Disclaimer: Saint Seiya pertence ao Masami Kurumada, Bandai, Shonen Jump...
O nome Carlo di Angelis, os apelidos 'Mozão e Mozinho', os Chibi Saints e seus nomes pertencem à Pipe.
O nome Sukhi Pavlos, tal como a personagem pertencem à Dark Faye.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
QUESTÃO DE FIDELIDADE
CAPÍTULO 10 – A VIDA TEM QUE CONTINUAR...
Dois anos se passaram no Santuário. Depois da volta de Afrodite da Suécia, os cavaleiros de bronze foram embora, cuidar de suas próprias famílias, deixando claro que ao primeiro sinal de problemas, deveriam ser avisados.
Os treinos voltaram a ser puxados, Amata aproveitando ao máximo o esforço físico para exorcizar seus temores. Shura ria de alegria com a fúria da discípula. A cada mês ela se tornava mais forte, constituindo pra ele um desafio maior. Não tinha dúvidas que seus pupilos eram incríveis. Moksha não ficava atrás. O DNA combinado de dois cavaleiros de ouro, mas o poder da sua constelação tinha produzido quase que semi-deuses gregos.
O que Shura não sabia, porque Amata só tivera coragem pra dizer a Sukhi, é que a menina estava também desenvolvendo poderes elementais. Filha de Máscara da Morte, aquele que invocava o Seikishiki, não poderia dar outra. Sukhi percebeu que a menina tinha que desenvolver também esse lado. Chamou Terpsicore, que tinha um certo conhecimento da área mística – além de uma cunhada na Ilha de Avalon – e foram treinar Amata na área da clarividência, reconhecimento de presságios e conhecimento de ervas.
Dumas estava se rebelando cada vez mais contra o treino de Aioros. Ele queria mesmo era desenvolver seu lado artístico. Adorava música, podia ficar horas agarrado ao violão que Shura tinha lhe dado. Milo não queria aceitar que seu filho não tinha ambição de ser cavaleiro de ouro, mas Camus lembrava a toda hora que ainda tinham Tessa, que queria muito a armadura e que os filhos não são extensão do nosso umbigo, eles tem direito à vida própria...
Aiorin estava todo orgulhoso porque tinha conquistado o direito à armadura de Touro derrotando um outro armário tão grande quanto ele. Aioria, então, podia explodir a qualquer momento. Camus tinha impressão de que a frustração de Milo estava mais intimamente ligada a uma certa disputa com o cavaleiro de Leão que outra coisa.
Mion tinha dito em segredo a Tessa que fatalmente perderia a armadura de Sagitário pra ela, porque não tinha tanta força assim, mas que não deixaria de se bater pra ganhar uma, pelo menos de prata. A filha de Milo só pensava nas provas finais. Tinha como concorrentes alguns garotos que treinaram fora.
E Afrodite e Carlo tinham seus próprios combates, muito mais difíceis porque eram internos, contra seus próprios limites. Os remédios afetavam muito o cavaleiro de Câncer. Parecia que ele queria comprovar todos os efeitos colaterais que havia na bula. Várias vezes, Aldebaran ligou para Shion ou Camus, solicitando um carro, pra levar um esgotado Carlo para o hospital, para tomar soro e os remédios pela veia, porque a diarréia e os vômitos não paravam. Seu aspecto, com os lábios rachados e as olheiras negras embaixo dos olhos, era terrível. Uma vez ficou dois dias sem urinar e teve que se submeter a uma hemodiálise, completamente inchado.
Afrodite, ao contrário, parecia saudável. Certo que também tinha seus dias de enjôos e dores de cabeça insuportáveis. Nunca mais pôde usar esmalte, para poder monitorar a cor das unhas (se arroxeassem, ou era sinal da pressão caindo ou que a dose do remédio estava alta). Amata sabia que ele continuava vaidoso, apesar disso, e que se não demonstrava o quanto estava abatido era pela quantidade de maquiagem que usava. Principalmente para disfarçar as manchas na pele clara. Elas começaram a surgir, implacáveis. E a maldita febre, que nunca ia embora.
