Corações Prisioneiros
-by Heaven Criminals
Sinopse: Quando se trata de sentimentos, somos reféns de nós mesmos... Fazemos loucuras, atos insanos, erramos por ciúmes... Quem controla o amor? Não sabemos... Nossos corações são controlados pelos sentimentos e... Entre muitos, o Amor é um dos que mais nos prende... Somos reféns de nossos corações, pois eles nos comandam... A qualquer instante, há qualquer momento, corremos o risco de termos nossos corações aprisionados...
Capítulo III - traição
A enorme lua cheia iluminava aquela linda noite ateniense. As estrelas brilhavam intensamente, enfeitando todo aquele manto negro no céu.
"Lindo..." – Pensou Milo, completamente admirado, e, principalmente... saudoso. Eram tantas e tantas noites como esta que estavam guardadas em sua memória, lembranças sempre vivas... Noites quentes como aquela de hoje, quando, depois de um banho de mar, ele rolava pelas areias da praia abraçado com o seu amor! Ali vivera noites e mais noites de paixão, e aquela mesma lua, e aquelas mesmas estrelas, foram suas únicas testemunhas...
'-Pronto, Milo?'
O Cavaleiro de Escorpião desencostou do poste em que se escorava, completamente distraído, e voltou sua atenção ao rapaz loiro que chegara exatamente no horário marcado. Já estavam dentro da cidade de Atenas, bem na área mais badalada da cidade. Noite quente: usavam roupas mais leves, próprias para o verão. Milo usava uma calça jeans, embora sua camisa fosse de um linho bem leve e as mangas dobradas até a metade do braço.
' – É impressionante, Hyoga, mas embora você seja russo e seu mestre fosse francês, ambos têm uma pontualidade britânica...' – disse Milo, com o seu típico meio sorriso no canto dos lábios, embora por dentro lamentasse ter mesmo que sair, se divertir, levantar o astral... Sinceramente, ele preferia mil vezes ir à praia, e ficar lá olhando para aquela maravilhosa lua, e curtindo sossegado a sua fossa!
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'– Senhor Radamanthys, sua majestade Pandora convocou uma reunião. Todos aguardam ansiosamente pelos resultados que serão obtidos com os Cavaleiros de Athena. Shion, o ex-grande mestre do Santuário de Athena também já foi isolado dos demais companheiros... E o senhor, ficou encarregado do cavaleiro de Aquário.'
'- Eu sei!' – Radamantys passou a mão nervosamente nos cabelos, depois olhou para a cama onde Valentine descansava após o desmaio de horas atrás. – Fique aqui com ele, eu vou sair.
'- O que deu nele?' – Perguntou Aiacos confuso, apontando para Valentine – Já se passaram horas e ele ainda não acordou!
'– Eu não sei, apenas fique aqui e, quando ele acordar, explique-lhe que ele teve um desmaio. Que ele trate de melhorar e se por de pé, pois todos nós temos assuntos a tratar!'
Radamanthys costumava ser duro com seus companheiros, embora por dentro estivesse preocupado, cheio de dúvidas, e quisesse muito ficar ali e esperar Valentine acordar, mas, por fora, era um verdadeiro general! Ninguém ali deveria ter fraquezas, todos devem ser fortes! Fortes para esmagar impiedosamente todos aqueles que desafiassem ou ameaçassem de qualquer forma a soberania e a totalidade do Imperador Hades!
'– Estamos à beira de uma guerra, que todos aqui tratem de levar isso a sério!'
'– Radamanthys, relaxa... Você está uma pilha nos últimos dias, vai acabar agindo impulsivamente. Parece até que você quer provar alguma coisa para alguém...' – disse Aiacos, insinuante, sabendo que se continuasse assim iria desenterrar um defunto muito antigo...
O inglês, que já estava praticamente na saída dos aposentos, virou-se para Aiacos, novamente furioso:
'– Escute aqui, Aiacos, depois que Athena estiver morta, e eu pessoalmente entregar a cabeça da menina Saori Kido a Lord Hades, em mãos... NINGUÉM, nunca mais vai me humilhar, ninguém nunca mais vai me enganar, me usar e principalmente me fazer de idiota. Quando eu mostrar o meu valor e finalmente tiver poder... Eu vou ter a minha vingança!'
