Por falar nela, naquele dia ela tomou o café da manhã conosco. Eu suponho que tenha sido por que o Sirius estava com as outras meninas e ela ainda não estava feliz com ele. Ela chegou toda sem graça perguntando se poderia sentar-se conosco.
Conosco aliás, leia-se eu e o Aluado, por que não havia nem sinal do Rabicho também. Ele deveria estar muito envergonhado pela sacanagem que fez comigo na noite anterior. Se eu pegasse aquele rato eu seria capaz de torcer o pescocinho gordo dele.
Continuando, Marlene se sentou conosco e foi nossa companhia pelo resto do dia. Ela é uma garota simpática, me ajudou com a... Com aquela idiota o natal passado. Se arrependimento matasse. Nunca mais compro nada tão caro para uma garota. E o pior é que ela nem sabe que fui eu, por que se soubesse... Não, não pense mais naquela garota.
Voltando ao assunto Marlene. Ela passou o dia inteiro andando comigo e o Aluado, fez umas gracinhas, nos deu uma cutucada para estudar. Umas cutucadas agradáveis. Era uma excelente companhia. Só que chegou uma hora que eu queria continuar a pesquisa. Mas eu não podia dizer nada a ela e também não queria magoá-la.
"Marlene, o que aconteceu?" Eu perguntei. "Por que não está andando com as meninas?" Ela me olhou triste.
"Olha, se importa se eu não te dizer?"
"Não... É só que é estranho."
"Tão estranho quanto o Sirius andar com as meninas..." Ela me olhou desconfiada. "Por que vocês dois brigaram?"
"Por que você acha que nós dois brigamos? Pode ter sido..." Mas ela me interrompeu.
"Tiago, eu sou colega de você há quase sete anos. E nunca vi o Sirius brigar com o Remus ou com o Pedro... Agora, é semre assim. Quando vocês brigam um de vocês sempre vai ficar conosco."
"E uma de vocês sempre vem pra cá." Remus apontou. "Durante a última briga, a Lily passou uma semana comigo, com o Sirius e com o Peter."
"Isso por que aquela garota é uma idiota." Eu resmunguei.
"Eu ouvi bem?" Marlene arregalou os olhos. "Tiago, você acabou de chamar a Lily de idiota?"
"Pois é o que ela é?" Não pude deixar de levantar o tom da minha voz e sorrir satisfeito ao ver que ELA me olhou desconcertada. "Uma idiota que não enxerga a verdade nem que esta dance nua na frente dela." Eu abaixei a minha voz, e só Remus e Marlene ouviram.
"O que levou à esta brusca mudança de opinião?" A garota me perguntou. Eu fechei a cara. Pensando rapidamente, achei um álibi para continuar minhas pesquisas e tirar ELA da minha cabeça. Me levantei irritado e disse.
"Não quero falar. Me dêem licença sim?" E saí rapidamente dando passos duros e barulhentos, que acabaram por atrair mais atenções do que eu realmente queria.
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'Mais uma noite de sono perdida...' Eu pensei eunquanto fechava a porta da sala precsa atás de mim. Me apoiei na porta e esfreguei os alhos para continuar acordado. 'Bosta, esqueci a capa.'
"Procurando isto, Potter?" Uma voz feminina saiu das paredes. Uma voz que me fez ficar a maior parte da noite acordado tentando ver se esquecia dela e que me perseguia.
"Quem te deu minha capa, Evans?" Eu sibilei.
"Sirius." A garota tirou a capa me encarando de um modo que eu nunca a havia visto me encarar antes. Uma certa curiosidade, e algo mais que eu não soube explicar. Aquilo me desarmou totalmente por alguns instantes, mas eu logo me recuperei.
"Mas é um cachorro mesmo..." Resmunguei. "O que quer?"
"Eu não fiquei a noite toda esperando você terminar o que quer que estivesse fazendo aí dentro, com quem quer que estivesse fazendo, pra ouvir você sendo educado comigo." Ela disse irônica.
"Não tem ninguém." Eu interrompi.
"Como?" Ela arregalou os olhos. 'Encantadora' eu pensei e sacudi de leve para espantar o pensamento.
"Agora além de falsa..." Eu frisei bem o adjetivo. "... ficou surda também?"
