Atos de Vingança
Capítulo 8
BRAKK!
-Onde estão suas bravatas agora? Não é tão corajoso sem sua armadura não é? – ri Nicomedes de Notus, Guerreiro do Vento Sul enquanto acerta o cavaleiro de Câncer repetidas vezes.
-Não...lembro...de usar a armadura...quando te nocauteei em Veneza...
SHRAKK!
Usando o cosmo Nicomedes chicoteia o cavaleiro com poderosas e finas correntes de ar quente, atingindo-o nas costas, rosto e genitais.
Desde que foi capturado Máscara da Morte passa o dia pendurado pelos pulsos só sendo solto para comer o suficiente para não morrer de inanição. A diminuta cela e o corpo do cavaleiro estão cobertos de dejetos. Mas, apesar disso Câncer não dá o braço a torcer, preferindo forçar gargalhadas. Notus não suporta sua ironia e continua a tortura, que começou no primeiro dia de cativeiro, há quase dois anos
-Ria enquanto puder, eu vou matar você.
SLASH!
-Quando...quiser...
SLASH!
-Não sei o motivo para não me deixarem destruí-lo, mas não importa...torturar você é tão divertido quanto.- Notus está extremamente irritado, duas horas de torturas diárias, e o homem não cede!
Um redemoinho faz com que Máscara faça um giro de 360º o que rasga seus pulsos de encontro às algemas.
-Argh! – ele rosna.
-Pare de ser arrogante – agora Notus está chutando repetidamente partes remotas da anatomia do cavaleiro – está aqui sozinho, a um passo de se afogar na própria merda...se renda! Chore, implore pela piedade que não virá!
-Nggg...
Mordendo os lábios para não gritar Câncer tenta formar uma barreira com seu cosmo, porém ela cede com poucos golpes. Vendo isso o torturador vai à loucura, atingindo-o aonde consegue lacerando cada vez mais o já enfraquecido corpo.
-PARE IMEDIATAMENTE!- ordena uma voz feminina
-Selene? Eu só estou brincando um pouco.
-Em sua outra vida você era mais comedido, Nicomedes...- ela fala tocando no ombro dele
-Ele não merece compaixão – ele se vira para a jovem- e você sabe disso tanto quanto eu meu...
-Não conclua.
Surpreso com a atitude dela, o guerreiro acerta outro golpe em Máscara da Morte.
-Ficou surdo, Notus? – ela lhe segura o pulso e o encara nos olhos.
-Por quê você o defende? – responde o homem por entre os dentes.
-Não o defendo, mas as ordens são de não matá-lo. – sustentando o olhar dele o leva para fora da cela – Vai querer contrariar nossas deusas?
-Não...sou grato a elas pela segunda chance...- responde ele baixando os olhos – mas pensei que você...
-Não pense Notus, não pense – ela fala olhando para dentro da cela – você acabará tirando conclusões erradas. Os outros três ventos o esperam. Vá.
-Você...?
-Desculpe – ela fala num tom conciliador – não lhe devo satisfações, sou grata pelo que fez por mim no passado mas não confunda as coisas, sou a Sacerdotisa de Nêmesis, você é meu subordinado e não meu amigo.
-Entendo...- ele volta à cela, pega o elmo e acerta o rosto de Câncer pela última vez com ele – Com sua licença, senhora.
Após uma reverência ele se retira deixando Selene só. Ela entra na cela e fecha a porta. A única luz vem de uma vela.
-Máscara? – ela pergunta tocando-lhe o rosto – como você está?
Ele golfa sangue no impecável manto branco da sacerdotisa, de propósito. Em vez de se irritar ela ri.
-Parece que está se saindo muito bem.
Ela o solta das correntes e oferece uma tigela com uma sopa rala, a qual ele rapidamente aceita e toma de um só gole.
-Não entendi...- ele geme enquanto tenta limpar a barba desgrenhada
-Prefere ficar pendurado?
-Pelo menos eu sabia porque estava pendurado. Não é a primeira vez que faz isso.
-Isso o quê?
-Dar um esporro no seu homem por me torturar.
A única resposta que ele tem é um tapa violento no rosto e a colocação telecinética das algemas novamente em seus pulsos.
-Qual o drama? – pergunta ele surpreso
-A idéia que você faz de mim. – ela responde se dirigindo para a porta
-Nunca fez nada para me provar o contrário. – há uma leve pontada de raiva em sua voz.
-Veneza não conta? – ela o olha por sobre os ombros.
-Você estava nitidamente a trabalho – ele sorri – e trabalhou bem, como alguém da sua laia deveria.