'– Você tem noção do que está planejando Rada? Vai acabar metendo os pés pelas mãos!'
'– Veremos!' – Radamenthys sorriu. – Agora, eu já disse que tenho assuntos a tratar, passar bem! - Saiu, sem dizer mais nada, o olhar de gato brilhando perigosamente.
Subindo as escadas de três em três degraus, Radamanthys finalmente chegou à enorme sala ricamente decorada, porém sombria, como tudo naquele local; onde uma figura alta, de longos cabelos azuis, se escondia nas sombras... Camus observava o lado de fora da janela, encostado displicentemente no peitoril, janela esta, por onde não entrava quase nenhuma luz.
'– Então já está aqui, Camus de Aquário? Pontualidade britânica, gosto disso!' – Disse Radamanthys.
O cavaleiro de Aquário virou-se calmamente, caminhando e saindo das sombras, o nariz para o alto, rosto sério...
'– VOCÊ... Está atrasado!' - disse seca e indiferentemente
O inglês por um momento pensou em responder, depois, com um sorriso cínico, respondeu:
'– Tem razão.' – agora estava impecavelmente vestido para a "ocasião", do jeito que gostava. Estava ali para fazer uma proposta, tinha que ser convincente, autoritário, porém descontraído. Usava uma calça social simples, mocassins marrons e um suéter vermelho um pouco justo, sem gola, com as mangas puxadas até a altura dos cotovelos. – Sente-se, Camus. Deve estar cansado. E conversar sentado é melhor do que de pé. – disse, apontando para um jogo de sofás de veludo vermelho. – Bebe alguma coisa? – Perguntou Rada pegando dois copos e abrindo uma garrafa de whiskey doze anos.
Camus, que até então não entendia o que se passava, apenas analisava a situação minuciosamente. Primeiro fora feito prisioneiro, tratado feito um bicho, tinha apanhado, e agora lhe deram roupas, sapatos, lhe prepararam um banho, disseram que deveria estar pronto para uma reunião com Radamanthys e para terminar a situação bizarra, chegava aquele homem lhe oferecendo um whiskey? Sem dúvidas, ou todos nesse inferno eram muito loucos ou... Iriam tentar suborná-lo.
'- Eu não quero me sentar, tampouco beber qualquer coisa que venha de você. Diga logo o que você quer, para eu negar e ir embora.' – Camus mais uma vez foi seco. Não alterava a voz, nem sua expressão facial. Era curto, grosso... E claro, frio feito um cubo de gelo. Por dentro, suas emoções ferviam, mas ele jamais deixava alguém perceber isso... A não ser...
O coração de Camus se apertou.
Milo.
'– O quê eu quero?' – Radamanthys riu, o que irritou profundamente Camus, pois não sabia se ele havia dito alguma piada... Ele nem gostava de piadas! – Eu não quero nada, quero apenas... Desfazer a péssima impressão que vocês, cavaleiros de ouro, devem ter de nós. Lorde Hades não quer maltratá-los. O inferno é um lugar difícil e tem regras a serem seguidas. Por favor, peço que não guarde nenhum tipo de mágoa do nosso primeiro encontro...
Wyvern caminhou com os dois copos nas mãos, sentando-se num sofá, colocando um dos copos na mesinha de centro. Cruzou as pernas e começou a beber o outro copo.
Camus permaneceu de pé.
'- Mas que diabos é isso agora?' – Pensou o cavaleiro de Aquário.
'– Por Zeus, Aquário, sejamos civilizados, eu não vou te morder! Vamos lá, sente-se.'
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Após virar um copo de vodka de uma só vez dentro da boca, o cavaleiro de Cisne xingou algum palavrão em russo. Bateu o copo na mesa e pediu outra dose...
Milo também já estava no fim do seu enorme caneco, que antes estava cheio de cerveja. Terminou tudo e pediu outro!
