Disclaimer: Saint Seiya pertence ao Masami Kurumada, Bandai, Shonen Jump...
O nome Carlo di Angelis, os apelidos 'Mozão e Mozinho', os Chibi Saints e seus nomes pertencem à Pipe.
O nome Sukhi Pavlos, tal como a personagem pertencem à Dark Faye.
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QUESTÃO DE FIDELIDADE
CAPÍTULO 6 - DESENROLAR DOS FATOS
Afrodite recusou a companhia dos amigos ao chegar no Santuário. Com a cabeça um pouco mais fria, subiu devagar cada um dos degraus que o levavam para sua casa e seu marido. Carlo. Pensou nas mais diversas formas de contar a ele. Por mais que não quisesse admitir, seria algo difícil demais para enrolar, importante demais para esconder, triste demais para mentir.
Entrou. Deu graças aos deuses ao lembrar-se que Amata ia dormir na casa de Escorpião. Amenizava, por mínimo que fosse, o choque. O exame estava amassado em suas mãos, e ele tentava de todo o jeito manter sua sanidade presa àquele pedaço de papel. A idéia de joga-lo fora passou-lhe tentadoramente pela cabeça pelo menos umas cinco vezes antes de alcançar a sala.
E claro, seus olhos cruzam com os de Carlo, e a pouca confiança que lhe restava acabou por esvair-se por completo. Só conseguiu caminhar lentamente até o sofá, os olhos já marejados, tentando parecer forte.
O que houve Dite? Algum problema com os exames?
Sim... - estendeu, trêmulo, o papel até o outro.
Hum, está com anemia. Bem que o Shaka avisou.
A outra folha, Carlo.
O teste de HIV. O que tem?
Leia.
Carlo sorria. Então, seus olhos passaram a ler atentamente o exame. Leu e releu quantas vezes fora necessário para dar-se conta da verdade. O mundo girou. Ele parecia não pertencer mais aquele lugar, nem aquela vida, nem aqueles momentos. Estava... Pasmo.
Se você está... Eu também...
Não sei, Carlo, não sei. Por isso, teremos que ser sinceros um com o outro agora.
Como? - Câncer tentava coordenar os pensamentos da melhor forma possível. E não estava conseguindo.
Não fizemos transfusões de sangue recentemente. Não usamos drogas. Pensei em todas as hipóteses possíveis. Não existe outra alternativa, a não ser via sexual. Carlo, olhe para mim.
Sim...
Eu não transei com nenhuma mulher ou homem sem camisinha. - Carlo abaixou a cabeça, cortando o contato visual tão intimidador. Mas Afrodite segurou sua face com ambas as mãos, o olhando com amor e compreensão.
Dite...
Diz para mim... Você, alguma vez... Fez sem preservativo?
O silêncio caiu sobre os dois. Por vários minutos Afrodite esperou por uma negativa do marido. Vendo que ela não chegava, presenciou suas últimas expectativas de engano ruírem. Estavam infectados. Não havia nenhuma dúvida agora.
Dia seguinte...
Tenho uma audiência com Afrodite e Carlo... Vai indo na frente e veja como andam as obras por mim, Seiya. Ah, não esqueça de levar o Mitsumasa com você... - Saori andava apressada, com o marido em seu encalço. Parou diante da grande porta de madeira suspirando. Virou-se e deu um beijo carinhoso no cavaleiro. - Bem, até mais. - Entrou.
Vislumbrou seus cavaleiros esperando-a com semblantes carregados. Uma energia densa cobria o local, e Athena pôde notar claramente as olheiras de seu belo cavaleiro, aliadas aos olhos vermelhos de Carlo.
Aproximem-se e digam-me o que desejam.
Viemos lhe comunicar algo à respeito de nossa saúde. - A deusa ergueu uma sobrancelha e ficou realmente preocupada. Pediu para que sentassem nas cadeiras ao redor de mesa oval.
Então, algo grave?
Sim. Eu e o Carlo descobrimos ontem que estamos... Com AIDS.
AIDS? Mas vocês se cuidam tanto... Deve haver um engano. Não é possível.
Não temos dúvidas, minha senhora. Achamos que deveria saber, para ficar avisada caso não possamos lhe ser mais úteis. - Carlo disse.
Úteis? Vocês são mais do que empregados. Mas isso não vem ao caso. Vou providenciar os melhores médicos, hospitais, coquetéis. Nem que eu seja obrigada a achar um meio de cura-los e livra-los do sofrimento, eu o farei. Saibam, que mais que uma deusa, eu também sou uma humana... E vocês têm em mim uma aliada e amiga.
Obrigado... Athena.
Se precisarem de algo, mesmo que apenas conversar... Estarei esperando-os.
Assim que o casal se retirou, Saori pediu que Tatsumi entrasse.
Quero que procure o mais rápido possível uma empresa de panfletos. Vamos informar a todos sobre as doenças sexualmente transmissíveis e incentivar o uso de preservativo. Estamos na Grécia, mas os tempos são outros. Quero que todos estejam cientes disso. Agora vá, por favor.
