Sentado sob o galho de uma arvore qualquer do ningenkai, Hiei lia e relia incrédulo, o nome à sua frente. Não acreditava em destino, mas se ele de fato existisse, o mesmo resolveu fazê-lo de bobo. Com tantas pessoas participando dessa maldita brincadeira de amigo secreto e ele tinha que tirar justo quem menos queria? Chegou a pensar numa possível armação, mas não era possível, ninguém sabia, nem aquela raposa dissimulada poderia ser tão astuta a ponto de descobrir algo que ele guardava a sete chaves, no fundo de sua alma.
De qualquer forma, ficar remoendo seu azar no sorteio não adiantaria nada, tinha um problema muito maior agora, precisava providenciar um presente. Mas o que? Tinha de admitir, não conhecia a pessoa direito,não tinha idéia do que ela poderia querer. Não sabia quais eram as coisas das quais mais gostava, não sabia se precisava de algo, nem sua cor favorita ele conhecia. Odiava admitir, mas numa situação como esta, só havia uma pessoa a recorrer. Dirigiu-se na mesma hora para a casa de Kurama, era o mínimo que aquele ruivo idiota poderia fazer, depois de arrastá-lo para essa cilada.
Hiei observou o local, não havia ninguém por perto e Kurama estava aparentemente concentrado em um livro, deitado em sua cama. Pulou para a janela do quarto do ruivo e entrou, felizmente o amigo conhecia o bizarro hábito do youkai e sempre deixava a janela aberta:
- Não tinha nada melhor pra fazer raposa? - Hiei perguntou demonstrando sua presença no local.
- Olha quem fala. Não tinha nenhuma patrulha pra fazer, não? - Kurama respondeu irônico largando o livro sobre a cama.
Hiei apenas desviou o olhar para o mesmo. Permanecendo em silêncio, pegou o livro, "O Código Da Vinci", começando a foleá-lo. Kurama ficou observando e resolveu quebrar o silêncio:
- Você não veio aqui pra apreciar meu gosto literário não é?
Contudo o koorime parecia concentrado na leitura, o livro parecia interessante; um assassinato num museu, uma perseguição, um mistério sobre um famoso artista, uma ceita secreta..:
- Ei! - Kurama havia tomado o livro das mãos de Hiei.
- Quando eu terminar, lhe empresto. Agora me diga, por que veio aqui? - Falando isso, dirigiu-se à estante para guardar o livro.
Hiei começou a fitar a janela, estava começando a nevar, coisa comum nesta época do ano. Esse clima lhe fazia lembrar o País de Gelo, seu passado, sua irmã. Balançou a cabeça, não era o momento para estas lembranças, mas sim de pensar em como pediaria ajuda à Kurama:
- E então? - O amigo o observava, à espera de uma resposta.
O youkai sentou-se numa poltrona de forma desleixada, respirou fundo e falou:
- Esse negócio de amigo secreto...onde eu consigo um presente?
Kurama cruzou os braços sentando-se na cama e iniciando o interrogatório:
- Depende muito do presente que você quer dar. Cada presente tem uma loja específica. Já escolheu o presente?
Hiei apenas o encarou com um olhar ameaçador:
- Tudo bem, acho que isso é um não. Vejamos, você não quer apenas saber onde comprar o presente, mas qual presente comprar, não é mesmo? - Kurama falava com ar pensativo.
- Grande gênio! - Hiei respondeu irônico.
- Acho que posso ajudá-lo nisso, se me disser quem você tirou. - Embora carregasse uma expressão séria na face, Kurama ria-se por dentro.
- Esquece raposa, não vou contar! Dá licença! - Hiei levantava-se já irritado quando Kurama, agora rindo-se por fora o acalmou:
- Tudo bem, era só brincadeira. Não precisa me contar quem é. Vamos fazer o seguinte, eu vou listando algumas possibilidades e você me diz se alguma lhe agrada.
Hiei voltou a sentar-se atento às palavras de Kurama:
- Vejamos, vamos começar por...Ah, Por que não um livro? Que tipo de livro essa pessoa gosta?
- Hunf. Se eu soubesse já teria comprado. - Hiei respondeu seco.
- Tudo bem. Você conhece o gosto musical da pessoa? Poderia ser um CD, ou um DVD, sabe de algum filme que seu amigo secreto goste? - Kurama continuava com as perguntas, mas tudo o que obteu foi um olhar de descontente vindo de Hiei. Persistente, Kurama prosseguiu:
- Um roupa? Um perfume? Sabe do que a pessoa gosta para este tipo de coisa? Que coisas ela costuma usar?
Hiei apenas balançou a cabeça em negativa.
- Uma agenda. Sabe se o seu amigo secreto precisa de uma? - Agora a persistência de Kurama se esvaia.
- Não! - Hiei voltou a se irritar - Isso não vai dar certo. Alguma outra idéia, Senhor especialista?
Kurama baixou a cabeça pensativo e, num impulso levantou-se sorridente:
- Tenho sim! Vamos ao shoping!
Hiei o encarou com um olhar de despreso:
- Que idéia ridícula é essa Kurama!