-Calhorda! – Ela crava as unhas em suas feridas – Nunca menti, NUNCA!
-Arrrrghhhhhh...é? E aquela cena que há vinte anos?
-Você matou a todos antes que pudéssemos explicar...
-Não havia o que explicar...você era o inimigo, devia morrer – ele responde convicto, olhando fixamente para os olhos da adversária.
-SAGA era o inimigo, você nem ao menos me ouviu naquela época! – ela começa a se descontrolar, cravando ainda mais as unhas
-O Grande Mestre...arrrrr...enviou-me naquela missão.
-SAGA o enviou! Não se faça de ingênuo, você podia ter acreditado em mim e nos Ventos.
-Eles mataram César de Éolo, Mestre da Torre dos Ventos! Como você queria que eu acreditasse em guerreiros que traem seus líderes?
Ela se afasta e o encara, incrédula.
-Você fugiu do treinamento na Sicília, serviu a Selene, deusa da Lua, assumindo seu nome, depois ajudou na rebelião dos Ventos contra o Santuário e agora serve à Nêmesis e às Erínias! - Cancêr continua
-HIPÓCRITA! Se fui uma traidora e você? Poderia ter enfrentado Saga ao saber da verdade mas não o fez! Preferiu segui-lo!
-Na época eu acreditava nele! A força define a justiça, era essa a minha visão, fiz o que achava certo! E você? Qual a sua desculpa para ter feito que fez? Diz que agiu certo na época, e agora? Vai ajudar essas deusas birutas a matar Athena!
-Ela derramou o sangue de seus ancestrais! Merece morrer. Vamos purificar a Terra de canalhas arrogantes como você.
O cavaleiro balança a cabeça sorrindo, é incrível como falar com essa mulher lhe dá uma sensação de deja vú de si mesmo.
-Você não passa de uma idiota, Selene.Uma vadia traidora e idiota, assim que sair daqui vou lhe provar isso.
-Não sei por que estou perdendo meu tempo com você!
Furiosa, desfere contra ele uma ampla rajada que envolve completamente seu corpo. Ele resiste estoicamente, mas algum tempo depois sua cabeça pende para frente, desmaiara.Vendo isso a sacerdotisa sai sem olhar para trás e tranca a cela.
oooooo
Zimbábue, Cataratas Victória.
Aldebaran finalmente havia conseguido convencer Mu a falar o motivo de seu prolongado desmaio, porém parece que isso vai ter de esperar mais algumas horas. Talvez até outra vida se não trabalharem direito.
-Temos companhia – Mu sussurra – Disfarcem...
-Falar é fácil- diz Shura se abaixando para observar uma cobra que passava por ali – Mas de que adianta? Já fomos vistos.
-Não significa que seremos atacados imediatamente – Aldebaran olha para Mu e sorri
-Alde...- Mu percebe o que o amigo tem em mente.
-CALDOOO!
Aldebaran pensou na maneira mais louca e grotesca de distrair quem quer que seja arremessando Mu na água e se jogando atrás, como se eles não passassem de dois marmanjos brincando no rio. Quando Shura, surpreso, se aproxima da margem, Áries e Touro o agarram e puxam para dentro.
-Seus retardados! – ele não consegue evitar risadas – Molharam nossa comida!
-Pára de reclamar! – Aldebaran o afoga.
Após uns cinco minutos dessa brincadeira infantil, os cavaleiros lançam repentinamente um ataque conjunto contra as árvores próximas. Apesar de só danificarem a vegetação, acabaram por forçar seu adversário a se revelar.
Ele saltou das árvores instantes antes dela ser atingida, caindo com leveza na margem do rio. O homem traja uma armadura vermelha que lhe protege todo o corpo, as manoplas e as grevas terminam em garras, seu elmo deixa apenas a boca livre e tem duas fileiras de dentes entalhados, os únicos adornos de toda a vestimenta.
-Um boi, um carneiro e um cabrito – ele fala com uma voz abafada – vai ser uma senhora refeição.
-Como é? – Shura se põe em guarda.
-O que você ouviu. Comerei vocês e levarei seus ossos para minhas senhoras.
Os três ficar sem ação por uns instantes, é a primeira vez que eles ouvem esse tipo de ameaça. Não fora nem ao menos uma ameaça, e sim o estatuir de um fato. O guerreiro que eles têm diante de si está realmente disposto a devorá-los.
-Nem por cima do meu cadáver, rapaz!- Aldebaran sai da água – Grande Chifre!
O ataque atinge o homem em cheio no peito, ele cai sentado no chão, sem parecer abalado.