Olhou desolada para a porta que fechava mais uma vez, deixando-a solitária com seus pensamentos. Apoiou a cabeça sobre as mãos, deixando que suas lágrimas escorressem soltas. Suspirou. Precisava manter-se firme e forte, para dar todo o apoio necessário aos seus cavaleiros. Eles já haviam cuidado dela. Era sua vez. Chamou Shion e Camus.
OoOoOo
Afrodite e Carlo andavam um ao lado do outro sem olhar-se. Passaram pela casa de Peixes, então pela de Aquário. Chegaram à de Capricórnio.
Quem vai contar?
Eu conto, Dite... Eu conto.
Entraram.
Vislumbraram com serenidade e um pouco de melancolia o casal que tomava café. Shura os percebeu.
Veja o que faz com a minha mulher, Carlo! Logo a Sukhi não terá mais sangue no corpo! - Shura abraçou a morena, indicando o ferimento recém - aberto coberto por uma gaze.
O que me satisfaz é que nunca saio sem arrancar a minha cota dele. - Sukhi apontou para a sobrancelha de Carlo, que estava coberta com um band - aid.
Podemos conversar um instante com vocês? - Afrodite pediu.
Aconteceu alguma coisa?
Aconteceu, Shura... Vamos conversar.
Afrodite e Carlo sentaram-se de frente para Shura e Sukhi, sendo separados pela pequena mesa de centro mogno. Começaram a contar tudo o que estava acontecendo com eles, vendo que aos poucos, ambos tinham a noção exata da bomba que havia acabado de cair sobre suas cabeças. Shura estava abalado, sem saber o que dizer. No entanto, ao buscar os olhos da mulher que sempre o confortavam, sentiu-se ser quebrado em três. A gaze de Sukhi... O band - aid de Carlo. Num instante lembrou-se de todas as vezes que a mulher chegara sangrando.
Seu desgraçado! - o soco, impensável e rápido, deixou Carlo sem ação. Só conseguiu voltar a si, quando sentiu as costas baterem na parede.
Pára com isso, Shura!
Juro, por todos os deuses do Olimpo... Se algo aconteceu à Sukhi... Eu mato você antes desse vírus, seu promíscuo! Eu juro que vou estripar você! Se ela morrer por sua causa... Nunca vou te perdoar!
Chega. Já basta. - Sukhi disse, olhando nos olhos do marido. Shura soltou Carlo e foi para o quarto, ao mesmo tempo em que Câncer saía transtornado da décima casa. Afrodite aproximou-se de Sukhi, tocando de leve seu ombro.
Desculpe-me por isso Dite. Mas não posso fazer nada por vocês agora... - Peixes reparou nos olhos marejados que nunca vira antes... E o medo que eles traziam junto com as lágrimas que não escorriam.
Eu... Entendo.
No quarto escuro, Sukhi abraçou-se a Shura. Não queria chorar na frente dele, mas não era tão insensível a ponto de.
Afrodite alcançou Carlo. E percebeu que o que estava acontecendo com eles... Era o fim de suas vidas.
Carlo...
O que eu fiz, Afrodite? O que eu fiz? Destruí sua vida, destruí a vida da minha discípula, do meu melhor amigo... Eu acabei com tudo... - Chorava e falava compulsivamente... A figura do desespero estampada nas feições chocadas do italiano.
Não sabemos se ela foi contaminada... Tente ficar tranqüilo...
Como pode? Como pode continuar ao lado de um homem que vai te levar a morte? Como pode continuar ao meu lado, quando não fui digno de confiança e nem de seus sentimento? Por que sempre esteve comigo... Por que nunca me abandonou quando teve oportunidade? Por que agüentou essa vida miserável ao lado de um cafajeste como eu? Por que não se salvou Dite? Por que?
Porque... Eu amo você, Carlo.
Não sou digno!
Isso quem decide... Sou eu.
OoOoOo
Shion e Camus ouviram atentamente as notícias do casal da décima segunda que Saori lhes transmitia. Shion colocou a mão à frente da boca, tentando decifrar seus próprios sentimentos e pensamentos, mas Camus sentiu o mundo desabando pela segunda vez em menos de um ano...
Da primeira vez, tudo correra bem, mas e agora? O que poderia ser feito? Teriam que submeter o Santuário a testes, quantas pessoas poderiam estar contaminadas sem saber por ali, naquele microcosmo? Quantas pessoas vivendo em comunhão, ao risco de se contaminarem, crianças convivendo com essas pessoas, se esfolando todo dia, mon Dieu!
- E o pior de tudo: como vou contar ao Milo? – Camus esfregou a testa, suspirando essa última frase em voz alta.
