Disclaimer: Saint Seiya pertence ao Masami Kurumada, Bandai, Shonen Jump...
O nome Carlo di Angelis, os apelidos 'Mozão e Mozinho', os Chibi Saints e seus nomes pertencem à Pipe.
O nome Sukhi Pavlos, tal como a personagem pertencem à Dark Faye.
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QUESTÃO DE FIDELIDADE
CAPITULO 05 – PRAZER E DOR...
Durante aquele primeiro mês após a operação, Afrodite foi completamente mimado. Muito mimado. Amata, quando estava em casa, estava sempre rondando, de olho nele. Milu e Carlo nem se fala. Bastava os olhos azuis piscinas se levantarem, quer corriam pra ver se ele precisava de alguma coisa. Meio medroso a princípio, ele se deixava levar, temendo abrir os pontos. Mas logo após o término da fisioterapia, Afrodite achou que estava na hora de assumir as rédeas de sua vida novamente... Camus teve a idéia de fazer uma armação de lona branca com rodinhas, para que Dido percorresse todo o jardim sem tomar uma isca de sol.
Após um mês de correrias, intranqüilidade, medos, tudo se assentava novamente... E Afrodite já começava a pensar em coisas mundanas, tipo...
- Mozão?
- Hmmm...
- Sabe o que eu estou pensando?
- Minha bola de cristal ainda não voltou do conserto, acredita?
- Chato! – tascou uma almofada nele. – Já faz um mês, mais acho até, que a gente não transa...
- Olha as coisas que esse cara pensa...
- E você não?
- Bom...
- Então...
- Não vai ter problema?
- O médico mandou ir devagarzinho no princípio, nada de sexo selvagem, sabe? Você acha que consegue?
- Posso tentar, né? – Cobriu os lábios carnudos com os seus, num beijo terno. Não queria mesmo fazer sexo selvagem com aquela criatura. Queria fazer amor.
Naquele mesmo instante, outro casal estava na cama, mas já satisfeitos. Terpsicore estava aninhada no peito de Saga, que preguiçosamente afagava o cabelo dela. A mulher ergueu a cabeça para encarar o homem, mas quando seus olhos se cruzaram, o olhar castanho ficou embaçado. Saga retesou os músculos, parando com a carícia. "Um presságio! Espero que seja bom..." Mas sua esperança se esvaiu quando Pipe sussurrou:
- Não, Afrodite!
"Ai, minha deusa." – Zinha? Zinha! Vamos, volte para cá e me diga. O que foi?
- Perigo... Na casa de Peixes.
- Hein?
- Vou ligar para ele.
- Vai nada, mulher empolgada. Pare e sinta os cosmos. Carlo está lá com ele. Que perigo pode haver?
- Mas eu sinto, Dinho. Uma angústia pesando aqui... Vai, liga, liga...
- Ô meu Zeus, quando essa mula empaca numa idéia... Você não sabe como o Máscara fica irritado quando é interrompido... – O telefone chamou, uma, duas, três, e ficou mudo... – Olha aí. Alguém puxou o telefone da tomada. Tomara que eles não tenham bina senão eu vou ouvir um monte amanhã.
Lá em Peixes:
- O telefone...
- Agora não...
- Mas e se for importante?
- O que é mais importante que eu agora, Mozinho? Peraí. – E puxou o fio da tomada. – Amanhã o Saga fala o que era... – E mergulhou num abraço quente, do qual estava morrendo de saudades.
Afrodite por um instante lembrou-se de algo deveras importante. Em meio aos beijos, ora quentes, ora carinhosos, tateou desajeitado o criado mudo, tentando abrir a primeira gaveta. Vendo o que o marido tentava fazer, Carlo o ajudou, ambos constatando o pior.
- Mozinho... Não tem nenhuma. Acho que nossa comemoração vai ter que ficar para amanhã...
Peixes mordeu o lábio inferior pensativo. Estava mesmo com muita saudades do corpo do moreno... E queria ser amado por ele como sempre fora. Mas... Transar sem camisinha ia muito além de seus princípios. Porém... Se TODAS elas haviam acabado e ele e Máscara não haviam sequer cogitado fazer sexo até o presente dia... Quer dizer que ele havia gastado todas com as vagabundas de sempre. O que o deixou, se não menos ciumento, mais tranqüilo. Pela primeira vez... Percebeu que podia confiar incondicionalmente no homem com quem dividia sua vida.
- Vem, Mozão... Vamos mesmo assim.
- Mas... Dite...
- Só dessa vez... Vamos confiar um no outro, sim?
A Carlo não restou outra alternativa, a não ser satisfazer o pedido sincero do outro. Confiar, respeitar, amar... Tudo naquele momento.
Shaka arregalou os olhos.
- Eu te amo, Afrodite...
Shura, ainda dormindo, abraçou com força Sukhi.
- Quero ficar para sempre com você, Carlo...
