Corações Prisioneiros

-by Heaven Criminals

Sinopse: Quando se trata de sentimentos, somos reféns de nós mesmos... Fazemos loucuras, atos insanos, erramos por ciúmes... Quem controla o amor? Não sabemos... Nossos corações são controlados pelos sentimentos e... Entre muitos, o Amor é um dos que mais nos prende... Somos reféns de nossos corações, pois eles nos comandam... A qualquer instante, há qualquer momento, corremos o risco de termos nossos corações aprisionados...

Capitulo II – Como andam as coisas lá embaixo...

Sendo guiado pelas intrincadas rotas dos domínios de Hades, Camus observava toda aquela construção horripilante. Aquilo lhe parecia ser obra de uma mente doentia e distorcida. Sentia-se observado...Paredes, tetos e chão ilusionavam para si movimentos disformes que, a cada passo seu, se contorciam. Lamúrias e ladainhas podiam ser sentidas ecoando em seu âmago... Náusea! Isso mesmo! Aquele lugar lhe causavam náuseas... Tudo ali era revoltoso.

E aquele homem... Alguns passos adiante mostrando o caminho, ficava a toda hora olhando por cima de seu ombro, conferindo qualquer mudança no rosto introspectivo do "Mago do Gelo e da Água".

'- Para onde está me levando?'

'- ...'

O Kyoto não respondeu, apenas o olhou novamente de soslaio como havia feito por todo o percurso.

'- Quem é você afinal? Para onde esta me levando?'

'- ... Apenas me siga!' - Wyvern murmurou, continuando a caminhar...

'- Nobre senhor, peço apenas por algum tipo de explicação! Custar-lhe-ia, por acaso, responder?'

Aquele que guiava o caminho parou subitamente e se voltou para Camus, interrompendo o questionamento. Levantou seu dedo indicador até os lábios, num pedido de silêncio.

Aquário observou aquele gesto, totalmente incrédulo. O tal homem estaria brincando com ele? Como ousava exigir silêncio de um guardião de Athena?

'- Humph... Pelo visto aqui de fato é o inferno! Ninguém tem bons modos ou, pelo menos, a cortesia de responder simples perguntas! Já estou morto e minha alma jaz nesta podridão...Certamente farão comigo atrocidades terríveis! Não temo o meu destino, mas agradeceria se pudesse saber de algo de antemão! '

'- Claro! Ficará à par de tudo agora mesmo! Basta se virar e conhecerá o seu destino!'

'- Como?'

Camus imediatamente se virou, levando uma sonora chicotada em seu rosto! Perdeu o equilíbrio, indo de encontro à parede do corredor. Aquele que o açoitava era um homem esguio, de cabelos extremamente longos e num tom rosa claro. Vestia uma bata preta que tocava ao solo. Suas abotoaduras eram douradas assim como os enfeites das mangas e da barra do rico tecido que o cobria.

'- Eu, Lune de Balron, estou sob ordens de um Kyoto; para ser mais preciso, Minos de Griffon! Aqui, nesta Morada, o silêncio é primordial e absoluto. Ninguém, nem mesmo um ex-cavaleiro como você, tem o direito de perturbar este local. E, como resposta para uma de suas perguntas, este é o seu destino! '

O Juiz desferiu mais um golpe que acertou a perna descoberta do Aquariano ainda tombado no chão, deixando um vergão vermelho no membro perfeito.

'- Será castigado! Infinitas vezes se necessário! E, pelo jeito, começaremos já... Não é mesmo, Senhor Radamanthys? '

'- Sim, estou de acordo, até mesmo aqui no inferno temos regras! Quem se opõem à elas, ou as infringe, tem boas chances de ser punido. Contudo, agora não é a ocasião adequada, Lune... Estou aqui guiando este homem, leigo aos aspectos do Mundo dos Mortos, mas altamente qualificado para os planos de nosso Lorde.'

O cavaleiro de Aquário apenas escutou, achando ser mais sensato. Lutar naquelas circunstâncias seria imprudente, pois além de estar em desvantagem, seu cosmo parecia dormente.

Lune parecia surpreso:

'- Como assim? Lorde Hades teria interesse nesses peões de Athena! '

'- Sim, Lune, esses cavaleiros serão treinados por nós e lutarão ao nosso lado! A menos que se oponham... Mas, para isso, já temos uma solução também.'

