Amor,
cuántos caminos hasta llegar a un beso,
qué soledad
errante hasta tu compañía!
Siguen los trenes solos
rodando con la lluvia.
En Taltal no amanece aún la
primavera.
Pero
tú y yo, amor mío, estamos juntos,
juntos desde la
ropa a las raíces,
juntos de otoño, de agua, de
caderas,
hasta ser sólo tú, sólo yo juntos.
Pensar
que costó tantas piedras que lleva el río,
la
desembocadura del agua de Boroa,
pensar que separados por trenes
y naciones
tú
y yo teníamos que simplemente amarnos,
con todos
confundidos, con hombres y mujeres,
con la tierra que implanta y
educa los claveles.
Pablo Neruda
A coruja que bateu na janela da minúscula sala do apartamento fez os dois bruxos pularem juntamente de onde estavam; eu como bom anfitrião enrolei-me em sua capa – odorífico resgate e quase roubo daquele que mais quero junto a mim – e fui buscar a correspondência.
- O que Dumbledore está nos informando ?
Maldito legilimens...
- Apenas lógica, como sempre, Kingsley – disse meu amante enquanto se espreguiçava ali, molemente descansando no meu sofá – sob Fidelius, é evidente que somente poderia ser ele. Quais as novidades ?
- Que já podemos voltar à sede.
- Hum... ele contou o verdadeiro motivo para me tirar de lá ontem à noite ?
- Não. Ele sabe o que é necessário.
- Como é bela a lealdade... e seu brinco continua aí, Shacklebolt. E devolva minha capa.
- Onde foi parar o Kingsley, Severus Snape ?
- Nos meus pés, talvez ?
Minha risada quase gutural, tão poucas vezes mostrada tornou-se tão habitual quando estou com Severus, que até a mim me surpreende : como alguém com um humor tão negro e sarcástico consegue me fazer rir com tanta facilidade ?
- Somos iguais, Kingsley... o que pode nos matar, um dia.
- Estamos do mesmo lado.
- Nem sempre. Quando eu estiver mascarado...
- Eu irei saber.
- Não, não irá.
- Sim, eu irei. Você é meu.
- Tanto quanto sou do Lord das Trevas.
Um Cruciatus não teria o efeito que essas palavras ditas de forma deliberada e lenta tiveram no meu cérebro. Após um período de indecisão, meu coração resolveu que não era uma boa medida parar de bater, porque – pelo bem ou pelo mal – a gente sempre continua vivo, mesmo após um Cruciatus. Pode enlouquecer como os Longbottom, mas insiste em permanecer vivo. A vida sempre persiste, em detrimento da lógica de permanecer são. Sempre sobrevivemos : loucos,talvez, mas vivos... então era isso. Apenas sobrevivência.
- Pelo visto, considerou tudo isso como reles diversão para apenas uma noite.
- Ao contrário, Shacklebolt : você é uma erva fina e rara, que muitas pessoas passam pela vida sem sorver, quanto mais conhecer, e eu tive a honra de desfrutar tão integralmente. E sinto-me honrado com isso. Mas é simples : em batalha, eu irei me defender e atacar, exatamente como você. E estamos em guerra.
Eu não vou te perder, Severus Snape, em nome de uma guerra que pode nos matar em questão de segundos. Vou sorver eu dessa erva rara e forte que é você, Mestre de Poções, até não ter mais vida correndo em minhas veias, ou não sou mais Kingsley Shacklebolt, filho de Rafique, neto de Naguto, bisneto de Kiita, o Grande Rei !
- Bem, então criaremos algo pessoal, um código, um sinal... e em batalha
- Kingsley, pelo visto é necessário café bem forte para que você acorde. Então vou dizer de forma bem clara : não existem códigos ou sinais de meninos ou amantes em batalha. O que efetivamente existe é apenas sangue e dor, morte e fedor, e só se enxergam três cores : o verde da imperdoável , o vermelho do nosso sangue e o negro da morte !
- Não é necessário me descrever uma batalha, Severus, eu costumo estar nelas tanto ou mais que você. E fique tranqüilo, não vou te matar : eu reconheço o que me pertence em qualquer ambiente. Principalmente naquele em que passo a maior parte do meu tempo.
- Quanta competência, Auror... e os outros ? Sou um espião infiltrado, conscientize-se que escolheu o pior parceiro que podia. Sempre é tempo de repensar decisões erradas.
