Como seguir em frente quando se tem a possibilidade de perder tudo? Os fogos de artifício tornar-se-ão estrelas ou sumirão e ficarão esquecidas para sempre?

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Hoshi ni Natta Hanabi Arc

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Fic 5: Hitoribochi - Parte III

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- Kodoku wo sobani oite

minai furi wo shitetta

Doko to naku ore to nite ita ne -

#Você fazia de conta que não via

a solidão que estava bem ao seu lado

De alguma maneira, assim como eu...#

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Meu cérebro começou a trabalhar de uma forma mais lenta que o normal. Quer dizer, é normal acordar meio grogue... mas desse jeito já era meio exagero!

- Complicações? - uma voz meio distante pergunta. Era a mesma voz que vem me acompanhando durante um bom tempo... tanto nos momentos ruins quanto nos poucos bons que tive.

Era o Sasuke.

- É... digamos que não foi uma complicação comum - outra voz, uma feminina, murmurou, também ao longe - Garanta que ele não vá tirar as bandagens dos olhos. Isso poderia prejudicá-lo ainda mais.

- Como assim, "ainda mais"? - eu não estava conseguindo compreender direito as vozes. Elas estavam meio abafadas. Essa tontura estava me irritando - Ele vai ficar cego?

- Não temos certeza. A complicação foi realmente além do esperado - a mulher (que eu reconheci como sendo a nossa Hokage) resmungou - Temos que estar sempre por perto para garantir que ele não passe por estresse.

- Entendo... daqui quanto tempo podemos saber se ele está bem ou não?

- Talvez dentro de umas duas ou três semanas. É o tempo que o chakra dele vai levar para já estar circulando normalmente pelo sistema óptico recuperado.

- Mas e os nossos exames?

- Vocês têm um mês de intervalo entre essa primeira fase e a segunda - Tsunade relatou.

Não ouço mais Sasuke retrucar. Aproveito esse tempo para me localizar (ou ao menos tentar). Ao que tudo indicava, eu estava deitado em uma cama, com um sol reconfortante batendo sobre a metade superior do meu corpo. Isso indica que não estou em casa, porque da minha janela o sol só bateria nas minhas pernas. E tem outra coisa: o lençol que está cobrindo a cama é de um material diferente do que tem em casa, além de ter um outro cheiro. E, a julgar pelo meu torpor, devem ter administrado algum tipo de medicamento... sei lá. Devo estar em um hospital...

Hospital... minha nossa, a cirurgia!

E tudo volta com muita clareza, como uma enorme explosão: a preparação, as recomendações... a complicação.

Realmente, ocorreu uma complicação que por muito pouco não saiu do controle. Se não fosse a competência de Tsunade... eu sinceramente não sei o que seria de mim, agora.

Porcaria! Se não fosse por esse torpor todo, eu daria um jeito de chegar até a Tsunade-sama e agradecer profundamente pelo esforço dela.

.&.&.

- KISAMA! (1) TRAGAM LOGO O MEDICAMENTO, PORCARIA! - a voz da minha Hokage ecoava pelo estabelecimento em um tom extremamente imponente e agitado. Isso teria me dado uma bela dor de cabeça, já que o eco ampliava o som... se a alucinante dor vinda dos meus olhos não me deixasse ocupado o suficiente.

- Contenham o chakra! - dessa vez era Shizune-oneechan (2) exclamando, também exaltada - Não deixem que o chakra vermelho domine o corpo dele!

- Naruto, querido, tente conter a Kyuubi - Tsunade-sama pediu em um tom mil vezes mais ameno, mas não menos preocupado.

- Eu não... não tô conseguindo - não consigo conter os meus próprios lamentos - Tá doendo muito!

- A gente vai conseguir, meu anjo! - sinto a energia dela me rodear - Agüenta mais um pouco, por favor!