Kurama já pegava sua carteira e um casaco, encaminhando-se para a porta:
- Um shoping é a melhor opção. Tem todo o tipo de loja, você poderá ver e escolher algo que lhe agrade. Trouxe dinheiro?
Hiei não respondeu, dirigiu-se à janela e pulou para fora, onde ficou esperando Kurama sair. Minutos depois, entrava no carro do amigo e ambos seguiam em direção ao shoping mais próximo.
Aquilo era um inferno enfeitado com luzes de natal. Ningens idiotas para todos os lados, mulheres com sacolas e mais sacolas, adolescentes rindo alto e andando em bandos, um grupo de crinças conseguia gritar mais alto ainda para ver um velho barbudo vestido de vermelho, lojas e mais lojas para todos os lados, todas lotadas:
- Erramos o caminho e viemos parar no pior lugar do Makai. - Hiei falou com um olhar de espanto para todo aquele movimento.
- Não Hiei, isso é só um shoping center em época de natal. - Kurama ignorou o aparente espanto de Hiei e o empurrou para dentro do prédio enorme. - Agora vamos atrás dos presentes, também tenho que encontrar um.
Os dois começaram a caminhar pelos intermináveis corredores do shoping, Hiei observava as vitrines, aquilo não estava ajudando, qualquer coisa poderia ser o presente, uma roupa, um sapato, perfumes, qualquer coisa. De repente Kurama parou em frente a uma loja masculina, tirando Hiei de seu devaneio:
- Preciso comprar meu presente. Por que não dá mais uma volta enquanto isso? Quem sabe encontra algo por ai. Te encontro depois.
Hiei bufou, enfiou as mãos nos bolsos e virou as costas. Andar por aquele lugar sozinho não era uma boa idéia, pobre do infeliz que ousasse esbarrar nele num momento como este, estava visivelmente irritado. Aquele lugar abarrotado de gente o incomodava, mal conseguia organizar seus pensamentos direito e seus pés acabaram levando-o a uma loja de perfumes.
Kurama andava pelo corredor com uma sacola da "HUGO BOSS", olhando as lojas e procurando pelo amigo quando viu uma cena cômica; Hiei estava com os braços apoiados num balcão e as mão segurando seu queixo, no rosto uma expressão de tédio. Do outro lado do balcão, uma pobre vendedora pegava frasco por frasco da prateleira, borrifava em um papel e lhe dava para sentir o cheiro:
- "Cinemá" , último lançamento "YvesSaintLaurent"!
- Não. - Hiei sentiu o cheiro e respondeu negativamente.
- "Chanel nº 5", toda mulher ama! - com um sorriso amarelo, mais uma vez a vendedora alcançou o papel.
- Não. - outra resposta seca.
Numa derradeira tentativa, a moça fez outra oferta:
- E um artigo de maquiagem? Um baton "Dior" quem sabe?
Dessa vez Hiei nem respondeu, apenas a olhou e deixou bem claro que não era isso que procurava. A pobre moça já não sabia mais o que fazer, o balcão estava cheio de frascos, havia mostrado todos os perfumes mais caros e mais sofisticados, nada agradava aquele homem, sugeriu artigos de maquiagem, loções hidratantes das marcas mais famosas, mas aquele cliente não se contentava com nada, só respondia não, isso quando não lhe dizia que era tudo a mesma coisa! Como poderia dizer que um "Dior" era igual a um "YvesSaintLaurent"! E como alguém deixou um maluco desses sozinho para fazer compras! Kurama resolveu entrar na loja, alguém parecia precisar muito de ajuda:
- E então? Encontrou alguma coisa? - Perguntou sorridente para Hiei.
A vendedora apagou o pensamento anterior, se foi aquele monumento que cometeu o crime, estava perdoado. Hiei apenas virou os olhos e disse:
- São todos iguais, nenhum se parece com ela.
- Então é ELA? - Kurama ria-se com o descuido do youkai.
Hiei ficou vermelho e antes que explodisse resolveu:
- Vamos embora daqui!
O koorime dirigiu-se enfurecido para a porta enquanto o ruivo pedia desculpas à vendedora e o acompanhava logo em seguida. Sabia que aquilo não daria certo, não nascera para isso, a única coisa que se sentia habilitado para comprar eram cuecas, perfumes definitivamente não entravam na sua lista de compras.
No caminho para a saída, Hiei parou repentinamente diante da vitrine de uma joalheria. Ali estava ele, o objeto ideal, como não reparou nele antes, quando entrara? Não importava, aquele era o presente perfeito. Entrou feito um furação na loja, precisava compra-lo imediatamente.
N/A: Algumas considerações sobre este capítulo:
Quanto às marcas, não, eu não ganho para citá-las, quem dera se isso fosse verdade...ai...ai... apenas as coloquei aqui porque queria dar um certo charme à minha fic... e me matei de rir ao imaginar Hiei despresando dessa forma os perfumes. Agora, gente, quanto à cueca, bem,... num momento em que não tinha nada para fazer, fiquei pensando: "O que será que um youkai usa de baixo de suas calças?" Acho que por mais reservado que Hiei seja, pelo menos cuecas ele compra... será? bem, aqui ELE COMPRA! Beijos e até mais...o último capítulo está sendo o mais difícil de escrever.., aceito dicas para finalizar! B-jão pra todos!
