Disclaimer: Saint Seiya pertence ao Masami Kurumada, Bandai, Shonen Jump...
O nome Carlo di Angelis, os apelidos 'Mozão e Mozinho', os Chibi Saints e seus nomes pertencem à Pipe.
O nome Sukhi Pavlos, tal como a personagem pertencem à Dark Faye.
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QUESTÃO DE FIDELIDADE
CAPÍTULO 08 – LAÇOS
Afrodite foi arrumando as malas calmamente. Carlo, sentado na namoradeira, estava pensativo:
- Ainda acho que eu deveria ir junto.
- Não. Amata precisa de alguém aqui, com ela. Esse negócio dela ficar sempre na casa de um, de outro, com todo mundo na cabeça dela não vai fazer muito bem... E eu não vou sozinho. Mu vai comigo.
- Não entendi muito bem essa do Mu.
- Mozão, agora é outono lá na Suécia. Muito frio para o Shaka ou o Milo. A opção seria Hyoga, Camus ou o Mu...
- Sei...
- Você ligou para os seus irmãos?
- Ainda não.
- Vai ligar?
- Vou. Às vezes eu penso que foi bom a Mamma Anna já ter ido para junto do Pappa Luigi. Assim eu evito mais esse desgosto para ela...
"Mas por outro lado, a força dela viria bem de encontro às necessidades nossas e da neta... Pensamento mais egoísta esse, hein, biba?" – e fechou a mala.
- Mozinho?
- Oi, Matinha. Estava só te esperando para me despedir.
- Você não vai demorar, né?
- Ah, não. Só uma semana, dez dias no máximo. Toma conta do Mozão para mim?
- Claro! Comigo ele não folga, você sabe...
- Essa é minha filhota! Muito bem, querida. Dá duro nesse carcamano... – abraçou a filha, com cuidado.
Amata encostou a cabeça no pescoço de Afrodite. Final de tarde, ele já estava febril. Ainda bem que o pai de Moksha iria com ele...
... E ao cavaleiro de Peixes só lhe restou juntar a pouca coragem que possuía e seguir em frente... Sem olhar para trás.
OoOoOo
No dia seguinte, Carlo acordou se sentindo pior que nos outros dias... Ficar de olho em Afrodite era uma distração para seus pensamentos escuros... O que iria fazer naqueles dez dias? Treinar estava fora de cogitação, sentia um aperto no estômago quando pensava no exame de Sukhi (iria ficar pronto naquele dia...), não estava inspirado para trabalhar no ateliê, o melhor era ir para loja... Sem o Mu, alguém precisava tomar conta dos negócios...
Ao sair, viu Aldebaran e Saga. Um vinha subindo, outro descendo. Esperou.
- E ai, folgado? Vai fazer nada da vida não? – saudou o brasileiro, naquele jeito de sempre.
- Vou descer para loja... Se bem que acho que não tenho a mínima vontade de trabalhar...
- Bem, eu vim te dizer que Saori contratou uns psicólogos para você e Afrodite. Senão é bem capaz de vocês quererem se enterrar em vida...
- Que vida?
- Se você começar com viadagem logo cedo, eu ponho máscara, luvas e te dou uma surra, Carlo di Angelis. Un caballero de oro nunca se dá por vencido, hijo de uma puta! Cansei de te dizer...
Carlo se virou na direção da voz, para encontrar uns olhos verdes fuzilando.
- Shura... - Carlo disse sem esconder a apreensão.
- Enquanto há uma centelha de vida, há vida. Então, vamos vivê-la, cacete!
- Filosofia profunda, logo de manhã – Saga coçou o queixo, rindo.
- Para esse carcamano choraminguento, está bom demais.
Sem mágoas, sem ressentimentos... Sukhi estava bem e Shura não precisava explicar nada...
OoOoOo
Em Estocolmo, Mansão dos Thorssons...
Mu tinha visto, constrangido, Afrodite dizer aos seus pais que estava com câncer... "Os fins justificam os meios" sussurrou o cavaleiro de Peixes telepaticamente... E mesmo discordando, o cavaleiro de Áries sabia o que o amigo estava fazendo. Estava tentando diminuir o golpe diante de dois corações idosos... Se bem que D. Ariadne tinha desmaiado e passado a noite à base de calmantes... Olaf tinha ainda esbravejado contra o sistema de saúde precário da Grécia e falado em junta médica, melhores hospitais e operações, tudo aquilo que o dinheiro pudesse comprar, nada era pouco para o seu filho muito amado...