Parece uma coisa impossível de conseguir obedecer. Minhas mãos apertam com tanta força meus olhos inutilizados que até parecia que, se eu não ficar cego por causa do golpe do Kabuto, ficaria por causa do meu aperto. Eu apertava os dentes com tanta força que poderia arrebentá-los só com isso. A dor estava atingindo um nível insuportável! Eu não lembrava de ter sentido alguma coisa nessa intensidade. Nem mesmo na luta contra o Sasuke eu senti essa dor física tão intensa.

Eu não estava entendendo exatamente o que estava acontecendo de errado. Ao que eu havia entendido, a idéia da Tsunade era retirar a restrição feita pelo Kabuto e depois tirar o chakra contaminado dos meus olhos, enquanto a Kyuubi ajudava na recuperação do leve dano no meu sistema óptico que ela sabia que existiria. Só que, quando a minha Hokage conseguiu dar o primeiro passo da cirurgia (que durou cerca de meia hora)... uma onda extremamente dolorosa atingiu minha cabeça e eu não consegui conter o grito agoniado. Era como se alguém estivesse comprimindo meus olhos com a força sobre-humana da Tsunade. Os gritos dos médicos, quando notaram a ocorrência, deram uma leve noção do que aconteceu, mas não totalmente: a Kyuubi estava enviando chakra demais para o local afetado, provavelmente no intuito de ajeitar as coisas o mais rápido possível... mas isso estava se provando extremamente tóxico para mim. Ela queria me dar um medicamento para amenizar minha dor, enquanto os demais bloqueariam todas as terminações onde o chakra da Kyuubi entravam em contato com o meu.

Eu sinceramente já não me importava mais se ficasse cego pelo resto da minha vida ou não; desde que essa dor absurda me deixasse, eu já me sentiria feliz.

E antes mesmo que o medicamento chegasse, apaguei devido à dor.

.&.&.

- Eu gostaria de ficar por aqui para acompanhar a evolução dele... - a voz de Tsunade me despertou das lembranças - Mas tenho que voltar para Konoha. Por favor, prometa que vai dar um jeito de comunicar qualquer alteração no estado dele.

- Não preciso prometer - Sasuke falou em um tom convicto - Preocupe-se apenas com seus afazeres.

- Domo arigatou gozaimashita (3) - quase solto uma risada. Era realmente difícil ouvir Tsunade-sama falar daquela maneira tão respeitosa - Você não imagina como fico mais aliviada sabendo que tem alguém para quem eu posso confiar a saúde do Naruto. Essa história da Vila do Som está me deixando maluca... e ainda tem a Akatsuki.

- Akatsuki? - o tom de voz do meu amigo moreno me alarmou. Opa... Tsunade-sama atingiu um ponto fraco do Sasuke - Eles ainda estão atrás do Naruto?

- Eu sei que você ainda tem problemas a resolver com o seu irmão, Sasuke, - ela logo se adiantou - mas por tudo que é mais sagrado, menino, não me venha com atitudes impensadas. É o que a gente menos precisa no momento... principalmente o Naruto.

- Eu não... eu não posso garantir isso se o Naruto estiver com problemas por causa daquele traidor. Eu posso ter desistido de ir atrás do Orochimaru... mas não esqueci meu objetivo de caçar o Itachi.

- Entendo... - ela suspirou alto, resignada - Sei que não importa o que eu diga, você não vai mudar de idéia. Mas não arrisque o pescoço do Naruto. Ele está ainda mais vulnerável que antes da operação, porque o chakra dele está em um nível extremamente baixo. Se bem que eu acho que em duas semanas ou um pouco mais ele estará bem para continuar com o Chunnin Shiken.

Ouço seus passos firmes se distanciarem um pouco. Eles estavam indo em direção de onde suponho ser a porta.

- Eu já vou, Sasuke. Deixei o Jiraya tomando conta das coisas lá em Konoha, e não quero que ele se canse mais que o necessário. Precisamos do máximo de ninjas possível à disposição.

- Pode deixar o Naruto sob os meus cuidados, Hokage-sama. Tenha certeza de que chamaremos caso as coisas saiam do controle.