'- Entendo... Então faça como lhe designaram meu senhor, leve-o daqui! Por hora, não punirei aquele que quebrou o silêncio da Primeira Prisão.'

'- Então, nos dê licença, Juiz, seguiremos com o nosso caminho.'

Balron se retirou silenciosamente, assim como havia chegado, deixando novamente o Kyoto e o Cavaleiro de gelo a sós.

'- A marca em seu rosto está feia, hein! Este seu corpo não é de carne, contudo para poder sofrer por seus pecados, todos os seus sentidos que poderiam lhe trazer desespero, estão mais aguçados! Você sentirá mais dor, mais frio, sangrará e até sentirá fome ou outras necessidades, tanto físicas quanto sentimentais...'

' -...'

'- Quanto ao acontecido, vou recapitular duas coisas para você, Cavaleiro de Aquário, em primeiro lugar: deve lembrar-se das palavras de meu subordinado, Valentine; nunca questione um Kyoto... Conseguiu notar o que tem acontecido, não é mesmo? Já apanhou 2 vezes e mal chegou aqui! E a segunda coisa é que, mesmo aqui sendo o inferno, existem aqueles com bons modos sim, ao contrário do seu comentário infeliz.'

Sendo muito educado, Wyvern estendeu sua mão direita, indicando ao francês a nítida vontade de ajudá-lo a se levantar. Porém, teve sua ação ignorada. Camus se levantou, cheio de uma altivez digna: arrumou a capa que lhe cobria o corpo nu, jogou os cabelos escuros para trás e lançou um olhar indiferente para Radamanthys.

'- Muitíssimo obrigado, senhor "Rada-sei-lá-o-que", mas sei me levantar sozinho, não preciso de sua ajuda!'

'- " Rada-sei-lá-o-que"? Há, há, há, há! Escute aqui seu verme, não está em condição de brincar comigo, aqui, o senhor é tão insignificante quanto uma ameba!'

Radamanthys fez menção de puxá-lo pelos cabelos. Seria divertido levar um cavaleiro de Athena até a presença de Hades sendo arrastado! Subitamente, conteve o seu impulso. Algo lhe dizia internamente para evitar esse tipo de confronto.

oOo

Valentine, profundamente irritado, zanzava através da sala, gesticulando, praguejando pela vinda dos funestos Cavaleiros de Ouro. Nunca tivera de passar por tal vexame, muito menos diante de outros espectros! Mas o quê mais lhe amargava o peito não era o fato de ter sido repreendido na frente dos outros e sim, de ter escutado duras palavras proferidas de seu amado mestre Radamanthys!

Mil vezes Harpia amaldiçoou a alma desencarnada de Aquário, mil vezes! Não era possível! Justamente agora que estava conseguindo se aproximar de Wyvern, aparecia aquele... Aquele...

Parou por um instante, fitou a janela... Começou a se analisar através de seu reflexo no amplo vidro que permanecia sempre fechado na sala do Juiz amante do silêncio. Seria ele, Valen, tão desprezível assim? Na hora em que fora repreendido por Rada, não quisera ofender o seu mestre, apenas defendia a honra daquele que morava em seus mais doces sonhos...

Valentine levantou seu braço esquerdo, aquele com o qual socara os rins do Cavaleiro do gelo. Olhou a grossa armadura que o cobria. Tinha um brilho negro, frio, mas muito belo. Seguiu com o olhar para sua mão. Observou os dedos compridos, terminando em longas e afiadas garras. Mal podiam se fechar de tão longas e mortais que eram. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto, indo desembocar em seus trêmulos lábios, sentiu o gosto salgado e mais lágrimas então se seguiram. Era mais feio do que o protagonista daquele filme terrestre, Edward mãos de tesoura, não era?

O Espectro de Harpia, sempre tão bem disposto, agora chorava angustiado, apoiado no vidro da janela... Suas garras arranhavam seu reflexo no vidro, produzindo um ruído agudo e estridente...

'- Valentine... O que houve? Escutei um ruído afiado vindo daqui...'

'-...' – soluçava e não podia responder a pergunta.

