CAPÍTULO 8

Lois não esperou. Resolveu as coisas ao seu modo. O modo Lois Lane. Saiu cedo. Antes dos Kent acordarem. Ou seja, ela acordou muito mais cedo do que de costume. Ao fazer isso, surpreendeu-se consigo mesma. Mas era por uma boa causa. Não foi ao Talon, e sim, a Metropolis. Durante as quatro horas de viagem ficou pensando no que tinha acontecido. Sabia, de certa forma, que alguma coisa estava diferente. Mas não fazia idéia do que pudesse ser. Talvez até soubesse. Só não podia acreditar.

"Não acredito" foi exatamente o que murmurou Chloe ao ver Lois entrar no Planeta Diário. Seus dias de sossego estavam para acabar. Primeiro Clark, agora Lois. Recostou-se à cadeira e abriu o lacre do suco de laranja. Estava tentando parar de tomar café naqueles dias. Talvez, tivesse que voltar em razão dos últimos acontecimentos, e das últimas visitas que vinha recebendo. Mais pelo "novo" motivo decorrente de tais visitas. Com Lois por perto, sabia que não voltaria tão cedo a trabalhar nas próximas horas. Tomou um gole do suco enquanto via a prima se aproximar de sua mesa e puxar uma cadeira.

"Tudo bem, pode me contar desde o começo" disse ela, cruzando os braços, e encarando a prima. Chloe conhecia aquela expressão. Lois não sairia dali até que conseguisse o que queria.

"Eu até conto" disse Chloe "Se me disse do que se trata".

Lois sorriu. Era seu sorriso debochado.

"Qual é, Chlo? Não se faça de desentendida pra mim. Não tá lembrada? É com a sua prima Lois que você está falando".

Chloe sorriu. Sabia bem o motivo da prima estar ali. Clark certamente havia colocado em prática seu plano de conquista. Só não esperava que fosse tão rápido. Talvez os anos de lentidão com Lana tenham valido a pena, pensou.

"Ontem cheguei no Rancho dos Kent e havia um vaso imenso de lírios ao lado da minha cama... quer dizer, da cama do Clark. Bom, enfim, elas estavam lá. E havia um bilhete..."

"Deixe-me adivinhar... Arthur Curry?"

"Antes fosse!" Lois enfiou a mão no bolso do casaco e puxou um pequeno envelope e entregou a Chloe, que, apreensiva, pegou, abriu e leu.

O sorriso foi inevitável. Jamais imaginou que algum dia Clark Kent pudesse tomar a iniciativa. Não do jeito como o fez. Ele havia ido direto ao ponto. Flores era o primeiro sinal de interesse. E isso pesava, e muito. Ainda que se tratasse de Lois. Chloe encarou a prima. Talvez ela pudesse lhe ensinar alguns truques num futuro próximo, pensou, com o sorriso paralisado no canto dos lábios. De certa forma, até imaginava que aquilo estava para acontecer. Desde que os viu juntos pela primeira vez, no verão passado, quando os olhares cruzavam entre eles e Lois arremessou a bola no alvo e derrubou Clark na tina de água. Havia algo forte entre os dois que ia muito além das discussões infundamentadas. Era uma química perfeita. Uma cumplicidade que apenas os dois não conseguiam enxergar. Chloe pensou que aquele era o tipo de relacionamento que a maioria das pessoas buscavam a vida inteira. Era óbvio o que estaria por vir. Talvez, menos para Lois.

E ela estava séria, e com os braços cruzados, sem tirar os olhos da prima. A surpresa e a euforia da noite anterior haviam se transformando numa dúvida constante. Ela não queria acreditar no que podia estar acontecendo.

"E, então?" indagou, finalmente. "Vai me dizer se tem ou não o seu dedo nessa história?"

"Bom... pode-se dizer que tem meio dedo" respondeu Chloe.

"Ah, não me diga uma coisa dessa, Chlo!" exclamou Lois em alto tom, chamando a atenção dos estagiários que estavam ali por perto.

"Ele é meu melhor amigo!" defendeu-se Chloe, como se tentasse justificar algo que Lois fazia parecer um crime terrível.

Lois ficou um tempo pensativa, com o olhar perdido.

"Só me diga mais uma coisa, Chlo".

"O quê é?"

"Que não vai passar disso" disse Lois.

Chloe sorriu. Queria, na verdade, dizer à prima que ela era a mulher mais sortuda do mundo. Tinha aos seus pés ninguém mais do que Clark Kent, o qual, pela primeira vez desde que o conhecia, parecia disposto a lutar por alguma coisa.

"Lois, não garanto nada" comentou ela.

Continua...