro com Sakura, na época em que a garota perde seus pais durante a Inquisição. Quem quiser ler, o conto chama-se "Sobre a Morte da Inocência" e está disponível em: www (ponto) fictionpress (ponto) com/(til)felipeskai.
Não percam! No próximo capítulo de Chrono, Sakura inconscientemente mergulha no reino obscuro de Desespero, a irmã mais nova da Morte! Eriol não pode ajudá-la. Shaoran está impotente. No momento em que a situação se mostra desesperadora, Dawn se levanta sozinha para resgatar sua amiga de um destino amargo. A seguir: Depois da Despedida.
E aproveitando a deixa, para todos que acompanham Chrono eu desejo um feliz natal!
Peace, Love and Hope to all and each one of you. Now and Forever.
Namárië
Felipe S. Kai
