Capítulo XI – O Mistério da Capa
Kamus chegou à sua Casa tarde, pois passara algum tempo andando e pensando na garota que acabara de encontrar. Como pudera ficar daquele jeito por uma garota? Sabia que tinha hormônios, mas nunca imaginou que eles chegariam aquele ponto. Ele, Kamus de Aquário, deixando-se levar por uma jovem, apenas pelo fato de que o rosto dela parecia pertencer a um anjo e não a um mortal? Não, não, esse não era Kamus, o cavaleiro já dera suas escapadas, e como, mas apenas usava as mulheres que iam às festas dos Cavaleiros do Ouro do Santuário, que estavam ali para aquilo mesmo. O que? Pensava que eles não davam suas "escapadinhas"! Eles são cavaleiros, mas também, não são de ferro! Mas aquela garota, aqueles olhos... Lógico que não se apaixonara pela garota, afinal, nem sequer a conhecia, mas ela era deslumbrante.
Quando ligou a luz do quarto (no Santuário tem luz elétrica sim, e daí!), quase tombou com o susto: sua capa estava dobrada sob a cama. Como ela entrara para devolver a capa! Aquilo era muito estranho, uma garota jamais passaria por dez Casas sem ser notada, afinal, se ele vivesse na primeira Casa, como Mú, até que dava para entender, mas aquela era a décima primeira Casa. Era impossível ela ter entrado... E Kamus ficou perdido em seus pensamentos, e terminou por optar acreditar que a jovem entregara para um dos guardas, que dera para algum dos Cavaleiros de Ouro, que colocar em seu quarto. Não ficaria mais "encucando" com aquilo, com aquela garota, pois ele era Kamus, o coração de gelo do Santuário, não tinha tempo para pensar em tolices.
Segunda-feira. O dia mais odiado por pelo menos metade da população mundial, afinal, depois da farra no domingo, ninguém vai querer acordar cedo para trabalhar ou estudar na segunda-feira... Sinceramente, a semana devia começar na terça-feira e terminar na quinta-feira (nem sou preguiçosa...que é isso...). Mas segunda ou terça, tudo era a mesma coisa para os pobres soldados, pois eles não tinham folga mesmo... Natasha tinha ido dormir mais tarde que os outros por causa da confusão no rio. Conseqüentemente, tinha dormido pouco e ruim, e estava com os olhos semi-serrados. Por isso, no café da manhã, estava praticamente enfiando o garfo com o qual comia os ovos mexidos no nariz, e Dom a cutucava várias vezes para que ela não desabasse na mesa do café. A garota e o ruivo tinham ficado mais amigos depois dela ter assumido a culpa por ambos, o garoto de cabelos vermelhos percebeu que ganhara um amigo de verdade. Depois da refeição, os soldados foram para seu treinamento.
Kamus estava mal-humorado, como sempre, mas parecia estar um pouco pior naquela manhã. Natasha logo associou o humor do Mestre ao que havia ocorrido no dia anterior e se sentiu culpada pelo que os outros soldados seriam obrigados a passar.
Vocês estão trinta segundos atrasados, seus filhotes de "cruz-credo"! Por isso, vão dar a minha idade em voltas, vinte e uma voltas, ao invés das dez que eu mando normalmente! Quem pensou que vir para cá ia ser moleza, se enganou totalmente! Podem começar, e quem enrolar vai pagar cinqüenta!
Que inferno! Natasha estava quase a ponto de cair no chão, quando, graças aos deuses, completou a vigésima primeira volta. Kamus mandou que todos se sentassem para a aula teórica, que era a mais pura chatice. Com o sono que Natasha estava, somada aquela aula enfadonha, dez minutos depois ela já estava no décimo quinto sono.
Primeiro, ele crispou os lábios. Depois, ele fez um "ham-ham", seguido de uma pequena tosse para ver se a garota acordava. Por último, e já sem nenhuma paciência, Kamus deu um grito no ouvido da menina:
Acorde, seu inútil!
Ela deu um salto, e viu, por entre os cabelos que se encontravam na frente de seus olhos um Kamus furioso. Engoliu a seco.