'– É cisne, me chamou até aqui para me alegrar... Mas parece que você conseguiria deixar qualquer festa tão animada quanto um velório...' – a cerveja chegou, ele deu o primeiro gole no novo caneco, olhou a expressão abatida do rapaz loiro, o curativo no olho, o falso sorriso... A tentativa, em vão, de esquecer os problemas e fingir que nada havia acontecido. – Eu soube que o cavaleiro de Andrômeda deixou o Santuário esta manhã; também soube que dois cavaleiros de bronze caíram na porrada ontem à tarde...
'– Eu e o Ikki.' – Hyoga interrompeu – Ontem eu caí na porrada com o Ikki...
'– E pelo visto você se deu bem, não vejo nenhum hematoma em você.'
'– Não, na verdade eu mal reagi.' – o russo suspirou. – A intenção do Ikki não era me castigar fisicamente, ele queria... Queria muito me ver todo quebrado, teve um momento que eu achei que ele não resistiria e assim o faria! Mas... Não, ele só queria extravasar a raiva e principalmente, me fazer acordar... Ele me castigou, castigou a minha alma...
'- Ele fez isso quando levou o irmãozinho embora?'
'– Não! Ele fez isso quando me mostrou que estava protegendo o Shun de um monstro insensível como eu. Além do mais, o Shun faz o que quer... E se ele foi é porquê...' – Hyoga não continuou a frase.
'– Vá atrás dele!' – Diz Milo, já visivelmente bêbado, assim como Hyoga. – Vá atrás dele, traga aquele menino de olhos verdes de volta nem que seja pelos cabelos. Eu não sei o que você fez, mas se você se arrepende, mostre isso e vá atrás dele!
'- Eu sei Milo, eu me arrependo, mas não posso ir atrás do Shun só com arrependimentos, eu tenho primeiro que aprender a fazer diferente... Ser diferente... o Shun não merece sofrer. Além do mais, eu não estou numa época muito boa, ou melhor eu nunca estou numa época boa, mas ao invés das coisas melhorarem... Só pioram, enfim, não tente entender... Não tente ME entender, mas acredite... o Shun está melhor longe de mim.'
'– Quem decide isso é ele.' – Milo deu uma gargalhada e puxou Hyoga para perto, apertando-lhe o ombro – Não vou mais dar palpite, mas escute a opinião de uma pessoa que sabe o que fala... – Milo respirou fundo, por um momento uma nuvem de mágoa e arrependimento pairou no ar. – Não deixe a sua felicidade para amanhã, se você ama alguém, corra atrás, grite isso aos quatro cantos, lute, não tenha vergonha de esconder isso de ninguém, implore, choramingue, peça perdão por seja lá o que for que você tenha feito, fique de joelhos se for preciso, mas tenha certeza de que você realmente tentou até o ultimo segundo... Porque "amanhã" pode ser tarde demais...
Hyoga sorriu, deu uns tapinhas na mão de Milo que estava em seu ombro, e virou outra dose de vodka garganta a baixo.
'– Sinto muito por isso, eu te chamei aqui para te animar e acabo te enchendo com os meus problemas.'
'– É, eu já esperava por isso quando resolvi jurar proteger o pupilo do meu querido Camus em sua ausência... Ele se afeiçoou muito a você... Ele sempre me falou que você até TENTAVA se parecer com ele, mas que sempre foi um pato chorão!' – Milo riu, ironicamente.
Hyoga soltou uma gargalhada.
'– O quê? Ele disse isso?'
'– Hum... não com essas palavras e não exatamente nessa ordem...'
Ambos riram, quando nesse mesmo minuto todos no bar podiam escutar alguém arranhando algo na guitarra... Definitivamente, numa noite de bandas amadoras... Podia-se esperar de tudo.
'– Seu ruim! Seu ruim, sai daí! Eu não gastei meu dinheiro para ouvir isso, a minha falecida vovózinha tocava melhor!' – Gritou Milo, ficando em pé na cadeira.
Todos no bar riram e apoiaram Milo em suas insanas reclamações e gritavam em uníssono:
' – Vovó! Vovó! Vovó!'
Milo olhou para baixo e não vê nada além de um loiro bêbado rindo loucamente.
