Disclaimer: Saint Seiya pertence ao Masami Kurumada, Bandai, Shonen Jump...
O nome Carlo di Angelis, os apelidos 'Mozão e Mozinho', os Chibi Saints e seus nomes pertencem à Pipe.
O nome Sukhi Pavlos, tal como a personagem pertencem à Dark Faye.
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QUESTÃO DE FIDELIDADE
CAPÍTULO 09 – REALIDADE E MATURIDADE
Afrodite parou à beira da escadaria de Áries, bufando. "Talvez eu devesse pedir ao Kiki para trocar de casa..." Riu, diante do pensamento, mas a sensação foi transmitida ao seu parceiro de viagem. Mu olhou para ele preocupado.
- Consegue subir? Sinto o cosmos de Carlo e Shiryu na Casa de Câncer, então você não vai se cansar muito...
- Graças à deusa. Então eu não preciso me arrastar até lá em cima. Sabe, eu estou cansado dessa viagem...
Mu concordou, com um sorriso. E foram conversando pela passagem, o ex-cavaleiro de Áries carregando as malas telecineticamente...
- Porque será que Saori convocou os cavaleiros de bronze?
- Talvez eles estejam aqui só de passagem... – Mu estava começando a se preocupar se Afrodite não estava afundando num processo de negação.
Ao entrarem na casa de Câncer, se depararam com um atônito Dragão, que suspirou ao vê-los entrar...
- Que bom. Eu já ia ligar para alguém vir me ajudar...
- Que aconteceu? Onde está meu marido?
- Foi para o banheiro correndo. Acho que ele está passando mal...
Afrodite saiu correndo para o banheiro da suíte. Máscara da Morte estava mesmo "chamando o Hugo". Afrodite molhou uma toalha de rosto na água gelada e encostou na testa molhada de suor. Depois passou pelo rosto dele, na nuca e apertou um cansado cavaleiro de câncer contra o peito.
- Shhh... já cheguei, Mozão. Que que foi?
- Esses malditos remédios... – gemeu ele. – Eu tomo e passo mal... às vezes eu não consigo segurar...
- Já comeu?
- Não consigo fazer nada parar no estômago...
- Cadê Milu?
- Foi buscar alguns legumes frescos para me fazer um caldo...
- Vamos, deite-se na cama, vou ligar o ar condicionado para refrescar o ambiente e vou lá preparar algo que assente no seu estômago...
- Mozinho, você está meio quentinho...
- Isso é o normal, querido. Agora fique aí quietinho que eu já volto...
Shiryu e Mu estavam na sala, o cavaleiro de bronze punha o de ouro a par dos acontecimentos durante aquela semana... Acompanharam Afrodite até a cozinha, se propondo a ajudar a fazer o caldo. Milu chegou com os legumes e Afrodite pôs-se a descascá-los, enquanto Mu cortava um pedaço de carne em cubinhos... Milu foi ver se Carlo estava bem. Foi assim que Amata os encontrou. A alegria de ver seu Mozinho foi tamanha que ela deu um grito da porta da cozinha. Afrodite se assustou e acabou dando um pequeno corte no dedo. Todos paralisaram na hora e a situação só piorou quando a menina deu um passo em direção a ele:
- Machucou muito? Ah, é só um cortezinho à toa, Mozinho. Até se eu der um beijinho sara...
Afrodite surtou na hora. Largou o facão e a batata na pia e recuou de repente até a parede, gritando:
- NÃO! NÃO ENCOSTE EM MIM! NÃO ENCOSTE EM MIM! EU ESTOU SANGRANDO! NÃO... SE AFASTA DE MIM! FICA LONGE! FICA LONGE!
Milu veio correndo do quarto. Shiryu tinha agarrado uma Amata trêmula enquanto Mu sussurrava para tentar chegar perto de Afrodite. Foi preciso usar telecinese para evitar que ele se debatesse e Aspásia colocou luvas para tratar do corte. Amata ficou olhando aquele circo todo e somou todos os fatores da
equação... Foi se soltando de Shiryu, levantando da mesa e apontando o dedo para Afrodite:
- Você... Eu não posso encostar em você porque? Porque você está sangrando, não é? É por isso que essa febre não passa... É por isso que tem remédio demais nessa casa... VOCÊ MENTIU PRA MIM! Você não tem câncer porra nenhuma! Você está com AIDS! Você, seu veado, está com AIDS! E passou pro meu Mozão...
- Amata...
- E todo mundo está me enganando, achando que eu sou alguma retardada... EU ODEIO VOCÊS! ODEIO TODO MUNDO! – E derrubando o Dragão, saiu correndo pela porta afora...
Mu e Milu abraçaram Afrodite. Shiryu ficou olhando Amata subir as escadarias. Com certeza ela ia se refugiar no Jardim de Virgem... Não que Shaka fosse consolá-la, mas Moksha...
Mu deu um gemido mental que chegou ao cavaleiro de Virgem. Amata entrou em sua casa ao mesmo tempo que ele saía. Ela ouviu Shaka resmungando algo sobre "aquele maldito italiano fez alguma de novo..."
Demorou um tempo até que Amata dissesse alguma coisa ao garoto ao seu lado. Em alguns momentos chorava; em outros, resmungava irritada palavrões irreconhecíveis. Mas, em grande parte do tempo, mantinha-se calada, Moksha respeitando o silêncio que dizia tanto.
- Ninguém sabe como é ser filho de pais gays. A gente sempre pensa que isso pode acontecer e um dia acontece mesmo...
