A meia Lua

Ao Senhor da Lua, esse modesto capítulo.

- Aqui está sua infusão, Severus. Está um pouco quente, cuidado.

- Obrigado. Preciso de um pilão e um recipiente de cerâmica.

Voltei à cozinha para buscar o solicitado, e na volta o olhar treinado viu que em sua ausência Severus tinha feito mais que ir ao banheiro e retornado : tinha preparado algo parecido com uma bancada ali mesmo na sala, e harmoniosamente disposto alguns ingredientes. Também observou com prazer que nesses poucos minutos as bolhas tinham murchado, como que milagrosamente.

- Não é milagre. É a erva certa usada do jeito certo.

Ainda bem que ele não é um Comensal ativo. Eu estaria em maus lençóis com alguém como ele adivinhando todos meus pensamentos em uma batalha.

- E antes que diga novamente que estou adivinhando, não estou. Seus olhos o traem, Kingsley Shacklebolt.

A voz segura, as mãos de dedos longos e finos - ágeis como víboras em seu bote mortal e certeiro - pilando e unindo os diversos elementos necessários na tigela, ligando e juntando e tornando mais e mais consistente uma pasta esverdeada e – oh, Merlin ! – inebriantemente odorífica.

- Mesmo ? O que utilizou ?

- Nada que vá precisar em suas "batidas", Auror. E seu brinco continua no lugar certo, não é necessário conferir a cada minuto.

Nome Severus, perspicácia e língua ferina, sobrenome Snape. Mas eu sou descendente de reis, Severus... selvagens e intrépidos, conhecedores de segredos de leões e hienas, girafas e elefantes, vales de diamantes e montanhas de ouro. Vamos ver até onde você sabe jogar.

- Dê-me. E deite-se.

E agindo ao mesmo tempo em que falava, inclinei-me quase perigosamente em sua direção, como se quisesse tomá-lo – e ainda assim encarando firmemente em seus olhos – estiquei os braços e, enquanto com uma mão eu tirei a cheirosa tigela de suas mãos, com a outra eu o empurrei para deitar-se.

Sem deixar qualquer espaço ou tempo para resistência ou resposta, peguei com dois dedos a pasta esverdeada, quase lascivamente acariciando a borda da tigela, emplastrei bem os dedos e passei delicadamente sobre o peito de seu pé, escondendo a meia-lua que algum incidente tinha marcado em sua pele. Toquei como quis e sempre sonhei aqueles pés brancos de quem eu não sabia o dono, mas intuía na alma : acariciei e massageei, emplastrei com suavidade seus pés... sem olhar para eles. Só o toque, pois os olhos o seguravam deitado na minha bergére de pelo de zebra : branco e negro, contraste perfeito como minhas mãos nos seus pés.

Ainda com o olhar nos seus - pantera à espreita enfeitiçando a presa indefesa (um Comensal da Morte, realmente indefesa a presa que eu escolhi...) – estiquei-me no todo de minha altura, entreabri as pernas para mostrar-lhe o que você estava fazendo comigo, devagar ajoelhei-me, abaixei o rosto e estendi a língua. Sempre dominando sua imobilidade com meu olhar, percebi satisfeito que seu arfar me deu a certeza que eu tinha escolhido o caminho certo, e confiante e ainda magnetizando seu olhar eu toquei generosamente a planta de seu pé direito com minha língua. Foi o único momento que me permiti fechar os olhos. Para gozar completamente meu momento de prazer indescritível, único, quase mortal em sua intensidade : eu estava com pés perfeitos à minha mercê. E aproveitei cada milímetro daquela planta : mordisquei, inalei inebriado a pasta que eu mesmo tinha colocado neles, e até mesmo lambi o preparado... para perceber que o Mestre de Poções tinha se adiantado, mais uma vez. Eu poderia fazer muitos usos daquela poção... muitos.

Reabri quase com tristeza meus olhos, e deparei-me com a cena mais linda de minha vida : você tinha inclinado a cabeça para trás, apoiando-se nos cotovelos e entreaberto as pernas... e a calça. Parei para apenas admirá-lo, pujança quase nervosa em alguém com nervos de aço. Então você olhou para mim. Palavras não ditas, raios de volúpia dardejados no olhar do filho das rochas, recebidos em iguais condições pelo filho das areias.

