CAPÍTULO 7

Era mais de dez horas quando Lois e Martha chegaram do Talon. Jonathan já estava dormindo. As luzes da casa estavam apagadas, exceto pela da cozinha, onde estava Shelby e por onde as duas entraram silenciosamente. Lois viu a luz do loft acesa e até pensou em dar uma de enxerida e ver o que Clark fazia, mas estava cansada demais, e não queria que ele a pegasse desprevenida com a exaustão. Como as duas já haviam jantado alguma coisa no próprio Talon, disseram boa-noite uma para a outra no corredor, e cada qual foi para o seu quarto. No caso, Lois foi para o quarto de Clark. Pegou uma muda de roupas do fundo da mala que ainda estava feita e foi para o banheiro tomar uma ducha demorada, como sempre.

Meia-hora depois, voltou para o quarto. Jogou a toalha molhada num canto e começou a arrumar a cama, quando então viu algo que não tinha percebido da primeira vez que entrou no cômodo. Havia, ao lado da cama, próximo da janela, um grande arranjo com um pouco mais de quinze Muscadets, lírios brancos orientais de cerca de quinze centímetros de diâmetro. Lois lembrava de ter visto flores como aqueles nos jardins reais em Londres, muitos anos atrás. Lembrava, principalmente, do seu perfume característico. Sabia que eram lírios difíceis de serem encontrados, o que a deixou ainda mais perturbada. Maravilhada, porém, deu a volta na cama e sentou-se ao lado do vaso. Notou, então, que havia um bilhete aos pés do vaso. Ficou imaginando se seria uma surpresa de Arthur. Talvez ele sentisse saudades suas, pensou, ou, talvez, ainda, tivesse decidido voltar. Seu coração disparou ao pensar na possibilidade. Mas a grande surpresa ainda estava por vir quando leu o cartão:

Lois,

Obrigado pelos conselhos de ontem,

Pode contar comigo sempre que quiser,

Seu amigo,

Smallville

E ela sorriu, confusa. Levantou-se e caminhou até a janela. Viu que a luz do loft já não estava mais acesa. Foi então que ela ficou pensativa. Não sabia se devia ir falar com ele. Agradecer as flores e, lógico, arrancar dele quem teria revelado quais eram suas flores preferidas. Só podia ser Chloe, pensou ela. Mas, mesmo assim, ela achou que devia ir até lá. Vestiu as calcas do pijama, já que costumava dormir apenas com a camisa, e atravessou o quarto até a porta. Tocou a maçaneta, mas não a girou. Não, pensou ela, então. Não podia dar o braço a torcer. Não ia deixar transparecer o quanto foi agradável encontrar aquele arranjo. Principalmente em se tratando de Clark. Seria o fim da picada. Ele ficaria se gabando, e isso seria ultrajante.

Do outro lado da porta do quarto, porém, estava Clark. Ele sabia que podia, mas não usou sua visão de raio-x para ver o que ela havia achado das flores. Queria apenas ficar ali, perto dela, mesmo que do outro lado da porta. Tocou a superfície da porta, enquanto que, ao mesmo tempo, do outro lado, Lois, com uma mão na maçaneta, tocava a porta com a outra, ainda com o bilhete entre os dedos. Clark ficou de costas para a porta e encostou-se a ela, como se pudesse sentir um pouco mais de Lois. Do outro lado, ela também se virou e recostou-se à porta, imaginando se devia ou não ir falar com ele, sem, porém, tirar os olhos do magnífico arranjo, e segurando o bilhete. Mas já havia decidido. Leu mais uma vez o bilhete e foi se deitar, com um enorme sorriso nos lábios, e a cabeça repleta de pensamentos.

Continua...