- Não acha que está na hora de me contar o que anda acontecendo...?
- Meu Mozinho e meu Mozão estão com AIDS. Mentiram para mim. Tentaram esconder essa verdade e acabaram escorregando do pior jeito possível.
- Como você está?
- Que você acha? Meus pais vão morrer. Todo mundo morre um dia, mas eles vão mesmo, e rápido.
- Hum...
- Não acredito que o Mozinho fez isso com meu Mozão...
- Tem certeza que foi o tio Dite?
- Como?
Moksha colocou a mão no queixo, fazendo um rápido retrospecto mental.
- Faz tempo que o meu pai ignora o seu ou resmunga contra ele. Tio Shura e o Ikki bateram no tio Carlo... Por quê? Entende? Talvez a culpa não seja do seu Mozinho e sim...
- Do Mozão? - Os olhos de Amata voltaram a se encher de lágrimas, recordando de tudo, até do último encontro com Shaka, minutos atrás. - Não vou perdoá-lo, Mok. Nunca mais.
Enquanto isso, Shaka chegava ao caos instalado. Afrodite soluçava baixinho nos braços de Mu. Milu estava fazendo um chá de camomila pra ele. Shiryu tinha ido amparar Carlo, que ouviu os gritos da cozinha, mas não conseguiu passar do corredor, rendido entre a fraqueza e o medo. Aldebaran e Pipe, casas abaixo, tinham subido pra ajudar mas estavam discutindo sobre "de quem era a culpa". O cavaleiro de Virgem fechou os olhos e esfregou as têmporas doloridas.
"Buda, me ajude, que eu vou matar um hoje." – ALDEBARAN, PARA COM ISSO E VAI AJUDAR AQUELE INUTIL CAÍDO NO CORREDOR! Mulher, se não tem o que fazer aqui, some pra sua casa que você tem duas crianças pra cuidar ainda! – abriu os olhos azuis e procurou ser gentil – Afrodite, eu te avisei tantas vezes que sua filha não era nenhuma retardada... Ela ia acabar percebendo...
- Mas eu não queria que fosse dessa forma...
- Ninguém quer que os filhos sofram, mas tem coisas que devem ser ditas pra dar tempo para a mente se ajustar ao sofrimento. Ela deve estar em choque...
Milu deu o chá na mão de Shaka e foi cuidar do caldo para o cavaleiro de Câncer. Aldebaran ergueu Máscara da Morte e levou-o pra cama de novo. O italiano tremia, totalmente apavorado. Tinha certeza de que agora sua vida ia terminar. Seria julgado e condenado pela segunda pessoa que mais amava nessa vida e isso seria pior que a morte.
- Amata não vai me perdoar... – gemeu ele.
- Talvez não... – começou Shiryu
- Não se iluda, Dragão. Ela me ama, mas é doente por aquele pai dela.
Já era tarde quando Amata voltou pra casa. Carlo estava dormindo, mas Afrodite estava na sala, esperando por ela.
- Porque você mentiu pra mim? – ela não queria acusá-lo, não queria começar a conversa assim, mas... Precisava dizer.
- Se eu disser que era pra te poupar do que você está sentindo agora, você acredita em mim? Me perdoe, Matinha. Eu achei que era pro seu bem...
- PRO MEU BEM? Vocês conseguem pensar no que é bom pra mim? Aquele outro trepando a torto e a direito sem proteção pensou no que era bom pra mim? Ou pra você?
- Amata, modere sua linguagem...
- Porque? Que diferença faz as palavras serem lindas ou feias? Não dá tudo na mesma? Muda o fato de que aquele homem galinha fodeu com a vida de toda a família dele?
Afrodite se levantou e deu apenas um tapa no rosto da filha. O primeiro, em dez anos.
- Porque eu estou mandando. Porque eu AINDA não morri e sou seu pai. Porque eu AINDA estou aqui pra ensinar você a ser uma lady. E aquele homem galinha AINDA é seu pai. O mesmo pai que te ensinou a andar, que perdeu noites de sono porque você estava doente, que te ensinou a desenhar, que geme enquanto dorme, porque sonha que você não vai amá-lo mais.
- E não vou mesmo. Não vou perdoá-lo pelo que ele te fez nunca mais na minha vida.
- E o que ele me fez? Me amou, me deu uma vida nova, me deu você. Se contabilizar o bom e o ruim, a balança pende muito mais pro lado de cá. Não ponha condições no seu amor, minha filha. Se você só quiser amar o que é perfeito, suas opções vão se reduzir a quase nada... Os seres humanos são cheios de falhas...
Amata abraçou o pai, as lágrimas correndo...
- Não me peça pra perdoá-lo. Ele vai me tirar aquilo que eu mais amo na vida...
- Eu ainda estou aqui... Por favor, Amata. Se você me ama mesmo, não faça o Carlo sofrer mais do que a consciência dele já faz. Ele não pode morrer antes que eu... Eu não agüentaria.
E naquele momento em que os dois olhares azuis-piscinas se encontraram, um pacto foi firmado.
- Por você, Mozinho. Mas você vai me prometer que vai resistir ao máximo que puder, por mim.
- Prometo. – beijou o topo da cabeça da filha. – Vou resistir por nós, pela nossa família.
Afrodite realmente acreditava nas palavras dóceis que encorajavam a filha. Mas os deuses, o destino... Conspirariam a favor de seus mais profundos anseios?
CONTINUA...
Desculpem pela demora demasiado longa.
