CAPÍTULO 11

Minutos depois, Lois e Clark estavam sentados frente a frente numa cafeteria no centro de Metropolis. Era um lugar que ficava aberto a noite toda. Lois costumava freqüentar aquele café quando morava em Metropolis. Era um de seus lugares favoritos. Talvez não o fosse mais depois daquela noite. Ela havia acabado de tomar duas xícaras grandes de cappuccino com espuma. Clark apenas a observava com as mãos cruzadas sobre a mesa. Num dado momento, acreditando que ele pudesse estar controlando o quanto ela tomava de cappuccino, e a fim de evitar algum comentário como os que usualmente escutava em dada circunstância, justificou:

"Após situações extremas a taxa de açúcar do meu sangue começa a cair".

Clark apenas sorriu. Ela não tinha que explicar coisa alguma. Lois era perfeita do jeito que era. Estar ali, à sua frente, era uma dádiva.

"Não que eu deva explicações, Smallville" continuou.

"A noite está linda, não é mesmo?" perguntou ele, olhando para o céu estrelado através da janela do estabelecimento.

Lois o encarou, séria.

"Não está com fome?" perguntou, mudando de assunto. "Eles fazem uns muffins muito bons aqui. Não tão bons quanto os da Sra. Kent, mas dá para o gasto".

"Ainda está chateada comigo?"

"Não estou chateada com você, Smallville" respondeu sorrindo, sem, porém, olhá-lo nos olhos. "Só não esperava que você desmaiasse enquanto eu tive que fazer todo o trabalho sujo".

"Trabalho sujo?" indagou Clark, com um pequeno sorriso no canto dos lábios.

"Sim" respondeu ela. "Não fosse por mim, aquele cara podia ter matado nós dois. Afinal, não se esqueça que não estamos mais no Kansas, Totó. Isso é Metropolis. Aqui ninguém é assaltado e depois diz 'obrigado'".

Lois fitou o último restinho de cappuccino na xícara e tomou num curto gole. Ao notar que ficou um pouco de espuma no lábio dela, Clark disse:

"Espere" levantou, então, e sentou-se ao seu lado. Lois deu um pulo para o lado. Por essa, ela não esperava. Clark pegou a ponta do guardanapo e limpou o lábio superior de Lois, que afastou a cabeça para trás, como o paciente que quer se afastar da broca na cadeira do dentista, mas não tem para onde ir. "Havia uma sujeirinha aqui".

Lois não agradeceu. Lois não disse nada. Apenas forçou um sorriso. Aquele era uma situação totalmente nova. E não pararia por ali. Acreditando que Clark voltaria para o outro lado da mesa, Lois se surpreendeu com o fato de que ele se aproximava cada vez mais dela.

"Tem certeza de que não quer experimentar os muffins daqui?"

"Lois, eu tenho que dizer uma coisa" disse ele.

"Vai desmaiar de novo?" perguntou ela, esperando que a resposta fosse afirmativa.

Mas ele não disse. Ele apenas o fez. Aproximou-se o suficiente de Lois, mais do que jamais esteve próximo dela, e beijou-a na boca. Inicialmente, Lois tentou se desvencilhar, mas havia alguma coisa que a impedia de resistir. Algo muito mais forte do que ela. Lois travava naquele exato momento sua maior batalha. Era Smallville, e aquela era uma situação inconcebível para ela. Mas o beijo. Havia tanta ternura. Era tão bom. E, para sua total surpresa, ela não reagiu. Seu corpo não reagiu. Clark enfiou sua mão por debaixo dos cabelos de Lois, segurando-a gentilmente pela nuca e puxando-a para mais perto de si. Embora estivesse quase sufocando, Lois nem pensava em se afastar, quando, de repente...

"Clark?" chamou uma voz a duas mesas dali.

Foi então que Lois o empurrou com as duas mãos contra seu peitoral, como se tivesse acordado abruptamente de um sonho que a levava longe. Ao se virarem, viram Lana ao lado de uma mesa com algumas garotas, provavelmente da faculdade.

"Lana?" indagou Clark, ainda atordoado.

Lois cobriu a face com uma das mãos, já que não podia sair correndo dali com Clark fechando sua passagem.

Lana estava boquiaberta, com os olhos cheios de lágrimas.

"O quê faz aqui?" perguntou ele, como se nada tivesse acontecido e não houvesse explicações a serem dadas da sua parte. Realmente, ele não conseguia imaginar como deveria reagir, já que nunca tinha passado por situação similar. Pelo menos, não que se lembrasse.

"É a única cafeteria vinte e quatro horas próxima da Universidade" respondeu, vagarosamente, e ainda perplexa. Depois, Lana bateu a mão no quadril, e balançou a cabeça, como se finalmente tivesse se dado conta do que havia feito. Pois, além de Clark não explicar aquela situação estarrecedora, ela ainda teve que dizer o que fazia ali.

Clark ficou quieto. Não sabia mais o que fazer. Notou, apenas, que estava sob os olhares atentos dos poucos fregueses e da atendente que servia café ao balcão.

"Não acredito que fez isso comigo, Clark", choramingou Lana. "Ainda mais com ela!" exclamou, olhando para Lois, que finalmente a encarou.

"Opa, opa, opa!" ponderou ela, levantando. "Veja lá como fala!"

Lana apenas balançou a cabeça negativamente enquanto olhava para os dois. O silêncio era funesto. Até que ela se virou, pegou sua bolsa e seus livros sobre a mesa e saiu às pressas da cafeteria. Suas colegas, solidárias, fizeram o mesmo. Os demais fregueses ficaram olhando para Lois e Clark, que nada fizeram. Até que, tão logo Lana saiu, Lois pegou sua bolsa, e mesmo com Clark bloqueando sua passagem, subiu no banco, saltou por trás dele e foi embora. Clark se virou para chamá-la, mas ela já estava do lado de fora da cafeteria. Jogou o que tinha de dinheiro na mesa e correu para a porta de entrada. Olhou para os dois lados. À sua esquerda, Lana havia descido a rua em direção à Met-U. À sua direita, Lois. Sob os olhares curiosos das pessoas na cafeteria, Clark tomou sua decisão. Correu atrás de Lois.

Continua...