CAPÍTULO NOVE – TERCEIRO DIA

NATAL – SEGUNDA PARTE

Mesa posta. Superfície de no máximo um metro quadrado suportando sete travessas e quatro conjuntos de prato, copo e talheres. Achamos algumas cadeiras do mesmo jeito da mesa, de ferro e dobráveis.

Olhei em volta e vi as pessoas mais importantes para mim, minha segunda família, mas tão importante quanto a primeira. Todos rindo, felizes, de bem com a vida e sem qualquer preocupação. Há quem diga que Natal é uma data a ser passada com as pessoas queridas. Se for assim, estou no lugar certo!

Para começar, um brinde. À amizade, é claro. Uma das coisas a que mais tenho que agradecer.

E a comida? Nossa! Ainda bem que eu não tinha comido nada o dia todo, então pude provar de todos os pratos e comprovar os talentos culinários da minha ruivinha. Lá pelo meio do jantar, entre uma garfada de batata rochê (N/A: se escreve assim?) e um gole de vinho, cai um pacote na minha cabeça.

'- AI!- gritei em meio à surpresa. A coruja que fez a entrega bicou minha taça e saiu voando pela janela, depois de bater na parede. Duas vezes. Era um envelope pardo grande, sem nada escrito além de um 'Feliz Natal'. Rasguei uma extremidade e caiu um porta-retrado de moldura simples vermelha. A mão da Lily o recolheu depressa.

'- Mas o quê é... O QUÊ É ISSO?- ok, ok, ela não gritou! Mas formou uma expressão de repulsa como se estivesse olhando para algo muito nojento. Realizem: Snape fazendo um striptease. É, ela ficou com essa cara que você fez agora. (Pelo menos eu faria uma cara péssima).

'- Deixe-me ver.- Sirius tomou da mão dela. Ergueu as sobrancelhas, com aquela cara de "Não sou bobo nem nada".- Bem, nada mal...

Foi a vez do Remo:

'- Oh! Então é isso.- o queixo dele foi caindo até ficar com uma cara de idiota pior do que o normal.

'- Posso ver isso agora?- pedi estendendo a mão, pois até agora não sabia do que eles estavam falando. Aluado me passou o objeto sem tirar os olhos da foto. Primeiramente só vi um tom de amarelo claro que tomava metade da figura. Depois surgiram os traços da Clío, piscando de um olho e mandando um beijo. A foto se mexia e ela dava um tchauzinho.- Hun. Nada mal.- senti um chute na canela vindo do lado da mesa em que a Lily estava.- Parabéns, Aluado, é uma bela garota.

Ele abaixou o olhar e o ar sonhador se dissipou.

'- Do que está falando? Isso veio pra você.

'- Como você sabe?- odeio as crises de inferioridade dele. Não estava óbvio que o presente era pra ele?

'- A coruja largou na sua cabeça.

'- Ah, fala sério. A coruja errou a janela antes de sair!

'- Errou a janela, mas acertou você.

'- Remo, quem anda pegando...- um chute na canela.-... digo, quem anda ficando com ela esses últimos dias?

'- E quem andou namorando ela por alguns meses atrás?

A ruivinha, já no cúmulo da impaciência, pegou o porta-retrato que eu tinha posto na mesa.

'- Só há um jeito de descobrir. Tem que ter algo escrito aqui.- ela abriu o porta-retrato, tirou a foto e leu o verso:- "Para meu querido Remo, para não se esquecer de mim. Espero que possamos nos encontrar logo. Tomara que 'esteje' tendo um ótimo Natal. Um beijo, da sua Clío."

Um silêncio se instalou.

'- Oferecida demais. E não é 'esteje', é 'esteja'.- pôs a foto de volta e deu para o Remo, que ficou babando olhando pra garota que mandava beijos.

'- Eu não disse? Como é bom estar sempre certo!

'- Ai, que lindo Reminho! Arrasando corações! Foi assim mesmo que eu te ensinei!- Sirius alfinetou.- Oooh.- bocejou fingidamente.- Não acha que está na hora de irmos dormir, Aluado?- ele concordou.- Ah, não se preocupem vocês dois, estou vendo que não estão com sono, nós não nos importamos se vocês não subirem agora. Na verdade, podem demorar o quanto quiserem, é só não fazerem muito barulho, crianças.

'- Boa noite.

Ficamos os dois sentados frente a frente.

'- Ahn...- eu disse, ela olhou para mim. Eu não tinha na verdade intenção de dizer nada, mas de quebrar o silêncio.- Ahn... Vamos, eu te ajudo com os pratos.

Eu sei, eu sei, foi algo de mais idiota que eu poderia ter dito. Mas não me ocorreu mais nada olhando para os pratos sem nenhuma comida.