-O almoço vai lutar, hehehe isso será divertido!
Os dourados vestem suas armaduras e cercam o homem, cujo cosmo não deixa nada a dever aos seus próprios. Shura avança, errando por milímetros o braço do guerreiro; porém, este não erra e morde Capricórnio no ombro, arrancando um pedaço de sua armadura.
-Ptuí! – ele cospe as lascas de metal – espero que sua carne seja mais apetitosa que sua armadura.
O homem sorri, seus dentes são negros, brilhantes e muito afiados. Mu avança com a Revolução Estelar, que só causa dano à paisagem, miraculosamente o guerreiro escapou de todos os meteoros criados pelo cosmo de Áries.
-Quem é você afinal? – Aldebaran o agarra por trás imobilizando-o
-O carneirinho sabe. Ele não contou?- rindo ele morde o braço de Touro
-AAAAAAAU! Desgraçado!
Aldebaran berra, os dentes vararam a armadura e atingiram sua pele. Sacudindo o braço se livra do atacante que cai na lama da margem do rio.
-Hehehehehehehe, Slhep! – tirara sangue do Touro – O primeiro sangue foi seu Touro. Quem é o próximo? Ahhh, o cabrito?
Shura agita os braços em uma série de intrincados movimentos, formando uma rede de luz que avança até o inimigo destruindo tudo em seu caminho. Novamente ele recebe o golpe e não se move.
Saltando à velocidade da luz ele se aproxima de Shura suas garras prontas para rasgar-lhe o rosto, não há tempo de esquivar, então ele lhe segura as garras e ficam assim por vários minutos, medindo forças.
-Como soube que estávamos aqui?
-Seguimos vocês desde Veneza. Cansamos de delegar funções a seres inferiores como os cavaleiros negros. Estava na hora de soltar os cães hehehe...- ele sorri –MORDIDA INFERNAL!
Ele abre os braços de Shura, mordendo-lhe novamente os ombros.
-Seu louco!
Shura desfere um poderoso golpe para cima se libertando. Novamente o inimigo levou parte da armadura consigo.
-Sirvo a seres centenas de vezes mais poderosos que sua fraca deusa. Não podem evitar meus golpes enquanto eu facilmente me livro dos seus. E você sabe muito bem disso, Mu de Áries, sei que sonha com isso toda noite.
-Do que ele está falando, Mu? – apesar de não ter sido gravemente ferido, o impacto da mordida incomoda o ombro de Shura.
-Shaka, Athena e eu estávamos em um elo mental quando nossas adversárias se revelaram. – Mu olha diretamente para os olhos da máscara do homem – Nêmesis e as Fúrias, Alecto, Tisífone e Megera.
-E você tremeu de medo ao vê-las cavaleiro! – o homem fala acidamente – Mas não se preocupe lhe pouparei dessa visão aqui e agora!
Ele corre para cima de Mu, que invoca o Muro de Cristal o qual se parte com um único golpe. Aldebaran se joga de encontro ao homem, derrubando-o longe.
-Isso explica a facilidade com que ele evita nossos golpes e por que os que atingem não causam dano...- Shura se apóia em uma árvore.
-Elas são irrefreáveis, implacáveis e inevitáveis. – ele se ergue novamente – e eu, Andros de Manticore, o devorador de homens, sou um de seus mais leais servidores.
Aldebaran se aproxima calmamente do homem, agora que tudo já foi explicado e ele sabe com o que está lidando ficou mais fácil de preparar uma estratégia.
-Hm...mas você é humano certo? – ele pergunta erguendo o homem pelo pescoço
-Sim, mas não é por isso que sufocarei. Minha proteção impedirá que me esgane – Andros ri.
-Não quero esganá-lo – diz Touro – Só estava pensando em uma pequena coisa.
-Hã?
Convencido de sua superioridade o guerreiro nem ao menos se esforça para se livrar de Aldebaran.
-Sabe...a fonte de nossos poderes é o cosmo. Todas as criaturas possuem um cosmo, maior ou menor. – ele fala – Nos cavaleiros ele é particularmente bem desenvolvido. Nossas armaduras, que possuem vida própria, também têm cosmo. Por isso ao vesti-la nossos próprios poderes aumentam, se renovam até.
-Viu que não pode me matar com seus poderes e agora que me matar de tédio? – Andros debocha
-Na verdade creio que você seja particularmente fácil de matar...
Andros não gosta do rumo da conversa e resolve se soltar mas o Touro o joga de encontro a uma árvore antes que ele faça algo.
