"mo ghra thu go daingean"
SONETO III
Áspero amor, violeta coronada de espinas,
matorral entre tantas pasiones erizado,
lanza de los dolores, corola de la cólera,
por qué caminos y cómo te dirigiste a mi alma?
Por qué precipitaste tu fuego doloroso,
de pronto, entre las hojas frías de mi camino?
Quién te enseñó los pasos que hasta mí te llevaron?
Qué flor, qué piedra, qué humo mostraron mi morada?
Lo cierto es que tembló la noche pavorosa,
el alba llenó todas las copas con su vino
y el sol estableció su presencia celeste,
mientras que el cruel amor me cercaba sin tregua
hasta que lacerándome con espadas y espinas
abrió en mi corazón un camino quemante.
- Sempre tenta tomar o que deseja, Kingsley ?
- Apenas se tenho certeza que é a vontade de ambos.
Enquanto afago sua face, observo quase absorto o alvo de sua pele contrastando com o negro de meus dedos que a acariciam tão placidamente, branco e negro num jogo de claro-escuro que reflete imparcialmente nossas vidas : quem é o comensal, quem é o auror ? E a forma como você permite que eu explore seu rosto assim, sem cuidados, sem temores, me dá a clara impressão de que você apenas não sabe ser feliz. Simples, básico : para quem a vida sempre mostrou apenas a pior face, porque acreditar que possa melhorar ?
Recostado aqui na minha minúscula cozinha de auror solteiro consigo visualizar um pouco mais do que teria sido nossa vida se tudo tivesse sido diferente : se eu fosse branco e rico, se você não fosse slytherin e tímido, se eu não tivesse acreditado que a vida pode ser justa, se você não tivesse se deixado envolver por histórias de poder... ah, como teríamos sido felizes em sermos apenas nós mesmos, antes de hoje ! Mas somos felizes agora, e agora é o suficiente.
E lenta e lascivamente eu desço meus lábios entreabertos, acariciando desde sua face por todo seu corpo vestido até estar praticamente deitado no chão, beijando reverentemente o peito do seu pé desnudado. Pois não quero seu corpo nu, quero sentir a gosto do pano negro que sempre recobre seu claro corpo em minha boca, e somente ouso querer sentir em meus negros lábios sua pele alva e nua somente nos seus – para mim, apenas para mim ! – sagrados pés.
Pois sagrada é minha reverência, como sagrado é meu fascínio por seus pés. Prazer insano de pares ímpares, apenas os iniciados sabem o deleite de língua e artelhos, lábios e calcanhar.
E enquanto eu reverencio dessa forma tão sublime esse meu deus particular ( Príapo em vestes negras e ereção pujante ), sinto um estremecimento que julgo de prazer e ergo os olhos reverentes para perceber, horrorizado, que a mão no antebraço indicava que você era chamado ao Averno.
Seu Lord das Trevas o solicitava.
- Não vá !
- Não... posso ! Ele me... mataria !
- Você já não foi outras vezes, eu SEI !
- Hoje não, Mfalme. Não hoje. É... preciso !
E sem outra palavra, Severus, o dono dos mais belos e alvos pés que eu já vi aparata, levando junto meu coração dilacerado de dor.
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- Mas como isso foi acontecer, Albus ?
- Como todas as coisas acontecem, Severus :alguns agem, outros omitem, uns persistem e poucos ganham. Dessa vez fomos nós a ganhar.
- Mesmo, Dumbledore ? Fazer um feitiço tal que me trouxesse para cá, quando meu destino seria obter maiores e preciosas informações ? Considera ganhar saber de antemão a notícia que o Lord das Trevas iria me matar essa noite ? Sinto desapontá-lo, Diretor, mas isso é novidade velha. Já perdi a conta das vezes que ele decidiu me matar em uma reunião por desconfiar de mim, e eu consegui reverter a situação. Perdemos tudo, essa é a realidade.
Mesmo com a voz aparentemente calma e lenta, todos os demais integrantes da reunião apenas respiravam o suficiente para manterem-se vivos. Ninguém queria atrair a fúria evidente nos olhos do Mestre das Poções.
- Ganhamos sua vida, Severus. Você é muito importante.
- Realmente, muito, Diretor... tão importante que agora tenho de abandonar essa proveitosa reunião e ir correndo ver o que o Lord deseja com tanta urgência comigo, pois graças à sua sábia interferência eu não pude atendê-o mais cedo, deixando-o ainda mais desconfiado. Talvez eu volte. Mas irei avisar de qualquer coisa que souber, fique descansado.
- Ele pode matá-lo, Severus.
- Creia-me, caro Kingsley, esse é o menor dos meus medos. Pior será se ele souber realmente de algo, e resolver me manter vivo.
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Soneto III
Áspero amor, violeta coroada de espinhos,
cipoal entre tantas paixões eriçado, lança das dores,
corola da colera, por que caminhos
e como te dirigiste a minha alma?
Por que precipitaste teu fogo doloroso, de repente,
entre as folhas frias do meu caminho?
Quem te ensinou os passos que até mim te levaram?
que flor, que pedra, que fumaça
mostraram minha morada?
O certo é que tremeu noite pavorosa,
a aurora encheu todas as taças com teu vinho
e o sol estabeleceu sua presença celeste,
enquanto o cruel amor sem trégua me cercava,
até que lacerando-me com espadas
e espinhos abriu no coração um caminho queimante.
Pablo Neruda
Ah, a frase inicial ? é Gaelico para "my love and my delight", ou seja, "meu amor e meu prazer", o título do capítulo.
