Capítulo Três
Além do Óbvio
— Lílian! Você não está entendendo a situação! — exclamou Chris, atravessando a porta de madeira que separava o dormitório do banheiro. Os cabelos negros pingavam no chão e seu corpo gordinho se escondia atrás da toalha cor de rosa. — Eu tive que ficar quase a noite inteira com aqueles três, enquanto a Srta. Evans ia para a importante reunião de monitoria! Francamente! — bufou, colocando a blusa de linho branco. — Até que Remo Lupin é bem simpático e realmente inteligente, e Black não se saiu tão mal durante a nossa conversa. Mas o outro? Mantenho tudo o que sempre disse — confessou. — Por mais que eu tente, creio que nunca vou abandonar a idéia de que Pettigrew é um lesado!
A garota sentou-se sobre sua cama para calçar os sapatos. Ela realmente se vestia muito rápido!
A ruiva riu do modo louco da amiga.
— Desculpe-me por ter esquecido a reunião, Chris! Era isso que você queria ouvir? — perguntou, divertida.
— Sim, Lily! Muitíssimo obrigada por fingir que tem alguma consideração por sua amiga — confessou em meio a uma gargalhada alta. — Não faz idéia de como isso toca meu coração!
— Ah, deixe de fazer melodrama e me conte logo se descobriu alguma coisa — ordenou, mais do que pediu, puxando a amiga para se sentar ao seu lado. — Eu sei que estamos atrasadas para o café, mas um minuto a mais ou a menos não fará diferença!
Christine sorriu do jeito afoito da amiga. Para uma garota de dezessete anos, ela parecia até que bem equilibrada, mas qualquer vestígio de curiosidade simplesmente a matava e a morena sabia disso com exatidão.
— A única coisa que me incomodou bastante foi o fato de, às vezes, eles usarem alguns códigos para se comunicar entre eles. Faziam menções a coisas que tinham acontecido e depois não explicavam nada… Juro que quase pulei sobre um deles para que contassem do que raios estavam falando, mas eu sou mais controlada que você, minha cara amiga — confessou, mostrando a língua. — E, além disso, eles se chamavam por apelidos estranhos, como Rabicho, Aluado e Almofadinhas.
— Eu me lembro de ter ouvido esses apelidos antes — disse Lílian, pensativa. — Mas, de qualquer maneira, nosso alvo é a coisa mais difícil do mundo de se descobrir por gestos ou palavras. Afinal, precisamos saber como eles se transformaram em animagos…
— Ilegalmente e com a ajuda de alguém. Acho impossível que tenham conseguido sozinhos. — Chris parou de mexer no seu cabelo um instante. — Mas pensamos nisto depois. Afinal, temos aula agora, não é mesmo, Srta. Evans? — perguntou, empurrando a ruiva para fora do quarto.
— Nós ainda temos tempo para tomar café, Chris… — gemeu a garota, como que implorando por mais tempo de conversa.
— E eu, como uma humana, preciso de comida! — exclamou, rindo.
Tédio. Aquela era a única palavra que preenchia todos os últimos pensamentos ainda acordados de Tiago Potter. Não que seus olhos estivessem fechados em um descanso breve, mas o mero fato de já saber tudo sobre animagos fazia com que seu interesse se dissipasse da sua mente por minutos a fio.
Assim, fingia que rabiscava anotações extras em sua folha de pergaminho mais amassada, enquanto tentava pensar em algo que realmente o interessasse, mesmo que o sono não o ajudasse.
— Ai! — resmungou assim que sentiu sua cabeça ser atingida por uma imensa bola de pergaminho amassado. Olhou para Sirius e Remo do outro lado da sala, que riam loucamente, e agarrou o papel.
"Cara, você está mais entediado do que a gente, não é mesmo? Bom, como ótimos amigos que somos, resolvemos salvar o seu cérebro enquanto há tempo; afinal, o que seria de nós se, além do Pedrinho, você também não pensasse?"
Tiago sorriu do modo desorganizado como o bilhete tinha sido escrito. A letra dos outros dois se misturava em algo mirabolante.
Pulando os primeiros três parágrafos de típica zoação, seguiu para a parte que o ajudaria o "salvar o cérebro".
"Segundo Remo, aquela amiga da sua cenourinha agiu de modo realmente encantador ao ser simpática e risonha. Entretanto, levantei a hipótese de que aqueles sorrisos e gestos meigos eram exagerados e arquitetados demais. Conversei com o nosso querido Aluado e ele concordou com a minha humilde opinião. Assim sendo, concluímos que há muito mais do que boa vontade e ânsia por paz atrás daquela cena toda e pensamos se não seria muitíssimo melhor se começássemos a agir com o nosso plano de ataque! Como temos jogo de Quadribol daqui a algumas semanas, acho melhor irmos hoje à biblioteca. Como faremos a pesquisa resolvemos depois, mas espero que você apareça, já que seria muito ruim se aquela garota estressada revelasse algo a nosso respeito sem que pudéssemos revelar algo sobre ela (sei que você não aprova a idéia, mas, mesmo assim, sinta seu espírito maroto!). Hoje, depois do almoço, na biblioteca! Ass.: Aluado e Almofadinhas"
O moreno ajeitou os óculos e bagunçou ainda mais os cabelos negros. Achava o mesmo que os amigos e seu espírito maroto já estava vivo há muito tempo. Precisavam descobrir algo para que se defendessem de Lílian Evans e Christine Miller.
