CAPÍTULO 10

Lois acabara de sair do banho em seu apartamento em Metropolis quando ouviu a campainha tocar. Vestiu rapidamente o roupão e foi atender, enquanto enxugava os cabelos com a toalha. Ao abrir a porta, deparou-se com o inesperado.

"O quê você está fazendo aqui?" perguntou ela.

"Eu ia fazer a mesma pergunta" respondeu Clark.

"Eu moro aqui!" disse ela, furiosa.

"Ficamos todos preocupados lá em casa. Por onde você andou?" indagou ele, confuso e preocupado.

Lois balançou a cabeça negativamente várias vezes. Não fazia sentido. Morou quase um ano na casa dos Kent e a única coisa com a qual eles realmente se preocupavam era se ela chegaria a tempo para o jantar. E não era nem seis horas!

"Um momento! Será que já não basta um General na minha vida? Agora são dois?"

"Não vai me convidar para entrar?" perguntou ele, tentando espiar o apartamento pela fresta.

"Não!" respondeu ela, fechando ainda mais a porta. "Como encontrou meu apartamento?"

"No catálogo de endereços. Algum problema, Lois?" perguntou ele, preocupado.

Lois ficou séria. Aquela finalmente parecia uma pergunta sensata. Algo que a trazia de volta à realidade. Foi nesse exato momento que Lois se deu conta de que poderia estar imaginando coisas onde não existiam. A uma, porque Clark jamais mencionou qualquer coisa que implicasse um 'novo sentimento'. A duas, porque Chloe não negou e nem afirmou, apenas não garantiu que a situação imaginada por Lois poderia ir mais além. Como se não bastasse, Lois olhou bem para Clark. Definitivamente, ele não parecia representar algum perigo. Talvez ele estivesse carente, refletiu ela. Talvez as coisas com Lana realmente não andassem bem e ele só precisasse de um ombro amigo. Seria maluquice da sua parte achar que Clark estava interessado nela? Naquele momento, era exatamente o que Lois pensava. Só podia ser. Clark era apaixonado por Lana! Isso era fato. Além do mais, os dois se odiavam. Pelo menos, era o que ela achava...

"Tudo bem" disse ela, finalmente. "Só um minuto" pediu Lois, fechando a porta.

"Eu devo estar ficando paranóica!" murmurou ela, ao perceber que trancou a porta, como se Clark pudesse entrar sem ser convidado. Do outro lado, porém, ele ouviu o comentário, e deu uma risada silenciosa. Caminhou pelo corredor e encostou-se à parede, olhando para o relógio. Geralmente, o minuto de Lois durava vinte.

Até que, não menos do que quinze minutos, um novo recorde para Lois, Clark a viu sair, vestindo jeans, camiseta e um casaco. Fechou rapidamente a porta e enfiou as chaves na bolsa, dizendo:

"Vamos dar uma volta, Smallville".

"Ótimo!" exclamou ele. Finalmente teria um tempo com ela, a sós.

Lois o encarou, incrédula. Tempos atrás, ele odiaria passar mais de cinco minutos sozinho com ela, pensou. E talvez nem a tivesse esperado.

"Olha, estou querendo entender o que está acontecendo" disse ela, enquanto caminhavam pela calçada. "E você vai ter que me ajudar".

"Claro, Lois" disse ele, sem tirar os olhos dela. Não lembrava da última vez que admirou sua beleza. Na verdade, ela sempre chamou sua atenção. Só não via além porque estava cego demais. Enquanto caminhavam, não conseguia de desvencilhar do olhar de Lois. Seus olhos o fascinavam. Era como se houvesse fogo neles. E como Clark gostava do que via. Tudo parecia mais claro para ele. Parecia cada vez mais certo o fato de que ela era a mulher com quem ele queria ficar. Já não imaginava nem mais um dia sem poder vê-la. Mas Lois estava visivelmente mal humorada naquele dia e, mesmo percebendo isso, ele comentou, subitamente:

"Adoro quando você fica desse jeito".

"Como é que é?" indagou ela, parando de repente.

Foi então que algo aconteceu...

"Ei!" chamou alguém próximo ao beco por onde passavam.