Todos iam em frente... Continuando da melhor forma possível suas vidas. Sukhi e Shura foram os primeiros a seguirem a ordem não dita. A gravidez da discípula de Carlo era motivo de felicidade, embora a mesma tivesse protelado por muito tempo antes de contar. Afinal de contas, como dizer algo tão potencialmente alegre quando o próprio mestre passa por temores incontáveis? No entanto, foi difícil esconder por muito tempo de Afrodite, que percebeu rapidamente o que se passava, e ao contrário do que Sukhi imaginou, sua gravidez trouxe esperança e harmonia, ocupando as mentes do casal com berços, papéis de parede e sapatinhos de todas as cores e tamanhos.
- Queria estar com a saúde pelo menos um pouco restabelecida... Assim, poderia pintar o quarto do bebê, como fiz quando a Amata nasceu...
- Oras, posso usar e abusar da sua boa vontade com outras coisas, não? - Sukhi perguntou encarando a parede vazia do pequeno quarto.
- Gostaria que você me dissesse como isso seria possível...
- Essa parede, por exemplo. Muito grande... Fica faltando alguma coisa, que apenas você vai poder colocar. Um lindo quadro. Há quanto tempo você não usa suas tintas e pinta uma bela tela, Carlo? Quando eu estiver com a barriga muito grande, não poderei mais treinar... Então, você terá tempo livre de sobra. - Carlo riu quando a mulher falou dos treinos. Não conseguia entender como ela considerava aquelas aulas como treino. Sabia que Sukhi estava tentando o distrair, para que ele não pensasse em besteira toda hora... Mas obriga-lo a todos os dias ir com ela ao quintal de Capricórnio dizer o que ela deveria fazer e ainda por cima ficar a corrigindo oralmente, era demais. Muito esforço por alguém perdido. Lendo seus pensamentos, sua discípula já disse irritada - Arre, quando você fica em silêncio por mais de dois minutos é encrenca.
- Parece que não estou sendo um bom mestre para você.
- Realmente... Pelo visto, já chegou a hora de invertermos os papéis... Você tá precisando aprender a superar seus erros e buscar uma forma de viver bem.
- Se eu quiser viver, você diz.
- Por acaso prefere morrer e deixar o Afrodite aqui sozinho? Porque ele está se esforçando muito mais que você, isso não tenha dúvidas. E Amata? Vai partir para outra com a sua filha brigada? Vai simplesmente deixa-la para trás, como se ela fosse apenas mais um de seus erros?
- Claro... Que não. Mas é tão difícil... Meus remédios que ao invés de me ajudar, parecem que vão me matar mais rápido... A sensação de inutilidade... Os olhares tortos... - Nesse momento, quando chegavam juntos a entrada da décima casa, Pipe passava rápido pelos dois, lançando significativamente um cumprimento rápido apenas à Sukhi.
- Bem, ninguém disse que o tratamento seria fácil e não tiro sua razão ao reclamar. Mas é sua única chance de prolongar sua vida, portanto, é melhor agarrar-se nos remédios com tudo o que você puder. Sobre inutilidade, apenas você se vê assim, já que sempre que pode está na floricultura... E treina comigo todos os dias. Nah, não reclame, treina sim. Mas sobre as inimizades... Você sempre soube que o Afrodite é o bibelô de todo mundo. Por mais que ele seja uma rocha de tão forte, jamais deixará de ser o menino dos olhos deste Santuário. É fato. E este ser que todos amam tão intensamente, teve a vida encurtada diretamente por sua causa... Não é de se admirar que os de sangue mais quente e passionais fossem o recriminar... Não concorda?
- Fico surpreso de ainda ter com quem conversar por aqui.
- Obviamente que para o Shu é mais difícil, vocês são queridos demais para ele. Mas se tiver de escolher para quem ele vai direcionar mais apoio, é claro que será para você. Aldebaran não me parece o tipo de homem que guarda rancores ou que alimenta sentimentos ruins... Principalmente contra um amigo. Você tem a mim também... E poderá sempre contar com o Shiryu, com o Aioros e com o Aioria, embora esses num menor grau.