'- Valen... O quê está havendo, você não está chorando de novo, está?'

'- Ahh Lune... –Valentine suspirou profundamente. - Me diga, seria eu uma criatura tão odiosa?' - Indagou por meio de uma voz trêmula e distorcida pelo choro.

'- Claro que não! Veja você mesmo!'

Lune se aproximou por trás do magoado espectro e retirou o elmo deste, depositando essa parte da sapuri sobre a mesa em que costuma trabalhar. Depois, obrigou Valen novamente a olhar para o reflexo do vidro. Gentilmente, limpou suas lágrimas e afagou os longos cabelos de Valentine cujos reflexos eram de um tom rosa tão encantador que convidava a todos se a perderem na maciez daqueles fios...

'- Eu vejo um belo jovem... Meigo, sempre prestativo e presente. Seus olhos... Têm um traço fino, exótico, na mesma cor de seus cabelos que também são muito bonitos.'

Balron escorregava seus dedos por entre os fios sedosos, trazendo uma mecha para si e cheirando, passando por sua bochecha, sentindo a textura deles.

'- Seus traços são muito carismáticos, mas ao mesmo tempo, sexys.'

Valentine escutava tudo atentamente, deixando se envolver pelo modo intrigante que Lune lhe falava. Estava num momento de carência... Sentia-se vazio e escutar palavras confortantes era reanimador.

'- Sua boca...'

Com o dedo médio, Balron contornou os lábios do rapaz de cabelo rosa que, com aquele toque, involuntariamente, fechou os olhos. Balron o virou para si, encostando-o contra a vidraça. Encontrou seu corpo contra a armadura e num simples roçar de lábios, deu um selinho no canto da boca de Harpia, que, com a tensão do momento, apertou os olhos.

'- Você não é esta casca dura e negra... Você é um belo homem chamado Valentine! E me desculpe, não sou eu a quem você procura, sei de seus encantos e seus sentimentos, mas... Não são para mim.'

'- Eh... Tem toda a razão. Nem precisa ser um Juiz para julgar isso. – mais uma vez, os olhos do espectro se umedecem. - Desde o primeiro momento que estive com "ele", já havia notado algo diferente. Quando tocou a minha mão, para um aperto de apresentação, senti o poder dele correndo em minhas veias... Naqueles breves segundos, pareciam que os meus nervos tinham dado um curto-circuito! '

'- O quê deu curto-circuito?'

Radamanthys adentrava na sala pegando o trecho final da conversa, querendo saber do que se tratava e logo foi questionando.

' -Se... Senhor? Nossa, que susto... Poderia não fazer mais isso?'

'- Lune de Balron, como espectro guardião desta morada do Juízo, precisa estar sempre alerta. O quê você e Valen... Valentine o quê houve?'

'- Mestre!'

Um alto baque foi escutado. Valentine ficara tão nervoso com a presença repentina de Radamanthys no meio de uma conversa tão "inapropriada" que o "curto-circuito" dessa vez apareceu mesmo e foi avassalador! Seu corpo veio de encontro ao chão com tudo, e ele, bateu sua cabeça desguarnecida, pois seu elmo ainda jazia no mesmo lugar onde Lune havia colocado.

Radamanthys, sem entender aquela louca reação do amigo, imediatamente foi socorrer seu subordinado mais fiel. Abriu suas pálpebras e examinou as retinas... Felizmente, não estavam nem totalmente contraídas ou dilatadas. Checou sua pulsação pelo pescoço, estava levemente acelerada, mas nada muito alarmante. Depois de exames prévios e de ter se certificado de que não havia nenhuma lesão na aura do espectro, Rada o retirou do chão gelado, pegando-o em seu colo.

'- Me faça um favor, Lune. Pegue o elmo de Valentine e ponha aqui em cima dele. Avise também Minos e Aiacos que nos encontraremos com os Cavaleiros no calabouço assim que eu puder. '

'- Sim meu senhor... Aqui está o elmo! Mas, e quanto à Valentine?'

'- Não se preocupe, eu o levarei comigo. Agora, vá fazer o que lhe mandei... Já foi?'

'- Errr... Estou indo meu senhor, estou indo!'