Mirou as duas, sentadas em umas das primeiras cadeiras. Sorriam demais e pareciam as mais interessadas da sala. Havia alguma coisa que escondiam e, em breve, ele também teria algo para esconder.
Sorriu maliciosamente e acenou para os amigos, concordando.
- Não viemos até aqui para bisbilhotar. – Mordeu a língua, embora o que dissera não fosse a verdade que seu coração denunciava.
- Eu acho que não – disse a amiga, rindo. – Afinal, viemos ver a chegada do luar. Todos os alunos têm permissão para ver o luar. – Sorriu ao ouvir um muxoxo feito pela ruiva. – Penúltimo dia de lua cheia…
O mês havia passado rapidamente e os dias atropelavam os outros de forma mais rápida que um grande tufão. Antes que vissem, já estavam quase no fim de mais uma semana de lua cheia, e aquilo era, definitivamente, amedrontador.
- Talvez seja comum… – gaguejou -… adolescentes estarem passeando por Hogwarts, mesmo que o tempo seja de congelar nossos corpos. - A ruiva tremeu com a brisa que atravessou o caminho de ambas.
- Talvez seja comum estarmos congelando, enquanto poderíamos estar desfrutando de um delicioso chocolate quente. Deitadas em nossas camas e cobertas por um grosso edredom que nos faria viver feliz por alguns momentos, enquanto a teimosia de uma certa ruiva não viesse nos perturbar… – ironizou.
- Talvez fosse melhor uma certa Senhorita Chris parar de resmungar e continuar seu caminho sem reclamar da vida…
- Talvez seja normal uma monitora-chefe estar passeando com sua melhor amiga, enquanto deveria estar monitorando os alunos do primeiro ano para que eles não sejam imbecis de rasgar mais quadros resmungões…
- Chega! – Lílian olhou-a, desapontada.
- Eu disse que 'talvez' tudo isso seja comum.
- O fato é que você está sendo completamente irônica nesses últimos dias e, no entanto, não sei se gosto dessa mudança radical que você anda tomando com relação a minha adorável pessoa. – Prendeu a respiração com a torrente de ar gélido que lhe arrepiou por completo.
- 'Talvez' eu esteja me assemelhando a você. – Os cachos chocolate voavam de acordo com os ventos cortantes. – Lily, acho melhor voltarmos…
- Não! – gritou para que a amiga pudesse ouvir com mais clareza. Se haviam chegado até ali, não poderiam voltar. Ou então, seria melhor nem mesmo terem saído do castelo. – Eu já lhe disse que hoje vamos pegar o nosso querido Remo em um momento de 'transformação'… Não mudarei de idéia!
- Mas…
- Não há 'mas' nesta história. – Apertou os passos para que pudessem andar mais rapidamente.
- Não sei por que motivo eu teimo em lhe dar ouvidos – sussurrou.
Lílian a ignorou, seguindo o movimento do vento para que pudesse enxergar melhor o caminho até o Salgueiro Lutador. A árvore gigante, que anteriormente havia passado a amedrontá-la, naquele momento seria uma grande centelha para que pudesse desvendar os segredos mais profundos dos marotos.
Às vezes, em meio a pensamentos silenciosos, ela podia ouvir claramente o sussurro de alguém mais forte que ela. Ela poderia sentir sua pele arder quando este ousava lhe atiçar. Mas, como muitas vezes fazia, apenas ignorava. Somente daquela forma podia lidar com qualquer obstáculo. No entanto, ignorar o segredo daqueles garotos que lhe tiravam a paciência - desafiando as regras, brincando com seu próprio fogo - não era exatamente possível.
Não havia sinal algum de pessoas vagando pela noite. Apenas o som dos ventos se combatendo soava em seus ouvidos. E os mesmos entravam por suas narinas, arrepiando-a por inteiro. Se pensasse no que a amiga havia comentado, de estarem quentes e saboreando um doce chocolate quente, talvez fosse capaz de voltar. Resolveu por fim manter sua atenção em outros pensamentos. Alguns de vingança. Os marotos. Como pudera ser tão descuidada e ter-se esquecido de checá-los antes que pudessem encontrá-las no caminho?