Mas Afrodite discordou de tudo, sentindo um cansaço enorme... E no dia seguinte, diante de nova acareação com o pai, sentou-se no chão diante dele, apoiou a cabeça em seus joelhos e confessou a verdade. Olaf nunca pensou que poderia enfartar. Achava que era homem para viver 100 anos. Mas aquela dor, aquela dor o fazia mudar de idéia. Trocaria todos os anos que teria que viver ainda com os poucos anos que restavam ao seu filho. Aquelas quatro letrinhas sempre foram seu pior pesadelo, desde que soube da opção sexual de Afrodite...
- Mas você sempre se cuidou, meu filho...
- Seres humanos são passíveis de descuido, sabia?
Olaf chorava silenciosamente, enquanto acariciava aquela cabeça de cabelos claros, como tantas vezes fizera quando Afrodite era pequeno. Quantas vezes não o afagou, antes que ele se fosse? E quantas vezes não sofreu, só pensando no que seu filho estaria sofrendo? Porque os pais não podem ser onipotentes e onipresentes, só para resguardar seus filhos do sofrimento?
- Mamma não pode saber. – pediu Afrodite. – Para todos os efeitos, quem está me matando é um câncer.
- Mas será mesmo melhor assim, filho? Você sabe que manter mentiras diante das mães é quase missão impossível ¹... Não aprendeu ainda?
- Por favor? Só vou contar às meninas...
- E Carlo?
- Também está contaminado.
- Por Odin! Como você vai contar ao irmão dele?
- Como estou contando ao senhor...
- Como Vanni vai reagir ao saber que você contaminou o irmão dele num descuido? Ele vai querer... – mas Olaf não terminou a frase "te matar". Os grandes olhos azuis piscinas olhavam para ele tão angustiados, que ele pegou a idéia no ar... – Foi o Carlo quem te contaminou, não foi? Eu deveria saber...
- Mas o senhor não confiou em mim, logo de cara, né? Eu que sou o veado, eu que sou o aventureiro, então eu que deveria ter me cuidado melhor...
- Dido... – Olaf ergueu o filho para que este se sentasse em seus joelhos. Abraçou-o apertado, querendo tanta coisa. Pedir perdão, pedir que ele não se entregasse, que não o deixasse, se houvesse um Deus no céu, que não permitisse que mais ninguém o magoasse. Mas como pedir isso, se até ele, que era o pai, duvidou de Afrodite... Encostou os lábios na testa do filho, sentindo-o febril. – Tem tomado seus remédios direitinho?
- A febre é a reação dos remédios. Estou em guerra interna, sabia?
Olaf sorriu. Era seu filhote, aquele guerreirinho que não desistia fácil...
- Quero estar presente quando você for contar ao Giovanni. Você vai precisar de um apoio extra...
- Obrigado, pappa. Estou precisando de todo apoio que posso encontrar...
OoOoOo
Carlo olhava desanimado para a filha, que corria ao encontro de Moksha. Shaka, que acompanhava o filho, nem se deu ao trabalho de cumprimentar, tampouco olhar para o canceriano. Moksha percebeu que seu pai havia alterado-se momentaneamente e pensou no que poderia estar acontecendo. Olhou para Amata, e esta tinha a mesma expressão desconfiada. Por que seus pais não se falavam? Algo estava muito errado mesmo.
Não reparou quando o amigo da segunda casa aproximou-se dele e sentou-se ao seu lado.
- Já com saudades do marido, Carlo?
- Já. Queria estar lá com ele, ajuda-lo... Mas não posso fazer nada agora.
- Pode sim. Cuida da tua filha, que é teu bem mais precioso agora.
- Eu sei, Deba... Eu sei. Mas... Hoje é Sábado. Não vai sair com o pessoal para beber?
- Ia sair. Não vou mais.
- Por quê?
- Porque você não pode consumir bebida alcoólica tomando seus remédios.
- E o que tem isso a ver com você sair?
- Vou estar ao seu lado para o que você precisar. Mesmo que todos no Santuário o condenem e o rejeitem, não farei isso. Porque sei que você realmente o ama e merece meu respeito e amizade. Vou ficar aqui com você até o fim.
- Deba...
- Eu sei. O fim não chegará tão cedo.
OoOoOo
Saori suspirou pesadamente, esperando que a ação levasse embora todos os seus medos, e que sobrassem apenas coragem e força. Sabia que tentava mentir para si mesma... Mas não ligava. Aprumou-se na cadeira majestosa e encarou amavelmente seus mais fiéis protetores.
Finalmente chegara a hora deles saberem.
Shun foi o primeiro a perceber que algo estava errado, ao notar do modo estranho que Seiya se portava. E estarem todos ali, até mesmo seu irmão Ikki, aumentava ainda mais sua expectativa. Mas, de todas as possibilidades que passaram num flash na mente do jovem guerreiro, aquela era a única que ele jamais cogitaria.
- Eu os chamei aqui hoje para... Comunica-los sobre um fato que entristece muito a todos nós.
- Que seria...? - Hyoga perguntou olhando firme para a Deusa.