Pipe sentiu os olhos encherem de lágrimas sem entender o porquê.
Amo você, amo você, amo você... - repetiam insanamente, querendo mais daquilo, mais dos corpos, mais das almas.
Afrodite segurou com força nos lençóis brancos, jogando a cabeça para trás, vendo Carlo repetir o movimento. Sorriam satisfeitos... Felizes... E completos. Mas em Capricórnio, Virgem e Gêmeos... As sensações eram bem outras. E nada agradáveis.
OoOoOo
Os treinos, se não continuaram de forma intensa, pioraram quando Afrodite se recuperou. Os mestres estavam mais animados e os discípulos mais interessados. Assim, foi fácil de ambos os lados se entendessem e passassem a evoluir. O que, quase sempre, significava hematomas, concussões e, claro, algum sangue.
Amata não se importava com seus esfolados. Afrodite tinha tanta dó, que mal conseguia olhar. Milu normalmente cuidava da garota... Mesmo porquê, Carlo estava ocupado demais arrancando sangue da própria discípula.
Dumas, Moksha e Aiorin agüentavam tudo muito bem. Apenas o filho de Camus que reclamava um pouco, achando tudo aquilo muito desinteressante. Tessa não reclamava, mas era explícita a expressão de nojo misturada com dor que ela fazia a cada treino. Misty mimava a filha a cada ferida que Mion conseguia... Nem a garota achava que precisava de tanto. Mas vai contrariar a 'mãe'?
Sukhi pressionou o malar com delicadeza, notando que Carlo havia o cortado. Daquele jeito não ia dar para continuarem o treino. Sorriu satisfeita ao perceber que o tinha feito o mestre cuspir sangue, com o certeiro soco no maxilar.
- Acho que por hoje já deu...
- Droga... Chegar desse jeito em casa vai ser dose.
- Parece cansado, mestre... - Sukhi disse jogando uma toalha para ele.
- O pior é que Dite está conversando com o Misty... Uma dessas conversas de veado...
- Como se você fosse não fosse um...
Em Peixes...
- Eu não acredito que você e o Asterion brigaram de novo, biba.
- Ele dá em cima de qualquer coisa que use saias! O que ele pensa que eu sou? Feito de gelo?
- Misty... Depois de tantos anos...
- Qualé, Afrodite? O que mais ele quer? Até uma filha eu já dei para ele...
- Mas mesmo assim, boneca, você não é uma mulher completa. Senão já teria dado outros filhos para ele. Misty, não me olhe assim. Mas quando a gente se apaixona por um homem verdadeiro, já tem que estar preparado para essas fugas. Eles precisam...
- Não! Eles não precisam. Vê se o Camus ou o Mu precisam...
- Minha deusa, que comparação imbecil! Biba, hoje você tá de TPM, não é possível! O Camus e o Milo não são o protótipo do bofe e da boneca. Os dois são gays, revezam entre eles, então eles não têm necessidade de ficar procurando prazer fora de casa. O Mu e o Shaka nem eu entendo. O Mu já teve mulheres, teve uma filha com uma, mas prefere o loiro. Já o "homem mais perto de Deus" estava muito ocupado entregue as suas obrigações para pensar em assuntos tãããão mundanos. Acho que se não fosse o Mu, o Shaka seria um monge...
Riram. Mas os olhos verdes de Misty estavam sérios ainda:
- Como você agüenta as escapadas do Carlo?
- Dando as minhas, oras. Afinal, eu sou boneca de um macho só, mas tenho os meus desejos. Quando eu não to mais me agüentando, encho o bolso de camisinhas e vou atrás de umas bonecas para mim. Aquela compoteira em cima da minha cama nunca está com o nível baixo, oh, não, senhora. Temos um acordo de nunca falarmos sobre isso e de sempre usar preservativo. E assim a coisa anda... Misty, você tem que se conformar. Asterion é homem.
Misty suspirou.
- E lá vou eu, preparar a janta do meu homem. Mion deve estar chegando do treino morta de cansaço, tadinha...
- Eu vou separar as roupas que precisam de conserto. Tem uma jaqueta linda do Carlo que eu descobri que estava com o bolso furado, veja só que coisa! Espero que ele não tenha usado aquele bolso para nada importante...
Despediram-se e Afrodite olhou para a dita compoteira, agora bem cheia por sinal. Oras, não estava mentindo, nem se contradizendo. A noite passada com Carlo havia sido... Hum... Uma prova de amor. E eles já haviam provado. Não precisavam continuar.
OoOoOo
Durante os meses seguintes a vida no Santuário correu numa rotina preguiçosa. Shaka se auto-denominou nutricionista de Afrodite. Mas seu perfeccionismo fez com que até o cavaleiro de Peixes, acostumado a dietas para manter a forma, pedisse socorro a Mu. Virgem ficou possesso:
- Pois eu faço questão de ver o seu próximo exame de sangue! Se estiver com anemia ou alguma outra anomalia, você vai me dar razão, ingrato!