Parei por um momento para eu também abrir minha calça. Com quase irritante lentidão me levantei e afastei o casaco lateralmente : primeiro um lado, depois o outro, muito lentamente. Eu mesmo mal agüentava o pano me cobrindo e pressionando meu pênis intumescido, mas eu sabia que era um espetáculo no qual eu tinha escolhido fazer o papel ativo. Com quase insolente lentidão abri o cinto das minhas calças, e botão por botão até ela escorregar pelas minhas coxas. E quase descuidadamente eu coloquei minha mão dentro da cueca e me expus para você.

Mas era demais esperar um Comensal da Morte tão passivo. Até achei que você esperou tempo demais, para dizer a verdade.

- Delicioso e maldito seja, Kingsley Shacklebolt, com essa lentidão exasperante ! Acho que já está na hora de mostrar porque eu sou um Mestre de Poções...

E com um movimento único, como se nesse tempo todo tivesse eu feito exatamente o que você planejou, apoiou os pés no braço da bergére e projetando o quadril para a frente se posicionou de tal forma que envolveu meu pênis com os dois pés aos mesmo tempo. Não foi gentil, não foi bruto, mas como um homem másculo e viril você me tocou com seus pés... ah, seus pés !

De um lado a planta me massageando, do outro o peito do pé me emplastrando o penis inteiro com o tal preparado, depois alternando... e enquanto você tentava com dois dedos me acariciar a cabeça com o outro pé você desceu até meus testículos e começou a massageá-los também. Fosse a tal pasta – e eu tinha quase certeza que alguns dos ingredientes nela contidos não se referiam a queimaduras -, fosse a fricção deliciosa eu comecei a gemer como um menino e meu quadril começou sozinho quase uma dança em sua direção.

- Assim você ainda não tinha tido o prazer, Shacklebolt ?

- Kingsley... agora, Kingsley...não pare. Não pare...

- Kingsley... Kin...

E enquanto falava meu nome, o veludo de sua voz acariciando meus ouvidos, você ia me acariciando com os artelhos, devagar fazendo círculos, um pé lateralmente me tocando , o outro mais embaixo subindo e subindo, tão devagar como eu tinha despido, o primeiro até alcançar a base do meu pênis e pressionar mais fortemente, enquanto com o outro forçava quase dolorosamente ele a se abaixar. Quando consegui finalmente olhar o que você fazia e eu quase delirante só sentia, mal acreditando que aquilo estava acontecendo, tive a visão do que eu já tinha sonhado tantas vezes e nunca sentido, ou sabido real : meu pênis entre dois pés, sendo acariciado habilmente melhor do que já fora a vida toda. Nenhuma mulher, nenhum homem , língua ou mucosa havia conseguido aquele efeito em mim : eu estava prestes a gozar, e me sentia potente como se pudesse ficar ali séculos.

- É a pressão na base que está segurando tudo, Kingsley.

- Pare de adivinhar, Severus, e me masturbe !

O súbito apertão do dedão por cima, puxando meus pelos quase me fez pular para trás.

- Quieto, Auror. Fique bem quietinho... por enquanto, bem quietinho...Apoie-se no encosto do divã. O joelho aqui. Isso.

E com mais vigor você continuou o que estava fazendo, aumentando o ritmo, alternando ritmicamente os pés, lateralmente, me prensando entre eles, e o de baixo começou a baixar de novo quando eu comecei a arquejar mais profundamente,gemendo cada vez mais alto, sentindo quase triste o gozo me alcançando.

Quase brutalmente você me acariciava os testículos, e repentinamente numa estocada perfeita você me penetrou com o artelho, arrancando um urro quase animal de tesão, aquele tesão reprimido por anos que eu nunca pensei que fosse soltar.

Porque eu pude ver, naquele breve momento, as estrelas da África.

Porque eu gozei, como um menino, sobre a meia lua do teu outro pé.