Disclaimer: Saint Seiya pertence ao Masami Kurumada, Bandai, Shonen Jump...

O nome Carlo di Angelis, os apelidos 'Mozão e Mozinho', os Chibi Saints e seus nomes pertencem à Pipe.

O nome Sukhi Pavlos, tal como a personagem pertencem à Dark Faye.

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QUESTÃO DE FIDELIDADE – CAPÍTULO 4

DO QUE O CORAÇÃO ESTÁ CHEIO...

No dia da operação, Afrodite foi para a sala de cirurgia e Carlo foi vagar pelo hospital. Saori não mediu esforços, mandou internar o cavaleiro de Peixes no melhor hospital de Atenas e contatou um renomado especialista para uma segunda opinião. O médico apenas concordou com o primeiro diagnóstico. Era um melanoma pequeno, removível, limpo, sem qualquer sinal de progressão desenfreada ou metástase. Mesmo assim, Máscara da Morte não conseguia ficar sossegado enquanto não tivesse o amado em casa, de novo em seus braços. Tentou assistir TV no refeitório do hospital, mas era como se ele tivesse esquecido a língua grega de repente. Nada do que via fazia sentido. Não podia ficar entrando em todas as alas e passear pelo jardim naquele momento era dolorido demais. Foi para os fundos, perto da lavanderia. Achou uma pequena quadra, com uma tabela e uma cesta de basquete. (1) Sentou-se na muretinha e acendeu um cigarro. Daí a pouco chegou um médico com uma bola. Largou a bola no chão e puxou um cigarro:

- Tem fogo?

- Han-han.

- Parente doente?

- Está na cirurgia agora. Câncer de pele.

- Foda. Começo?

- Descobriu a tempo.

- Pelo seu sotaque você não é daqui.

- Italiano. Mas você também não é.

- Nasci em Montenegro. Sabe onde fica?

- Nessa colcha de retalhos que era a Iugoslávia.

- Certo! Quer jogar um pouco? Vai ajudar muito mais que fumar outro.

- Você é enfermeiro?

- Médico. Da pior ala. Pediatria. Eu amo minhas crianças, mas preferia não ter que vê-las aqui.

- Você parece muito novo pra ser médico...

- Tem filhos?

- Uma.

- É ela que está internada?

- Meu... Esposo.

- Seu... Esposo? Ah, parceiro. Vocês são gays, certo?

- Marido. Casados legalmente, na Suécia. Sim, somos.

- Você não parece um gay.

- Fujo um pouco do estereótipo.

- Olha, amigo, não se ofenda, mas você foge MUITO do estereótipo.

Riram. De repente vozes conhecidas e Terpsícore apareceu do lado da quadra, com Saga e Milo.

- Ele está aqui. Não te falei que ele viria pra fora, para fumar? Deve ter devorado dois maços já.

- Um só.

- Ele entrou faz tempo?

- Há uma hora mais ou menos. Estes são amigos nossos. Milo, Saga e a mulher dele, Terpsicore. Apesar de novinho, esse cara aí é pediatra.

- Dr. Sczvenko, ao seu dispor. Bom, agora você está em boa companhia, eu já descarreguei um pouco da minha tensão, vou voltar pra dentro. Ainda tenho algumas visitas a fazer antes de ir embora. Foi um prazer...

- Carlo. Carlo di Angelis. O prazer foi todo meu. – depois que o médico se afastou, Carlo prestou atenção nos rostos dos amigos. – Que foi? Ta certo que hospitais não são o melhor lugar para passar o tempo, mas... Aconteceu alguma coisa? Vocês já souberam de algo lá dentro?

- Não... – tranqüilizou-o Saga. – Pelo menos nada com o Afrodite. É que chegamos junto com uma família que acabou de perder o filho pequeno com pneumonia. Deve ser paciente do seu amigo pediatra. Podemos subir, não?