Lois e Clark apenas se viraram para ver o que era, e um sujeito apontou o cano de uma arma a poucos palmos do rosto dela. O sujeito então a chamou com o dedo. Lois, sem tirar os olhos do cano do revólver, tentou se virar para Clark, e os dois obedeceram. Quando entraram no beco, Clark a puxou para trás de si, a fim de protege-la. Era o máximo que podia fazer naquela situação. Não podia se expor diante de Lois que, abraçada ao seu bíceps, não tirava os olhos da arma que ora era apontada para um, ora para outro. Clark estava calmo, preocupado apenas com Lois.

"Passa a grana!" disse o sujeito, olhando para os lados, sem tirar os dois da mira. "Passa logo!"

"Eu não tenho nada" disse Lois, o mais cuidadosamente que podia. Realmente, ela não tinha nada.

"Mentira!" gritou ele, furioso.

"Ei... podemos dar um jeito" pediu Clark, calmamente.

"Cala a boca! Passa o relógio!" gritou o assaltante, cada vez mais nervoso.

Vagarosamente, Clark foi tirando o relógio, enquanto o sujeito não tirava os olhos da bolsa de Lois.

"A bolsa!" pediu ele.

Lois segurou a bolsa pela alça e esticou o braço, mas antes que o bandido a pegasse, ela a jogou longe.

"Maldita!"

O bandido se abaixou para pegar a bolsa, quando então Lois o chutou fortemente no rosto. Porém, não se dando por vencido e, mais do que depressa, o sujeito se recuperou e apontou a arma para o rosto dela. Foi nesse momento que Clark, que estava bem atrás de Lois, ouviu o gatilho ser apertado. Foi então que ele atravessou velozmente a mão em frente ao rosto de Lois, que se jogou para trás no mesmo instante, sem ao menos ver o que Clark fazia dada a super-velocidade do seu movimento. Logo em seguida, Clark se jogou para trás e caiu sobre várias caixas e latas com lixo. Ao ver Clark cair, acreditando tê-lo acertado, o assaltante deixou a bolsa e correu o mais rápido que podia. Lois até correu uns dez metros para tentar alcançá-lo, sem perceber que Clark estava estirado ao chão, acreditando que a bala atingiu a parede do beco. Até que, ao notar que estava sozinha, olhou para trás e o viu caído. Desesperada, correu para socorrê-lo:

"Clark!" gritou Lois, que tropeçou nas latas viradas e caiu sobre ele. Ao perceber que Clark estava desacordado, apalpou-o, procurando o ferimento da bala. "Não pode ser! Não faça isso comigo!"

Lois tentou acordá-lo segurando-o pela gola do casaco, quando, de repente, ele abriu lentamente os olhos, fingindo estar atordoado.

"Clark!" gritou ela, eufórica, e com um grande sorriso de alivio.

Enquanto ele se sentava, Lois continuou examinando-o, para ver onde ele havia sido baleado. Não encontrando coisa alguma, olhou para a parede do beco, mas também não havia nada lá.

"Você está bem?" perguntou ela, confusa, percebendo que não havia nenhum sinal de onde a bala poderia ter acertado.

"Eu... eu acho que desmaiei" resmungou ele.

Indignada, Lois o fitou.

"Desmaiou?" indagou ela, incrédula.

"É" respondeu ele, passando a mão na parte de trás da cabeça. "E você? Está tudo bem?"

"Eu achei que você tivesse morrido!" exclamou ela, furiosa, enquanto se levantava e pegava do chão sua bolsa. "E você me diz que desmaiou?"

Clark se levantou, sem tirar os olhos dela. Não sabia o que seria de sua vida se a perdesse. E era só nisso que conseguia pensar.

"Ficou mesmo preocupada comigo?" perguntou ele, confiante.

Lois o encarou, e respondeu:

"Não, Smallville, fiquei preocupada com o que teria que dizer aos seus pais!"

Clark apenas sorriu enquanto Lois saía furiosa do beco. Ele abriu então a mão, jogou a bala amassada no chão e limpou a pólvora que havia sujado sua palma. Depois, foi atrás de Lois.

Continua...