- Com você relatando, até chego a pensar que sou querido neste lugar... - Carlo riu amargo, mas não deu tempo para Sukhi retrucar - Caladinha... Se ficar toda nervosa, vai acabar irritando o bebê e ele vai ter um humor mil vezes pior que o meu e o seu juntos...
- Zeus que me livre! Ninguém merece esse humor horroroso de canceriano... Pelas contas, o bebê nasce lá por fevereiro ou começo de março... Pode até nascer com a estrela em peixes, já imaginou...?
Em Peixes...
Afrodite cuidava de algumas roseiras quando se distraiu olhando a filha. Ela e Moksha treinavam juntos no jardim alguns movimentos que Shura havia ensinado e logo depois intercalavam com uma série de abdominais e flexões de braço. O sueco ficou extasiado... Nem mesmo ele havia se esforçado tanto para conseguir uma armadura de ouro...
- Pensamentos distantes?
- Não, bem próximos. Olhe como estão se esforçando! Tem alguma dúvida de que eles estarão entre os melhores cavaleiros que este santuário já presenciou?
- Logo, logo serão os meus. Geryon está animado, mas Maysa ainda não fala sobre isso. Tem alguns anos ainda, espero que ela acenda logo dentro de si a vontade de ser um amazona... - Pipe disse sentando-se na poltrona de vime da varanda. Afrodite juntou-se a ela, sentando-se na namoradeira.
- Dois anos já... Ela cresceu tanto. Quanto mais poderei ver?
- Muito. Você está indo tão bem... Passaram-se dois anos inteiros e você continua bastante saudável.
- Não sei. Ando um pouco preocupado, tenho uma febre estranha...
- Não é por causa dos remédios?
- Sabe-se Zeus. Eu estou sendo bastante forte, não estou? Digo, não me deixei abater pela minha condição... Estou vivendo com dignidade, não é?
- Claro. Você é um grande exemplo, Dido... Ao contrário daquele...
- Ainda não o perdoou? Isso me entristece, Pipe...
- O que eu penso sobre ele não vem ao caso. Vamos falar de você, que é meu tesouro. - Afrodite riu com gosto e Pipe relaxou imediatamente na cadeira - Está sentindo-se bem o suficiente para uma ida ao shopping?
- Tão repentinamente?
- Claro. Só as 'mulheres'. Eu, você, Misty, Marin, Sukhi, Shina...
- Acho que estou mesmo precisando dar uma saída e me divertir um pouco. Essa sua idéia veio muito bem a calhar...
- Você sabe que eu nunca falho... - Pipe riu, mas Afrodite estava sério.
- É, eu sei. É por isso que eu gostaria de te pedir uma coisa muito séria...
- Do que você está falando?
- Amata. Não sei por quanto tempo eu ou o Carlo estaremos com ela. Sei que com a idade em que ela está, eu mesmo já era um cavaleiro e me virava sozinho, mas os tempos são outros. E mesmo que ela possa se cuidar, gostaria que você ficasse de olho nela quando eu me for. É um pedido um pouco egoísta da minha parte, já que você tem os seus para criar... Mas não vejo outra pessoa em quem eu confie mais minha preciosa que você. você cuidará dela quando eu e o Carlo já tivermos partido?
- Claro, Dido, claro. Não precisava nem pedir. Mas olhe, sem mais conversas desse tipo... Deixe para ficar fazendo testamento quando sentir a mão de Hades puxando o seu pé. Por enquanto, vamos apenas ao shopping e comprar algo bonito para a Amata usar...
Horas mais tarde, em frente à Casa de Leão...
- Não fale como se tudo isso não a afetasse, Shina. Conheço você bem demais para afirmar com todas as letras que você está mais balançada do que quer assumir.
