Capítulo 2- A oferta

Acordei em uma maca, numa sala pequena, branca, com um cartaz de "Silêncio por favor" e ao meu redor estavam Judith, Sarah e meu chefe. Todos pareciam preocupados mas assim que eu pisquei aliviaram-se. Quanta cerimônia por uma piscadela.
- O que houve com você Jules?- Perguntou Judith . Eu tentei falar algo mais não consegui. Minha boca não produzia sons.
- A gente achou que você estava tendo um treco- Falou Sarah preocupada.
- O que houve? – Finalmente perguntei.
- Bom nós estávamos falando com você e de repente você ficou branca e desmaiou.- Falou Sarah com um acento de culpa na voz.
- Então te trouxemos para a enfermaria- Disse Judith e eu olhei para os lados. Então foi para enfermaria que me trouxeram. Eu nem sabia que tinha uma enfermaria no prédio. De repente eu me lembrei do que havia acontecido. A discussão, o jornal, a notícia. Sim, a notícia. Mas antes que eu pudesse pensar em algo mais, uma mulher gorducha e vestida de branco, com um coque alto, chegou.
- Ah! Vejo que você acordou meu bem! – Ela colocou a mão na minha testa- É, não está com febre.
Dei um sorriso forçado.
- O que houve com ela enfermeira, Sally?
- Provavelmente não comeu nada de manhã, sofreu alguma situação de estresse, ou...- Ela interrompeu, olhou para os dois lados e sussurrou- ou ela está grávida.
Todos me olharam boquiabertos. Eu comecei a rir. Como é que eu poderia estar grávida? E o mais importante, de quem? Só se for do ar.
- Eu não estou grávida!- Disse sinceramente.
- Como não pudemos perceber Sarah- Falou Judith me abraçando com os olhos cheios de água
- E a gente preocupada com festas e namorados- Sarah completou também me abraçando
- Mas eu não estou grávida- Falei rindo ainda. A situação toda era muito cômica
- A síndrome da negação- Começou Judith- Já já passa, querida.
- Quando perceber a linda criança que está dentro de você- Disso Sarah sorrindo.
- Mas eu NÃO estou grávida- Me desvencilhei do abraço. Elas olharam para a enfermeira que confirmou com um aceno de cabeça e voltaram a ficar emburradas.
- Você acha que ela conseguirá trabalhar hoje ?Eu preciso dela no jornal.- Perguntou meu chefe, meio bravo. Como ele era solidário. A primeira vez que ele abre a boca depois que eu desmaio é para perguntar se eu vou voltar a trabalhar. Isso porque foi cogitada a idéia de eu estar grávida. Como ele se preocupava com as pessoas.
- Acho que não- Respondeu a enfermeira sorrindo- É melhor ela ir para a casa descansar.
Meu chefe confirmou com um aceno de cabeça meio enfezado e minhas amigas se ofereceram para me levar para casa. Eu agradeci e disse que iria andando. Elas me olharam preocupadas mas concordaram com a idéia.
Fui andando os dez quarteirões tentando não pensar no que havia acontecido. No que eu havia lido. Tentando não pensar nele. Mas não consegui, minha caminhada até minha casa parecia dez vezes maior do que realmente era. Cheguei em casa, subi as escadas, coloquei as chaves sob a mesinha de canto e me joguei na cama. Como ele havia fugido? Com magia? Não, não pode ser... E como os dementadores não o haviam...? Senti um calafrio e uma grande tristeza. Não o haviam matado? Fiquei olhando pros lados do meu quarto e adormeci sem querer.
Nem me lembro o que havia sonhado. Algo relacionado com papagaios, chantilly e a rainha da Inglaterra. Só sei que quando acordei já estava escuro, e para a minha surpresa, qual foi o primeiro pensamento que invadiu minha mente? " Sirius está livre. Andando pelas ruas." Decidi que aquilo era muito para mim e resolvi dar uma volta.

Coloquei meu casaco e comecei a andar pelas ruas de Londres. Ia andando e pensando. Memórias vieram á tona. Um turbilhão de pensamentos. Nem me dei conta de onde estava até que vi alguém se aproximar. Olhei para os lados e vi que estava em uma estradinha deserta. Comecei a ficar com medo, e a estranha figura foi se aproximando. E se fosse um ladrão? O que eu faria? Coloquei a mão no bolso, mas minha varinha não estava lá. Alias ela não estava lá há muito tempo. Mas eu nunca achei que realmente a precisaria usar de novo. A estranha figura foi se aproximando e tomando forma. Era alguém alto, magro, com longos cabelos e longas barbas e vinha andando com tranqüilidade. Resolvi perguntar quem era. Mas a pessoa somente sorriu. E ao ver aquele sorriso, me aliviei. Eu conhecia o dono daquele sorriso. O havia conhecido há muito tempo. Me aproximei.
–Dumbledore!- Exclamei me aproximando.
