VIA LÁCTEAsoneto XIII

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" Eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender as estrelas."

(Olavo Bilac)

PRÓLOGO

Remus Lupin, um homem de seus trintas e poucos anos, olhos castanhos como seus cabelos, que eram levemente salpicados de fios brancos, estava sentado na penumbra. Através d'uma janela gradeada acima de sua cabeça, ele olhava tristonho para o céu, mas sem olhá-lo. Os dias de lua cheia estava chegando, e isto significava uma semana de tortura para ele. Mais tortura do que ele estava sofrendo ali, naquele lugar. naquela prisão.

Desde que se demitira de Hogwarts, onde exercera a função de professor de DCAT por um ano, ele não tinha mais as poções mata-cão para amenizar o sofrimento desta semana. Isto se devia ao fato que a poção era muito complexa e Remus não era muito bom nessa matéria. O único que preparava-a perfeitamente era o professor Snape. Por alguns momentos nas suas férias prolongadas, Remus teve a audácia de pensar que poderia ser possível pedir para que Snape preparasse a poção e mandasse para ele, mas logo descartou a idéias: eles não se davam nada bem. Principalmente depois da fuga de Sirius.

Passaram-se os anos e Voldemort regressara. Muito mais que as noites de lua cheia, a guerra contra o Lord das Trevas era realmente dolorosa. Principalmente quando se tornava-se um alvo fácil para qualquer um. Remus abaixou os olhos, fitando o chão de pedra limoso. Ele pensou em Sirius. Onde ele estaria? Ele estava no sul, como Remus falara? Era bem provável e ele esperava que sim. Sirius fora seu primeiro amigo em Hogwarts e de toda a sua fátiga vida. Ainda se lembrava de como o conhecera, de como conhecera os outros três amigos: James e Peter.

Ele aprofundou as memórias para quando eles se transformaram em animagos para ajudá-lo e também para sua primeira paixão.

Com tristeza no coração ele recordou-se da noite em que fora mordido pelo lobisomem. De sua primeira transformação. Mas fora graças a isso que conhecera seus amigos... que eram, são e sempre serão um presente e uma maldição ao mesmo tempo.