Olhando para a amiga, que cantava uma música baixinho enquanto tentava se esquentar abraçando a si mesma, pensou no quanto não andava muito bem naquelas ultimas semanas. E seu mal-estar parecia mais freqüente do que o normal.
- Hey Jude, don't make it bad… Take a sad song and make it better… - A voz de Chris tremia pelo frio que lhe agitava o corpo. - Remember to let her into your heart…
Misteriosamente, o som ritmado que a amiga produzia lhe trouxe novas lembranças, que naquele momento haviam se tornado passado. A letra concordava com seus pensamentos e tudo o que se viu fazer foi sorrir para a morena que continuava cantando, sem se preocupar com problemas. Admirava essa virtude de Chris.
- Then you can start to make it better… - Continuou olhando-a. A outra sorriu, denunciando as covinhas perfeitas de seu rosto redondo.
A fumaça que esvaía de suas bocas mantinha uma tonalidade roxa e misturava as lembranças do quanto a amizade entre as duas sempre fora forte. E sempre seria, enquanto pudessem estar juntas. Mesmo entre brigas mútuas e discussões insignificantes, a pitada de amor, sinceridade e, principalmente, confiança as inundava como uma verdadeira onda. Uma onda simples, porém prazerosa, capaz de contagiar qualquer pensamento ruim. Eram as amizades, lembrou Lílian, que verdadeiramente valiam a pena.
- Eu me lembro do quanto havia sido complicado para mim admitir que existia uma pessoa que podia entender os meus momentos loucos… Quero dizer, eu nunca tinha tido uma amiga antes, e todas as conversas boas que tive com Petúnia eram sempre na hora dos presentes de Natal – brincou, passando a mão entre os cabelos.
Lembrar de Petúnia não era exatamente sobre o que gostaria de pensar naquele momento. Afinal, a lembrança de suas brigas infantis e as frases agonizantes que ela era capaz de jogar para machucar qualquer um certamente demonstravam o quanto a personalidade forte e nervosa da irmã não agradava ninguém.
- Quando vi você pela primeira vez no vagão, quieta, com a face avermelhada e os olhos mais brilhantes e tristes do mundo, um vazio grande me corroeu por dentro. Não pensei duas vezes. Corri para falar com você. Minha mãe sempre fazia a mesma coisa comigo; sentava ao meu lado e começávamos a discutir o assunto que me perturbava. Mesmo que isso significasse perda de tempo, eu sempre fui uma garota mimada que gostava das coisas do meu jeito, e se alguém discordasse, algo aconteceria de ruim, é claro… – Chris deu de ombros. – Foi aí que resolvi…
- Me entregar essa música! – falou a ruiva rapidamente. – Acredite… Eu fiquei surpreendentemente feliz!
- Parece justo – ela concordou. – Achei que deveria usar toda a ajuda que conseguisse, não importando a fonte. Afinal, é sempre bom ajudar as pessoas quando elas mais precisam. Dá um gostinho doce de amor no coração.
- Concordo… – comentou, olhando para o céu, que naquele momento já dizia que a lua estava por vir a qualquer instante. – Eu estava infeliz porque achava que jamais encontraria alguém para conversar, depois de meus pais… Você sabe… – Respirou fundo. – Minha timidez é capaz de me dominar quando estou triste. Separar-me de meus pais era como perder minha sombra. E ninguém vive sem uma sombra. – Abriu um sorriso.
- Sabe qual foi meu primeiro pensamento ao ver você estatelada no chão do banheiro da cabine, chorando como nunca? – Esperou um instante, inclinando a cabeça, de forma que a pudesse olhar mais apropriadamente para Lílian.
- Qual? – indagou.
- Nunca vi um cabelo tão vermelho como este em toda a minha vida. – As duas riram, esquecendo por longos momentos de sua respectiva missão. Os marotos pareciam ter sumido de suas mentes e a necessidade de relembrar antigas lembranças as encantava.
Aquela música em especial fora o momento nostálgico do começo de uma relação de amizade. Depois que Chris lhe entregara a música, a ruiva percebera que não estava sozinha por completo no final das contas. Desde então, passaram a viver e compartilhar momentos cômicos, tristes, tediosos e até mesmo… briguentos… O brotinho de amizade, que naquele dia no vagão fora plantado em seus corações, crescera e se tornara o que ambas eram naquele momento. Unha e carne. O prazer de estarem juntas. Semelhantes a verdadeiras irmãs. Mesmo que sua genética não concordasse com essa afirmação…
- Hey Jude, don't be afraid… You were made to go out and get her… - A voz doce de Lílian soou, inundando seus corações, Fossem eles felizes ou emocionados pelo momento. - The minute you let her under your skin... Then you begin to make it better…
Chris levou as mãos à cintura, piscando centenas de vezes, de forma brincalhona.
