ATOS DE VINGANÇA
Capítulo 2
Frio, dor, ódio, vergonha, escuro, derrota, humilhação. Isso já está virando lugar comum em minha vida pensa o Cavaleiro de Câncer. Onde ele estava com a cabeça de fazer o que fez? Aliás, o que foi que ele fez? A dor é tão grande que ele não consegue se lembrar. A única coisa que vem à sua mente é que algo está pendurado em seus braços e isso dói. Alguns minutos a mais de consciência e ele percebe que não é algo pendurado em seus braços e sim SEUS braços pendurados em algo.
- Algemas? Alguém algemou um cavaleiro de Athena? Alguns anos no passado eu consideraria a atitude estúpida, agora o único que consegue achar estúpido é ele mesmo. DÊMONIOS! De onde saiu essa autopiedade ridícula!
- Talvez de sua recém descoberta pequenez e mortalidade – uma voz feminina flutua no ar até os ouvidos do cavaleiro acorrentado.
Nota mental para a próxima batalha: a vadia lê mentes.
- Na-ni-na-não. Não haverá próxima, pequenino.
Pequenino? Chega, já basta estar algemado mas tratado como uma criança retardada não!
- P-primeiro...arh-arh – ("ahhh, ele ainda consegue falar") – Minha mortalidade...eu...já descobri há...anos, ninguém que morre três vezes é idiota o bastante...para...se...considerar imortal...- retruca Máscara da Morte – Segundo...considerando-se que não sinto...nada sobre minha...pele, você já teve uma noção de minha pequenez...
- Ahhhhhhh...a insolência...- uma segunda voz mais áspera e cruel se eleva. Ao ouvi-la Máscara da Morte não consegue evitar a lembrança de alguns de seus crimes.
- Pensei que fosse ficar mais calmo depois de todo esse tempo. Ainda acha que vai sair daí? – uma terceira voz, dessa vez mais lânguida, porém não menos carregada de maldade
- Feh...um alemão maluco disse uma vez que o tempo era uma ilusão – ironiza o cavaleiro – o passado,o presente e o futuro são uma coisa só. Logo, não vou sair...eu JÁ saí e JÁ estou arrebentando a fuça de todas vocês!
Risadas, três pessoas diferentes riem desesperadamente da bravata do alquebrado cavaleiro.
- Parecem porcos tocando tuba...
- Tolo, você vai se render...em breve, sei que vai. – diz a primeira voz desaparecendo na escuridão como as outras três.
- Pfff...voltem quando quiserem...
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Veneza
Afrodite está adorando passear de gôndola, embora Aldebaran como gondoleiro não seja algo muito confiável, aliás, qualquer coisa mais delicada que um tanque de guerra oferece certa dificuldade para o gigantesco cavaleiro.
O sexteto está em na cidade há três semanas e não acharam pistas do paradeiro do cavaleiro sumido. Shura tem a impressão que o fato dos cavaleiros de Peixes e Touro ficarem quicando de lojas para pontos turísticos seja um fator importante nessa equação.
- Gente, – se defende a reencarnação de Narciso – vocês ouviram o Shaka, Máscara sabe se cuidar...cuidado com esse remo! –ele rosna para o Touro.
- Não viemos a passeio rapazes – diz Aioros guiando outra gôndola. – E sim para trabalhar, o mundo corre perigo.
- Como sempre...- fala Saga olhando o mapa da cidade – à direita no próximo canal.
- Uma coisa ele fez direitinho – fala Mu – lendo algumas cartas enviadas por Câncer
- Concordo – fala Shura – Ele seguiu à risca as instruções de sigilo. Ouçam só:"Dia 15 de maio."
- O que teve no dia 15? – Pergunta Aldebaran
- Sei lá! Ele enviava telegramas só com o dia!- ri Shura – de vez em quando com o local.
- Tem um aqui que foi enviado de Creta no dia 30 abril dizendo que no dia 1º de janeiro ele estava em Esparta.
- Vai ver ele não sumiu, mas simplesmente não quer se comunicar. – arrisca Sagitário.
Eles chegam a um píer. Segundo informações colhidas dos moradores um homem cuja descrição confere com a do cavaleiro sumido, costumava ir até um restaurante próximo e lá passava horas.