Levantando parte de sua longa bata, Lune saiu andando apressadamente rumo ao encontro de Minos e Aiacos. Achar este último seria fácil, pois vivia treinando nas horas vagas! Certamente ele estaria no Vale da Ventania Negra. Seguiu para lá sem muita afobação, agora. Este vale era o caminho para a Segunda Prisão, bem próximo de onde estava.

Lune caminhava pensativo... Os fatos ocorridos nas imediações da Primeira Prisão haviam sido todos muito estranhos!

Primeiro, Radamanthys protegia um cavaleiro de Athena dos ataques de Harpia... Segundo, tivera de silenciar o mesmo cavaleiro questionador que, mesmo estando com um Kyoto, não recebeu nenhum tipo de punição, o que era algo totalmente inédito! Terceiro, Valentine chorara em sua sala, magoado com a atitude severa do senhor Radamanthys e justamente ele, Lune, tivera que consolar Harpia! Finalmente, por último, Radamanthys, entrando na sala de repente, fizera Valen desmaiar de emoção e fora então incrivelmente zeloso com o rapaz! Ele, Lune, sendo um Juiz, queria avaliar tudo isso como sendo fatos singulares de uma época muito movimentada, típica de uma guerra eminente. Não teria como ser outra "coisa"... Teria?

o0o

Balron deu seus últimos passos dentro do sombrio corredor, encontrando o Vale da Ventania Negra logo adiante. Seus cabelos foram revirados pelo forte vento. Sua bata foi soprada contra seu corpo, delineando suas formas. O homem de longuíssimos cabelos prosseguiu pelo vale, mas teve de parar por um instante, precisando se equilibrar e proteger seus olhos de uma repentina rajada incrivelmente mais forte.

Assim que notou a ventania diminuir um pouco, pode escutar gritos e sons de rochas sendo destruídas em um canto mais adiante. Saiu da posição defensiva e correu para onde escutara inicialmente os sons. Uma nuvem de poeira o engolfou, tapando-lhe a visão momentaneamente, deixando o espectro nervoso.

'- Droga! Aiacos, você e essa mania de fazer tudo voar pelos ares me emporcalhou por completo! Seu maldito irá lavar as minhas roupas!... E essa maldita poeira que não se dissipa, tá entrando pó por tudo quanto é lado!'

'- Há, há, há, há... Que nada, Lune, você fica uma graça todo sujinho! Mas deixa eu ver isso mais de perto!'

Aiacos golpeou o ar com um soco rápido, fazendo a poeira voar para longe e se dissipar.

'- Aahhh, que maravilha, estou imundo mesmo!' – Lune resmungava sem parar, enquanto tentava limpar suas roupas com tapas sucessivos.

'- Tá, nada é impressão sua... Você está vendo algo de errado nele, Minos?'

Aiacos se virou para Griffon e Lune acompanhou o olhar, pois não havia notado a presença do outro Kyoto. Mentalmente, agradeceu internamente a Hades por não ter de ir procurá-lo também. Este se aproximou com a mão no queixo, como alguém que resolve uma intrincada partida de Dama. Parou diante do homem menor e o examinou minuciosamente, indo de um lado para o outro.

Minos olhou de cima abaixo o jovem Lune e, finalmente, formulou uma conclusão.

'- É...'

'- Como assim, "é"...?'

'- Oras Balron, não vê que Minos está concordando comigo? Você nem está sujo!'

'- É... He, he, he, he! Certo, cavalheiros, brincadeiras à parte; estou de acordo com o meu amigo Aia, não há sujeira aqui, é tudo uma questão de ponto de vista! Se você levar em consideração que "poeira" são fragmentos reduzidos de rochas, logo a afirmação de que este pó em sua roupa seria sujeira é equivocado! O que há aí são sedimentos da crosta terrestre decorrida da erosão sucessiva!'

'- ... He, he... Como? – Garuda coçava a cabeça demonstrando confusão.'

'- Hmmm... Aiacos, o senhor por acaso deixou algum pedregulho acertar o senhor Minos? Ele não costuma ser tão engraçado...'

'- Afidalgado espectro de Balron, será que não se pode mais ficar bem humorado?'

'- Poder pode, mas que foi estranho, foi!'

'- Lune chega desse papo, Minos é intelectualmente muitíssimo divertido, ou você corta essa de censurar meu parceiro Kyoto ou irá virar poeira!'