- And anytime you feel the pain, hey Jude, refrain… – Uma dupla muito unida. Foi essa a frase que seu coração lhe sussurrou. - Don't carry the world upon your shoulders… For well you know that it's a fool who plays it cool… – Lílian batia palmas no ritmo da música e sorria, soltando gargalhadas altas. - By making his world a little colder…
O dia já tinha amanhecido há muito tempo e, aparentemente, Lílian e Chris haviam se distraído do objetivo tão obsessivo para que pudessem aproveitar aquele dia frio revendo fotos e lembranças. As duas dormiam serenamente na cama grande da ruiva. Dezenas de papéis, fotos, cartas e milhares de outras coisas se espalhavam não só sobre o tecido grosso do edredom, como por quase todo o chão. A noite tinha sido adorável para elas.
Entretanto, toda aquela serenidade não se espalhava pelo colégio do modo tão doce como poderia. A alguns quilômetros dali, enroscados entre seus casacos, cachecóis, luvas e gorrinhos coloridos, Tiago, Sirius e Pedro adicionavam cada vez mais livros a uma enorme pilha que, não se sabe como, mantinha-se em pé.
— Você poderia levantar esse traseiro gordo daí e vir me ajudar, não é mesmo, Rabicho? — resmungou Sirius, tentando se equilibrar na escada velha e bamba.
— Eu estou congelando! — sussurrou, A fumaça exalando de seus lábios quase roxos. — A biblioteca não tem aquecimento?
— Claro que tem! — afirmou convicto Tiago, aparecendo com mais uns cinco livros. — O fato é que você parece não se contentar com o tanto de calor que temos aqui dentro.
O menino mirou o tanto de livros por um momento e passou a língua brevemente pelos lábios secos até então. Deveria haver, no mínimo, uns trinta ali em cima da mesa e, ainda assim, ele achava que não fossem ser suficientes. Metade já tinha sido descartada e a outra metade seria lida mais uma vez. Aquilo estava sendo difícil demais.
— Precisamos do Aluado — confessou Sirius, descendo do banquinho com mais um livro. — Nós lemos todas essas coisas tantas e tantas vezes que, daqui a mais um tempo, sinto que nem terei de estudar nas vésperas das provas. Saberei todos os feitiços, maldições e qualquer coisa profundamente estranha de cor! — ele riu e se sentou em uma das cadeiras, começando a folhear o livro gigantesco que havia pego.
— Ele já teve estar vindo para cá! — disse, tirando os óculos e esfregando os olhos. — Já passou do meio-dia e, do modo como Aluado tem se recuperado bem…
Não foi preciso nem ao menos completar a frase. O garoto moreno entrou na sala naquele momento. Os casacos pretos que quase tocavam o chão destacavam sua palidez, e os olhos castanhos pareciam mais cansados que o habitual. Seus cabelos castanhos caíam sobre o rosto, escondendo sua profunda fraqueza.
— Deixaram você sair! — exclamou Pedrinho, puxando uma cadeira para que o amigo se sentasse. — Estávamos começando a achar que fossem te prender lá, como sempre.
— Na verdade, eu fugi! — admitiu, em meio a um riso fraco. — Disseram que era melhor eu ficar lá, porque hoje seria a última noite e tudo mais. Como se fizesse diferença… — Deixou um suspiro escapar de seus lábios.
— Mas o remédio fez mais efeito hoje, não? — perguntou Sirius, sorrindo.
Remo arregalou os olhos e riu ironicamente.
— Prefiro não perguntar o que raios vocês fizeram com a minha poção e pular logo para a parte que interessa — brincou, enquanto tirava da sua mochila um livrinho tão pequeno que, talvez, fosse possível engoli-lo se você fosse um meio gigante.
— De onde surgiu este livro, Aluado? — perguntou Tiago, segurando a coisinha entre seus dedos largos e magricelas.
— Da magnífica coleção particular do meu pai. Eu escrevi para ele, explicando que estava fazendo uma pesquisa sobre maldições e feitiços antigos para as minhas aulas, e papai acreditou. Me enviou meia dúzia de livros, mas somente este, em particular, nos interessa — contou, apontando para o livro amarelado logo em seguida.
— Você descobriu o que a Evans esconde? — Pedro levantou-se animado, recebendo um olhar de reprovação dos amigos. Ninguém além deles deveria saber daquilo. — Desculpem se eu fico mais feliz que outras pessoas… — resmungou, voltando a se sentar na cadeira que rangia.
— Eu já estava perdendo as esperanças quando vi escrito no índice: Maldições Ocultas. Eu sei que parece idiota, mas Lílian Evans não mostra que tem qualquer coisa, embora nós saibamos que tenha. Não é como… — ele pareceu pensar um instante e balançou a cabeça, reprovando a si mesmo. – Não é como ser um lobisomem. Maldições ocultas às vezes só são descobertas quando as pessoas já estão mortas. Elas se escondem com tanta precisão dentro das pessoas que podem até mesmo ser lançadas antes da pessoa nascer, sequer existir. — Os outros olhavam com ar confuso. Lílian Evans tinha dado provas de que tinha algo obscuro. — Eu sei o que devem estar pensando. Entretanto, quando a maldição tem cura, ela sempre aparece em algum momento. Seja em forma de sonhos, de acontecimentos estranhos.