- Sim, podemos. E Amata? Reclamou muito de não poder vir?

- Ah, hoje ela está muito silenciosa... – Milo ficou contente em poder virar o assunto para algo mais agradável, como Amata dormindo em sua casa...

NO SANTUÁRIO...

Por mais que tentasse, não conseguia encontrar um só lugar onde pudesse ficar em paz. Onde quer que estivesse, um de seus tios cavaleiros perguntava como ela se sentia, se precisava de alguma coisa. Ou pior, quando não a paparicavam, estavam rezando, se lamuriando, o escambau. O Santuário parecia um hospício aos olhos de Amata. Pensou no mestre. Talvez ele sim, estivesse bem o suficiente para não irrita-la. Foi para a casa de Capricórnio.

Mestre Shura?

Tudo bem com você, Amata?

Tudo... - a menina respondeu, sabendo o que vinha logo em seguida.

Sério mesmo? Não quer conversar? Deve estar sendo difícil para você, e...

Vai dar uma volta, Shu. - Sukhi chegou, pegando com força seu braço.

Por quê?

Porque você precisa. - Shura não discutiu. Saiu de casa.

Como você consegue ser a única pessoa normal no meio deles?

Porque sei quando posso e quando não posso perder a cabeça.

Queria que todos eles soubessem disso.

Amata...

Sim?

Hoje você, e somente você, pode perder o controle.

Amata olhou atentamente para Sukhi, tentando desvendar suas palavras. Ela não diria aquilo para brincar com ela, tinha certeza. Ela... Podia então... Desabafar?

Tia Sukhi... Eu...

Eu sei...

É que...

Não tem problema. - Abraçou a garota com carinho - Chora.

E foi o que ela fez. Muito. Sem se importar. Seu Mozinho estava numa cirurgia... Sozinho... E talvez não voltasse. Não havia fraqueza naquelas lágrimas sinceras. Porque elas eram... Lágrimas de amor.

Ir ou voltar? Chegar ou partir? Sorrir ou chorar? Amar ou odiar? Morrer ou viver? A vida era feita de muitas escolhas. E algumas, em determinados momentos, que não dependiam diretamente de nós. E outras alternativas que não podiam existir se não dermos o primeiro passo. Abriu os olhos.

Viu uma superfície branca e macia. Um cheiro de roupa limpa. Um travesseiro. Percebeu que estava deitado de bruços, o que não era comum. Já ia se virando quando duas coisas o impediram. Uma dor que começou a subir por suas costas e duas mãos macias que o seguraram, uma em cada ombro, no lugar. Uma risada conhecida se ouviu e o dono da mesma disse:

- Não falei que ele ia acordar e ia tentar se virar? Um veado que não gosta de dormir de bruços. Onde se viu?

"Milo". Então ainda estava no hospital. Cirurgia. O câncer. Arrepiou-se. Pelo jeito, já havia sido operado. Não fazia idéia de quanto tempo estivera ali, de como havia sido, nada. Virou a cabeça, devagar, sentindo como se micro agulhas lhe fossem enterradas no cérebro. Precisava ver, saber se o dono da outra mão era...

Carlo.

Sorriu, por entre a névoa de dor. Pipe e Saga se aproximaram da cama. A amiga passou a mão pelo cabelo de Afrodite, numa carícia de mãe. Saga recomendou:

- Dido, você não pode apoiar o corpo nas costas, mas vamos erguer a cama só um pouquinho para você nos ver e conversarmos, tá? O médico disse que podemos fazer isso por alguns minutos... Se você enjoar, nos avise. É normal depois de uma operação, a anestesia provoca reações desse tipo em algumas pessoas...

Afrodite ficou quieto, sentindo a parte onde estava deitado se inclinar para cima e Carlo o ajeitar no travesseiro para que pudesse se apoiar nos cotovelos. A sensação era horrível, mas ele precisava agüentar alguns minutos, porque precisava de respostas. E resultados.

