PARTE II
Procurando as estrelas no céu deserto!
"E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto."
Depois daquela fátiga noite de lua cheia, como Remus previra, ele nunca mais sorrira. Todo mês tinha seus dias e sofrimento que o fazia lembrar de sua idotice. Depois de 5 anos desde aquela noite, com seus 10 anos de idade, ele perdera totalmente a vontade de viver. Nunca mais olhara ou falara com Deborah, e ela também se afastou, nunca mais sorriu, nunca mais olhou as estrelas.
Tudo parecia muito tolo para ele agora. Ouvir estrelas? Quando ele começou a inventar tamanha bobagem? Cada dia que se passava, cada lua cheia que chegava, Remus perdia mais e mais a vitalidade dele. Não que sua saúde estivesse abalada, mas mentalmente ele estava morrendo pouco a pouco. Ele sabia que a casa ficara muito mais triste depois de seu acidente, sabia também que Deborah ficara muito magoada com ele por não ter ido falar com ela, mas o que ele podia ter feito? Ele estava totalmete confuso e abalado. Agora ele se transformava em Lobisomem alguns dias por mês e isso significava que nunca poderia entrar para Hogwarts, nem ter amigos.
"Remus, a lua já vai aparecer, vamos logo!" chamou sua mãe.
Remus levantou-se do chão onde estivera deitado e seguiu sua mãe pra fora da cabana sem olhar para suas irmãs. Todas as luas cheias ele ia para a floresta, para não ter risco de machucar ninguém. E lá ele ficava, isolado.
Karol deixou o filho na entrada da floresta, dando-lhe um beijo nas faces, foi se afastando. E o garoto adentrou na floresta. Ele caminhou até achar uma clareira e sentou-se no meio do círculo de árvores sempre com os olhos pro chão. Mas, num momento de esperança, ele olhou para o céu e, no momento que viu a primeira estrela, lágrimas saíram involuntariamente de seus olhos. Ele fechou os olhos e as deixou saírem, era preciso que algo expressasse o que ele passava.
De repente ele sentiu alguém enxugando-as e abriu os olhos. Era Deborah.
"Oi, Re..."
"Deborah?"
Ela assentiu com a cabeça antes de cair sentada com Remus no colo, chorando.
"Ah, Deborah... eu sinto muito, eu... não podia encarar você... eu..."
A menina tampou a boca do irmão com o dedo indicador, abraçou ele e ficou assim durante um tempo.
"Não, Deborah, eu vou me transformar daqui a pouco" protestou o garoto.
"E você me atacaria, Remus?"
Ele assentiu.
"Eu não seria capaz de te reconhecer."
"Eu não acredito nisso."
Nesse momento a lua alcançara Remus e ele se transformava no colo de sua irmã.
Já transformado, Deborah sorriu para ele, mas não achou nada de amistoso na cara desconhecida. Num grunhido ele assustou Deborah, que se levantou e correu para fora da floresta, mas o lobisomem não correu atrás dela. Ficou apenas a olhando correr.
Remus acordou cansado e dolorido no chão cheio de folhas. Lembrava-se do que tinha ocorrido na noite anterior e correu para casa, tropeçando uma vez ou outra. Chegando em casa ele abriu a porta, quase arrancando-a. Mas sentiu um empurrão e caiu sentado no chão.
"Deborah, você está machucando o Remus!"
Deborah abraçou o irmão com força e o levantou. Remus podia ver que ela chorava e imaginou que os acontecimentos da noite passada tinham algo a ver, mas Deborah sorria ao mesmo tempo que chorava.
"Por que você está chorando?" perguntou o menino.
"Você... você recebeu a carta de Hogwarts, Re."
Remus sorriu, mas logo se lembrou da sua situação. Ele nunca poderia ir para Hogwarts tendo a chance de morder um aluno. Remus olhou para o chão e correu para o quarto. Era o fim, não tinha volta. Ele não podia fazer nada para voltar atrás, não podia ter nem estudos decentes. Como na noite passada, ele chorou, não jurou que seria a última vez.
Com os olhos marejados de lágrimas, Remus abriu a janela e olhou para as estrelas.
"Por quê? Por que isto aconteceu comigo? Eu tinha tantos planos, tantos sonhos. Eu queria ser tantas coisas. Tenho tanta sede de saber das coisas. Tenho... eu não tenho mais nada..."
"Remus?"
Deborah foi se aproximando e, quando fez menção de tocá-lo, Remus se afastou. Não queria ser consolado. Não queria ouvir palavras doces, explicando o que já sabia: não pode ir para Hogwarts porque é um lobisomem, você irá atacar os outros. Ninguém vai querer você por perto.
"Remus, me escute..." insistia a garota.
Remus deitou na cama e escondeu-se sob o cobertor.
Num acesso de raiva, Deborah puxou o cobertor e levantou o irmão pelos ombros. Quando olhou nos olhos dele viu lágrimas contidas.
"Ah, Re, por que você não quer me ouvir?"
Ele virou a cara.
"Re, me escuta..."
O garoto empurrou a irmã sem sucesso, só deixara ela mais irritada a ponto de dar um tapa na face dele. Os olhos de Remus ficaram vidrados. Deborah recuou a mão, mas continuou determinada.
"Olhe aqui, moleque, você vai me escutar..."
"ESCUTAR O QUÊ? QUE EU RECEBI A CARTA DE HOGWARTS MAS NÃO PODEREI ESTUDAR LÁ?" gritou o garoto. Acalmando-se ele continuou, chorando. "Eu não quero escutar isso. Nem as palavras de consolo..."
Deborah olhou para o irmão. Era isso que ele pensava? Toda sua dor era essa? Deborah tentou se imaginar no lugar de Remus, mas não conseguiu. Nunca imaginara que seu irmão poderia ter tamanha força de vontade para suportar tudo. Não era pra menos que ele desmoronara neste momento.
"Remus Lupin, me escuta: Você vai para Hogwarts." Deborah sentiu que o irmão segurou a respiração e o abraçou. "Mamãe e papai foi conversar com Dumbledore, ele chamou eles, Remus, ela disse que seria totalmente injusto você não ter uma educação. Você ouviu, Remus?" acresentou ela olhando para os olhos do irmão.
"É verdade?"
Ela assentiu. Remus abraçou a irmã.
"E então? O que as estrelas disseram para você?" perguntou Deborah quando se despedia do irmão no Expresso de Hogwarts.
Ele desviou os olhos do trem e olhou para a irmã, sorridente.
"Por enquanto nada, mas eu procurei elas pelo céu deserto e achei. Acho que isso já é o suficiente, né?" perguntou nervoso para a irmã.
"Sim, é mais que o suficiente. Agora," se abaixou e bagunçou os cabelos do garoto "você fará seu próprio caminho. Você será sua própria estrela."
O menino desviou o olhar.
"Não, eu queria ter mais alguém..."
O apito do trem soou alto e Remus correu para o trem, acenando para sua irmã.