Ela apenas agradeceu mais uma vez, deixando em definitivo o aposento. Agora, somente eu e Sasuke estávamos no local (pelo menos eu não conseguia sentir outra presença)... mais uma vez. É, nessa última semana, 'Naruto', 'Sasuke' e 'quartos de hospital' estavam virando expressões que costumavam ficar em uma mesma frase. Primeiro foi ele... agora eu. Que coisa mais revoltante.

Não sei se dou mostras de estar acordado ou não, agora que Tsunade se foi. Digo, não que eu esteja com medo de falar com o Sasuke... e sim com medo do rumo que essa conversa pode tomar; tenho medo de ter que, em algum momento, falar sobre a Kyuubi... e acabar perdendo a amizade de temos reconstruindo de uns tempos para cá. Eu não o conheço o suficiente para saber como ele irá reagir (cheguei a pensar que eu o conhecia bem... mas vi que isso não é verdade). Quero dizer... ele pode tanto me apoiar, dizendo que a culpa não é minha... ou como também pode dizer que não dá para andar com um demônio que quase destruiu a terra onde as memórias de sua família repousam. Ele é bem capaz de qualquer uma das reações. Confesso que sinto um medo praticamente palpável com relação a esse tema; isso aperta meu coração numa dor que chega a ser física.

- Naruto... não precisa mais disfarçar - a voz dele me tirou do dilema.

- Você... sabia? - murmuro rouco, com a garganta raspando de um jeito que chegava a doer. Ela estava extremamente seca. Acho que foi devido ao berreiro que fiz na sala de cirurgia.

- Quando você acorda, seu chakra tem uma leve turbulência... muito característica sua. Nenhuma outra pessoa tem esse seu padrão.

Não contive uma risadinha (que veio com um leve acesso de tosse). Então ele ficava comparando minhas variações de chakra com a dos outros quando eu acordava? Que coisa... nunca imaginei que ele fosse esse tipo de pessoa.

Sinto ele se aproximar de mim e colocar a mão na minha nuca, com a intenção de me colocar na posição sentada. Depois do susto inicial, resolvi questionar sobre essa atitude, mas fui cortado antes mesmo de começar.

- Você precisa tomar alguma coisa - ele respondeu minha pergunta silenciosa - Você está desde ontem sem comer e beber. Quer alguma coisa em especial?

- Só... água - meu, essa garganta raspando realmente não estava ajudando em porcaria nenhuma.

Ouço o barulho inconfundível de líquido sendo despejado dentro de um recipiente. Sasuke, delicadamente, coloca o copo na minha mão direita e apenas diz "Pode beber". Sorrio mornamente, agradecendo quietamente. Achei que ele fosse dar a bebida na boca, mas não foi o caso, e essa atitude me deu a idéia de que não estou totalmente inutilizado. Fico feliz com isso, com toda a sinceridade.

- Você disse que... - começo, sentindo-me bem melhor depois de ingerir a água fresca - estou desacordado desde ontem, não foi?

- É, desde ontem no começo da tarde. Eu e a Hokage-sama não tínhamos nos encontrado depois da cirurgia, por isso a conversa de agora pouco. Segundo ela, eles tiveram que dar analgésicos (4) um pouco fortes para você... parece que, mesmo depois de apagar, você reclamava de dor. Por isso você ficou dormindo até agora.

- Que horas são?

- Acho que são umas cinco da tarde.

- Nossa... eu não dormi, desmaiei - não contive a brincadeirinha.

- Você deu um susto em todo mundo - ele murmurou - Todos de Konoha e até mesmo os irmãos da Areia querem falar com você depois - essa afirmação não agradou muito e, apesar de quase não ter se exteriorizado, o meu amigo moreno logo notou - Sei que você não anda com muito ânimo para conversar com o pessoal... mas não vai dar pra se esconder eternamente... principalmente da Sakura. Você sabe como ela é.

Dessa vez soltei um grunhido de desgosto. Minha nossa... essa menina realmente era a pedra no meu sapato, um karma que eu provavelmente carregaria por muito tempo.