- Descobrimos há alguns dias que Afrodite, guardião da décima Segunda casa de Peixes, e Carlo, guardião da Quarta casa de Câncer, estão contaminados pelo vírus HIV.
- O quê? - Shiryu foi o único que conseguiu esboçar uma reação rápida, embora fosse de total descrença.
- Não sabemos como aconteceu, e não nos diz respeito saber. Exames preventivos foram feitos e todos estão limpos. Mas nossos dois Cavaleiros estão contaminados, isso é certeza.
- Foi... O Afrodite que passou para o Carlo? - Ikki perguntou sem levantar a cabeça.
- Não. Foi o Carlo que contaminou o Afrodite, mas... - Saori não teve tempo de prosseguir. O cavaleiro de Fênix já havia saído porta a fora. Depois de refletir naquele milésimo de segundo, Shiryu percebeu o que o amigo pretendia fazer e contra quem. Saiu rapidamente do recinto. Hyoga olhou de relance para Shun, que ainda permanecia num estado de choque.
- Shun...?
- Ele vai conseguir, não vai, Atena? Afinal, você é uma deusa! Não pode deixar que ele morra por algo assim, e...
- Entendo sua dor, Shun... Mas não posso interferir nas leis da vida. Aliás, nem teria poderes para curar o Afrodite.
- Eu... Eu preciso fazer algo por ele. Onde ele está? Quero falar com ele!
- Infelizmente, não está no Santuário. Foi para a Suécia, conversar com os pais. - Shun não suportou, e deixou que duas lágrimas teimosas escorressem.
- Eu vou ajuda-lo. Vou permanecer ao lado dele até o fim... E garanto que vou fazer com que ele seja mais forte que essa doença, e sobreviva por muito tempo...
- Tenho certeza que você vai conseguir... - Saori sorriu para ele segura, tentando com ânsia possuir a mesma confiança e esperança que o cavaleiro abalado à sua frente.
Hyoga passou uma das mãos pelo rosto, enquanto buscava na mente prática algo que realmente fosse relevante para se dizer naquela situação. Sua busca foi vã, e então percebeu que aquela era uma história com um final bem definido. No entanto, viu-se tendo um objetivo claro durante todo o tempo em que aquela situação perduraria. Precisava apoiar os amigos que estariam gastando suas forças e suas emoções apoiando Afrodite e Carlo.
OoOoOo
Tudo o que viu foi um vulto e a dor lancinante no maxilar. Quando abriu cheio de dificuldade os olhos, pôde vislumbrar uma face abalada, que não se importava de chorar abertamente.
Carlo percebeu que Ikki havia descoberto tudo.
- Solta ele, Ikki! - Aldebaran foi rápido, e estando ao lado de Carlo, não teve dificuldades em separa-los.
- A minha vontade era de te matar!
- ...
- Por que fez algo assim, se ele te amava tanto? Você não presta mesmo, seu italiano de merda!
- Chega, Ikki! Agora. - Touro disse com a voz grave, empurrando o mais jovem para mais longe.
- Eu só não te mato, porque Afrodite deve te amar e iria sofrer. Considere-se um sortudo... Por causa dele, e apenas dele, vou deixar que viva. No entanto... A cada momento em que meus olhos cruzarem com os seus, a cada instante que nos encontrarmos, em todos os lugares em que estivermos... Pode ter certeza que vou estar torcendo para que você morra. Com todas as minhas forças, eu vou desejar sempre que você jamais tivesse existido.
- ...
Shiryu chegou à tempo apenas para ouvir o final do discurso de Ikki e vê-lo sair bufando para o outro lado. Aproximou-se com calma, torcendo para que aquele tempo servisse para tranqüiliza-lo e ajuda-lo a formular algo conveniente para dizer.
- Carlo, eu... - Dragão desistiu das palavras de consolo ao perceber os olhos cheios de lágrimas que o antigo desafeto carregava. Caminhou em sua direção, abraçando com ternura o corpo trêmulo do outro. - Tudo o que eu puder fazer por você, eu farei. Mas acho que agora, o único que pode fazer algo é você mesmo. Nada vai mudar o que aconteceu no passado. Ninguém tem um poder assim. Mas, você ainda pode mudar o futuro não? Ou pelo menos, escrever uma história de garra e coragem para um destino certo.
Shiryu vislumbrou por um instante um pequeno e genuíno sorriso de agradecimento. E notou que, mais do que nunca, seria necessário. Ia afogar toda a sua amargura e dor pelo bem dos que sofriam mais do que ele.
Imersos em sentimentos e emoções que cegavam, dilaceravam e alimentavam suas almas, o Santuário dormiu. Mais um dia de vida.
CONTINUA...
¹ - quem se lembra de Afrodite tentando enganar a Mamma Anna com o soutien de peitão?
