CAPÍTULO 12
"Lois!" gritou Clark, alcançando-a aos pés das escadas da entrada do prédio onde ela morava, não muito longe da cafeteria. "Lois, espere!"
Mas ela não queria falar com ele. Parada em frente à porta, que não tinha vigia, ficou procurando as chaves entre o molho que carregava. Porém, na aflição de encontrá-las o quanto antes a fim de se livrar de Clark, Lois deixou o molho inteiro cair ao chão. Mais do que depressa, ele as apanhou.
"Temos que conversar" disse ele sob o olhar de reprovação dela.
"Não, Smallville" discordou ela, tomando-lhe as chaves. "Não temos o que conversar".
"Um minuto apenas".
"Nem dois, Smallville. Sinto muito, mas o dia só foi desgraça. Uma atrás da outra. É melhor terminarmos por aqui antes que aconteça mais alguma coisa ruim!"
"Não pode ter sido tão ruim..."
"Ah, foi sim, Smallville! E como foi!" discordou ela. "Primeiro fomos quase assaltados e mortos, depois tomei cappuccino demais, e você é que acabou fazendo besteira!"
Clark a segurou gentilmente pelo braço, até que ela olhasse para ele.
"Sobre o que aconteceu... Eu posso explicar".
"Não é a mim que você tem que dar explicações", retrucou ela, referindo-se a Lana.
"Na verdade, eu lhe devo explicações sim" insistiu ele.
Lois apenas cruzou os braços e o encarou. Ao perceber que ela finalmente parecia disposta a ouvi-lo, Clark descobriu que realmente não sabia por onde começar. Havia tanto o que dizer a Lois. Foi então que ele resolveu dizer a única e simples verdade:
"Eu amo você".
"Como é que é?"
"Eu amo você, Lois" repetiu.
"Não!" exclamou ela.
"Não o quê?" perguntou ele.
"Não diga isso de novo! Nunca mais diga isso!"
"Mas Lois..."
"Clark! Você não sabe o que está dizendo! Sou eu, lembra! Lois Lane! Nos odiamos até a morte!"
"Eu nunca disse que a odiava"
"Ponha uma coisa na sua cabeça, Smallville. Não somos um casal! Nunca fomos, e nunca seremos. Nós nem somos amigos!"
"Não somos amigos?"
"Amigos por conveniência! Nada mais do que isso!"
"Mas você gosta de mim"
"Não, Smallville. Sinto muito, mas a única coisa que eu gosto, é discordar de você", justificou.
"Já é um começo"
"Eu não acredito no que estou ouvindo!" protestou ela, colocando as palmas das mãos nas orelhas, como se não quisesse mais ouvir aquilo. "Não pode ser você! Você foi possuído ou alguma coisa do gênero? Você não é o Clark que eu conheço..."
Mas antes que Lois pudesse dizer mais alguma coisa, Clark a puxou para si pelos cotovelos e a beijou. Dessa vez, porém, ela se desvencilhou dele assim que seus lábios se tocaram e, para seu lamento, Clark teve apenas o gostinho de senti-los novamente por um breve instante.
"Chega, Smallville!" protestou ela. "Nunca mais faça isso!"
"Desculpe" disse ele.
"O quê?" indagou ela, atordoada. Ele só podia estar tentando enlouquecê-la, pensou. Como alguém podia pedir desculpas por um beijo? Ainda mais, um 'quase' beijo?
Chocada, Lois não sabia exatamente o que pensar. E percebeu que jamais alguém a fez passar por algo parecido. Nunca, desde que se conhecia por gente, sentiu-se tão confusa e tão impotente diante de uma situação. E o que mais a irritava era justamente o fato de que Clark Kent era a pessoa que a estava tirando do sério.
"Tudo bem, Lois" disse Clark, subitamente, afastando-se, e descendo os degraus, sem tirar os olhos dela.
"Tudo bem o quê?" indagou ela.
"Não vou pressioná-la" respondeu ele.
"Não vai me pressionar?" repetiu ela, com os braços cruzados e em tom de deboche.
"Sim" respondeu ele. "Vou deixar você pensar a respeito".
Lois sorriu. Era seu famoso sorriso sarcástico.
"Puxa vida, Smallville! Que bom que você vai me deixar pensar a respeito! Você só esqueceu de dizer sobre o quê eu tenho que pensar!"
"Eu já disse, Lo..."
"Por favor!" interrompeu ela. "Não diga mais isso".
Clark apenas sorriu. Enfiou as mãos nos bolsos, e disse, enquanto se afastava:
"Durma bem, Lois".
Ele se virou, e seguiu rua acima.
"Espere!" chamou ela.
Eufórico, Clark voltou.
Arrependida por tê-lo chamado de volta, Lois disse:
"Conversamos um outro dia, Smallville. Acho que hoje o dia foi meio louco. Amanhã ou depois vamos ter esquecido tudo isso".
"Nunca" retrucou ele.
Lois o encarou com surpresa. Por essa, ela não esperava.
"Boa noite, Clark" disse, então, acreditando que ele era um caso perdido.
Foi então que ele se virou e seguiu em frente. Até que, Lois novamente o chamou.
"Espere!"
Acreditando que ela finalmente ia ceder, Clark voltou.
"Olha, não confunda as coisas, Smallville... não estou nem um pouco preocupada. Mas você desmaiou! Não é perigoso você voltar depois de tudo o que aconteceu?" perguntou ela.
"Tudo bem" respondeu ele, sorrindo. "Tenha bons sonhos!"
"Olha, Smallville" chamou ela, novamente, quando Clark já seguia seu caminho pela terceira vez. E Lois viveu seus cinco mais difíceis segundos. Até que, finalmente disse: "São quatro horas de viagem e já é tarde. Você pode ficar aqui se quiser". Logo após o convite, Lois se arrependeu amargamente. "Lógico que você vai dormir no sofá" continuou, tentando reparar o que poderia ter sido um grande erro.
Clark ficou parado na calçada, ainda sem se virar para vê-la, escutando atentamente o que dizia. Era o que ele mais queria. Ficar bem próximo dela. Mas achou que já tinha feito demais por uma noite. E sabia que ela só o convidara por educação, pois o que Lois Lane mais precisava naquele exato momento era entender toda aquela situação. E Clark a deixaria sozinha, justamente para pensar naquilo. Sabia, no fundo do seu coração, que ela sentia o mesmo por ele. Já não podia negar que havia alguma coisa realmente forte entre eles. Isso era fato. E ela só não havia se dado conta ainda porque, assim como ele, o verdadeiro sentimento só apareceria com o tempo. E tempo, era o que Clark mais tinha.
"Obrigado, Lois. Eu vou ficar bem. Aliás, eu estou bem" disse ele. "Falamos outro dia".
Clark se virou e seguiu em frente. Lois não voltou a chamá-lo. Acertou de primeira a chave na fechadura, e abriu a porta. Nesse meio tempo, Clark se virou para vê-la mais uma vez, acreditando que talvez ela pudesse chamá-lo novamente. Mas vendo que ela já entrava no prédio, resolveu continuar seu caminho. Lois, que deu um passo para dentro do prédio, voltou para trás e olhou mais uma vez para Clark que seguia em frente, até a esquina. Até pensou em chamá-lo, mas ele já estava longe. E talvez não fosse mesmo uma boa idéia. Ainda desconsertada com os acontecimentos, entrou no prédio, fechando a porta logo em seguida. Acreditando que ela ainda pudesse estar lá, Clark se virou. Mas nada viu. Apenas sorriu, e suspirou. Segundos depois, estava no Planeta Diário.
Continua...