- Sasuke-kun, finalmente te encontrei - e falando no demônio... - Ah, Naruto, como está?

- Sakura, depois a gente conversa - o tom usado pelo moreno foi tão seco que quase dei um pulo na minha cama - O Naruto precisa se recuperar da cirurgia e não pode se estressar.

- Tsunade-shishou (5) me disse...

- E você veio falar comigo ao invés de ver como o Naruto estava? - o tom foi um pouco mais alto. Ai... isso não estava indo bem.

- Mas...

- Olha aqui, Sakura, sai daqui, antes que eu realmente fale alguma besteira! Não que eu vá me arrepender... mas eu não quero abaixar o nível.

Eu daria um beijo nele em agradecimento por falar tudo o que eu queria para ela... mas ficaria estranho, então me contentei em apenas sorrir amplamente.

No entanto a minha felicidade não durou muito... não o tanto que eu queria.

- O que foi, Naruto? - Sasuke perguntou, em um tom completamente diferente do que ele estivera usando até agora pouco. Acho que o assustei com essa atitude de, inesperadamente, sair em busca da trava da janela (que eu sabia estar com o vidro fechado).

- Tem alguém observando a gente.

Enquanto eu dizia isso, tateei a trava, descobrindo o padrão de como abri-la. Logo o vento do final de tarde me abraçou com seus braços acolhedores, e o cheiro de mato, por um momento ínfimo, me embriagou, como nos tempos antigos. Até parecia que nada havia mudado, que eu ainda podia enxergar o verde da copa das árvores e o céu multicolorido do pôr-do-sol.

- Naruto! - o moreno logo entendeu o que eu queria fazer.

- O que pensa que está fazendo, bakayarou (6)! - ai... se eu fiquei cego, bem que a Haruno poderia ficar muda!

- DAMARE, SAKURA! (7) - agora sim Sasuke havia me feito saltar de susto. Cara, ele realmente estava nervoso.

- Eu vou atrás de quem seja lá for que está nos espionando! - constatei o óbvio - Ou acharam que eu iria ficar aqui, parado, cutucando a unha do pé!

- Eu não quis dizer isso, Naruto, - Sasuke foi firme - mas você não está em condições de sair daqui. Não enquanto estiver se recuperando.

- Em que andar estamos? - resolvi ignorar.

- Não pense em fazer alguma asneira! - a voz dele estava tomando um tom desesperado? Não... ele não demonstra desespero... ou demonstra?

- É bom responder o que perguntei! - espero ter mostrado que, naquele momento, aquilo não tinha discussão - Ou quer que eu me esborrache lá no chão caso a gente não esteja no térreo ou no primeiro andar, mas no quinto?

Silêncio foi a minha única resposta, e isso estava me deixando com os nervos à flor da pele... mais do que já estava.

- Eu... eu vou com você - ele finalmente afirmou. Sinto-o parar ao meu lado - Suba nas minhas costas. Vai ficar mais fácil.

- Sasuke-kun, eu não acredito que...

- Sakura, se não vai ajudar, pelo menos não atrapalha! - o moreno praticamente gritou enquanto eu fazia o que ele havia me pedido.

E partimos, deixando para trás uma exclamação aguda vinda da nossa colega de time. Sinto o impacto da nossa chegada ao solo e, depois de se informar de onde eu havia sentido a presença, meu colega parte em disparada.

"Acha mesmo que está acompanhado...?"

Mas... que voz era aquela? Ela estava ressoando de algum lugar distante... como se estivesse na minha mente. Era forte, mas era arrastada, com uma pitada de melancolia... e com um tom que eu conhecia de algum lugar. No entanto, o som estava meio abafado, fazendo com que eu não conseguisse associar a voz ao rosto de alguém conhecido.

"Você sabe que, por natureza, você é um animal solitário? Nunca se perguntou se ele não está com você apenas por... pena?"

De quem ele estava falando? Será que ele estava falando... do Sasuke?

"Pena por você estar em uma situação tão vergonhosa, tão humilhante?"