- Essa lenga-lenga é toda para dizer "foi uma noite ótima, meu caro, mas você não fez meu tipo", estou vendo. Relaxe, Snape, entendi o recado. Para mim também foi uma ótima noite, pena que como tudo que é bom acabou logo. Vamos então liberar Dumbledore desse Fidelius idiota ?
- Não. Vamos tomar café.
xoxoxoxoxoxoxoxoxoxoxoxo
Cada um faz poções a seu modo : aprendi com minha amada mãe Rafique a fazer um café dos deuses, quase literalmente. Como boa mãe ela me ensinou o segredo atrás do segredo, ensinou a fazer disso um ritual mais que mágico, um ritual para altos iniciados : ela dizia "Mfalme, meu pequeno Obá, um homem se conhece pelo café que ele prepara. Deve ser como sua alma : rija mas sensível, encorpada mas maleável, forte mas agradável, sempre com seu gosto próprio e inesquecível, não mascarado por outros sabores, e principalmente deve prover de energia a todos que se aproximarem dele. Seu pai me conquistou pelo seu café .", ela sempre terminava de fazer seu café com essa frase. E com um sorriso radiante da enorme luz que tinha em sua alma, ela me oferecia sua parcela na bebida dos deuses que preparava.
E o que a minha inexperiência tinha afastado, eu iria recuperar com meu café. E com esse firme propósito eu fui para a cozinha "obedecer" o que Severus havia dito. Conforme peguei os grãos - escolhidos anteriormente e novamente agora – e os moía em meu pequeno moinho manual, eu já ia começando a sentir-me inebriado pelo que adivinhava : a infusão perfeita de um grão sem máculas, torrado lentamente para não passar do ponto. Porque tudo tem seu ponto certo, nada se apressa, nada se atrasa...
E nesse ponto respirei fundo... não, Severus não era meu, como não era meu aquele café, nem era meu aquele apartamento, nem mesmo as minhas quase inseparáveis botas. Nada era meu, exceto meus próprios atos. E apenas a ele eu deveria ser verdadeiro, a eles respeitar para ser por eles respeitado.
E foi com um café extremamente oloroso e a mente liberta que voltei à saleta, onde um Snape já completamente vestido – e descalço – olhava as fotos de meus antepassados com um olhar muito perscrustador.
- Diga-me os nomes das pessoas dessas fotos, Kingsley.
- São nomes yorubá, Snape, você não vai saber pronunciá-los.
- Dê-me o direito da dúvida. Tente me ensinar algo que eu não sabia, Kingsley... Como é seu nome nessa língua ?
- Algo que soaria como Obá
- Parece conversa de adolescente trouxa, "Ôba "
- Não é Ôba, é Obá. Em outra variante, meu nome é Mfalme. Pronuncia-se quase como "Fal-me".
- E sua mãe ?
- Rafique.
- O nome de seu pai era Leyson, estou certo ?
- Sim.
- Filho das Planícies... e você é "o quardador das planícies do Rei".
- Exato. Você sabe gaélico.
- Minha família é Highlander, do clã Innes.
- Não sabia que existiam clãs entre bruxos.
A risada baixa e quase interior e a frase lenta :
- Primeiro escocês, depois bruxo.
- Como o faz, Kingsley ? O café, quero dizer.
- Com respeito, Severus.
- Bom. Muito, muito bom...
Não sei se foi o seu quase-sorriso nesse momento, ou se foi a visão dos teus lábios sorvendo respeitosa e quase amorosamente o meu café que me fez agarra-lo e beija-lo vorazmente. A forma como você correspondeu me mostrou que se você não era meu, aceitava ser naquele momento, pelo menos.
E isso era o suficiente. Pelo menos nessa vida.
Amor, quantos caminhos
até chegar a um beijo,
que solidão errante até
tua companhia!
Seguem os trens sozinhos rodando com a chuva.
Em
Taltal não amanhece ainda a primavera.
Mas tu e eu, amor
meu, estamos juntos,
juntos desde a roupa às raízes,
juntos de outono, de água, de quadris,
até ser
só tu, só eu juntos.
Pensar que custou tantas
pedras que leva o rio,
a desembocadura da água de Boroa,
pensar que separados por trens e nações
tu e eu
tínhamos que simplesmente amar-nos
com todos confundidos,
com homens e mulheres,
com a terra que implanta e educa cravos.
Pablo Neruda