'– Hey, garoto... Vamos embora enquanto a gente ainda se agüenta em pé.'
Hyoga consentiu, pôde ver Milo pegando uma garrafa inteira de vinho... Definitivamente, eles não iriam para casa. Iriam afogar as mágoas em outro lugar, um lugar que não tivessem bandas tão ruins tocando... E olha que o Milo nem se ofereceu para tocar...
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'– Camus de Aquário, fique sabendo que sua Majestade Pandora já providenciou outros aposentos para você. Creio que este será infinitamente mais confortável. Cortesia de nós todos em nome de Lord Hades, para desfazer qualquer má impressão.'
Camus que, agora sentado, estava disposto a ver até onde toda aquela ladainha iria, se levantou bruscamente.
'– Eu não quero aposentos novos, não quero roupas. Quero voltar para onde eu estava, junto com os meus companheiros. Se, por acaso, você está achando que eu sou algum tipo de idiota, você...'
Camus foi interrompido quando Radamanthys bateu palmas levemente, dando sinal para que alguém entrasse... E quando esse alguém entrou , o cavaleiro de Aquário quase caiu para trás, tamanha sua surpresa:
'– A... Afrodite!'
'– Bom te ver, Camus. Sua expressão depois de um bom banho está bem menos abatida agora.' – disse o belo cavaleiro de Peixes.
'– Digo o mesmo para você, Afrodite...' – Camus observou que o cavaleiro de Peixes também estava tendo um "tratamento VIP", bem do jeito que este gostava. – Mas afinal, o que está acontecendo aqui? Afrodite, como está o Shura, o Saga... como estão aos outros?
'– Não está sabendo, caro Aquário? Todos nós estamos tendo outro tipo de tratamento agora, ordens diretas de Hades, Deus dos Mortos.'
'– Eu teria explicado tudo, Cavaleiro de Peixes. Mas o seu amiguinho parece estar muito desconfiado.' – Diz Radamanthys, displicentemente – Sente-se conosco, sirva-se de alguma bebida!
'– Claro!' – responde Afrodite, decidindo por acompanhar Radamanthys em um whiskey, puro, sem gelo.
Agora sim, tudo estava confuso! Mas será possível, Shura, Saga? Será que todos se deixaram subornar? Mas como? Por quê? Nada fazia lógica! O jeito era permanecer calado, e ouvir mais. Tinha que ouvir tudo o quê Radamanthys tinha a dizer, e principalmente, tinha que ter uma conversa séria com os demais.
Camus sentou-se novamente, agora ao lado de Afrodite que estava por demais a vontade.
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O Cavaleiro dourado de Escorpião e o Cavaleiro de bronze de Cisne caminhavam pelas areias de uma praia deserta, já distante da movimentação de Atenas. Tiraram os sapatos ao perceber que estes se entupiam de tanta areia enquanto eles trocavam os pés cambaleando pelo caminho a fora.
Se já não tinha ninguém por perto, poderiam então, ficar por ali mesmo. Se jogaram na areia, ambos caindo de costas. Milo se apoiou em um cotovelo para tomar um ultimo gole de vinho e depois ofereceu o resto que ainda havia na garrafa, quase vazia, para Hyoga. Detonada a garrafa, o loiro a atirou longe.
'– Aqui está bom... Eu gosto de ficar aqui.' – Comenta Milo
'– Eu também.' – Disse Hyoga.
Alguns segundos de silêncio... O loiro se inclinou mais para o lado... não estava enxergando Milo, pois a praia estava escura e Milo estava " embaçado" demais, mas o russo precisava vê-lo, para conversar a sério com alguém, gostava de notar cada expressão de seu rosto. Com um olho só era difícil... Ainda mais enevoado pela bebida.
'– Milo... eu acho que... eu acho que amanhã eu vou procurar o Shun...'