Não, aquilo não fazia sentido. O Sasuke nunca seria de sentir isso. Antes de ele começar a sentir esse tipo de coisa, ele já se afasta da pessoa, por não achá-la digna de qualquer coisa... ou isso não era verdade? Minha mente estava começando a dar mostras de confusão... e eu realmente não sei se o Sasuke sequer tenha notado, pois não senti alteração alguma em sua marcha.

"Por VOCÊ ser a personificação da pena? Será que não vê que ninguém gosta de você?"

Não, não era a Kyuubi, e disso eu tenho certeza. Aquela raposa sem-noção não costuma falar esse tipo de coisa. Ela dá suas alfinetadas, sim, mas é só muito de vez em quando, quando ela resolver dar o ar de sua graça. Além do que, ela nunca falou qualquer coisa que tentasse me desestabilizar emocionalmente, ainda mais na iminência de ameaça; ela sabe o quanto isso pode ser perigoso para mim... e para ela mesma, por tabela. Hn, raposa egocêntrica.

"Ele, assim como todos os outros, o vêem apenas como uma figura da qual se deve ter pena... nenhum deles consegue ver perspectivas de você ser um ninja de verdade... ou de você ser qualquer outra coisa que não o portador da Kyuubi ou o gennin barulhento. Mesmo a nova geração de Konoha, que não sabe da sua verdadeira condição, sente pena de você... só que uns exteriorizam isso melhor que outros. Uns mostram seu desprezo e indiferença... mas outros apenas usam uma fachada de compreensão, apoio. No fundo sentem ódio... e pena."

É como se alguma coisa se despedaçasse dentro do meu peito pouco a pouco, como uma coluna de concreto que vai cedendo a um peso muito maior do que ela suporta. Eu tinha que dar um jeito de sumir com aquela voz medonha da minha mente, de fazê-la desaparecer e nunca mais me atormentar. Como se já não bastasse as coisas pelas quais eu passei durante a vida toda... as coisas pelas quais passei há mais de um ano atrás com o Sasuke no Vale do Fim...

Eu sabia que, se aquela voz soasse mais uma vez no meu íntimo, eu desmoronaria de tal forma a não mais me reerguer. Sim, eu sei que a minha verdadeira personalidade é a fria e calculista... mas ela é a minha verdadeira, querendo ou não... e frágil, facilmente quebrável diante de uma tormenta, como qualquer outra. Se eu perdesse essa faceta, não sobraria mais nada! Eu me tornaria algo semelhante a um fogo de artifício que não conseguia mais brilhar: eu simplesmente não existiria mais.

Eu ficaria mais uma vez no escuro, sozinho... com a diferença que não teria mais como criar alguma máscara para me proteger do mundo.

- Kabuto no yarou! (8) - a voz de Sasuke me desperta das minhas próprias divagações - Eu sei que é você, seu merda!

O moreno pára bruscamente e fica, ao que me parecia, analisando os arredores. Tento me localizar, mas tudo o que recebo como resposta é o zunido de pequenos insetos e o cantar de um pássaro ou outro. Nada revelador.

- Onde estamos...? - murmuro em seu ouvido.

- Eu também senti, há uns segundos, a presença que você disse, e tenho certeza que é o Kabuto - ele informou - Estamos na periferia da vila. Ele fez isso de propósito! Sabia que aqui é uma das partes com menos ninjas qualificados... e com todos preocupados com o exame, as coisas ficam ainda mais fáceis para ele.

- Lá no fundo você sabe que estou falando a verdade, Naruto-kun... - a voz murmurada do medi-nin de Orochimaru soou sinistra atrás de nós dois.

Com a agilidade que lhe é característica, Sasuke salta para longe do nosso inimigo e, depois de me colocar no chão, ouço-o pegar uma arma de um de seus bolsos.

- Então... era você? - eu pergunto, sabendo que Sasuke não entenderia a conversa que eu sabia que se seguiria.