'- Impossível Aia, um humano não poderia virar poeira... Não são suscetíveis à erosão! – Minos balançava sua cabeça afirmativamente.'

'- Tsc, tsc, tsc... (Não tem conserto) – Aiacos acerta um tapa na testa em sinal de desaprovação sobre o comentário.'

'- Tá bom, tá bom, morreu o papo! Tenho outros assuntos bem mais importantes a tratar com os senhores Kyotos.'

'- Pois então, Lune, seja direto! – Falava agora um sério Griffon.'

'- Sim, direto, antes que nosso amigo intelectual arrume outra brilhante teoria!'

'- Hmm... Senhor Radamanthys pediu que vocês o encontrem mais tarde. Valentine teve uma indisposição e desmaiou em minha sala, então Rada ficará ausente até que Valen melhore.'

Aiacos e Minos se entreolharam, estranhando o ocorrido. Por quê , em nome de Hades, Valentine estaria desmaiando por aí? Isso não era algo normal para alguém tão saudável e ativo como ele.

'- Bem, agora que o recado já foi dado, preciso voltar aos meus afazeres. Existem pilhas infinitas de certidões de óbito esperando por um julgamento.'

'- Pode ir então, está dispensado, senhor espectro.'

Minos acenou em despedida enquanto um Lune empoeirado voltava pelo caminho em vendaval, se agarrando às roupas para que o forte vento não lhe as arrancasse do corpo. Aiacos apenas acenou com a cabeça e logo se sentou em uma enorme pedra aos pés de Griffon.

'- Minos... O Valentine não tem estado muito legal ultimamente, ele tem andado meio apático, parece muito preocupado... Não sei bem.'

Sentando ao lado de Garuda, o homem de olhos verdes tentou pentear seus cabelos com os dedos, mas o vento travava um forte luta com ele.

'- Eu particularmente não notei nada. Ontem mesmo me encontrei com ele na cozinha da Giudecca, próxima aos aposentos do Lorde Hades, preparando mais uma de suas elaboradas tortas confeitadas de chocolate... '

'- Você nunca nota nada... – Aiacos jogava uma indireta ao amigo com o olhar safado.'

'- Como assim, nunca noto nada?'

'-...'

Garuda ficou analisando o homem por debaixo daquela negra Sapuris. Adorava estar perto de seu amigo amante dos estudos. Adorava o jeito refinado de falar e agir... Ele era tão elegante! Por diversas vezes se flagrou hipnotizado com os movimentos da boca rosada de seu amigo, e muitas outras vezes, fitando seu olhar distraído, mas que quando sério, lhe roubava o fôlego.

Geralmente, quando se encontravam a sós, tudo que estavam empenhados em resolver fluía com uma naturalidade tão grande que nem pareciam existir duas pessoas ali. Eram raríssimas as divergências! O único ponto que ressalvava, que o incomodava realmente, era a eterna distração de seu amigo!

Uma vez, já tentara simular um "acidente", onde eles trombavam num escuro corredor e o Kyoto de cabelos escuros caía por cima daquele de cabelos verdes. Haviam ficado caídos no chão por alguns breves instantes, tentando se encontrarem em meio à penumbra e tecidos das capas! Ele, Garuda, ficara tateando até poder se levantar e, usando a "mão boba" sem querer, não deixando Minos escapulir. Tudo fora para rolar um clima entre eles, mas Minos nunca notava nada! Sempre achava que era algum tipo de brincadeira de Aiacos, ou que os "acidentes" eram por causa de sua própria culpa, de tão distraído que era!

'- E então Aia... Como assim, nunca noto nada?'

'- Sabe... Tem vezes que eu acho que esse seu jeito distraído é de propósito! Como um grande Kyoto pode ser tão avoado? Você nunca notou como o Valentine fica na presença de Radamanthys? – Aiacos falava tentando tirar os pensamentos sobre seu amigo da cabeça.'

'- Notar eu já notei sim... Ele fica vermelho, estranhamente tímido... Mas não sei o quê isso significa!'