Fosse praga ou coincidência, Afrodite percebeu que todo final de tarde, ele ficava febril. Não uma coisa preocupante, alta, mas era constante. Desconversou várias vezes em que Carlo perguntou o que ele tinha, mas na consulta seguinte, se queixou ao médico.
- Uma virose, talvez? Ou uma reação não prevista ao seu remédio... Está evitando seu jardim nas horas mais quentes do dia, não? Bem, vamos fazer uns exames pra checar uns pontos...
- Doutor? Vamos fazer exame de sangue também?
- Sim.
- Pode colocar também um exame de AIDS no pedido? Meu marido e eu fazemos periodicamente e já está próximo da data...
- Com certeza. Você é um ótimo paciente, Afrodite. Se cuida muito bem...
- Obrigado, doutor.
No dia de buscar os exames, Shaka fez questão de ir junto. Ao receberem o envelope, o loiro pegou o de sangue e bateu na testa de Afrodite com ele:
- Pois eu vou abrir. E se a sua taxa de hemácias estiver baixa, você vai comer tudo o que eu botar no seu prato.
- Sim, "mamãe".
- Olha aqui, não te falei? Está com anemia, seu fresco!
E enquanto Afrodite puxava a folha e conferia, entre o riso e a careta, pensando que teria que comer fígado cru, Shaka olhou desinteressadamente para a folha que continuava em sua mão. Foi quando a palavra POSITIVO se sobressaiu na página e ele leu mais atentamente o papel. Começou a arregalar os olhos azuis e sentir o coração disparar. Afrodite olhou pra ele disposto a fazer um comentário brincalhão e ficou assustado.
- Shaka-yo! Ta se sentindo bem? Fala comigo, Sha. O que foi?
O cavaleiro de Virgem abriu a boca para responder, mas não conseguiu emitir nenhum som. Seu cérebro virava em inúmeras possibilidades, desmaiar, gritar, esconder o papel, chamar alguém, se beliscar para acordar daquele novo pesadelo que aquela folha de papel estava anunciando. Seus joelhos tomaram a iniciativa e fraquejaram, derrubando-o no chão. Afrodite deu um grito:
- SHAKA! Pela deusa, o que você tem, querido? Ta passando mal? Quer que eu chame alguém? Peraí, eu vou chamar uma enfermeira... – E saiu, largando o amigo no corredor, que agora sozinho, colocou a mão em frente à boca para abafar os soluços.
Shaka se abraçou e começou a balançar o corpo, pra frente e pra trás, tentando se acalmar, mas aquela palavra vinha a sua mente, o torturando. Desistiu e chamou Mu para ajuda-lo. O companheiro chegou junto com a enfermeira. E enquanto a solícita mulher de branco levava Shaka para tirar a pressão, Mu lia, incrédulo, a folha de papel que o outro tinha amassado na mão, de tanto que apertava.
Afrodite voltou para junto do roxinho:
- Que exame é esse, Muzinho?
- É... – sentiu um bolo enorme na garganta. - ... seu teste de AIDS.
- Ah, é. Eu pedi pra fazer, pra economizar tempo, porque já estava quase na época... Agora eu só preciso mandar o Carlo fazer o dele e... – foi quando "a ficha caiu". – Era esse exame que o Sha tava segurando antes de passar mal, não é?
- Afrodite...
O belo cavaleiro passou a mão pela testa, suspirando:
- Me dê. Vamos, Mu, me dê. Alguém deve ter trocado esse exame. Só pode. Vou pedir outro ao meu médico. E trocar de laboratório... Onde já se viu, brincar com a vida das pessoas dessa forma?
- Sim, claro... É um erro, foi apenas um engano...
- Um engano... – Mu o abraçou. – É apenas um engano... – Começou a chorar baixinho... – Eu sou tão cuidadoso, o Carlo também é, como é que pode acontecer isso?
O silêncio de Mu respondeu, de forma clara e objetiva, que essa era mais uma das questões que não tinham motivo, nem explicações. Coisas que acontecem porque devem acontecer, sem que possamos fazer nada para impedir.
A cabeça de Afrodite rodava. Não conseguia se situar no tempo e no espaço. AIDS? Ele? Ia repetir o exame quantas vezes fosse necessário... Ia mudar de laboratório quantas vezes precisasse... Carlo também faria o exame... Ia dar negativo. Tinha que dar negativo. Peixes sentiu o corpo amolecer nos braços do amigo solícito que o tentava amparar. Sabia que, por mais que repetisse seus exames, o resultado seria o mesmo. Dentro de si, sentia que não seria diferente. Enfrentar algo invisível, que enfraquece suas defesas... E suas emoções. Não sabia se ia agüentar. O inevitável batendo à sua porta e estraçalhando com a sua vida. Mais uma vez.
CONTINUA...
É agora.
