SONETO III

Áspero amor, violeta coronada de espinas,
matorral entre tantas pasiones erizado,
lanza de los dolores, corola de la cólera,
por qué caminos y cómo te dirigiste a mi alma?

Por qué precipitaste tu fuego doloroso,
de pronto, entre las hojas frías de mi camino?
Quién te enseñó los pasos que hasta mí te llevaron?
Qué flor, qué piedra, qué humo mostraron mi morada?

Lo cierto es que tembló la noche pavorosa,
el alba llenó todas las copas con su vino
y el sol estableció su presencia celeste,

mientras que el cruel amor me cercaba sin tregua
hasta que lacerándome con espadas y espinas
abrió en mi corazón un camino quemante.

Pablo Neruda

- Refeito, Shaklebolt ?

- Quase.

- Bom. Porque eu não terminei.

- Nem eu.

- Ótimo, Filho das Planícies.

- Perfeito, Mestre das Ervas.

- Agora é minha vez.

- Severus... eu não...

- Eu sei. Sente-se aqui, à minha frente.

E num gesto de entrega que eu jamais pensaria ver em um Comensal da Morte, num gesto único e quase gracioso você apoiou-se nas almofadas e abriu completamente as pernas para me receber: uma no encosto do sofá,o calcanhar firmemente fixo em um desvão da minha adorada bergére,a outra pendente e quase desequilibrada, apenas encostando o pé no chão.

- Você não ficará confortável, Severus, melhor irmos para a cama.

- Ficarei extremamente confortável, creia-me. Apenas sente-se. Dobre as pernas. Planta de pé contra planta de pé, consegue, Auror ?

- Consigo, feiticeiro.

E também consigo sentir-me um adolescente fazendo algo que não devia – mas quer muito, mais até do que continuar respirando. E estar sendo orientado por Severus Snape, o eterno professor ranzinza justamente nisso realmente é algo digno de alguém que passou com honras no treino para Aurores, mesmo. Não sei por que agora, depois de tanta entrega e abertura, estou me sentindo envergonhado. Não sei se é pela falta de perícia, se é pela companhia intimidadora daquele que ousou o tempo todo que eu apenas sonhei, só sei que estou quase constrangido.

- Não se sinta constrangido. Seu corpo sabe o que fazer... igual ao restante. Seus antepassados não ficavam assim perturbados perante os leões que queriam jantá-los quando eles arremessavam – e erravam – a última lança.

Irônico ? Insensível ? Não...apenas Severus Snape.

- Os leões não os estavam ensinando a ...

- O nome é foot job, Kingsley. E congratulo a idéia de que nenhum deles resolveu brincar de foot job com um leão, apesar de ser muito interessante. Se quiser, auxilie com as mãos.Não? Segurança... Isso... Dos dois lados... bom... BOM...

Lentamente eu comecei a acariciar com meus pés o sexo já (ainda?) preparado de Snape, aos poucos descobrindo um ritmo e uma cadência que iam enlevando meu companheiro. Devagar ele foi começou a masturbar-se no mesmo ritmo que eu o acariciava lateralmente, movimentando as pernas mais e mais, os joelhos querendo se fechar e prender-me entre eles (gaiola dourada para um pássaro sem asas, essa...) em perfeita sincronia com os meus débeis movimentos que tentavam se aproximar da loucura perfeita que tinham sido os dele em mim.

Arrisquei tirar um dos pés para o lado, ato imediatamente impedido por Severus (que já estava inclinando novamente a cabeça para trás... lindo... como alguém que se entrega a um vampiro, pescoço e sexo devassados somente para mim...) e a mão puxou aquele pé para o mesmo ponto, exigindo a continuidade do movimento. Foi a primeira vez que eu vi paixão em um ato seu que não fosse fazer uma de suas amadas poções, Severus... será que você matava com a mesma paixão ? Será que se entregou a Voldemort com tanta volúpia ? Mas não consegui – e nem quis – prosseguir nesse pensamento quando você me olhou atento, em algo que reconheci como quase mágoa... sim, eu não me esqueci, Severus, você é um excelente Legilimens... não me enganou um segundo com suas "adivinhações", meu outrora gélido amante.