— Isso quer dizer que Lily pode estar… amaldiçoada? — Tiago estava estático de susto e excitação. Aquilo era simplesmente fantástico demais.
— Olhem aqui. — Lupin bagunçou os cabelos e, molhando a ponta do dedo na língua, foi passando de folha em folha.
"Maldição Concipium Improbio: antigos sábios diziam que se relacionava ao modo como os primeiros grandes bruxos da história começavam a descobrir que possuíam poderes. Acontecimentos fora do normal cercavam-nos mesmo quando não sentiam ódio ou felicidade. Entretanto, tais fatores simplesmente contribuíram para que o mundo bruxo fosse construído e arquitetado com precisão. Com o tempo, estes mesmos fatores começavam a ficar cada vez mais fracos, atingindo somente os jovens de onze anos (idade em que os poderes de bruxo são atribuídos às pessoas), e passaram a não se relacionar aos seus sentimentos. Entretanto, bruxos das trevas se aproveitaram de tal 'antiga tradição' para transformar os fatores já tão amenizados em algo maior e perigoso, transformando-os em uma maldição forte e pouco conhecida entre os bruxos".
— É só isso! — perguntou Sirius, escandalizado. — Como pode um livro deixar uma pessoa tão curiosa e não matar sua curiosidade? — Jogou-se sobre sua cadeira, bufando.
— Não tem mais nada, Aluado? — Tiago se permitiu folhear o livro dezenas de vezes.
— Acreditem, fiquei tão curioso quanto vocês. Mas essa é a primeira grande evidência que encontramos até hoje! Até então, não fazíamos idéia do que a Evans podia estar escondendo — disse calmamente.
— Vocês acham que ela pode… pode ter esta tal maldição? — Pedro levantou-se e aproximou seu corpo gordinho da mesa, oscilante.
— Talvez. E, sinceramente? Isso não me anima muito… É uma maldição das trevas, não deve ser tão simples. — Aluado recostou-se na cadeira, cruzando os braços. — E, agora, eu sinto que precisamos descobrir isso não só para termos nosso material, mas também para, se for algo sério, avisarmos a Evans do perigo que corre.
— O único superdetalhe, Remo, é que, como diz o livro, é uma maldição quase que desconhecida. Não a encontramos em nenhum livro! Como poderemos descobrir qualquer coisa que não seja a relação histórica dessa merda? — A voz e a inquietação de Sirius aumentavam cada vez mais.
Todos se calaram, como se imaginando alguma idéia. Esfregaram os olhos, coçaram os narizes, admiraram o nada por tempo demais. Somente o som da brisa fria estalava em seus ouvidos desatentos para distraí-los.
— Tive uma idéia brilhante! — exclamou Tiago, se levantando. Todos olharam para o garoto, esperando que ele falasse logo. — Conheço uma pessoa que é expert em feitiços.
— Você quer falar logo antes que eu seja obrigado a lhe rachar o queixo? — pediu Sirius de modo implicante.
— Cecil — anunciou, fazendo com que um sorriso tipicamente maroto se formasse na face de cada um daqueles jovens.
Não havia sol iluminando seu rosto quando ela decidiu entreabrir seus olhos. As janelas do quarto estavam abertas e mostravam o dia gélido. As nuvens cinza enchiam o céu, não deixando que o sol brilhasse. Olhou para os lados e se assustou com a bagunça.
— Chris, acorde! — sussurrou, balançando a amiga. — Acho que já é tarde…
A morena espreguiçou-se longamente, bagunçando os cabelos cacheados ainda mais. Esticou as pernas e moveu-se como uma gata para fora da cama. Mirou-se no espelho, horrorizada.
— Eu pareço um macaco! — gemeu, sentando-se na penteadeira da amiga para escovar seus cabelos, enquanto observava Lílian se enrolar cada vez mais nos lençóis e cobertores. — Achei muito humilde da sua parte ter deixado sua típica obsessão de detetive para que pudéssemos passar um tempo como antigamente — confessou em meio a um sorriso.
— Oras, Chris, devemos confraternizar com outras pessoas além dos marotos às vezes… — brincou ironicamente, recebendo uma almofada em resposta. — Foi ótimo lembrar os nossos bons momentos e ouvir Hey Jude até tarde, enquanto comíamos besteiras no meio da madrugada.
— Também acho Srta. Evans, embora tenha de discordar com o seu primeiro argumento. Os marotos não podem ser deixados de lado, sendo tão importantes como são — respondeu, contendo a gargalhada que teimava em querer escapar da sua garganta.
