RECOMEÇO

CAP. 6

MÉMORIAS NO INFERNO

Foi apenas um instante. Um instante indolor e eterno até que eu me desse conta de que estava de volta a esse lugar sem sequer me lembrar direito como.

Esse lugar horrível onde não me resta nada além da espera, do silêncio e das trevas que me sufocam. Sei que estou morto, mesmo sem saber bem por que. Só sei que morri lutando.

Lembro-me de Hades, do submundo, da minha luta desesperada por redenção. Conheço o tamanho dos meus pecados e, por um tempo que pareceu interminável, conheci também as conseqüências. Já estive no Inferno e sei que minha alma agora aguarda para voltar para lá. Eu só queria ter feito a coisa certa para poder estar de volta às trevas sem ter que temer o depois.

Sem ter que agüentar novamente a dor de ser reduzido a nada e ver o mesmo acontecendo àqueles que chamo de amigos.

Amigos...

Palavra que me remete a uma época simples. Quando éramos crianças... Uma época de crenças efêmeras e felicidades banais. Um tempo em que eu achava que podia ser normal.

O--- º°°°°°°°°° ---O

- Sai da freeeeeeeeenteeeeeeee!

- Hãn!

Era a correria de sempre no Santuário... Milo, Shura e Aioria estavam sempre aprontando às escondidas, mas quando eram descobertos, as servas os perseguia por toda a extensão das Doze Casas...

Desta vez, roubaram comida do jantar especial do Grande Mestre... À frente de todos, estava Milo... Um embrulho apertado fortemente contra o peito... Já estavam quase chegando a Leão, onde as servas só poderiam entrar com a autorização do seu Guardião... Quando aproximavam-se de Câncer, encontraram o italiano sentado nas escadarias, relaxado...pensando em como ajudar seus amigos... Na hora, Shura nem pensou... Gritou um 'Sai da Frente' e passou voando junto com os outros dois, quase atropelando o canceriano, que nada entendeu... Olhou para trás aborrecido, pensando em como faria aqueles fedelhos pagarem caro por ter atrapalhado sua concentração, mas depois sorriu, porque ouviu a voz de Aioria na saída da sua casa...

- Valeu amigão!

O--- º°°°°°°°°° ---O

Mas meu destino nunca foi uma vida comum. Sei disso agora. Eu soube no momento em que me disseram que eu seria um cavaleiro de ouro. Porque eu era belo. Porque eu era especial. Porque eu era o melhor. Após anos de treinamento e lavagem cerebral ainda se perguntavam como eu teria me tornado um narcisista com uma noção tão distorcida do que é justo.

Foi quando eu percebi que, mesmo entre os outros cavaleiros, eu era diferente. Eu não seguia o modelo-perfeito-de-defensor-supremo-da-paz-e-justiça como eles. Eu acreditava em força e beleza. E isso era tudo.

Nunca fui como eles e, por mais que relutasse em admitir, me sentia sozinho. Mas ele era como eu. Acho que o amei por isso.

Tento ver seu rosto na escuridão. As feições rústicas e charmosas, tipicamente italianas; os cabelos curtos e revoltos, o sorriso maldoso que brincava no canto de seus lábios, os orbes azuis, como um reflexo de meus próprios olhos cruéis e solitários.

Sempre fomos parecidos, talvez por isso tivéssemos desenvolvido essa amizade estranha.

Ao lado dele sempre fui solitário, mas eu não me importava. Era simplesmente natural e eu não escolheria nenhum outro lugar no mundo pra estar. Apaixonamos-nos, ainda que incapazes de perceber ou admitir isso, vítimas de nossa própria arrogância.

Hoje eu sei.

O--- º°°°°°°°°° ---O

Brigaram... Por que razão ninguém sabia... E ninguém era louco o suficiente para ir até a casa de Câncer perguntar... Até porque, uma discussão calorosa acontecia lá... E todo o Santuário podia ouvir os gritos de ambos...

Afrodite virou-se para sair, mas sentiu uma mão em seu braço, segurando-o. Fechou os olhos, contou até 10 e voltou-se para Câncer, já com um discurso malcriado na ponta da língua, mas foi surpreendido... Nem dera tempo de abrir a boca direito, na mesma hora em que virara, o canceriano o agarrara, segurando seus braços para trás, de maneira que nada pudesse fazer... Um beijo... Nada, além disso... Afrodite estava com os olhos arregalados, jamais esperava que o amigo fosse beijá-lo daquela forma... O canceriano estava já nervoso... O pisciano não correspondia ao beijo... Mantinha os lábios fechados... Afrodite sentiu as mãos do italiano afrouxarem nos seus braços e começarem a subir lentamente por eles... Aspirou o perfume dele e fechou os olhos, deixando-se levar pelo momento... Passado o susto, abriu de leve a boca, convidando o amigo a fazer o que tanto queria... O coração do canceriano deu um pulo quando sentiu a boca de Afrodite se abrir. Abraçou-o ternamente e aprofundou o beijo... Ficaram por longos minutos daquele jeito, apenas sentindo o gosto da boca um do outro e o calor que emanava de seus corpos...