- Claro... para um ninja do meu nível, não é complicado estabelecer uma espécie de comunicação "telepática" com outro. É preciso apenas fazer alguns selamentos e direcionar seus pensamentos para o outro. Simples.

- Mas... o seu objetivo não é o Sasuke? Por que quer tanto acabar comigo? - resmungo.

- Além de inútil é egoísta? Esperava mais de você.

- Você sabe que não é isso... - ranjo os dentes.

- Hn, eu não sei porque ainda gasto meu tempo conversando com você... e também não sei porque gasta seu tempo em tentar ser útil para as pessoas que estão por perto.

Por mais que doesse, eu mesmo, às vezes, me fazia a mesma pergunta. Ninguém realmente gostou de mim... não do jeito que eu sempre quis. Alguns deram mostras de me respeitar, mas... sinto que não é o suficiente. Egoísta? Um pouco. Mas o que posso fazer se, mesmo sendo meio frio, ainda assim sou um adolescente que precisa de apoio?

Mesmo uma pessoa aparentemente endurecida pelo tempo se ofende ou se magoa com certas coisas.

- A sua inocência chega a dar nojo, sabia? - a voz dele me cortou qualquer pensamento - Mas não se preocupem, não vim até aqui para acabar com vocês. Resolvi mudar meus planos... vim aqui apenas para mandar um recadinho para o Naruto-kun.

"Por que continua protegendo a todos, se no final não terá retorno? Você sabe que nada mudará a sua condição. Você vai continuar sendo alvo do ódio dos mais velhos e da pena dos mais jovens. Ninguém nunca te amou... você nunca participou de qualquer grupo que fosse. Time 7? Que Time 7 que nada! Eles só te colocaram nesse time porque você acabou sobrando... e você sabe muito bem disso."

Ele estava usando aquele jutsu de novo! Não, mas que merda!

- SAI DA MINHA CABEÇA! - não consigo conter meu berro, gritando a plenos pulmões. Agarro minha cabeça e, sem conseguir mais agüentar o peso do meu próprio corpo, acabo desabando sobre os meus joelhos.

Minha respiração estava acelerado, assim como o meu coração, que estava para sair pela boca... e meu medo estava se exteriorizando através do meu chakra, que estava ficando instável... eu podia sentir a energia da Kyuubi começar a querer sair de seu casulo. Eu sabia que, se isso acontecer, tudo estava perdido.

"Sei que a Tsunade tentou a cirurgia da filtração de chakra... e sei as complicações que ela pode acarretar. O problema do pós-operatório numa operação no sistema circulatório do chakra não está no procedimento em si... e sim na sua cabeça. Quando uma pessoa está estressada, o chakra fica turbulento, podendo complicar qualquer cirurgia nesse sistema. Qualquer um fica estressado e com pensamentos depressivos depois de uma cirurgia delicada como essa. Por isso a margem tão alta para erros."

Então era isso? Ele não estava apenas querendo me desestabilizar moralmente... mas também acabar com qualquer possibilidade de eu me recuperar totalmente e voltar a ser um shinobi. Ele realmente queria me tirar do caminho do Orochimaru de conseguir seu novo recipiente.

"Temos que estar sempre por perto para garantir que ele não passe por estresse."

Então foi para isso a advertência da Tsunade-sama para o Sasuke? Mas que droga... tanto trabalho e eu não estava ajudando em MERDA NENHUMA!

- Naruto, o que foi! - percebo que Sasuke ajoelhou ao meu lado e me pegava pelos ombros de maneira firme e absurdamente desesperada, como se querendo devolver minha sanidade.

"Você não passa de um desperdício de órgãos e espaço físico... você sabe muito bem disso. Só que você atrapalhou o Orochimaru-sama por tempo demais. Espero que tenha entendido o recado e suma do nosso caminho... se bem que, depois disso, duvido que você volte à ativa."

- Acho que não tenho mais o que fazer por aqui... - o médico de cabelos prateados sussurrou, com a voz sorrindo daquela maneira maníaca - Nos vemos por aí, meninos.

E ele partiu, deixando nós dois para trás.