E, rindo, elas começaram a se arrumar, já que, afinal, tinham que ao menos tentar aproveitar aquele sábado.
Ela não sabia por que estava com tanta pressa, mas ainda assim não fazia questão de conter os passos largos e rápidos. O frio atravessava a lã grossa do seu casaco de gola alta e fazia com que fosse quase impossível até mesmo andar. É, talvez fosse aquele o motivo por ir tão rápido. Tinha que garantir que todos os seus músculos continuassem a funcionar.
Mechas castanhas caíam da fivela de metal, que prendia o cabelo em uma altura relativamente alta, e alcançavam o rosto de bochechas rosadas e olhos de cor mais escura que os cabelos. Seguros entre os braços aflitos da garota, dois livros se aconchegavam e, até então, o chão seria a visão mais apropriada se um corpo mais alto que o seu não tivesse se posto a sua frente, tirando sua atenção da cor acinzentada do cimento.
— Tiago Potter! — exclamou, se jogando sobre o pescoço do garoto, recebendo um abraço apertado de volta.
— Cecil Potter! — disse de modo divertido, enquanto se afastavam.
— Por favor, ninguém nunca se lembra do meu primeiro sobrenome priminho — riu, apertando-lhe as bochechas.
— Cil, você pode ir comigo até o salão comunal da Grifinória? Preciso da sua superinteligência em feitiços com uma coisa muitíssimo importante! — pediu docemente, um sorriso carinhoso estampado no rosto.
Cecil Potter Dockman era a única prima de Tiago Potter e, por mais que aquilo soasse estranho para alguns, era perfeitamente normal para eles. Tinham sido criados juntos e mantinham um grande afeto um pelo outro, quase como o de irmãos. Não que vivessem brigando, até porque, na realidade, eles se davam muitíssimo bem, mas confiavam um no outro de forma absurda, deixando claro o quão singelo era o sentimento que mantinham.
A menina de cabelos castanho-claros até a altura dos ombros era filha da tia paterna do moreno e, talvez por isso, ela fosse uma lufa-lufa. Toda a grande família Dockman havia cursado naquela casa e ela tinha poucas chances de ser diferente. Era quase como a tradição que levava todos os Weasley a irem para a Grifinória.
— O que o Sr. precisa agora? — Se não estivesse com tanto frio, a cara engraçada teria sido acompanhada de mãos na cintura. Entretanto, ela não se atreveu a parar de abraçar o corpo.
— Não é algo que se possa comentar no meio do corredor — respondeu rindo, a outra o seguiu. Fumaça saia dos lábios secos. — Você está mais fria do que eu, Cil! Vamos… Juro que não é nada que poderá trazer ao seu primo favorito uma detenção — disse, beijando os dedos.
— Certo, eu aceito, Ti. — O garoto sorriu abertamente e passou o braço sobre os ombros da prima, abraçando-a enquanto andavam até a torre. — Mas… Você não é meu primo favorito — brincou, gargalhando.
— Vamos, seu grande sabichão! Se entende tanto de xadrez bruxo como diz, faça com que eu não vença na próxima jogada. — Rabicho parecia ter esquecido o seu frio tão imenso e amedrontador. Seus casacos estavam jogados sobre a cadeira velha de madeira e o nó da gravata listrada, nas cores amarelo e laranja, já havia se desfeito. Aquele era seu grande dote. Ser um excelentíssimo jogador de xadrez (tanto bruxo quanto trouxa).
Sirius moveu-se desconfortavelmente na poltrona gasta do quarto. Não tinha mais saída; perderia e, como punição, deveria cumprir o desafio que o amigo lhe propusesse. Não que realmentetivesse medo das "grandes idéias" de Pedrinho, mas, naquele dia, os olhos do amigo refletiam um ar maligno, como se algo estivesse sendo tramado por de trás daqueles cabelos loiros.
— Oras, Rabicho, isso é tão particularmente impossível que eu me rendo! — bufou, esfregando os olhos. — Peão, para frente. — A pecinha lindamente polida caminhou lenta, preparada para ser trucidada. Pedro sorriu abertamente e disse seu comando.
— Xeque-mate! — gritou, batendo vitoriosamente sobre o tabuleiro, sem se importar com as peças que reclamavam do escândalo desnecessário. — Agora, deixe-me pensar qual será seu castigo… — disse, fazendo cara de pensativo. Lupin escondia sua risada e Sirius mirava o garoto gordinho com cara de tédio.
Estavam os três no quarto de monitor-chefe da Grifinória, aquele que pertencia a Tiago. Largados prazerosamente entre os cobertores, almofadas e poltronas não tão belamente enfeitadas, se deleitavam com um mero fato: ali estava quente! Quente graças ao fato de ser o quarto mais próximo ao local onde o feitiço de aquecimento do colégio havia sido lançado.