Saori e Shion olharam pra ele, que enrubesceu. Mas estava abalado demais pra ligar se uma vez na vida sua máscara de pessoa fria e centrada estava ruindo. A vontade era de se jogar no chão e gritar, gritar, gritar, exatamente como um certo cavaleiro de Escorpião faria, quando soubesse. Camus começou a tremer e Shion o acudiu. Saori também foi abraça-lo e os três logo se renderam, se dando ao luxo de chorarem, já que aquela crise exigiria dos três muito sangue frio e coragem, para poderem transmitir aos outros...
- Contaremos aos outros?
- Sim. Com calma, e aos poucos. – sugeriu Saori, enxugando os olhos.
- Melhor evitar o pânico. Tem gente que se apavora só com a palavra "infecto-contagiosa".
- Nunca pensei... Nunca pensei que uma bomba dessas atingiria o Santuário...
- Vou pedir ao Dohko que volte pra nos ajudar. Shunrei vai ter que se virar por uns tempos lá em Rozan com os meninos...
- É bom. A experiência de vida dele vai acalmar os ânimos... Ah, sim, Shaka e Mu já sabem...
- Amata?
- Ainda não... Melhor que as crianças sejam poupadas, por enquanto... Elas se abalaram muito com o câncer...
- Milo... Milo... Vai sofrer... Pipe, então, vai querer castrar o Carlo... Escorpiões são muito protetores, quando se trata de amigos...
- Vou falar com eles, aqui. Deixe, Camus... Eu ainda sou a Deusa deste Santuário. Mesmo que Moira¹ seja implacável conosco, eu comando algumas coisas aqui dentro.
- Merci beaucoup, ma Dame...
Quando Amata voltou pra casa, naquela noite, sentiu o clima meio tenso.
- Aconteceu alguma coisa? Vocês estão com aquelas caras de novo...
Carlo olhou para Afrodite, franzindo a testa. Tinham discutido o dia todo um modo de contar à Amata. Afrodite não querendo preocupá-la e Câncer achando melhor ser sincero de uma vez. Ao ver o esposo mentindo, não o culpou. Era por amor...
- Matinha, não vamos mentir pra você... Nem vou dizer que você precisa ser forte... Mas... Sabe... Eu fui fazer exames e o médico disse que o câncer voltou... Vou precisar tomar uns remédios mais fortes e... Vou me sentir horrível alguns dias...
- Ai, Mozinho. Diz que é brincadeira... Fala sério... Aquilo tudo não tinha acabado já?
- Eu também achei que tinha, minha querida... Mas vamos passar outro mau bocado... – abraçou a filha, sentindo que nem tinha mais coração para se partir outro pedacinho...
Carlo não agüentou. Saiu. Pensou em se atirar de um daqueles penhascos que circundavam o Santuário, pensou em tomar veneno, pensou em se embebedar, pensou em tanta coisa. Mas não pensou que iria encontrar Shaka, logo na saída do Templo de Áries.
- Onde vai?
- Não sei.
- Senti seu cosmo angustiado, vim atrás... Nem pense em fazer uma besteira. Ou melhor, nem pense em fazer MAIS besteira.
- Sou uma bestia. Não mereço nem respirar mais perto deles...
- Concordo. Mas agora vamos ver o quanto você é homem, macho de verdade. Você tem que viver, seu inútil pedaço de merda, para que aquele lá possa suportar tudo que virá! Você tem que viver porque vocês têm uma filha!
- Shaka...
- Carlo, eu te odeio. Te odeio no mais profundo do meu ser... Mas nem pense em fugir ou se esconder. O seu castigo é cuidar para que nada mais de ruim aconteça com aqueles que foi dado a você como dádiva de vida e você não soube dar valor...
- Shaka...
- Não adianta chorar, pra mim, suas lágrimas não valem nada! NADA! Tanto quanto lágrimas de crocodilo... Um preservativo... Um maldito pedaço de borracha... E você não podia ficar sem dar uma... Para provar o que, por Shiva!
Mu desceu correndo. Abraçou Shaka.
- Pela deusa, pare com isso... Pare, Shaka-yo ...
- Mu-yu...
- Carlo...
- Ele não disse nada demais... Tudo que ele disse, já passou inúmeras vezes pela minha cabeça, hoje. Shura até já me bateu... Ainda é pouco, sabe... Mas o que o loiro disse deve ser levado a sério... Tenho que viver pra cuidar do meu amor... Nem que ser a última coisa que eu faça na vida... Da minha ou da dele, só a deusa sabe... Mas vou cuidar dele... Vou...
E um homem de ombros caídos foi subindo a escadaria do Santuário, passo a passo, sumindo nas sombras, enquanto um casal subia atrás, as lágrimas de Mu acompanhando os soluços abafados de Shaka. Aldebaran e Saga sentiram a angústia dos companheiros, assim como Aioria... Mas Mu deixou bem claro que seria uma conversa para amanhã.
CONTINUA...
O que vocês estão achando?
¹ - Moira é o destino. Os gregos acreditavam que da mão do destino nem os deuses escapavam.