Milo fitou por alguns segundos o rosto pálido do Cisne. Era como se aquele olho azul não transmitisse nada além de sofrimento em seu olhar. Isso era tão triste, não que ele fosse velho, não era! Mas pelo menos se morresse hoje, poderia dizer que de uma forma... ou de outra, vivera intensamente, de uma forma estranha ou não... Amara e fora amado... Cometera muitos erros. Não fizera muitas coisas que deveria ter feito. E fez muitas que não deveria fazer, mas ainda assim... não tinha esse semblante pesado e triste que o Hyoga carregava consigo como um grande fardo. Como podia, tão jovem..? E tão desistente!
'– Eu não quero ficar sozinho, Milo... Eu não mereço ter ninguém que eu amo perto de mim, eu só decepciono a todos... Mas eu não quero ficar sozinho!' – Diz Hyoga num longo suspiro... – E não ligue para o que eu digo... Eu estou bêbado!
Ambos sorriram.
'– Você nunca vai estar sozinho, e nem eu.'
'– Como você sabe?' – Hyoga zombou... - É o novo oráculo de Atenas? Ou é a sua alma cigana falando?
'– Você tem o seu mestre, que já provou que onde quer que ele esteja, sempre estará olhando por você... E a sua mãe também... Tem a Deusa Athena ao seu lado, tem os seus amigos, que estão sempre com você, até o Ikki...'
Agora sim, ambos gargalham
'– E você tem a mim...' – Nem o próprio escorpião entendeu direito o real porquê de ter dito isso.
'– Você?' – O cisne perguntou...Talvez tivesse ouvido mal.
Escorpião demorou um pouco a responder. Cisne estava perto... Perto demais! Podia até sentir o cheiro do álcool em seu hálito, álcool que fazia o mesmo efeito na cabeça de ambos: o de literalmente afogar as mágoas, fazer falar besteira e principalmente... Perder a razão.
'– Sim... Eu.'
Foram as últimas palavras de Milo, que saíram baixas e meio incertas, antes de sentir o toque quente dos dedos do cisne contornarem carinhosamente seu rosto. Não pôde resistir em fazer o mesmo! Acariciar aquele rosto que, apesar do curativo, apesar do estado abatido, não deixava de ter um jeitinho tão angelical... Sim um anjo... Um anjo que...
' – Ai!'
Cisne agarrou forte o seu cabelo e o puxou para baixo, num solavanco, que Milo não teve tempo de protestar, ou reclamar da dor daquele puxão, pois foi calado ( Calado sim, surpreendido não, não mesmo!) pelo beijo do cavaleiro de Cisne. Os lábios rosados, quentes, que se moviam contra os do escorpião com tanta urgência e carência, que se tornaram simplesmente irresistíveis, não deixando brotar nenhuma outra idéia em Milo, a não ser a de corresponder com aquele mesmo ardor...
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Depois de alguns momentos de conversa banal, Afrodite se retirou, deixando de novo os dois sozinhos, Camus e Radamanthys...
Camus ainda não havia baixado a sua guarda. Não havia falado nada, deixando aquele "espetáculo" por conta dos outros dois.
Rada falou, com uma paciência que estava começando a se esgotar:
'- Agora que Afrodite se retirou, quero que reflita no que lhe disse: chamei-o para testemunhar que nós, os espectros, somos dignos de confiança, assim como meu grande senhor, Hades.'
Camus, dessa vez, não conseguiu evitar um riso sarcástico...
'- Confiar em vocês espectros? Agora sim, a piada foi sua...'
Rada ignorou o comentário desdenhoso...
'- Venha, vou lhe mostrar onde você irá descansar depois dos seus treinamentos.'
'- Treinamentos?'
'- Sim, Camus, se treinar sob meus comandos, logo estará usando a honrosa sapuris de Hades, sob a conselação negra de Aquário...'
Camus nada disse, encontrava-se surpreso demais com as palavras de Radamanthys.
Caminhavam pelos corredores do castelo enquanto falavam, até que chegaram em frente a uma suntuosa porta de ouro puro.
'– Eis aqui seus novos aposentos, Camus de Aquário.' - disse Radamanthys entregando o castiçal de velas ao Aquariano e abrindo a porta.
Entraram os dois. Incrédulo, Camus observou o local. Radamanthys é claro, estava atento a cada reação do cavaleiro dourado... na cabeça e no coração de ambos só existiam três sentimentos, desconfiança, dúvida e expectativa... Um não podia confiar no outro.
Camus colocou o castiçal sobre a mesa de mogno maciço. Como a matéria espectral podia ser assim tão palpável, como a da terra? Era um mistério digno dos deuses... Portas de ouro, madeira de mogno... Tudo muito real, embora tudo ali pertencesse ao mundo fantasmagórico...
'- Escute, senhor Rada qualquer coisa. Tem razão, precisamos conversar, e vou fazer isso agora mesmo...'
Rada sorriu, achando que começava a atingir a razão do cavaleiro insolente, mas seu sorriso morreu logo a seguir, quando ouviu o que Camus disse em seguida:
'- Precisamos mesmo conversar para eu lhe ensinar algumas coisas... '
"ENSINAR? Aquele atrevido ousava querer ENSINAR um Kyoto?"
Camus continuou:
'- Primeira delas: não sou subornável. Aquele traidor do Afrodite dizendo as maravilhas do seu reino não me tenta. Segundo: JAMAIS vou usar a sapuris negra, porque isso significaria total submissão a Hades e eu, vivo ou morto, na terra, ou aqui, sou um cavaleiro de Atena!'
'- Escute, cavaleiro, não pense que desaprovo sua lealdade. Respeito-a, mas também vou lhe dizer algumas coisas para você refletir... Primeiro: aqui, você será aquilo que eu lhe disser que é! Segundo: se não for colaborar por bem, acredite, há um outro caminho, imensamente doloroso e terrível, mesmo para um cavaleiro. Não me obrigue a usar com você uma persuasão mais dolorosa. Eu não hesitaria em fazê-la.'
'- Acha que me colocará medo com suas ameaças?'
'-Aquário, - Radamanthyas tinha um sorriso complacente nos lábios bonitos -você fala com orgulho, com a confiança de um cavaleiro treinado, mas mesmo homens fortes como você são incapazes de resistir às torturas e humilhações que meus carrascos são capazes de fazer. Se eu fosse você, ficaria nesse aposento, descansaria, e me apresentaria para treinamento amanhã.'
'- Nunca!'
'- Não estamos na terra, mas na dimensão onde tudo é desconsolo e lamentação, para os impuros aperfeiçoarem seus pecados... Você não sabe o que diz, Camus, NUNCA é um tempo longo demais para não ceder, mesmo vinda essa palavra de um orgulhoso como você...'
'- Já dei minha palavra. Não temos mais o que conversar.'
'- Engano seu... Sabia que um Kyoto, um juiz, é capaz de ler os sentimentos mais secretos de uma alma?'
Camus enrijeceu a musculatura espectral, tenso. Tinha que tomar cuidado, isso queria dizer que deveria treinar seu cosmo para fechar seu espírito e mente ainda mais... Um kyoto era mesmo poderoso...
'- E o que isso tem a ver com comigo?'
Radamanthys riu, os olhos amarelos brilhando fogo e cobiça...
'- Sei que você teve um amor imenso na terra... - Camus ficou impassível, mas Rada percebeu sua tensão emocional. Continuou - Seus valores todos caíram por terra, Camus, não percebe que você deve nascer de novo para Hades? Nem Athena, nem seu amor desmensurado pelo cavaleiro de ouro de Escorpião... Tudo isso abandonou você!'
'- MENTIRA!'
Os olhos de Rada brilharam satisfeitos... Começava a arrancar alguma reação do cavaleiro de Gelo...
'- Acha mesmo? Veja então o que vou lhe mostrar...'
Rada bateu palmas, e entrou nos aposentos uma linda mulher, etérea, parecia ser transparente... Radamanthys fez uma profunda reverência para ela. Camus pensou em dizer algum tipo de ironia, mas se conteve. A bela mulher tinha o cosmo elevado, como o de uma deusa...
'- Hécate, senhora da escuridão, filha do titã Perses e Astéria, eu, Radamanthys, a saúdo...'
A bela mulher sorriu, um sorriso frio, cheio de maldade... Camus estava supreso... Hécate! Era a deusa da feitiçaria, adorada por mágicos e feiticeiros. Pelo que se lembrava das lições recebidas no Santuário, seus adoradores formavam uma seita que sacrificavam cães e cordeiros negros para ela... Em noite de lua cheia, ouvira seu antigo mestre contando, diziam que ela vagava pela terra com uma matilha de cães fantasmas...
'- Deixe as formalidades de lado, Kyoto. Pediu-me para que eu usasse com Camus meu dom de visão com as dimensões terrestres... Muito bem, chamou-se numa hora apropriada... Muito apropriada... Vamos mostrar ao nosso belo convidado que o amor e os valores que o ligavam a terra, não existem mais... Que ele deve ser nosso aliado.'
Hécate ergueu as mãos e se formou nos aposentos um alo sobrenatural, uma fumaça etérea que inundou a mente de Camus com imagens... Ele reconheceu a praia onde costumava ir com Milo... Subitamente, viu se formar à sua frente, como se fosse um filme, os corpos de Cisne e Milo se entrelaçando loucamente. Uma cópula louca e selvagem... Milo gemia alucinadamente enquanto Cisne o penetrava punitivamente, arrancando gritos de luxúria e dor... Cisne mordia os ombros de Milo que, enquanto era cavalgado, gritava obscenidades e pedia mais força no coito!
Camus virou o rosto. Mas não tinha como escapar daquilo. Mesmo sem olhar, a imagem penetrava em seu cérebro e na sua alma, dilacerando-a em mil fragmentos de dor! Hécate, vislumbrando o sofrimento do cavaleiro de gelo, riu, e disse:
'- Veja, o seu assassino e seu amante, juntos! Existe dor pior do que a traição, cavaleiro?'
Camus não conseguiu evitar que duas lágrimas escapassem de seu rosto bonito, mas enxugou-as, rápido. E disse, furioso, se dirigindo a Hécate e a Radamanthys..
'- Danem-se vocês e seus truques sórdidos!'
Radamanthys disse, tenso:
'- Você SABE que não é um truque... A senhora da feitiçaria comanda as visões e os portais, não pode mentir...'
Camus respirou fundo. Sim, sabia disso... A visão era verdadeira! Cisne e Milo... Seu pupilo e seu amante... Juntos...
'- Pois vou lhes dizer uma coisa: Não, não existe dor pior do que a da traição, por isso, não vou lutar contra Athena, como o asqueroso cavaleiro de Peixes! Podem me mostrar o que for, podem me torturar. EU NÃO VOU CEDER! Eu estou morto para Milo, ele tem o direito de fazer o quê quiser, eu não ligo!'
MENTIRA. Ligava. Estava hirto pela dor do que via.
Hécate fez um ar de enfado... Fez a visão parar...
'- Esse aí é mesmo teimoso... Cavaleiro, quando tiver sido encurralado e surrado, torturado pelos soltados de Radamanthys, vai mudar de idéia... Radamanthys, faça o que um kyoto deve fazer. Deixe esse teimoso com os torturadores. Dê a ele uma demonstração do que o espera, se não for cooperativo. Vou agora conversar com Pandora. Não me incomode mais com esse fedelho!'
Radamanthys assentiu. Tinha evitado esse desfecho, mas agora que a ordem partira da própria Hécate, não iria ter como evitar o pior para Camus...
'- Camus... Isso vai ser humilhante e doloroso, reconsidere.'
Diante do silêncio do orgulhoso cavaleiro, Radamanthys suspirou.
'- Muito bem. Não pense que vou facilitar mais do que já fiz as coisas para você. Daqui para frente, vai entender porque sou um Kyoto temido...'
N/A: Capitulo by Pandora Amamiya!
NHAI! E que capitulo eu fui postar bem no dia do niver do Ucho, non?
A Sini é louca já imaginado o que lhe acontecerá! Mas ta na ordem... non tenho culpa! Briguem com elas aponta o resto do grupo! Elas que escrevem.eu só... Eu non faço nada XD forgada
Bem... ta aí... Daki uns dias eu volto para postar o prox...
E se quiserem ver a bagunça que fazemos...
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