-Um cavaleiro de bronze vestindo uma armadura de ouro é capaz de lançar alguns golpes à velocidade da luz, sem o mínimo controle é claro – Aldebaran ergue seu cosmo ao máximo.
-Aldebaran do que você...- Mu não entendeu ainda aonde o amigo quer chegar com a conversa.
-Pensem. As Erínias são tidas como invencíveis, só restando às suas vítimas enlouquecer ou morrer. Já Nêmesis, embora não mate todas as suas vítimas, também é tida como inevitável não havendo defesa contra suas punições- continua o gigantesco guerreiro- Masos servos NÃO são as deusas. Logo, não possuem os mesmos poderes. Apesar de servir às Erínias ele não pode nos enlouquecer, apenas matar, mas qualquer um pode cometer um homicídio.
-Está insinuando que meu poder vem apenas da armadura?
-Basicamente. É através delas que os seus golpes de raspão nos ferem profundamente, enquanto os nossos praticamente não o incomodam. Sem ela você é mais um na multidão. Não nego sua incrível força – ele mostra o antebraço triturado de sua armadura – Mas creio que sem ela...
-Não haja chance de você vencer. – a ficha cai para Mu e Shura.
-Mas vocês ainda precisam que eu me livre de minha armadura e eu não pretendo fazer isso!
-Água mole em pedra dura... – Aldebaran se lança contra ele – Grande Chifre!
Manticore é lançado através de várias árvores. Quando se ergue os ataca violentamente despedaçando suas armaduras. A cada soco, a cada mordida mais próximo da carne dos cavaleiros.
Os dourados apesar de estarem com as armaduras quase destruídas lutam com a precisão de um relógio, avançando, recuando e se protegendo mutuamente. Quando Andros tenta usar suas garras em Mu, este o golpeia no queixo lançando-o nos braço do Touro que o imobiliza.
-Shura, Mu agora!
-Excalibur!
-Revolução Estelar!
-Isso não basta para partir minha armadura. – Manticore nem pisca com o ataque
Aldebaran solta o adversário e lança o Grande Chifre à queima roupa, fazendo com que Manticore vá quicando com o peito nas das pedras do rio até uma ilhota no meio do leito.
-Não vão escapar...- ele está um pouco zonzo
-Mu. – Shura fala com um sorriso enquanto se aproxima – está vendo o que estou vendo?
-Sim, rachamos a armadura dele – fala o ariano triunfante
-Hm? – Andros tateia sua armadura e encontra uma fissura
-Tive uma idéia. - Shura olha para Aldebaran que sorri confirmando
-Qual? – responde Mu – Darmos a esse "devorador de homens" mais do que ele pode mastigar?
-Eu e Shura "descascamos" a armadura...- Touro estala os dedos.
- E você "criva" esse hombre de balas.- Shura ergue os braços
-PODEM VIR! LAMBEREI A CARNE DE SEUS OSSOS!– Manticore grita correndo até eles – MORDIDA INFERNAL!
-EXCALIBUR! – grita Shura dando uma poderosa estocada
-GRANDE CHIFRE! – Aldebaran lança o ataque um segundo depois
KRAKOOOOMMM!
Manticore é jogado sobre outro rochedo, que se parte com o impacto mas impediu que fosse arrastado pela correnteza rio abaixo. Ao se erguer vê cacos de sua poderosa armadura vermelha sendo levados pela forte correnteza, os cavaleiros concentraram os ataques no mesmo ponto, sua proteção fora vazada.
Eles lutaram durante toda a tarde através da floresta, no meio do rio, contra e a favor de sua correnteza estão exaustos. Estão no topo da Catarata, em uma ilhota a quinhentos metros da queda principal. As primeiras estrelas começaram a despontar no céu. O combate chegou ao fim.
-Impossível...
-Realizar o impossível é a tarefa de todo cavaleiro de Athena.
O cosmo de Mu ilumina o céu com estrelas. Nesse momento todos aqueles que olham para o firmamento vêem a nova constelação criada por Áries, uma constelação de estrelas cadentes.
-REVOLUÇÃO ESTELAR!
-AAAAAAAHHHH...!
O servo das deusas da Vingança é atingido no peito pelo golpe de Mu. Os impactos das centenas de estrelas cadentes criadas pelo dourado concentradas no mesmo ponto lançam seu corpo cachoeira abaixo, em uma queda cento e cinco metros de altura. É o fim de Andros de Manticore.
Touro e Capricórnio se aproximam de Mu. Os três se congratulam em silêncio pela árdua vitória e se deixam cair na areia onde, cansados, adormecem ao som da cachoeira.
Continua...