- Há quanto tempo Julia. Quanto tempo...- Disse sorrindo de volta. Eu adorava aquele sorriso . Fiquei tão feliz que o abracei e depois que o soltei fiquei meio encabulada.
- Como esta indo professor?- Perguntei corando.
– Bom, eu estou muito bem. Mas como você está?- Perguntou serenamente.
- Bem também... Eu acho...
- Entendo- Sorriu e começou a me examinar dos pés a cabeça.
- Mas... Não foi mera coincidência nos encontrarmos aqui, foi professor?- Perguntei desconfiada.
- Não, não foi.- Disse calmamente- Na verdade eu quero te oferecer um cargo.
- Um cargo?- Exclamei. De todas as coisas que haviam passado na minha cabeça que ele iria perguntar, essa sem dúvida era a última delas- Mas...Eu já tenho um emprego.
Ele sorriu e começou a caminhar. O acompanhei. Ficamos muito tempo em silêncio. Eu, quase morrendo de ansiedade por dentro. Que espécie de cargo seria esse? Olhei para o céu. Todo estrelado e com uma linda lua cheia. Como era diferente o céu no meio de Londres. Eu havia até me esquecido de como eu amava as estrelas. Lembrei que queria ser astronauta quando era criança.
- Como está indo a sua vida Julia?- Dumbledore de repente me perguntou
- Bem, mas eu já te falei isso; não professor?- Afirmei sem entender.
- Sim, claro.- Ele continuou- Mas eu quero saber como você realmente está. Depois de 13 anos sem nem saber uma notícia do mundo mágico, e principalmente sem nem usar magia.
Eu suspirei fortemente. Não sabia o que falar. Comecei a me lembrar daquela notícia que havia lido.
- Eu vou...bem- Menti.
- Sim, sei.- Sorriu novamente. Ele nunca perdia a classe- Penso que você já sabe da noticia. Da fuga de Sirius.
Paramos em frente a uma grande arvore. Fiz que sim com a cabeça, mas não conseguia olhar-lhe nos olhos .
- Como...- Comecei
- Como ele fugiu? Não faço a mínima idéia. Mas não foi disso que vim falar.
Apenas o olhei , e ele continuou:
- Como disse estou aqui para te oferecer um cargo. Um cargo em Hogwarts, professora de Historia da Magia.- Completou
- História da Magia?- Sorri- Mas o que houve com...
- Ele resolveu se aposentar. Sabia que fantasmas também se cansam de dar aulas? Eu não.- Ele sorriu para mim e eu retribui.- Então o que você acha?
Olhei para ele e depois para a árvore em nossa frente. Vi alguma coisa se mexer entre os arbustos. Mas resolvi ignorar, minha cabeça estava em outro lugar.
- Bom, eu agradeço a oferta senhor, mas eu já tenho um trabalho, uma vida e...
- Me diga uma coisa Julia- Ele olhou nos meus olhos- Você gosta da vida que vive?
Não fiz que sim nem que não. Somente dei de ombros.
- Foi o que eu pensei. Mas eu queria que você soubesse que ele está em Hogwarts.
-Ele?- Demorei um pouco para perceber de quem estávamos falando – Mas já?
Ele sorriu e concordou. Comecei a andar de um lado para outro. O que fazer?
- Mas, mas... Eu não posso ir...Tenho um trabalho, uma vida.
- Entendo. Mas achei que você gostaria de conhecê-lo, e voltar a vida mágica que eu sei que você ama desde o dia que a carta chegou em sua casa. Afinal ninguém era bruxo em sua família.
– É, foi uma surpresa e tanto- Relembrei- Mas, mesmo assim. Eu não sei se posso ir, ainda mais com Sirius solto novamente, tudo vai vir á tona.
Me sentei na calçada, estava cansada de andar. Dumbledore se sentou do meu lado e me olhou:
- É por isso principalmente. Ele vai ficar muito confuso com toda essa historia. Alguém terá que explicar para ele toda a situação e quem melhor que você?- Ele me lançou um olhar e eu corei, não sei porque. Talvez porque achei que ele estivesse lendo minha mente ou coisa parecida.- Faça isso por Lily e James.
Olhei para ele e lembrei dos Potters. Meus amigos, meus grandes amigos. Amizade de longa data, que achei que duraria para sempre. Porém havia sido brutalmente interrompida há 13 longos anos atrás. Achei que devia a eles isso. Meus olhos se encheram de lágrimas. Finalmente concordei com a cabeça pois não era capaz de falar.
-Excelente.- Disse Dumbledore se levantando- Te espero então dia 1º de Setembro na estação King's Cross.
Fiz que sim com a cabeça e me levantei.
- Como...Como que ele se parece?- Perguntei finalmente
- Dia 1º de Setembro, Julia. 1º de Setembro- Sorriu e sumiu. Desaparatou. Naquele exato momento eu senti vontade de aparatar também. Eu ia voltar ao mundo mágico. Finalmente, depois de anos. Não conseguir conter meu sorriso e apressei-me até em casa para arrumar minhas coisas.