Todavia, não era somenteaquele o motivo de estarem reunidos àquele horário da tarde. Tiago havia recebido a missão de capturar sua prima em algum dos tantos corredores do colégio e levá-la até lá. Precisavam de ajuda urgentemente e ela era a fonte mais apreciável. Nenhum deles imaginava o porquê de nunca terem pensado nela antes, afinal, Cecil era perita em feitiços.
— Estou começando a considerar a idéia de que Tiago achou algum divertimento no meio do caminho — resmungou Lupin, mirando o relógio de pulso que permanecia parado desde o momento em que pisara em Hogwarts. Por que, afinal, objetos trouxas não podiam funcionar ali?
— Divertimento… Desde que a obsessão pela cenourinha surgiu, ele não consegue mais tempo para "coisas fúteis" — brincou Sirius com uma voz fina e ridícula demais para ser descrita.
Aluado deu de ombros e jogou-se novamente na cama. Os braços estirados, a gravata solta no pescoço e os quatro primeiro botões da camisa abertos. Estava realmente quente ali dentro. Ele fechou os olhos por um breve momento. Naquela noite, a lua seria minguante.
— Olá, amigos! — a voz de Tiago atingiu seus ouvidos, mas seus olhos estavam pesados demais para enxergar o amigo. Entretanto, seu tom possuía a mesma ironia de sempre. — Desculpem a demora, mas encontrar uma única pessoa em um castelo tão grande quanto este não é uma tarefa tão fácil quanto parece! — exclamou, tirando o sobretudo e abrindo o primeiro botão da camisa.
— Mas você a encontrou, não foi? — perguntou Sirius, esperando que o outro respondesse. Rabicho permanecia com os olhos vidrados e Lupin parecia dormir.
— Mas é claro! Eu não seria um maroto se não conseguisse, não é mesmo? — piscou sorridente. O Mapa Maroto era muito útil! — Venha, Cil, não se deixe intimidar por Sirius Black — brincou, puxando a prima para dentro do quarto. Ela balançou a cabeça.
— Sirius Black só intimida as garotinhas do terceiro ano — riu marotamente. Mesmo que sua timidez fosse algo escaldante, ela conseguia ter um humor peculiar.
Todos sorriram com a piadinha, mas o silêncio permaneceu até que Tiago voltasse a falar.
— Eu sei que o quarto está meio bagunçado, — observou — mas quem liga, afinal? Não está como o lá de casa, não é mesmo? — A menina riu e negou fortemente, enquanto largava os livros sobre a escrivaninha.
— Vamos, Cil, tire estes casacos, está calor aqui dentro — sugeriu, puxando os casacos maiores para longe do corpo da menina, deixando-a somente com um pulôver marrom-café que contrastava com o rosto pálido.
– Ti! — exclamou, segurando seus braços. — Acho que a mudança de temperatura afetou seu raciocínio. Pare de falar um instante… — riu. — Eu já vim aqui antes, não? Sei de todas as coisas — afirmou sorridente, virando-se para os dois rapazes que sentavam nas poltronas. — É um prazer. Olá! — Acenou brevemente e ajeitou a franja atrás da orelha.
— Sirius você já conhece. — Era verdade. Parecia que todos os natais ele tinha que estar presente, mas, no final das contas, ela não ligava. Ele era simpático. Talvez por saber que era com a prima do seu amigo que conversava, a sua quase irmã. — Este é o Pedro e o acabado em cima da cama é Remo Lupin — apresentou.
Lupin entreabriu os olhos lentamente e observou a silhueta da moça aparecer pouco a pouco. As cores vinham em pequenos punhados e sua consciência só retornou quando pôde vê-la totalmente. Os cabelos castanhos e a pele levemente rosada pelo frio.
Levou um susto e ergueu-se, encabulado. Estava praticamente sem camisa e, por isso, tratou de fechá-la rapidamente. Não que seu porte físico fosse ruim, mas o mero fato de ter certeza que uma garota o estava olhando seminu já levava a suas bochechas uma vermelhidão nítida. Remo Lupin não era o garanhão da turma. Era o mais tímido e recatado, na realidade.
Cecil sorriu docemente e ele retribuiu. Aquilo tinha sido demais.
— Ti, você pode começar a me explicar toda a história mirabolante — exigiu animada. Um de seus maiores defeitos era a impaciência e a curiosidade. — Vocês nunca têm coisas realmente sérias, sabe? — brincou, enquanto se sentava na cama, ao lado de Remo, virada para todos os outros. — Agora vejamos se Tiago Potter e seus amigos evoluíram realmente em seus assuntos importantes! — Mordeu os lábios e apertou as mãos avidamente.
— Oras, Cil, nossos assuntos são realmente sérios — replicou Sirius maliciosamente.