- Ei! Esperem a gente – pedem Peixes e Touro – é difícil andar carregando tudo isso.
- Quem pariu Mateus que o embale – Saga responde sério – Podiam ter deixado para fazer compras depois de terminada a missão.
- E é bem feito para os dois – Aioros completa – só alugamos duas gôndolas por que uma só não carregaria suas compras e nós seis.
A cena é ridícula, Aldebaran parece uma árvore de natal gigante de cabeça para baixo e Afrodite uma guirlanda sacoleira.
O restaurante tem uma bela vista para os canais. Um freqüentador sentado nas mesinhas do lado de fora teria uma bela visão do pôr-do-sol.
- Lugar agradável, difícil crer que Máscara da Morte fosse se sentir à vontade aqui. – diz Mu olhando em volta.
- O dia já está perdido mesmo, Saga, desamarra essa cara e vamos descansar.
- Shura, já se passaram vinte e três dias e nem ao menos descobrimos onde ele dormia.
- Aioros volta de dentro do restaurante com a primeira informação decente em dias.
- Coma e beba, Gêmeos, depois de "desovarmos" as tralhas desses dois no hotel, faremos uma visitinha ao senhorio de Máscara da Morte.
- Conseguiu algo?
- Sim, aquele garçom ali, o que está vindo com duas garrafas de vinho tem algumas coisas para nos contar.
Veneza dois anos antes
- Até que o pôr-do-sol é uma cena bonita – pensa Câncer – Fica particularmente interessante através de uma taça de vinho!
Máscara da Morte já estava em Veneza há uma semana e há três dias passavas as tardes naquele lugar. Passara por Lesbos, Esparta, Macedônia e Creta. Em lugar nenhum conseguiu informações decentes relativas aos cavaleiros negros. Ocorreram ataques nesses lugares mas nada grave. Além de não matarem ninguém os atacantes não morriam.
Só uma amazona morrera em combate e mesmo assim ninguém conseguiu ver o rosto do assassino, que parecia ser uma amazona também.
- Céus! Dois meses e não vi nada digno de...- algo chama a sua atenção de maneira violenta. -...Dio Santo!
Uma jovem trajando um vestido de seda branca transparente passa em frente ao restaurante, olha para ele e (absurdo, ela não vai fazer isso!) senta em sua mesa.
- Olá, "estranho" – ela dá uma entonação curiosa à palavra "estranho".
- Mas que se dane – ele pensa- com o sutiã que ela não está usando ela pode cantar a Cavalgada das Valquírias como se fosse Atirei-o-Pau-no-Gato.
- Notei que me olhava – ela continua - e agora que me tens próxima ficas em silêncio?
- Não olhei ninguém, você que veio até mim, mas já que chegou que tal uma taça de vinho?
- Não costumo beber sem acompanhamento. Talvez em um jantar aceite sua oferta, cavaleiro.
- "Cavaleiro?" Foi um acidente ou ela engoliu o "h" de propósito? – Máscara sente que a fisionomia da jovem é familiar, mas isso não importa por enquanto e diz em voz alta. – Sem problema. GARÇOM! Sirva a jovem com as iguarias que ela preferir.
- Vejo financeiramente podes agradar uma mulher e emocionalmente?
- Emocionalmente?Não sei, mas física...- ele sorri através da taça
- Não, não quero nada, obrigada – ela afasta o garçom.- não agora, mas se o convite valer até a noite.- ela morde os lábios e se ergue- Nada como um pouco de vinho sob o luar, que achas?
- Desperdício, para que ir e voltar? São seis horas da tarde a lua não tarda. A menos que prefira um local mais sossegado e aconchegante.
- Tem razão. – encarando-o com olhos de um verde puríssimo beija -lhe a mão, rindo ele espera sinceramente que não tenha de retribuir a carícia, mas como ela estende a mão ele o faz devolvendo o olhar dela com um cheio de más intenções.
Presente
Terminada a narrativa o garçom foi recompensado com alguns euros a mais na gorjeta, embora dez por cento só dos gastos do Aldebaran fossem suficientes para que ele montasse seu próprio negócio.
Eles seguiram do restaurante ao hotel onde se hospedaram e de lá foram para o hotel onde Máscara ficara.