Enquanto lavávamos os pratos me lembrei da conversa que tivera com meus amigos mais cedo. Hora adequada para um flashback?

(A imagem se dissolve lentamente e aparece o quarto de dormir levemente esbranquiçado).

"- E então, Pontas, é hoje?- Almofadinhas perguntou quando entrei no quarto depois do banho.

'- O quê?

'- Não se faça de desentendido.- Aluado disse enquanto lia aquele mesmo livro de antes.

'- Se não me disserem o assunto não vou poder acompanhar a conversa.

Eles se entreolharam e falaram juntos:

'- Ela.

Essa palavra em outra situação pareceria extremamente vaga, mas naquele momento resumiu perfeitamente o rumo que a conversa estava tomando.

'- Pode ser hoje, pode ser amanhã, ou daqui a um ano, não tenho pressa.

'- Não minta pra gente!- Sirius riu.- Se fosse por você, os pombinhos estariam se agarrando lá em baixo agora mesmo.

'- Agarrando? Não, isso é você com as suas. Minha relação com a Lily não é de "agarramento".

'- Não? De quê é então?

'- Boa pergunta.- afinal, o que é nossa 'relação'? Não é algo de 'casar e viver felizes para sempre', mas também não é nada só físico.

Os dois se olharam novamente. Mau sinal. Aluado fechou o livro. Péssimo sinal.

'- Que tal um teste?- ele propôs.

'- E em que isso consistiria?- perguntei receoso.

'- Apenas umas perguntas.

'- Tenho opção de recusar?

'- Ou isso ou Veritasserum. Primeira pergunta: Quantas vezes você já tentou beijá-la?

'- Hun... Incontáveis, eu acho.

'- Não cabe nos dedos das mãos, certo?

'- Certo. Mas até aí não tem nada de mais! Quantas vezes o Almofadinhas já tentou beijar a mesma garota e depois que conseguiu não quis nada com ela?

'- Ah, mas você não faria isso com ela, faria?- Remo exclamou.

'- Não! De forma alguma! Ela não é um objeto! Antes de tudo, nós somos amigos.

'- Hun... bom, bom. Última pergunta, tem que responder rápido e pensar o menos possível. Fale um nome.

'- Harry.- foi o primeiro que me veio na cabeça.

'- E pra que esse nome serviria?

'- Ah, não sei... Talvez dar para um filho. Não sei mesmo...

'- Certo, certo... Já chegou a um veredicto, Almofadinhas?

'- Com certeza, Aluado. Considero nosso amigo Potter culpado.

'- Ahn? Por qual crime?- ai ai, quem não os conhece pensa que são malucos. Não que não sejam em parte, mas...

'- Você está amando!- os dois riram.

'- Ah, isso é ridículo!- eu repetia, mas tinha que admitir para mim mesmo que a idéia de ter a ruivinha só pra mim não era nada má.

'- Já falei para não perder seu tempo mentindo para nós!

'- É, Pontas, nem com muito esforço você consegue nos enganar.

'- Tá, tá, tá! Mas eu não estou 'amando'. É uma palavra muito forte.

'- Então está o que? Apaixonado?

'- Menos.

'- Então é só uma quedinha?- Aluado carregou a frase de ironia.

'- No máximo.

'- Já sabe o que fazer?

'- Não. Mas não dizem que essas coisas nos dão inspiração para sermos espontâneos? Na hora eu penso alguma coisa.

'- Vai nessa...".

(A imagem se distorce de novo e volta a ser normal).

Saí do devaneio com um esguicho de água no rosto. Estava ajudando a garota a lavar a louça da ceia.

'- Lily!

'- Você tava tão quieto! Isso não é nada normal. Em que estava pensando?

'- Ahn... Nada.- respondi rápido demais.

'- Ah, não, pode dizer, fiquei curiosa!

'- Ahn... bem, você sabe... ahn... terremotos.

'- O quê?

'- Sabe, tremores de terra, acontece quando uma placa...

'- Eu sei o que é um terremoto, mas por que estava pensando nisso?

Olhando ela ali do meu lado, toda bonita, mangas arregaçadas, mãos cheias de espuma, cabelos presos e uma saia digamos que não muito longa, me senti no direito de falar que estava pensando em terremotos porque estava olhando para alguém que causaria um. Achei melhor abordar esse assunto em algum lugar mais propício. Ok, ok, algum lugar mais romântico. Isso soou muito "idiota apaixonado".

'- Ahn... E se acontecesse um terremoto aqui e agora? Seria horrível! Todos nós morreríamos.

'- Você já pensou no fato de todas as construções bruxas terem feitiços anti-desastres naturais?

'- Ah, é mesmo, me esqueci...

'- Tiago, você está bem?- ela chegou perto de mim e me olhou nos olhos para detectar algum sinal de mentira.

'- Melhor impossível...