— Principalmente os seus, não é mesmo, Sirius? — Cecil sorriu e sentiu as bochechas ficarem levemente mais quentes. — Mas voltemos ao fato que implica a minha presença aqui. O que vocês querem, afinal? — perguntou, erguendo os cabelos em um alto rabo-de-cavalo.
E então eles explicaram tudo à garota, que ouvia atentamente, quase que fascinada. Contaram sobre os fatos, os detalhes, as pesquisas e, de certo modo, o plano de ter alguma arma contra Lílian Evans. Mesmo que este tenha ficado implícito, pois não podiam deixar escancarado o fato de Lupin ser um lobisomem e todos os demais, animagos ilegais.
— E, depois que eu li a pequena explicação do livro do meu pai, achei que todos os fatores se encaixavam perfeitamente aos indícios da Evans — explicou Remo. Agora as mangas da camisa estavam dobradas até o cotovelo.
— Maldição "Concipium Improbio" — pensou Cecil em voz alta. Esfregou os olhos e parou um instante. — Ela é realmente rara hoje em dia. Os bruxos das trevas desenvolveram tantos outros feitiços que são mais simples e mais poderosos que seria pura ignorância jogar um tão complexo sobre alguém. Ainda mais sendo este um mestiço — pensou em voz alta. — Entretanto, essa é uma das mais poderosas maldições.
"Isso porque ela se infiltra no sangue da pessoa por muito tempo, antes de começar a apresentar seus indícios. E, além disso, por ser algo tão raro, ninguém tem consciência de que está amaldiçoado até que o estágio da maldição esteja avançado demais."
— Então, se Lílian realmente tiver essa tal maldição, ela… — a voz de Tiago foi cortada pela garota, que continuava sua linha de raciocínio como se ele não a tivesse interrompido.
— As chances de cura permanecem as mesmas, afinal, é, de certo modo, simples curá-la! Entretanto, quanto mais tempo se demora a descobrir e encontrar o fator que quebraria a mesma, mais fortes ficam os sonhos e os acidentes ocasionados pela mudança de humor ou mera falta de atenção. Este é o maior perigo. Os acidentes começam a ficar perigosos demais — explicou, para poder tirar o casaco de lã, que começava a ficar insuportável, e mostrar a blusa verde-limão.
— E qual é a cura? — perguntou Pedro, se ajeitando na poltrona.
— Parece fictício e sonhador demais, mas a cura é entrar em harmonia com a alma do seu verdadeiro amor — disse, fazendo uma careta.
— Oras, mas que grande merda! — reclamou Sirius, batendo as mãos no colchão macio. — Isso estava bom demais até agora. Mas é claro que uma maldição tinha que terminar com o "verdadeiro amor" — resmungou.
— É uma maldição antiga, Sirius — disse calmamente. — As pessoas achavam o amor verdadeiro algo muito difícil de encontrar. Dada a situação em que viviam, era simplesmente mágico quebrar uma maldição sabendo que i aquela /i era sua verdadeira paixão. As pessoas tinham grandes sonhos, entende?
— E daí que é antiga? É uma maldição das trevas com um belíssimo final feliz! — exclamou perplexo.
— Almofadinhas, meu caro, o que você tanto odeia no amor? — brincou Remo, piscando milhões de vezes naquele único segundo. — É algo tão singelo e doce. – Cecil sorriu e meneou a cabeça.
— É que Sirius Black não está acostumado com grandes afinidades, Remo — explicou, rindo. — Mas, de verdade, encontrar a "alma gêmea" não é tão simples quanto parece.
— Não existe outra solução, Cil? — Tiago bagunçou ainda mais seus cabelos revoltos.
— De certo modo — considerou. — Encontrar a fonte que originou a maldição. Existem milhares de informações sobre ela em um livro antigo da mamãe. Esse meio é mais simples, mesmo que seja preciso compreender mais sobre o que se faria se a fonte fosse encontrada.
"Entretanto, Lílian precisaria saber da maldição e, pelo que eu pude compreender, vocês querem entender mais da maldição para avisá-la mais tarde."
— Digamos que, de certo modo, é isso mesmo, priminha. — O moreno piscou com um belo sorriso nos lábios. — Precisamos do maior número de informações possível.
— Pois então devemos começar a pesquisar assim que tiverem um tempo livre — sugeriu. — Eu tenho dois livros de grande ajuda no meu dormitório e, além deles, precisamos inventar alguma desculpa para pegarmos um em especial na área restrita.
— Me surpreende que você não tenha tudo aí dentro! — exclamou Pedro, apontando para a cabeça da garota. — Nós ficamos perdidos por dias a fio entre aqueles livros velhos e você explicou quase tudo sem precisar consultar nada! — Ele se mantinha extasiado.
— Oras, ela é uma Potter! — riu Tiago. — Herdou a astúcia e inteligência da família.
— Pontas, sinto lhe informar então, mas creio que você não herdou nada dos Potter — retrucou Sirius, gargalhando.