- Então em vez de cumprir a missão ele foi pegar mulher? – Aioros ficou indignado com a narrativa
- Nem todos têm sua dedicação, conforme-se com isso, homem – Saga está mais preocupado com detalhe da mulher ter ido diretamente até Câncer – Isso me cheira a cilada.
- Vamos descobrir já – diz Mu
- Não entendi como eles tinham o endereço do Máscara. – Shura pergunta a Aioros.
- Ele pedia vinhos do restaurante que eram entregues no hotel.
- Uso legal do dinheiro do Santuário – brinca Aldebaran.
Não foi difícil convencer o senhorio a deixá-los entrar. Como Máscara não havia fechado a conta e foi bem explícito a cerca de não ser incomodado (tão explícito que ninguém se atrevia a limpar o quarto sem que ele mandasse) bastou algumas notas caírem do bolso de Shura e a chave do quarto se jogou nas mãos deste.
O quarto estava meio desarrumado, teias de aranha, mofo, baratas, rolhas de garrafas de vinho formavam o que parecia uma miniatura da Casa de Câncer. Um mapa em cima da mesa marcava os locais investigados e os ainda por investigar. Anotações em latim em alguns papéis deixaram Afrodite confuso.
- Latim? Ele não é italiano?
- Italiano deriva do latim que é língua morta, vai ver é pra despistar alguém que lesse suas anotações. – Chuta Saga enquanto olha o armário.
- Garanto que ME despistou.
- Mu! Olha! Pedaços de armadura. – Shura os encontrou em uma das malas
- Ele deve ter coletado isso nos locais onde passou, separem isso para levar pro hotel.
- Oh-ho! – Ri Aldebaran saindo do banheiro com uma calcinha nas mãos– Acho que o mistério das amazonas de branco ele desvendou.
Saga não tirava da cabeça que tinha algo errado, ele vai até a janela e olha a cidade. Do alto de três andares dava para vem um bom pedaço das malhas de canais, a lua brilhando na água, e os casais passeando nas gôndolas davam uma aparência tranqüila ao cenário. Dentro do quarto os outros cinco ainda vasculhavam tudo em busca de informações do que ocorrera com Máscara da Morte.
- Interessante. – diz Aioros – Nós achamos malas, algumas roupas dele...
- Uma dela...
- ...Mas nada do passaporte, armadura ou dinheiro ele pode ter tido de sair daqui correndo.
- Fugindo? – sugere Mu
- Pode ser. – Afrodite encara o mapa- Mas para onde ele foi? E por que?
- Duas taças – aponta Shura para os pés da cama – e uma delas suja de batom. Somando isso com a evidência do banheiro e ,a menos que ele tenha dupla personalidade,...
Saga olha para Shura como se o desafiasse a falar besteira.
- ...Ou quisesse se matar de uma maneira nada convencional – diz Aldebaran
apontando para certas marcas sugestivas espalhadas pelo quarto.
- ...A última vez que ele esteve aqui foi com aquela mulher. – conclui Aioros
- Há um ano e meio atrás...
Passado
Algumas horas após o tórrido jantar a jovem, cujo nome ele nem se deu ao luxo de perguntar, se retira deixando um satisfeito cavaleiro de Athena na cama.
- Pra que a pressa? A noite é uma criança.
- A noite era uma criança as seis da tarde. Agora as dez da noite ela já é adulta – ela sorri o beija e sai.
- Madonna Mia! Se a cada missão dessas, eu esbarrar em uma beldade assim vou me candidatar sempre!
Ele vai até o banheiro e nota que ela esqueceu algo. Rindo satisfeito ele pega a peça de roupa e enquanto se banha lembra do furor de luxúria ao qual se entregou.("Também sou filho de Deus! Aposto que Athena faria o mesmo se o pirralho não estivesse vegetando!") Alguma coisa lhe martela o fundo da cabeça, uma idéia recorrente mas ele tem dificuldade traze-la à tona.
- Ahhh, que corpo! Faz tempo que não desfruto de uma mulher assim. A última vez que possuí alguém com essa intensidade foi quando eu...quando eu...- Máscara da Morte sente que algo está lhe escapando – ...C®&#$§O!EU MATEI ESSA MULHER!