Garuda se voltou para o homem ao seu lado, pegou as mãos dele e as segurou fortemente sobre as coxas deste. Olhou fixamente nos olhos verdes de Griffon e disse:

'- O Valentine está apaixonado pelo nosso companheiro Wyvern! Entende? Ele está apaixonado!' – Aiacos apertou mais um pouco suas mãos; seu coração batendo acelerado... Será que agora daria certo a sua investida?

'- Você está me dizendo que o Valen gosta dele... Mas...' – Minos ficou estático.

'- Acho até que posso dizer mais, porque ele gosta tanto do Rada, que se submete à todas suas ordens. E tudo para receber um olhar de aprovação, um elogio ou um tapa camarada nas costas.'

'- Então, se o Radamanthys o pegasse assim no rosto e lhe falasse que é o seu favorito, ele teria um troço!' – Minos falou soltando suas mãos, pegando no rosto de Aiacos e o trazendo para bem perto de si, quase encostando os lábios.

'Aah... Gostoso!' - o homem de cabelos azuis escuros sussurrou estreitando os olhos e estremecendo ao sentir o hálito quente próximo a sua boca.

'- Sim, Aia isso mesmo! Nossa! Que interpretação perfeita! Bravo, bravo!' –Minos se levantou com tudo, jogando Garuda no chão e aplaudindo a desenvoltura da interpretação tão realista.

'- Nheee... Eu desisto de você Minos! É caso perdido!'

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Radamanthys se encontrava sentado na beira de sua cama. Trajava roupas comuns, uma regata mostarda e um bermudão preto, estava descalço e bem confortável. Em seu colo, havia uma vasilha com água que estava sendo usada para molhar a toalhinha que passava periodicamente na testa de seu subordinado. Valen estava febril e aparentava cansaço, talvez não tivesse dormido bem nas últimas noites... Mesmo um espectro, um corpo astral; precisava dormir...

Rada depositou a vasilha em sua mesa de cabeceira, esfregou as têmporas tentando extravasar sua preocupação. Levantou-se e andou até a porta de seu enorme armário, apoiou suas costas no cômodo e ficou observando de longe o quarto e o ser destoante em sua cama. Olhou para as cortinas negras que tremulavam com a brisa fria e sulfurosa. Havia ali, nos aposentos, um jogo de sofás de madeira escura e estofados de couro; estantes com seus pertences; numa parede um enorme espelho, em outra um quadro, uma escrivaninha... Era sombrio como ele, Radamanthys: um quarto escuro cheio de coisas materiais, mas vazio de alma.

Mas em sua cama, havia um raio de esperança. Era como uma luz no meio das trevas... Valentine sempre lhe fora útil, tanto em batalhas, como fora delas, um verdadeiro amigo. Ele, Radamanthys, sempre o tratara como mero subordinado, mas, no íntimo, sabia que ele era mais do que isso. Ninguém tomara conta de si, com tanto carinho, como Valen sempre fazia. No dia passado, Valen até fizera uma deliciosa torta de chocolate para ele! A torta, não a dividiu com mais ninguém além dele, seu mestre... Haviam comido a deliciosa guloseima apenas ele, Radamanthys e seu... Seu o quê? O que o espectro de Harpia era para si?

oOo

Estava quase abrindo uma vala no chão com o seu pesado caminhar.

(by Ureshii Sarah)

N/a: Para encontrar coisas sem noção que postamos entrem em:

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Em base do Valen neste capitulo eu fiz um.. talvez eu poste qualquer dia no blog.. XD Uma coisa que eu non preciso dizer, mas quero falar... Eu adoro a cena do Aiacos/Minos... é uma das minhas favoritas dentro da fic.. por enquanto...

Bela: o poema do outro capitulo é da Jade... HAUHAUHAUHAUHAUHAUHAUHAUA... tudo bem estas perdoada por se perder! Sobre o Milo na guitarra... Eu não tava na reunião quando isso foi decidido mas já virou clichê ele usar uma XD Apesar de você não gostar.. até que nesta fic eu to achando o Rada legal... Mas ainda fico com o Valen e o casal enrolado Aiacos/Minos da turma de baixo.. na de cima.. no coments... Não tivemos Milo.. Mas... agora se tem uma visão melhor de baixo XD

Pra JAde nem flo nada... afinal.. o cap1 foi dela!

bjz

Sini...