'- Hun, sei... Bem, que tal se deixarmos esse resto para lavar amanhã?- disse apontando a pilha de pratos ainda sujos.

'- Ótima idéia.

'- Então podemos subir e...- ela disse saindo pela porta.

'- Não!

Ela adquiriu uma expressão interrogativa.

'- Eu queria te falar uma coisa.

'- Sou toda ouvidos.

'- Ahn... é que... Não prefere se sentar?- apontei as poltronas beges. Droga, era a única opção.

Ela transfigurou duas poltronas em um pequeno, mas aconchegante, sofá, em que nos sentamos lado a lado, muito próximos.

'- Pode falar.- ela me encorajou, muito segura.

'- Ahn... olha, primeiro tem que prometer uma coisa. Não pode rir, dar indícios de que quer rir, não pode chorar, não pode sair correndo nem nada que me faça querer me matar. Combinado?

'- Nossa! Como você é dramático. Mas se te faz feliz, eu prometo.

'- Ahn... Eu queria dizer que... ahn... eu gosto muito de você.

Ela olhou sem entender por um segundo. Então se jogou em mim dando um abraço.

'- Ah, Tiago, eu também gosto muito de você! Quem mais conhece todos os meus podres e ainda assim é meu melhor amigo?

'- Ah, ruivinha, você não tá entendendo...

'- Hahaha, adoro quando me chama de ruivinha...

'- Então, ruivinha... De que podres está falando? Você não tem podres...

'- Mas isso quer dizer que eu seria perfeita.- ela disse em voz baixa, ainda me abraçando, encostando a cabeça no meu ombro.

'- E quem disse que não é?- passei um braço, que ela olhou atentamente, por seu ombro.

'- Onde quer chegar?

'- Há algo para acontecer que já deveria ter acontecido há muito, muito tempo.- minha mão antes no ombro descendo pela milésima vez para a cintura.

'- E o que é?- ela levantou um pouco o corpo e virou de frente para mim.

Resolvi parar o papo meloso e partir para a ação. Isso mesmo. Beijei de uma vez. Mal deu tempo de ela pegar ar. Deve ter sido uma grande surpresa, porque no começo ela nem me correspondeu. No começo.

Depois do choque ela voltou a pôr as mãos nos meus ombros. Começou a me beijar de uma forma que eu nunca imaginaria. Quem diria que por trás da delicadeza da menina se esconderia a selvageria com que beijava? Ah, não sei explicar, foi algo diferente de tudo. Talvez por causa do momento.

Não posso descrever aquela sensação. Só sabia que subiu um arrepio pela minha coluna, espalhando uma energia de renovação até as pontas dos cabelos. A abracei mais forte, sentindo uma necessidade de tê-la mais e mais perto.

Devem ter passado alguns minutos, mas para mim pareceram segundos. Nos afastamos apenas o suficiente para podermos nos olhar. Ela deu um sorriso bonito, os dentes branquinhos alinhados irradiando alegria. Sorri de volta.

'- E agora, Tiago?

'- E agora o quê?

'- Como a gente fica.

'- Feliz?

'- É, mas... e amanhã? E depois?

'- Mais feliz e mais feliz.- disse dando beijos por seu rosto.

'- Tiago. Fala sério uma vez na vida. Eu não quero que as coisas mudem...

'- Não se preocupe, ruivinha, eu prometo que as coisas só vão mudar para melhor.

'- Ainda bem.- um curto silêncio.- Hun... Tiago?

'- Sim?

'- Por que isso não aconteceu antes?

'- Porque você sempre ficou me provocando pra depois fugir.

'- E eu só fazia isso porque você fazia.

'- A gente não devia ser assim.

'- Assim como?

'- Pensando bem, não fez diferença a gente enrolar por tanto tempo, por que no final não fez diferença mesmo, só que se tivesse acontecido antes não estaria acontecendo agora, mas em compensação poderíamos ter aproveitado muito mais, então—

'- Pssss...

'- Falando demais de novo?

'- Aham.

Rimos. Então me lembrei de uma coisa que não podia faltar ali.

'- Ruivinha! Eu tenho um presente pra você.

'- Mas você já me deu presente...

'- Mas tem outro. Accio presente.

A caixinha veio voando para a minha mão. Ela se soltou de mim e ficamos frente a frente. Estendi o presente e ela pegou. Ficou olhando fixamente com um brilho lindo nos olhos lindos.

'- É daquela loja...

'- Aham. Não vai abrir?

E assim ela o fez. Sorriu ao ver o casal exatamente igual aos vendedores - ou melhor, a nós - rodando e rodando com a música.

'- Como você conseguiu? Não era feito por encomenda?

'- Tenho muita influência, sabe... Foi só pedir e...- estalei os dedos.- pronto.

