CAPÍTULO 5

Clark não dormiu. Assistiu o nascer do sol do cercado frente ao moinho. Seus pensamentos eram turbulentos. Não conseguia esquecer as palavras de Lois. Não conseguia deixar de pensar no fato de que nunca se sentiu tão bem próximo a alguém como o sentia em relação a ela naqueles últimos dias. Nem mesmo em relação a Lana. Ao contrário de Lana, a presença de Lois vinha sendo cada vez mais revigorante. Ela parecia iluminar seus dias mais sombrios, preenchendo um vazio constante. E isso o estava deixando cada vez mais confuso. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Não podia estar sentindo aquilo. Não por Lois. Seria o fato de que seu relacionamento com Lana estaria desgastado pelos contratempos ao longo de todos aqueles anos em que não enxergava nada além dela?

Pensou, então, que talvez o problema não fosse ele, ou mesmo Lana. Talvez os dois tivessem amadurecido e já não se reconhecessem mais. Lana seria sempre o seu amor de juventude. Mas agora, mais do que nunca, Clark precisava de um relacionamento maduro. E isso não conseguia vislumbrar ao lado dela. Estranhamente, enxergava essa possibilidade em Lois Lane. Ela lhe abriu o coração várias vezes. E isso Clark não podia esquecer. Naquela noite, pensou em todas as conversas que tiveram, inclusive as discussões bobas.

Lembrou de quando Lois lhe falou sobre sua mãe ao ver uma foto dela no gabinete de Sam Lane, no ano passado. Também lembrou de Lucy e a responsabilidade de Lois para com a irmã. Havia motivos de sobre para Lois ser forte como era. Como se quisesse provar algo para si e para todos. Clark também lembrou das vezes em que Lois lhe disse as coisas certas nos momentos mais difíceis. E como a mulher forte e determinada também tinha suas fraquezas como quando ela lhe revelou o que esperava de um homem, após conhecer Arthur Curry. Alguém que realmente se importasse com a humanidade e com o planeta em que vive. Era impossível esquecer aquelas palavras. E, claro, não podia deixar de pensar no que ela havia lhe revelado quanto ao que esperava de um relacionamento, já que era exatamente o que ele queria. Sem segredos, sem mentiras. Um relacionamento à base da sinceridade. Algo adulto e verdadeiro.

Mas Clark sabia que, apesar de tudo, Lois não sabia seu segredo. E o que ela lhe havia dito não passava de meros conselhos de uma garota que deve ter vivido algumas experiências afetivas não muito boas. O segredo de Clark era muito mais do que pequenas e corriqueiras mentiras entre casais. Por outro lado, ele acreditava que a conversa com Lois havia sido apenas o estopim de algo que já estava acontecendo. Talvez aquelas palavras não tenham sido em vão. Talvez Lois Lane fosse a mulher da sua vida, aquela com quem um dia pudesse compartilhar seu segredo.

Os olhos de Clark brilharam quando o sol brilhou alto. A vida era engraçada, pensava ele. Havia algo grandioso reservado para ele. Era seu destino, cada vez mais latente, tal como anunciado por Jor-El. E, talvez, ele realmente precisasse de alguém forte ao seu lado. A garota mandona, rude e grosseira, afinal, era tudo o que ele precisava. Seu coração disparou ao pensar cada vez mais na possibilidade. Virou-se, então, para ver a casa. Avisou a janela de seu quarto. Naquele exato momento, usou sua super-velocidade e se viu ao lado da sua cama, onde Lois dormia com uma viseira.

Clark ficou observando-a dormir tranqüilamente. Era Lois Lane em seu momento de silêncio. Isso o incomodava. Não ouvir sua voz era um problema. Lembrou de tempos atrás, quando acreditava que não suportava sua tagarelice. Esses tempos haviam ficado para trás. Pensou até mesmo em acordá-la para ouvi-la reclamar e expulsa-lo de seu próprio quarto, cheia de razão. Ele sorriu, imaginando a cena. Claro que não a acordaria. Era maravilhoso poder vê-la dormir. Afastou delicadamente com as pontas dos dedos as mechas de cabelo de Lois que estavam em sal testa, e disse:

"Eu já sei o que quero".

Atordoada, Lois acordou, e tirou a viseira, acreditando ter ouvido algo. Mas o quarto estava vazio e o sol começava a brilhar. Olhou, então para a janela. Havia um passarinho que havia acabado de pousar na soleira.

"Foi você que me acordou é?" resmungou ela, sonolenta, esticando o braço para virar o relógio. Ao ver que eram seis horas, olhou novamente para o passarinho: "Não podia esperar mais umas três horas?" cobriu então os olhos e voltou a dormir, enquanto o passarinho alçava vôo para longe.

Continua...