O moreno continuava perguntando como eu estava, se não estava machucado ou qualquer coisa do tipo, aparentemente sem se importar com o sumiço do nosso inimigo. Sentia que, conforme os segundos passavam, o chakra da Kyuubi retrocedia, deixando-me um pouquinho mais tranqüilo.

Eu estava atrapalhando... mais uma vez. Sinto os olhos arderem, mas eu tento, com todas as forças que me restam, segurar o choro. Não, eu não posso deixar que o Kabuto consiga o que ele quer! Não posso sucumbir à dor.

Mas é difícil!

- Naruto, o que aconteceu...? - ele resmungou em um tom derrotado. Parecia cansado de tentar arrancar qualquer reação minha.

- O que... o que você sente quando me vê? - pergunto em um fio de voz.

Sinto seus dedos se apertarem em meus ombros. Eu não consigo entender se aquilo era uma espécie de conforto... ou se era medo de responder à pergunta.

- Como... como assim?

- Você sente pena de mim...? O que eu sou pra você, afinal de contas...? - antes que eu pudesse me controlar, toda a minha insegurança estava saindo na forma daquelas palavras. Por que perto dele eu já não conseguia ser eu mesmo? - Eu até conseguiria viver com a pena dos outros... mas com a sua... eu prefiro morrer a ter que sentir sua pena pesando nos meus ombros.

- Por que essa pergunta?

- Apenas responda... onegai (9) - era a primeira que eu pedia alguma coisa pra ele daquela maneira... não havia motivos para ele me negar essa resposta.

Silêncio. Mas... não era pesado, eu podia sentir. Era estranho, pois o assunto é delicado demais. Porém, algo na aura dele me dizia que não havia motivos para meu medo.

Mesmo assim... eu já não conseguia sorrir para ele. Não do jeito que eu queria.

Ergo o braço e, com a ponta dos dedos, sigo o contorno do seu nariz arrebitado, seguindo para cima, fazendo um rápido carinho em sua testa e parando na lateral de seu rosto. Deixo minha mão cair ao meu lado, em um movimento derrotado. Pode até ser que o Sasuke realmente não sentisse pena de mim... mas o estrago do Kabuto já estava feito: eu já não conseguiria agir normalmente diante dos outros... nunca mais.

- Vamos embora...? - murmuro, me levantando.

O moreno rapidamente pega minha mão esquerda e, sem acrescentar algo a mais ao nosso diálogo, me guia de volta para o hospital.

- Sabe... meu maior medo não é exatamente não enxergar mais - eu não sei o porquê dessa minha repentina frase, mas eu precisava exteriorizar algo do meu íntimo.

- E qual é exatamente...? - ele retrucou no mesmo tom que o meu.

- Que eu nunca possa ver um sorriso teu... um sorriso de verdade... que eu fiz realmente alguma diferença na sua vida.

- ...

- Se bem que... acho que isso realmente nunca vai acontecer - ele aperta minha mão com um pouco mais de força que o necessário - Eu duvido que eu vá recuperar a visão...

- Jiyoudan jane... (10)

- Não é brincadeira. Eu não tenho mais motivos pra enxergar... pra continuar minha jornada shinobi...

- Eu não sou um motivo bom o suficiente? - apesar de dizer isso sem gaguejar, Sasuke murmurou aquilo em um tom que me pareceu extremamente mgoado.

- Eu já não sei de mais nada, Sasuke - resolvo colocar as coisas em pratos limpos.

Por mais que ele possa não sentir pena de mim, o estrago do Kabuto já estava feito: eu já havia quebrado... e não havia nada que Sasuke pudesse fazer para arrumar as coisas.

-

.&. Fim da terceira parte da fic 5 .&.

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(1) É uma palavra que cheguei a usar na fic 2. É um jeito de falar "merda"

(2) É o jeito que o Naruto chama a Shizune, que seria como chamá-la de irmã mais velha. É muito comum alguém chamar uma pessoa próxima e mais velha desse modo (devem se lembrar que, na primeira fic do arco, uma garotinha chamava o Naruto de Naruto-oniisan. É mais ou menos o mesmo caso).