Separaram-se contra a vontade, entre vários beijinhos... Afrodite sorriu um pouco sem-jeito e o italiano abaixou a cabeça, escondendo o rosto rubro... Ficaram em silêncio, sem saber o que dizer por um tempo, até que o canceriano sussurrou:

- Me desculpe...

O--- º°°°°°°°°° ---O

Sei que ele amava porque eu via que ele era mais do que aparentava ser. Podíamos ter a mesma frieza, a mesma mentalidade distorcida, mas sempre fomos mais que meros assassinos que se escondem nas sombras.

Máscara da Morte, para o resto. Para mim, sempre foi Carlo.

Aquele que tinha olhos como os meus; aquele que sempre esteve ao meu lado, aquele a quem eu sempre pertenci sem saber.

Quando subimos as escadas do Santuário, disfarçados de espectros de Hades, quando fomos novamente entregues à escuridão, quando sofremos juntos no Inferno. Aquele que eu amei, mesmo no tempo em que só era capaz de amar a mim mesmo.

Aquele que eu queria que estivesse comigo agora.

Porque é só quando me sinto seguro.

Queria que alguém tivesse me ensinado a aproveitar cada instante da minha vida, antes que eles me fossem roubados. Porque a vida não espera e quando você se dá conta lembranças vagas e oportunidades perdidas são tudo o que restam.

À minha volta continua tudo escuro. Aos poucos minha sanidade se esvai e apenas a imagem nítida de seu rosto é o que me impede de enlouquecer.

Carlo.

Meu cosmo desesperado procura pelo dele. Eu não quero mais me sentir sozinho. Nunca mais.

"Carlo! Carlo!" são meus gritos desesperados sem qualquer expectativa de resposta.

Nada aconteceu. Ninguém veio. E eu continuo a encarar o escuro por incontáveis instantes de silêncio.

É quando sinto dois braços fortes a me envolverem pelas costas e sei que não estou mais só.

"Afrodite." Eu o ouço sussurrar de um jeito que eu sempre quis ouvir.

E, naquele instante eu soube. Naquele instante eu me lembrei do momento embaçado da minha morte.

No Muro das Lamentações, com todos os cavaleiros de ouro chocando sua energia contra aquela parede, eu senti o mesmo toque familiar desses dois braços como que numa última e inútil tentativa de me proteger.

"Como você me achou?"

"Seu cosmo. Não parava de me chamar. E eu precisava te encontrar ou ia enlouquecer aqui."

"Carlo..." tem milhões de coisas que eu quero dizer. Milhões de coisas que eu quero perguntar. Mas apenas uma que eu consigo expressar. "... naquela hora, quando nós morremos, por que você..."

"Não sei. Eu sabia que era inútil, mas meu corpo se moveu mesmo assim. Porque eu sabia que era minha última chance de te mostrar, Dite. De mostrar que sempre foi você. Foi você que se aproximou de mim quando eu não era nada mais que um sádico, que cometeu os mesmos erros que eu, que se arrependeu comigo, que sofreu comigo."

Sinto as lágrimas escorrerem silenciosas pelo meu rosto enquanto afundo no calor daqueles braços sentindo-me seguro. Se essa sensação é falsa ou temporária não importa. Estamos aqui. Depois de tanto tempo e tantos erros, estamos aqui.

"É tarde demais pra eu estar te dizendo isso, não é?"

"Eu queria muito poder ter te dito o mesmo, antes. A verdade é que desperdiçamos nossas vidas errando, mas foram esses erros que nos uniram. É tarde para nos arrependermos, mas, por enquanto, temos um ao outro. Eu não vou a lugar nenhum... Carlo."

"E eu vou ficar aqui com você."

Esse momento também vai passar, eu sei. E seremos novamente entregues à sofreguidão eterna. Mas agora eu quero apenas me entregar ao calor dos braços pelos quais eu sempre ansiei, sem saber.

Por que é inevitável.

Tudo na vida passa.

N/A

Oix!

Pessoas por favor, ñ m matem! Eu demorei pq aconteceram várias coisas neste intervalo d tempo... Eu ñ tinha nenhuma vontade d escrever... Mas agora k estou! -

Agradecimentos a Lyra, por ter cedido sua fic "Escuro" para q eu usasse d corpo p este capítulo! Arigatou moxa!

E um grande beijo as pessoas q ainda se daum ao trabalho d ler essa fic! xDDD

Reviews, plix! ..