"É exatamente sobre isso que eu vim falar. Você não pode ficar por aí falando mal de mim, Potter."
"O quê? Vai me proibir de falar?"
"Não é isso..." Ela cruzu os braços e mordeu os lábios. Desisti de não pensar o quão encantadora ela era, mas por outro lado comecei a pensar nos outros adjetivos. 'Falsa, ordinária, cega...' Eu ia repetindo mentalmente. "Eu quero me explicar pra você, Potter."
"Você não tem que me explicar nada, Evans. Você mesma disse isso, e eu sei exatamente o que eu vi!"
"Saba nada. Você tirou conclusões precipitadas."
"Tirei? Tem certeza, estava mais que claro pra mim."
"Tiago..." Ela disse suplicante. Ouvir ela dizer meu nome de forma tão desesperadamente necessitada de que eu a ouvisse me fez ficar calado e mais uma vez ela me desarmou e não me recuperei rápido o suficiente. Quando dei por mim ela já estava falando.
"Foi pó de mico..." Ela dizia. "Então eu tive que ajudá-lo... Na verdade eu estava tenando fazê-lo colocar a gravata, não tirando como você achou. Ele não sabia que quanto mais se mexesse mais espalharia o pó e pior ficaria. Ele ainda está na enfermaria, se você não acredita em mim, pode ir lá ver." Ela terminou de falar e respirou pesadamente, como se estivesse cansada.
Ficou me encarando com aqueles olhos verdes me pedindo para acreditar nela. E claro que eu acreditei, era o que eu queria ouvir, bem, não exatamente isso, mas no geral era o que eu queria ouvir. E ela me disse, e agora me pedia silenciosamente para acreditar nela. Mas eu não iria cometer o mesmo erro duas vezes. Por anos eu me humilhei por ela e levei incontáveis foras. Não ia acontecer de novo, toda aquela situação e a reação inicial dela me pôs uma outra idéia fixa na cabeça. Eu iria esquecer Lily Evans, tirá-la definitivamente da minha cabeça, e também do meu coração. Afinal, por pior que isso fosse eu amava aquela garota.
"Se é o que diz..." Dei de ombros e me virei para ir embora. Ouvi ela suspirar frustrada.
"E a sua capa?" Ela disse nem apenas alto o bastante para que eu ouvisse.
"Você vai precisar mais dela do que eu..." Eu disse por cima do meu ombro e continuei andando, à procura de uma passagem que levasse à torre da Grifinória.
Quando cheguei ela ainda não havia chegado. Me preocupei um pouco e resolvi me esconder para esperá-la. Se ela demorasse demais eu teria que ir atrás dela. Ou voltar para o dormitório. O que me parecesse mais sensato na hora.
Ela não demorou. Chegou pelo buraco do retrato, tirou a capa e ficou um tempo observando o salão comunal, quase como se soubesse que eu estava ali. Senti meus músculos se contraírem quando o olhar dela parou ao lado do lugar em que eu me escondia. Mas ela suspirou longamente e eu pude jurar ouvir o som de um choro baixinho antes de ela subir as escadas pro dormitório feminino.
'Não, Tiago. Ela não estava chorando. E mesmo que estivesse não seria por você.'
Subi para o dormitório cansado. Ouvia os roncos guinchados de Pedro, que aliás, havia sumido pelo dia inteiro. Os roncos pesados de Sirius que murmurava algo como 'Eu sei o que eu quero, sei sim, que droga Marlene...' Revirei os olhos sorrindo com o sonho do meu amigo. Sabia que ele se enveredava por um caminho perigoso.
Quando dei por mim, Lupin estava sentando em sua cama me observando.
"Ela foi atrás de você?"
"Sim."
"Ouviu ela?"
"Ouvi."
"E então?"
"Acreditei... Mas eu preciso esquecer dela, Aluado... Preciso..." Eu disse e fechei o cortinado ao meu redor, não queria ouvir mais conselhos amorosos do Remus.
Se ele sabia? Claro que sabia... Ele sabe mais sobre os amigos dele do que nós mesmos poderíamos saber. Eu me atreveria a dizer que ele descobriu que eu a amava antes que eu mesmo me desse conta disso. Suspirei e fechei os olhos. "Eu tenho que esquecer... eu vou." murmurei comigo mesmo antes de pegar no sono.