A música parou, e o casal também. Lily ia dar corda na caixinha, quando esta saiu de suas mãos e começou a flutuar. Isso decididamente não estava nos planos.

A caixa ficou pairando aberta entre nós dois. Começou a sair de dentro dela uma fumaça branca que nos envolveu, mas ainda deixou que víssemos os rostos um do outro.

'- Tiago, o que é isso?

'- Ahn... Surpresa!- Não preciso me preocupar em ter mentido, foi realmente uma surpresa, para ela, mas para mim também. Espero que não aconteça nenhuma coisa ruim.

Entre nossas caras surpresas o casal de madeira saiu da caixinha e ganhou movimentos soltos. Uma música diferente da primeira começou e o mini-casal dançou mais devagar. No final da música o mini-homem parou e se ajoelhou em frente à mocinha.

Os vendedores decididamente esqueceram de mencionar que isso aconteceria. E SE O MINI-HOMEM FOSSE FAZER UM PEDIDO DE NOIVADO?

Ai meu Merlin, estou muito novo para casar. E muito menos vou explicar pra Lily que não encomendei o presente dela, só peguei um de outra pessoa, estou muito novo para morrer e ela muito nova para ir presa por assassinato.

Graças às forças superiores que controlam o Universo não aconteceu um pedido de casamento. O bonequinho mexeu a boca e a fumaça branca se juntou no ar, formando as letras de: "Ruiva, fica comigo para sempre?".

Lily olhou para mim com o sorriso mais radiante que já a vi dar para mim. Jogou-se em cima de mim novamente e deu outro daqueles beijos. Uau! Quando se separou de mim, perguntou:

'- O que isso significa?

'- Ahn... Não está subentendido?- tentei ganhar tempo para pensar em algo.

'- Na verdade, não.

'- Ahn... é um pedido de namoro, ruivinha.- foi muito espontâneo. Era a única coisa que eu poderia pensar no momento.

Ela só ficou me olhando abismada.

'- Poxa, não vai me responder?

'- Desculpa, eu só fiquei... surpresa. Afinal de contas, Tiago Potter não namora.- ela terminou rindo.

'- Ah, é? Você o conhece tão bem assim?- ela assentiu.- Aposto que não mais do que eu conheço.

'- Sei o suficiente sobre ele para saber da sua fama.

'- Ah, mas aconteceu uma coisa que mudou completamente a mente dele.

'- Acredito...

'- Com fama ou não, ruivinha, ainda não respondeu minha pergunta. Aceita ou não?

'- Hun... deixa eu ver...- ela fingiu pensar em algo difícil.- acho que não tenho como recusar!

O mini-casal, que nos observava, se abraçou feliz. O homenzinho rodou a mocinha no ar, e deu um beijo de dobrar a coluna. Puxei minha namorada (que estranho dizer, ou melhor, pensar isso) para ficarmos de pé e fiz o mesmo que o casal de brinquedo. Este se curvou em nossa direção em agradecimento e pulou para dentro da caixa, onde ficou imóvel.

Depois de um último beijo (tá, não foi só um) subimos e nos trocamos para dormir, ela no banheiro, eu no quarto. Após uma certa hesitação para deitarmos, nos cobrimos com o cobertor, olhando um para o outro. Ela sorriu e fechou os olhos.

Merlin, que coisa boa. Estou com vontade de pular, gritar para o mundo que ela é só minha, correr cinco quarteirões sem parar. Que vontade de cantar.

"I feel good. I knew that I would now. So good, so good! I've got you! I feel nice, like sugar and spice! So nice, so nice! I've got you!"


ooooooooooooooooooi!

gente, respostas curtas, estou sem tempo, mas amei as reviews!

As Beldades: Lily? Sortuda? Sortuda é pouco! E o Tuiaguito não é de se jogar fora, é de guardar e conservar pras gerações futuras! Beijos!

MOXA: o que achou da surpresa da Lily? decepcionou? Espero que não! Beijos!

Thaty: que bom que tá gostando! espero que continue lendo! Beijos!

Flavinha Greeneye: ai, não consegui mandar DE NOVO. acabei de acabar esse cap. E claro que os vendedores clones nao iam prejudicar eles, até ajudaram! Beijos!

nattttttttt: hahhahahahha, adorei sua review! taí a continuação do último cap. Beijos!

GaBi PoTTeR: Ah, eu adoro o casal clone! mas a participação deles acaba aí! Sobra pra gente Lily e Tiago. Que pena, não?

aNiTa JOyCe BeLiCe: com um Natal assim, ninguém precisa do resto do ano, né? Beijos!

Mah Clarinha: posteei! espero sinceramente que a caixinha nao decepcione! Tiago fofo sempre ) Beijos!

Cecelitxa E. Black: não é idiota? mesmo? hahaha. surpresa da Lily e dele também né? espero que goste! Beijos!

beeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeijos!