Corações Prisioneiros
-by Heaven Criminals
Sinopse: Quando se trata de sentimentos, somos reféns de nós mesmos... Fazemos loucuras, atos insanos, erramos por ciúmes... Quem controla o amor? Não sabemos... Nossos corações são controlados pelos sentimentos e... Entre muitos, o Amor é um dos que mais nos prende... Somos reféns de nossos corações, pois eles nos comandam... A qualquer instante, há qualquer momento, corremos o risco de termos nossos corações aprisionados...
Capítulo V – Planos e Recordações
Estava escuro, mais isso não era novidade; tudo era escuro demais por lá.. Valen fitava a enorme parede de pedra negra e dura. Estava cansado, mas treinar lhe ajudava a não pensar. Não, melhor, lhe ajudava a pensar sem sentir. Aproximou-se e deu um forte soco na parede fazendo cair algumas pedrinhas. Deu alguns chutes, estava começando a conseguir ritmo. Pulou e bateu com a planta do pé no muro, sentiu um pouco de dor. Lembrou se dele.
Radamanthys... Ele, Valen, o amava fazia já muito tempo e isso doía. Para o Kyoto, Valentine era mais que um dos seus subordinados, era… Um excelente subordinado, mais isso não ajudava em nada! Gostaria de ser outra coisa para ele. Fazia já muito tempo...
FlashBack
'- Agora fique quieto Valentine. - ordenou o homem. Valentine calou-se e abaixou a cabeça. – Sabe, um Kyoto, não é nada do que você já viu. Nosso senhor Radamanthys não pode ser molestado ou contradito. Ele vem vindo.'
O jovem levantou olhar, um espectro grande, forte, levava uma armadura preta. Nem sequer o olhou.
'- Este é o garoto?'
'- É sim - respondeu o outro rapidamente, como se tivesse pressa.'
Girou rapidamente e olhou Valentine, surpreendendo-o.
'- Sabe lutar?
'- Sim… eu...'
Não pôde terminar.
'- Cale-se... Venha.'
Obediente, Valentine seguiu seu senhor durante algum tempo. O espectro percebeu que o vento começava a soar, mas não prestou atenção. Porém o vento continuou assobiando, cada vez mais forte, começando a parecer vozes humanas. Ele, Valentine, já havia se acostumado com o grito contínuo das almas, mas estas vozes do vento pareciam mais desesperadas ainda. Virou-se, tentando encontrar as almas que gritavam. Vendo sua surpresa, o kyoto sorriu.
'- Não fique assustado com tão pouco.'
Continuaram o caminho até chegar ao pé de uma grande torre de pedra, construída como os castelos antigos. Pararam diante da porta. Lá, o vento era uma sucessão de gritos horríveis. Antes de abrir a porta do castelo, Radamanthys virou-se, examinando o jovem como se o visse pela primeira vez.
'- Aqui é minha morada, espectro. Você será meu empregado pessoal. – sorriu. Já estava na hora do senhor Hades deixá-lo ter um serviçal.'
Valentine balançava-se de um pé a outro, impressionado com a força do espectro e com tudo o que contavam sobre ele. A porta se abriu.
Seguindo o cavaleiro, Valentine entrou... Olhou a sala. Não era desconfortável: tinha móveis de madeira e nenhum sofá... Nas paredes estavam alguns quadros pintados, todos de preto.
'- Fique longe deles. - A voz de Wyvern fez Valentine se sobressaltar.'
Obediente, deu uns passos para trás e viu algumas figuras aparecerem na pintura.
'- Viu? Arte barroca. Luzes e sombras... Agora, deixe de perder tempo com essas bobeiras e sente-se.'
Radamanthys sentou-se em uma cadeira de madeira e o garoto foi se sentar à frente dele.
'- Bem, o trouxe aqui por duas razões: a primeira é que quero que saiba onde eu moro. Se alguma vez, por acaso, precisar me chamar... O segundo motivo pelo qual viemos aqui foi para falar dos seus deveres, jovem. – Vendo-o, Valentine, concordava em silêncio, o Kyoto continuou.- Você sabe que está aquí para me servir. Espero de você responsabilidade e obediência... Por enquanto, só terá que mandar recados, e obedecer à ordens menores. À medida que você for progredindo em seu treinamento, terá tarefas cada vez mais complicadas; não se engane com a aparente facilidade do serviço. Concorda?'
Valen abaixou a cabeça:
'- Concordo meu senhor.'
'-Tem mais uma coisa, você terá acesso a informações diretas do reino de nosso senhor Hades. Se não for discreto, morrerá. Mais do que a morte comum de um humano, a morte de um espectro é a pior de todas, porque é eterna... O problema se isso acontecer é seu, não meu... Por isso, fique calado.'
Tentando esconder o seu medo, Valentine murmurou um 'sim' discreto.
' - Bem... - ele, Radamanthys, o olhou divertido por um momento - Retire-se.'
Valentine se retirou. Caminhou lentamente até a porta, mas quando pôde fechá-la, saiu correndo. Estava cheio de raiva em sua alma recém desencarnada. Havia sido convertido em um pouco mais que escravo de esse espectro! Mas isso não era o pior.
O pior, para ele, era sua reação! Havia agido como uma criança ou um boneco. Por quê não dissera nada mais que "sim" ou "não"? Por quê sentira-se, de repente, tão impotente diante da figura impressionante daquele homem de armadura preta? Não gostava nada de se sentir assim! A idéia de ter que agüentar isso lhe parecia insuportável!
o0o
Duas semanas passaram e Valentine havia quase aceitado o seu 'trabalho '. Não que gostasse dele, mas não podia se livrar disso, não havia remédio, por isso, era melhor deixar de se amargurar com a situação. Aceitou isso como se aceita um mal inevitável.
Radamanthys era distante, imponente. O garoto não sabia como agir na frente dele, e este era muito exigente, exigente demais! Pedia perfeição, pontualidade e trabalho bem feito.
Valentine tentava fazer o melhor possível. Sabia que era o único jeito de sair com vida disso. Além do mais, havia os treinamentos... Sua cabeça dava voltas, sempre que ele pensava em tudo o que tinha que fazer. Por isso evitava pensar demais no seu destino.
Agora, estava correndo, seus cabelos longos e despenteados ao vento. Repetia para si mesmo um recado enviado pelo senhor Aiacos para seu mestre. Tratava-se de um encontro com a senhorita Pandora.
Chegando à torre, ele não precisou bater na porta, ela abriu-se imediatamente.
Radamanthys estava esperando por essa informação. Parecia nervoso ou aborrecido, Qualquer um que fosse o estado de espírito do seu mestre, Valen teve um mau pressentimento.
'- Demorou.- Aquela observação simples fez ele temer do pio,; mas falou como se não tivesse escutado o quê o outro acabara de dizer.'
'- Meu senhor, Aiacos, lhe manda o recado de que hoje, dentro de cinco horas, a senhorita Pandora quer ver o senhor.'
'- Para quê?- Foi um grito, o espectro tremeu. Embora ele já houvesse presenciado a cólera de Radamanthys antes, nunca a havia experimentado em pessoa.'
'- Ele não me disse, meu senhor.- O rosto de Radamanthys ficou lívido.'
'- Como é que não sabe? Eu pedi expressamente que me trouxesse o motivo da convocação da irmã de Hades! Não, eu não pedi... Foi uma ordem!- Valentine sabia que era verdade, mas Aiacos não quisera dizer nada sobre aquilo! Somente dissera que Radamanthys tinha que se apresentar à sua senhora em uma hora precisa.'
'- Meu senhor, eu… O senhor Aiacos não quis dizer por quê a princesa que lhe ver. -Tentou justificar-se, mas ele não pôde acabar sua frase.'
'- O quê? Não sei se ouvi bem, mas está culpando um Kyoto, é isso ? Você, um miserável servidor está tentando…'
Valentine gostaria de ter escutado o quê dissera seu superior, mais não conseguiu; estava cansado demais e também assustado demais. Sentiu que os objetos giravam ao seu redor. Depois não viu mais nada. Desmaiou...
o0o
Valentine abriu os olhos uma vez. Fechou-os e piscou várias vezes. Deu-se conta de que estava em uma cama. Não lembrava do que havia acontecido, somente sabia que essa cama era macia demais para ser sua, e que aquele não era seu quarto. Fechou os olhos de novo. Estava cansado demais para pensar. Apoiando-se na almofada, dormiu de novo.
Subitamente, passos fortes soaram perto dele. Despertou e lembrou-se do que tinha acontecido. Radamanthys, ele mesmo; o desmaio... Os passos continuavam soando e pareciam estar chegando perto.
Estava curioso por saber quem lhe havia ajudado. A porta se abriu. Valentine não soube em um primeiro momento quem era esse homem. Logo depois de alguns segundos, percebeu quem era...
'-Meu senhor!'
Era a primeira vez o via sem armadura, de calça branca e camisa preta revelando um corpo másculo e perfeito que o surpreendia muito... Gostava disso! Aquela beleza, apesar de ser absurdamente perfeita, dava a Radamanthys um jeito mais... Humano.
'- Sente-se melhor?'
Lembrando a fúria recente do Kyoto o jovem falou:
'- Sim... Muito obrigado meu senhor.'
Radamanthys riu do medo do garoto.
'- Sabe, eu não gosto que meus servidores desmaiem como donzelas,- Valentine corou e Radamanthys continuou a falar- mas acho que desta vez pode passar, afinal em nossa primeira conversa eu não falei nada a esse respeito, mas agora você está advertido, não é?- Perguntou com um sorriso.'
Valentine ficou sem fala. Ninguém, nunca, havia se preocupado com ele daquele jeito. Esperava ser castigado duramente e o espectro cuidava dele? Não era possível!
Desde esse momento, as coisas haviam mudado, não para Radamanthys de Wyvern, mas sim, para Valentine de Harpia. A partir desse momento onde seu mestre se mostrou tão humano e gentil, desde que lhe havia dado seu melhor sorriso, alguma coisa mudara dentro dele. Admirava-o muito mais, mas não era só isso. Agora, fazia o trabalho com mais vontade, querendo fazer as coisas com perfeição! E Isto não passou desapercebido para o kyoto.
'- Nenhum favor da minha parte lhe será concedido. - dissera quando percebera, pela primeira vez, a súbita dedicação de Valentine. E falas como essas foram acontecendo...'
'- Eu não espero nenhum favor... - Era sempre a resposta.'
E, poderoso, Radamanthys sentia que alguma coisa estava acontecendo. Começava a apreciar aquele garoto.
Valentine, por alguma estranha razão, estava sempre feliz por se encontrar perto de seu senhor. Queria que ele ficasse satisfeito com seus serviços. Dizia a si mesmo que era apenas gratidão o que sentia, mas, na sua alma, sabia que a verdade não era essa.
Se, nesse momento, os sentimentos o houvessem molestado, ele ainda estava a tempo de fazer alguma coisa, tomar medidas para evitá-los, mas não queria fazer isso. Preferiu deixar-se levar pelos dias, pelas horas, sob a vista diária do Kyoto. E passou a ter mais e mais atenções para com seu mestre. Para sua felicidade, elas foram bem aceitas!
E aconteceu sem ele, Valentine, perceber... Acabou se apaixonando!
Fim do Flashback
Valentine batia furioso nas pedras. O quê ele nunca havia imaginado era essa vontade, essa dor que podia provocar o amor! Suspirou, e sentou-se no chão, desanimado. Ele daria meia vida para que seu mestre lhe desse um beijo... E agora, seu mestre ficava preocupado com aquele maldito cavaleiro chamado Camus!
o0o
Camus ouviu a voz de Wyvern se dirigir a ele, mas não entendeu o que o outro disse. Sua cabeça dava voltas e a dor das suas costas e de todo seu corpo o deixava longe da realidade.
Tentou abrir os olhos e falar com quem estava adiante dele, mas não conseguiu fazer nada disso, e uma única frase ecoava em sua mente.
'-Tudo se foi, Milo, tudo acabou. Tudo Milo… Tudo. ´
Alarmou-se quando ouviu que aquele homem chegava perto dele, mas não reagiu. Era dor demais, desesperança demais. Ele fechou os olhos e perdeu a consciência.
Alguns minutos depois, Radamanthys caminhava por um corredor úmido e gelado. Aquele lugar era, em toda a extensão da palavra, horrível. As paredes pretas pareciam molhadas com cola.
Nos braços do espectro estava Camus, cheio de sangue e meio nu. O Kyoto tentava compreender porque tinha pedido a Zeros e aos dois outros espectros que parassem de atormentar aquele homem, mas ainda não encontrara a resposta.
Tentou deixar de pensar nisso, pois a situação o incomodava. Procurava com o olhar alguma cela que não fosse tão inóspita. Encontrou uma não muito ruim ao final do corredor. Escolheu aquela porque não queria que Camus estivesse muito mal instalado quando acordasse. Esperava que o cavaleiro despertasse rápido. Assim, poderia enviar alguém para 'conversar' com o cavaleiro. Achava que depois das horas com os algozes, Camus aceitaria se unir a eles! Aquelas torturas tinham sido demais até para um homem forte como parecia ser aquele cavaleiro de Aquário!
Radamanthys abriu uma porta e se abaixou para colocar o corpo. De repente, percebendo todo o cuidado que estava tomando com o outro, jogou-o bruscamente no chão. Saiu da cela e fechou a porta com um ruído estridente.
A cela era fria, mas isso não importava, pois nesse momento o corpo de Camus não podia sentir nada. Ele estava inconsciente e, mesmo que não estivesse, a dor que sofrera seria o suficiente para fazê-lo se esquecer de todo o resto. Os espectros eram cruéis e mais do que isso: sabiam como provocar dor!
Radamanthys estava, do lado de fora da cela, olhando o corpo inerte. Camus, esse era seu nome, não era? Ele, Radamanthys, não se lembrava de que antes alguém houvesse agüentado por tanto tempo, tantas torturas! Tanta honra e fidelidade!
O espectro se perguntava o quê ele próprio, Radamanthys, teria feito? Teria resistido tanto pela causa de Hades? Ou teria pactuado com o inimigo? Não esperava tanto dos cavaleiros de Athena, mas agora, com Camus, aprendera a não subestimá-los!
Parecia que eles realmente acreditavam nessa menina, na deusa deles! Desde que vira aquele homem, percebera que se havia mais cavaleiros nobres e destemidos e que Athena era menos ridícula do que ele, Radamanthys ,pensara no início.
Apoiou seu corpo em uma das paredes. Ainda observava Camus. Era lindo! Embora estivesse muito machucado, era um homem belo, digno de ser admirado. Se ele aceitasse a proposta que lhe fora feita, seria uma grande arma para o seu senhor Hades!
Fechou seus olhos. Sem saber o porquê, não estava gostando nada da possibilidade de ter que torturar de novo aquele homem! Ele, Radamanthys, não sentia prazer em ver as almas sofrerem, mas também não se incomodava com isso. Para ele era uma coisa normal e sem nenhuma conseqüência. Afinal, essa era sua missão, sua razão de estar ali no inferno. Nunca sentira pena e não estava disposto a começar a sentir agora. Mas era pena o que estava sentindo? Duvidava... Admiração... Talvez... Algo mais...
Sacudiu a cabeça; já havia ficado tempo demais olhando o cavaleiro! Deu às costas a cela rapidamente, antes que tivesse vontade de ficar ali! Tinha que falar com Aiacos ou Minos para saber o que seria feito do teimoso e destemido cavaleiro dourado...
o0o
Shion de Áries havia preparado esse momento há muito tempo. Quando Aquário chegara, ficara em alerta, e, depois de vê-lo resistir do jeito que resistira às humilhantes torturas, acabou se por convencer de que era esse o cavaleiro que poderia ajudá-lo.
Sabia que Camus estava em uma cela putrefata agora. Esperavam os espectros que ele despertasse para continuarem as torturas! Ele, Shion, tinha pouco tempo!
Mesmo estando sob os serviços de Hades, o lemuriano estava sob contínua vigilância, bem menos do que estivera no começo, era verdade. Mesmo assim, todo cuidado era pouco. Os espectros haviam se surpreendido com a mentira que ele, Shion, dissera, que iria se submeter à Hades e trair a sua adorada deusa. Mas, as circunstâncias de sua morte, um assassinato vil, o ajudavam a fazer aquela mentira de traição parecer verdade diante do deus e seus kyotos
Shion era um verdadeiro espião ali dentro. Nunca havia traído Athena, e nunca a iria trair apenas fingia para tentar minar as forças de Hades de algum modo. Por isso, quando os cavaleiros dourados chegaram ao inferno, soube que tinha chegado à hora de fazer alguma coisa para salvar Athena. Porém, eles teriam que mentir, se passar por traidores, para não despertarem suspeitas...
Suspirou. Tinha que se teletransportar, e isso não era nada fácil no inferno. Elevou seu cosmo. Quando estimou que tivesse suficiente energia para isso, teletransportou-se.
Estava em uma cela escura, agora. Sua cabeça doía. Detestava como sua energia acabava rápido no inferno. Todas as forças vinham de Hades! Olhou ao seu redor e viu o corpo de Camus deitado na pedra. Parecia mal, mas ele, Shion, sabia que aquele era um cavaleiro forte... Resistiria. Ele mesmo resistira quando chegara naquele maldito lugar...
Avançou até o corpo do cavaleiro. Ajoelhou-se. Camus tinha grandes feridas no rosto. Pensou em curá-lo por um momento, mas desistiu logo da sua idéia, pois não queria levantar suspeitas das suas ações. Pegou em suas mãos a cabeça de Aquário e a puxou até que ela repousasse sobre seus joelhos.
Com uma mão, puxou os cabelos azuis até que o pescoço e a parte traseira da cabeça estivessem visíveis. Apalpou com os dedos a pele e ate chegar a um lugar, que ele reconheceu como o apropriado. Tirou de sua capa, uma grande agulha que estava oculta sob suas vestes.
Levantou a cabeça do cavaleiro mais um pouco. A agulha enfiou-a muito rapidamente, entre a testa e a cabeça. O corpo do cavaleiro deu um ligeiro sobressalto, mas, para a sorte de Shion, Camus não saiu da sua inconsciência. A ponta o instrumento tocou algo duro. O crânio. Abriu passagem por ele...
Shion, com mãos precisas de um cirurgião, enfiou a agulha ainda mais. Pronto, sabia que a já devia ter penetrado na hipófise.
Agora ele poderia se comunicar com Aquário, por telepatia. A glândula havia sido operada com sucesso, o poder telepático de Camus estava liberado. Não era muito, porque ele era humano, não lemuriano, mas seria o suficiente para que eles dois conseguissem conversar mentalmente sem a interferência dos espectros! Sabendo que não poderia perder mais tempo ali, Shion tirou a agulha da cabeça de Camus e deixou o cavaleiro ali na cela, exatamente como o havia encontrado. Uma agulhada a mais não seria notada no meio de tantos ferimentos...
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Depois de algumas horas Camus acordou. Ele sentia ainda na pele a dor dos golpes. Tentou levantar, mas ainda estava fraco demais e caiu sobre seus braços. Sentia uma dor viva entre a testa e a cabeça, mas não lhe deu importância. Uma dor a mais ou uma a menos. Não sabia realmente o que isso poderia importar agora...
O único que lhe importava era Milo. Não, não podia acreditar, não estava pedindo a seu amante que fosse fiel toda a vida... Não seria justo já que ele, Camus, estava morto, mas pensava que, pelo menos, teria se passado algum tempo antes que o trocasse por outro. E o outro tinha que ser justamente Hyoga? Ele, Camus, achava que o garoto gostava de Andrômeda, mas parecia que não... Era Milo o alvo do seu desejo.
Fechou os olhos, tinha que acostumar com aquilo. Afinal ele, Aquário, estava mesmo morto e seu escorpião estava vivo. Ele não podia mais voltar, nem ter ciúmes, nem sentir-se traído. Estava morto.
'- Camus, ouça.'
O cavaleiro se sobressaltou. Uma voz, uma voz em sua mente.
'- Camus, por favor escute. - Ele fechou os olhos balançando violentamente a cabeça, não, ele tinha que deixar de pensar em Milo. Além de morto, e ferrado, estava também ficando louco! – Aquário, por favor, é importante.'
Ouvia uma voz que não era a sua! Não entendia. Não queria entender. Talvez ele somente estivesse cansado. Ou talvez paranóico mesmo...
'- Camus escute.'
'- Não! - Camus gritou. Não sabia como falar com uma voz da sua mente.'
'- É importante.'
'- Quem é você?- Perguntou desesperado.'
'Não posso dizer, mas agora, por favor, fique calmo, você não está louco, está falando comigo realmente, mas não fale com a voz, fale com sua mente. Vamos tente...'
Balançou a cabeça tentando afastar esses pensamentos que não eram os seus.
'- Não.'
'- Camus, sim, eu quero lhe ajudar, mas precisa me ouvir, eu sei que você e os outros cavaleiros dourados querem se organizar para defender a deusa"'
'- Quem é você?'
'- Não pergunte. Eu quero que você aceite, que você faça parecer que está do lado de Hades, quero que diga aos outros cavaleiros dourados que estão no inferno que façam o mesmo. Se vocês tentarem resistir mais, serão torturados e aprisionados para sempre. A única maneira de permanecer vivo e combatendo é trabalhando com o inimigo e colhendo informações contra ele.'
'- Quem é você? - Voltou a perguntar Aquário, achando estranho demais falar com sua mente.'
'- Você vai saber logo, cavaleiro, muito logo.'
'- Quem é você?'
A pergunta não recebeu resposta e ele ficou sentado sobre os joelhos, tentando entender aquela louca situação. O quê acabara de acontecer? Tinha sido sua mente, loucura, ou realmente alguém? Um tremor percorreu sua coluna.
Pensou na 'conversa'. A idéia não era má. Era interessante... Mas não era sua idéia! Ele nunca teria sequer pensado em trair a sua deusa. Mas a idéia era boa. E talvez fosse sua única esperança. Fingir, mentir para ganhar forças e lutar contra o inimigo!
Alguém se aproximava da sua cela. Pensou em levantar, mas logo depois ponderou que ficar sentado era mais apropriado. Daria uma impressão de maior serenidade.
A pessoa chegava cada vez mais perto. Um jovem, de cabelos longos se apresentou atrás a porta de ferro. O coração do cavaleiro de Aquário estava batendo forte. Era agora que tinha que decidir que postura tomar definitivamente.
'- Estão querendo saber se irá se render. - informou diretamente o garoto.'
Camus levantou-se e olhou o espectro.
'- Poderíamos chegar a um acordo.'
Lune sorriu.
'- Você é muito insolente para um prisioneiro. Prisioneiros não fazem acordos!'
Lune de Balron não sabia bem o quê fazer com esse inimigo. Tinha instruções de perguntar se ele se renderia, e no caso muito provável de que isso não acontecesse, deveria continuar com a tortura, mas um acordo…
'- Qual tipo de acordo? '
'- Deixe-me ver os outros cavaleiros de Athena.'
'- Você já viu Afrodite...'
'- Quero ver todos os outros, falar realmente com ele. Se eles estiverem bem, eu aceito ouvir o que vocês têm para me oferecer...'
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'- Quer dizer que ele quer mesmo um acordo?'
'- Sim, Aiacos, ele quer.'
Minos se aproximou e perguntou, pensativo:
'- O quê acha desse cavaleiro?'
Aiacos não conseguia pensar direito com a presença do juiz perto dele, mas não podia se distrair, este assunto era de máxima importância.
'- O quê opina, Wyvern?'
'- Que deveríamos libertá-lo, tomando todas as precauções, é claro.'
Ele olhou Minos alguns segundos mais.
'- O quê você pensa?'
- Quero sua opinião, conheço a minha e você é um juiz do inferno. Acho que pode dar sua própria opinião não ?'
Aiacos sentiu-se humilhado, abaixou o olhar.
'- O quê deviam fazer?'
'- Sim, posso, e digo que não me parece má idéia que Aquário encontre seus antigos companheiros de armas. Se depois prometer nos escutar, não vejo porque isso não possa ser arranjado. Não somos monstros, somos guerreiros.'
Libertaram Camus. Deram-lhe curativos e roupas...
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Horas Depois...
Radamanthys segurava algumas chaves; sentia-se inexplicavelmente nervoso de ter o olhar de Camus pousado em suas costas.
'- Você tem cinco minutos e espero que os aproveite bem. Nesta zona do inferno, seus poderes não são apenas poucos, são inexistentes, então eu lhe aconselho ficar quieto...'
Camus gostaria de pular em suas costas e lhe enfiar uma faca. Fechou os olhos, tinha que se concentrar. E ser falsamente cordato.
Caminhavam por uma espécie de vale sem nenhum tipo de vegetação. O vento era gelado demais até para Camus. O frio não tocava o corpo, mas sim a alma, como se fosse uma espécie de debilidade. Além disso, uma névoa espessa não o deixava ver nada a sua frente.
'- É aqui. – disse-lhe o Kyoto.'
Camus percebeu outros vultos a frente dele. Reconheceu Shura, Afrodite, Máscara da Morte e Saga. Eles o olhavam bastante surpresos.
Radamanthys sorriu, vendo o silêncio entre os homens.
'- Que encontro emotivo... Estarei por aqui, e tenham consciência que dez espectros a mais, também. Vocês não têm poderes, por isso, não façam nada de estúpido. É um sábio conselho que lhes dou...'
O kyoto deu-lhes as costas e se afastou.
Quando a altiva figura de Radamanthys desapareceu, Afrodite falou.
'- O quê quer?'
Camus esperou um minuto.
'- Fazer uma proposta...- Respondeu calmamente.'
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Milo fitava o céu. Havia traído Camus algumas semanas depois da sua morte, isso era imperdoável, simplesmente horrível. E justamente com o pupilo dele, isso era cruel demais! Não podia acreditar que depois disto, Cisne ainda tinha ainda a cara de pau de querer, mesmo assim, conquistar Shun. Ele, Milo, não se sentia bem, não se sentia digno. Não sentia nada de fato. Não sentia nada, absolutamente nada.
Camus… estava tão longe agora, e seus olhos, seus belos olhos azuis foram vistos através do vidro de um copo. Sua imaginação era poderosa. E ele só pensava em seu amor... Ainda não entendia como podia ter beijado, tocado outra pele.
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Hyoga, por sua vez, parado frente o coliseu também meditava... Queria ver Andrômeda, isso era óbvio, mais não sabia se depois do que tinha feito com Milo era digno do seu amigo. Amava o jovem de cabelo verde, sim, mais depois do que acontecera não estava certo de poder lhe ser fiel. Era melhor esperar, pelos menos algum tempo. Fechou os olhos sentindo-se um completo idiota.
'- Desculpe, meu mestre... - sussurrou, esperan'do que ele pudesse de verdade ouvir essas palavras.- Eu e Milo amamos você...
Cisne ficou olhando o por do sol, rezando para que, de algum modo, Camus pudesse mesmo ouvir aquelas palavras tristonhas...
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'- Concordo. - Respondeu Shura. '
Afrodite riu.
'- Meu deus, estamos mortos, também concordarei, mas só por educação; morremos gente. Morremos. Athena nunca vai nos perdoar. É difícil de entender, eu acho que é, para vocês, mas eu já captei esse conceito.'
Máscara da Morte levantou os ombros.
'- Nunca voltaremos à vida. Mas se isso é o que deve ser feito, vamos fazê-lo. Você sabe que eu adoro uma boa briga.'
Saga olhava Camus, admirado. Ele fez um simples sim com a cabeça. Quem havia dito a ele? Como Aquário sabia que Saori ainda precisava deles?
'- Fico feliz com isso. Agora, prestem atenção... - Camus esforçou-se para se comunicar com a mente. Disse, com o pensamento'
'- Vocês... Têm ouvido vozes? Vozes mentais...'
Máscara riu e ironizou, daquele jeito irreverente dele... Respondeu por telepatia também...
'- Não, você sabe, eu não tenho consciência... Nem alma. Nem sei porque virei um espectro.'
Saga olhou sério para Máscara... E pegou um tabuleiro de xadrez, fingindo que jogava com Afrodite. Enquanto jogava, mandou uma mensagem mental para todos...
'- Você sabe do quê Camus está falando por telepatia ! Sim, todos nós ouvimos uma estranha voz, em diferentes situações... Eu mesmo, após uma sessão de tortura, voltei à consciência com uma voz dizendo que eu havia sido operado para receber mensagens por telepatia... Você sabe o quê isso quer dizer, Camus? Você sabe por que todos nós viramos telepatas subitamente, como se fossemos cria do Mu?'
Camus respirou fundo. Ainda não sabia. Mas iria descobrir... Sua mente se comunicava com facilidade com os outros, enquanto fingia estar vendo o jogo de xadrez entre Afrodite e Shura:
'- Ao que tudo indica, senhores, vamos ter um comandante para essa resistência contra Hades. Acredito que logo ele irá se comunicar conosco, dando diretrizes para sabermos como iremos enfrentar os inimigos de Athena. Por hora, teremos que nos contentar em esperar. E usarmos o poder da mente para nos comunicarmos sem que os espectros saibam...'
Peixes fez um muxoxo adorável. Era tão lindo como espectro como fora na vida terrestre!
'- Essa submissão a eles me enerva!'
Shura concordou fingindo que movia uma peça para dar um xeque no cavaleiro de cabelos azuis:
'- Não nos resta outra solução, no momento. Camus, você será nosso comandante, por enquanto.'
O italiano protestou:
"- Oras, e por quê o bonitinho do gelo, e não um de nós?'
Saga foi quem respondeu no lugar de Shura:
'- Porque ele se arriscou muito vindo até aqui e...'
'- Senhores, por enquanto, aguardaremos uma chance para nos mobilizarmos. Se nossa voz misteriosa soar de novo, darei um jeito de avisar você telepaticamente. Cuidado, lembrem-se que a força dos espectros é muito superior a nossa e que não devemos falar nada que mostre nossas intenções...'
Todos concordaram e continuaram a fingir que olhavam o jogo de tabuleiro.
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Zeros olhava intrigado por um cristal mágico. Esse cristal, presente da feiticeira Circe para o espectro lhe permitia ver os cavaleiros no local onde estavam... Um dos seus subalternos lhe perguntou:
'- E aí, estão fazendo algo suspeito?'
Zeros praguejou:
'- Que nada, estão jogando uma maldita partida de xadrez! Só isso! Como são idiotas, esses cavaleiros de Athena... Mas não vou dar sossego a eles, não vou mesmo...'
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Quando ouviu passos se aproximando, Camus deu as costas aos cavaleiro e ao jogo, que parecia empatado.
Havia sido tudo tão rápido, tão superficial... Fechou os olhos. Não seria uma batalha tão fácil assim...
Nesse instante, Radamanthys se aproximou para buscar Camus:
'- Acho que teremos uma conversa não é, Cavaleiro?- Perguntou Radamanthys. Camus, que não o tinha visto chegar, estremeceu.'
Ele olhou o kyoto com desprezo.
'- Muito bem, seja lá o que for, eu aceito.'
'- O quê está...'
'- Eu aceito tudo, estou às ordens de Hades.'
Radamanthys não sabia se estava feliz ou preocupado. Não acreditava que Camus houvesse simplesmente cedido ao seu destino...
(by Atalanta de Tebas)
N/A: Séculos depois eu volto! Nhai.. e a única coisaque eu faço é acertar a estrutura... Meu pequeno passatempo, e quase foi um presente de Natal, olhem pelo lado bom! XDDD
blog: www . heavencriminals . blogspot . com meio jogao as traças infelizmente!
Comentários eu vou responder pessoalmente! Um de cada vez! Bye!
Sini...