- Então, parece que não me conhece tão bem como imagina. Vocês são chegados aos dois, mas eu... Oras, não tenho nada a ver com isso, tenho? Vou continuar vivendo minha vida, e quando eles forem dessa para melhor, estarei na mesma, entende? - Marin soltou as sacolas que carregava no sofá e encarou a amiga de tantos anos.
- Como pode falar com essa frieza sobre duas pessoas que estão lutando para sobreviver? Eu realmente não a reconheço, Shina... Jamais pensei que você pudesse se portar assim frente a uma situação como essa. - Aioria que vinha do quarto encontrar a mulher, petrificou-se no corredor. As palavras de Marin entrando como agulhas, perfurando verdades tão escondidas que até mesmo ele duvidava da existência. Mas elas estavam ali. Aguardando para serem descobertas e ansiosas pela atitude que Aioria deveria tomar. Mas como assumir para si mesmo o quanto estava distante dos amigos?
- Eu me porto como devo. Como me sinto melhor. Que droga, Marin, não tente entender o que não pode! - Shina se jogou exasperada numa poltrona, enquanto a Águia olhava abismada para a amiga. Uma leve sensação de entendimento cintilou dentro de Marin.
- Você... Está assustada não é?
- Como?
- Com medo. Assustada com o que pode vir a acontecer com os dois... Do jeito que eles podem vir a ficar... Por isso, prefere os deixar, antes que eles deixem você. - Aioria que ouvia tudo calado, não agüentou. O peso que sentiu dentro de si, ao perceber que estava agindo como Shina, o fez sair da penumbra que se encontrava e descer rápido as escadarias do zodíaco. Entrou na casa de Touro agitado.
- Opa, opa... O que aconteceu, Oria? Aiorin está bem? E o Akiles? - Aldebaran perguntou rápido enquanto fazia o Leão sentar-se na varanda.
- Como eu pude ser tão fraco, Deba? Me diz. Como eu, um cavaleiro de ouro, chefe de família... Pude achar que me refugiando no meu mundinho perfeito tudo fosse ficar bem? Onde eu estava com a cabeça quando afastei-me dos meus amigos que tanto precisam de mim? Fui um imbecil egoísta, que só pensou numa maneira de acabar com o próprio sofrimento, sem se importar com os outros... - Aioria já havia caído no choro enquanto falava, e Aldebaran percebeu que ele não fora procurado pelo amigo por seus conselhos e sim pela hábil arte que tinha de saber escutar. Não negava que também enfrentava suas próprias trevas, e quando o fazia, era sempre encolhido sozinho no quarto... Mas julgava que estava indo bem, tentando não se afogar na maré de tristeza em que o Santuário era lavado. Aioria parecia bem aos seus olhos... Sempre que o via estava sorridente. Mas obviamente, disfarçar os medos e os sentimentos era uma habilidade partilhada por todos os cavaleiros naquele instante.
- Vai ficar tudo bem, Oria. As coisas vão melhorar... - A única resposta que recebeu foi um fungado alto e um muxoxo baixo. Touro ergueu os olhos e viu Marin parada ofegante à sua frente. Sorriu para ela e a amazona retribuiu o gesto.
- Obrigada pela ajuda, Deba, mas agora eu vou cuidar do meu marido.
- Claro, fiquem à vontade. - Aldebaran levantou-se e deu um tapinha amistoso nas costas do outro. Quando deu uma única olhada para o casal, viu Aioria se jogando nos braço de Marin, que o recebeu ternamente, afagando os cabelos castanhos revoltos. Suspirou. Aioria era um bom amigo, esperava realmente que ele se entendesse para que pudesse ajuda-los com Carlo e Afrodite.
A vida tinha que continuar. Apesar da dor, apesar das decepções... Eles precisavam levantar-se e seguir em frente. Carlo e Afrodite por si mesmos. Amata pelos pais. E os amigos... Por uma questão de fidelidade.
E por mais que soubesse que o caminho que trilhavam estava sendo amenizado pelo amor e pela amizade... O casal não se iludia.
Dias difíceis estavam por vir.
CONTINUA...