Amante. Gosto disso.

- Mais rápido, homem ! Concentre-se ! Mais rápido, Kingsley ! MAIS !

Senti nessa frase rosnada a urgência de satisfação de anos de desejos não realizados (seus ? meus ?), carinhos desejados e não obtidos (nossos?), e senti que mesmo você tendo alcançado fisicamente o que desejava, Snape, você não tinha obtido prazer nisso. Enquanto eu imprimia maior velocidade a essa carícia quase brutal eu me certificava do que já intuía : você conseguira sexo, sim, realizara seu (meu?) fetiche não uma nem duas vezes - pois pelo nível do seu conhecimento e pela forma como orientava e acertava meus pés para que fizessem o que você queria não duvidei da quantidade de vezes que havia feito isso -, mas não obtivera prazer... não o prazer dos iguais. E empenhei-me mais ainda em dar-lhe o que você – como eu – buscou a vida toda, e agora eu tinha certeza que nunca obteve : o amor de outro amante dos pés. Porque os seus pés ( um ali ao lado do meu rosto, ao alcance da minha boca e língua e dentes, o outro roçando quase desesperadamente o meu tapete ), Severus Snape, nunca foram venerados como merecem... eu darei um jeito nisso.

Mas primeiro, filho das altas pedras escarpadas da Escócia, vou lhe mostrar como geme o vento do amor nos ouvidos de um homem que é desejado... vou fazê-lo saber como é quente a brisa da África nessa tua pele de neve escocesa. Ouça-me gemendo seu nome, Severus Snape, ouça-me arfando de paixão por você...

E sem pedidos nem permissões eu me inclinei todo para a frente e beijei a sua boca. Quase sangrei seus lábios, Mestre das Poções, só para ouvir o gemido mais alto que você soltou quando eu a abandonei e concentrei-me no seu pé. Ah, Panteão de gregos deuses, nem mesmo seus celestes lábios deleitaram-se tanto ao sorver ambrosia e néctar quanto eu fiquei inebriado ao acintosamente morder seu pé...

(Pois eu quero que se recorde para sempre dos meus pés em seu sexo, e da minha mordida no seu calcanhar, meu Aquiles particular. )

Isso, geme, meu homem... urra, minha perdição completa... mostremos a quem ousar ouvir nossas vozes alteadas de luxúria e perversão (por ora emitindo um misto de nossos nomes e quase blasfêmias) do que são feitos os sonhos de bruxos. Enleva sua alma de encontro à minha para finalmente fazer a dança dos nossos orgásticos espasmos mesclar-se, nosso sêmen marcando indelével e eternamente minha adorada bergére de pelo de zebra.

Porque saiba, Severus Snape, que somos ambos os mais perversos e luxuriosos bruxos do mundo inteiro : mesmo sabendo, não esclarecemos à bruxandade toda que a verdadeira e vital magia está oculta sob nossos pés.

Soneto III

Áspero amor, violeta coroada de espinhos,
cipoal entre tantas paixões eriçado, lança das dores,
corola da colera, por que caminhos
e como te dirigiste a minha alma?
Por que precipitaste teu fogo doloroso, de repente,
entre as folhas frias do meu caminho?
Quem te ensinou os passos que até mim te levaram?
que flor, que pedra, que fumaça
mostraram minha morada?
O certo é que tremeu noite pavorosa,
a aurora encheu todas as taças com teu vinho
e o sol estabeleceu sua presença celeste,
enquanto o cruel amor sem trégua me cercava,
até que lacerando-me com espadas
e espinhos abriu no coração um caminho queimante.

Pablo Neruda