- Foi tudo bem, Mozinho. Eles disseram que você ficará aqui por mais um tempinho, mas que a cirurgia foi um sucesso. Não tem com que se preocupar por hora.

É? – foi o máximo que conseguiu dizer, a cabeça continuava latejando e o estômago começou a virar...

- Sim, o médico falou para tomar cuidado com as costas, com a pele e...

- Abaixa a cama, que ele está ficando verde...

Saga abaixou a cama devagar. Carlo sentou-se ao lado de Afrodite, enxugando seu rosto, acariciando seus cabelos e o encorajando-o baixinho, enquanto ele chorava, aliviando a tensão que estivera sentindo desde a internação. Milo abraçou Terpsicore e seguidos de Saga deixaram o quarto, respeitando o momento dos dois.

Afrodite soluçava, aliviado. Ia viver... Tinha recebido outra chance. E, por Zeus... Não iria desperdiçar seus momentos preciosos na Terra.

Mas alguém mais andava intranqüilo naqueles tempos... Mu flagrou Shaka novamente em pé, atrás do trono em forma de flor de lótus, olhando para o nada.

- Aquele pesadelo não te deixa em paz, não é mesmo?

- Por mais que eu tente, não. Meu lado racional insiste em afirmar que o pior já passou, que Afrodite já foi operado, está fora de perigo, mas meu coração continua apertado e a sensação de opressão não me deixa, Mu.

- Igual aquela antes de Hades?

- Em menor intensidade, mas igual...

Antes mesmo de Afrodite chamar a todos para contar do melanoma, numa noite Shaka acordou encharcado de suor, gritando o nome dele. Mu não conseguiu retirar uma palavra do loiro aquela noite nem nos próximos dias. Os olhos azuis ficaram durante um tempo cheios de angústia, até que o dono se dispôs a falar:

- Foi horrível. Eu sonhei que olhava daqui para cima e não conseguia ver a casa de Peixes nitidamente. Uma névoa encobria tudo. Resolvi subir até lá para averiguar e parece que ela estava mais longe que o costume. Quando resolvi chegar, Afrodite estava sozinho e chorando. Eu o chamei, mas ele não me ouviu. Chamei e chamei e quando ele finalmente olhou na minha direção, começou a desaparecer. Ainda chegou a estender a mão e dizer meu nome, mas eu estava como que pregado no chão, não conseguia alcança-lo. Vi-o desaparecer sem poder fazer nada. Agora tenho comigo essa sensação horrível de angústia e impotência.

Mu puxou Shaka para longe dali, para andarem pelo jardim:

- Gostaria de poder dizer como ao nosso filho: "Vai passar". Mas faz tempo que ando sentindo que nem ele acredita mais nisso.

- Graças a Buda, nosso filho é um garoto sensível. Ele capta as coisas sem precisar de muitas explicações.

- Ainda assim, é apenas um garoto, Shaka-yo. Gostaria de preserva-lo só um pouco. Lembra-se de como foi ruim para nós carregarmos pesados fardos em nossos ombros infantis?

- Foi horrível, reconheço, mas fez de nós o que somos. Lembre-se, Mu-yu: "o que não mata, fortalece".

- Péssima hora para Nietzsche, Shaka. Hey, lembra que você está falando comigo? Eu te conheço há mais de 20 anos...

- Então você já sabe, sem que eu precise dizer, que eu estou com medo, talvez mais do que em toda minha vida e que eu odeio lidar com situações as quais não tenho o controle.

- Desculpe, meu amor. Eu também estou apavorado. – e Mu abraçou o loiro ali, à sombra das árvores gêmeas, sentindo o corpo do outro tremer ligeiramente em seus braços, ambos buscando apoio e coragem, como se fossem partir de novo em batalha.

Mal sabiam eles...

CONTINUA...

Questão de Fidelidade começa realmente a partir de agora.