(3) "Muito obrigada" de uma maneira extremamente polida.

(4) Analgésico é qualquer tipo de medicamento que serve para suprimir ou atenuar a dor. É diferente de um anestésico, pois, ao contrário do anestésico, o analgésico não tira totalmente a sensibilidade, apenas a dor.

(5) "-shishou" É um jeito de dizer "mestre" ou "professor". Eu não tenho muita certeza, mas acho que é um jeito um pouco mais respeitoso do que "-sensei".

(6) É uma variante mais agressiva para "baka", que significa "tonto" ou "bobo"; "bakayarou" seria algo como "retardado" e variantes.

(7) Essa também está na primeira fic. Significa "CALA A BOCA, SAKURA!".

(8) Bom, eu sinceramente não sei um jeito que traduza fielmente essa reclamação do Sasuke. Seria mais ou menos algo como "Aquele desgraçado do Kabuto!".

(9) É uma forma de falar "por favor".

(10) Essa eu usei na primeira parte dessa mesma fic. É um jeito masculino de dizer "não brinca..."

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- Koorime Shinigami sai correndo para não ser acertada com os objetos voadores vindo em sua direção -

Desculpa, gente! X( Eu sei que demorei MUITO pra colocar essa terceira parte... mas vocês não têm uma idéia de como foi complicado escrever: a idéia estava lá, mas colocar no computador foi um parto, além de eu nunca estar satisfeita com o que eu escrevia (não que eu esteja cem por cento satisfeita, mas...). Isso sem contar a minha preocupação absurda por causa das provas da facul (final de ano é um saco por causa disso)... e a repentina falta de inspiração que baixou em mim! Mas que DROGA! Bom, espero que isso tenha passado (apesar de a preocupação com a facul ainda estar lá -.-; ).

A próxima parte, se nenhuma idéia vier até eu postá-la, será a última. Finalmente eu passarei para o próximo refrão da música! \o/ É um refrão que, se vocês leram a tradução da música (que agora pode ser lida completa no meu profile), notaram que é meio complicado colocar em um contexto legal sem parecer estúpido... e, se não fosse a Fallen Angel pra me ajudar com uma idéia legal, realmente ficaria sem sentido. Valeu, moça:-)b

Tá, melhor parar de atormentá-los com meus problemas pessoais (apesar de eu ter falado sobre eles pra conseguir explicar a demora). Vamos às reviews, então:-)

Larissa Chan: Bom... você ainda não soube sobre o que será do nosso loirinho, mas tentarei colocar uma conclusão na próxima atualização, OK? (PS: Eu também amei escrever a parte do "Que abusada!" XD )

Naomi H. N: Oi, moça o/ Fico feliz que, apesar de ter demorado um pouco, você tenha deixado registrada a sua visita. Fico contente, pois sou o tipo da pessoa que pensa "Antes tarde do que nunca". Eu também penso que um amor verdadeiro não acontece assim, logo de cara. Claro, uma atração carnal pode até existir, mas a paixão, o amor mesmo, só com o tempo. E fico muito contente em saber que você tenha gostado de ler a minha linha de raciocínio... e por você também não gostar da Sakura! XD (PS: Desculpa a demora... espero não ter demorado demais pro seu gosto)

Thaissi: Que bom que você tenha achado a explicação da Kyuubi convincente... estava meio preocupada se eu tinha conseguido realmente dar uma explicação plausível aos leitores (pelo menos uma eu convenci, né:P ). E você notou a maturidade neles? Puxa, que bom. Se pelo menos um leitor notou isso, já é mais que suficiente para mim :-) (PS: A idéia do one-shot é muito boa. Quem sabe eu não coloque em prática, né:3 )

Well, termino por aqui. Deixem suas reviews... e me visitem também no meu fotolog: www ponto fotolog ponto net/ koorimeshinigami . Espero por todos, viu? B-joks pros que ficam! o/