Muito bonito, dormindo na aula teórica! Isso é porque está lhe faltando aula prática! Assim, hoje você vai ser o primeiro a realizar a nossa "atividade especial" da qual eu falava à pouco. Mas, como estava dormindo, não sabe qual é, portanto, vai ficar sem saber até chegarmos lá, e quem disser para o gordinho aqui, ganha umas tarefas extras! Vamos!
Natasha não tinha outra opção a não ser seguir os outros e rezar todas as orações aos deuses que conhecia. Subiram uma montanha altíssima, e quando chegaram lá em cima, ficaram todos enfileiras, mas não o suficiente para olhar o que havia dentro, de um buraco. Havia um caminho de pedras estreito até demais, que is de um lado a outro do buraco. Foi então, que Kamus gritou:
Vai, molega! Atravessa o caminho!
Natasha se aproximou cautelosamente e viu que era um vulcão! E lá embaixo do buraco tinha lava! Lava de verdade!
Er..hum...se a gente cair, o senhor tem como congelar a lava, não tem? – perguntou receosa.
Se tivesse visto a aula saberia... – Kamus zombou.
Por favor, senhor.
Muito bem, não, eu não tenho como congelar a lava. Se tivesse visto a aula, saberia que o estado natural e mais comum da água é o líquido e não o sólido, portanto, quando eu tentasse congelar o fogo, que é o que é lava praticamente, o gelo viraria líquido instantaneamente e logo evaporaria. Muitos cavaleiros tentaram, mas nunca houve cosmo grande o suficiente para congelar o fogo, nem mesmo o meu, que não é afetado por sentimentos inúteis como o amor e "companhia limitada".
Quer dizer que se eu cair aqui no... – ia dizendo Natasha.
Vulcão Zerberaz. – disse Kamus.
...no Vulcão Zerberaz, eu morro.
É.
Eu não vou, não...
Ah, vai sim...
Não vou, não...
Para uma pessoa que possua cosmo energia isso não é desafio algum, mas para vocês, homens comuns, é bem difícil, mas não impossível e você vai nem que eu tenha que lhe empurrar direto no vulcão!
Pedindo assim com tanta "delicadeza", - disse irônica – eu vou. – e se pôs a andar em direção ao caminho estreito de pedras.
Natasha começou a andar pelo caminho de pedras, e completou o trajeto sem problemas. Kamus ficou muito surpreso, abriu e fechou a boca umas três vezes, pois viu que era possível que ela tivesse cosmo energia mas, como era de esperar, não fez elogios, pois achava que os soldados não faziam mais do que suas obrigações. Depois de Natasha, Kamus mandou que Dom fosse e o coitado estava branco. O ruivo estava tendo muita dificuldade, e, depois de ter passado metade do caminho desequilibrou-se e caiu, ficando seguro por apenas uma das mãos. Natasha desesperou-se e olhou para Kamus, que lançou-lhe um olhar despreocupado. Ela novamente olhou para o Mestre e ele fez um sinal para que ela parasse, quando viu que a garota queria ir ao resgate do amigo. A garota achou aquilo o cúmulo, não deixaria uma vida humana se perder por causa de um dos traumas ou caprichos, quem sabe, de seu Mestre. Cruzou o caminho novamente e a tempo, pois, quando Dom sentiu que seu último dedo deslizaria, ela o segurou. Kamus suspendeu a atividade e foi brigar com Natasha:
Eu sinalizei para que não fosse!
O senhor realmente acha que eu o deixaria cair?
Se fosse forte, não cairia, e se fosse fraco, não faria falta para o mundo! Sentimentos tolos como amizade de nada servem, apenas enfraquecem quem os conserva!
Isso não merece nem resposta. – disse a garota lançando um olhar de desprezo que ele pôde ver, pois os cabelos dela impediam. Ela deu as costas ao Mestre e auxiliou o amigo na descida da montanha, pois o mesmo estava com o braço machucado, para cuidados médicos naquilo que chamavam de hospital no Santuário. Kamus ainda gritou para que ela voltasse, mas a menina não estava ligando, estava com muita raiva do que o Mestre fizera, e, se fosse necessário, sofreria outro castigo, mas não voltaria.
